Menu
Viva

Cinema: tributo à velha Hollywood

Arquivo Geral

10/02/2012 7h01

 

Guilherme Lobão
globao@jornaldebrasilia.com.br

 

Em tempos de outras siglas tecnológicas, como 3D, CGI, 4K,  é curioso que um filme mudo em preto-e-branco desponte como favorito ao Oscar em 2012. O Artista, que estreia hoje nos cinemas, caiu nas graças da Academia ao rebobinar a Hollywood dos anos 1920, evocando o espírito da vanguarda do cinema francês. A produção é franco-belga turbinada pelos estúdios norte-americanos da Weinstein Company, que coleciona prêmio atrás de prêmio nesta temporada pré-Oscar.

 

Arrematou, por exemplo, o Globo de Ouro de melhor filme (comédia/musical), e arrebanhou os principais troféus dos sindicatos americanos: dos produtores (melhor filme), dos diretores (para Michael Hazanavicius) e dos atores (para o protagonista Jean Dujardin). O encantamento causado por O Artista em Hollywood é justificado pelo tom homenageoso com o qual Hazanavicius trata a evolução do cinema. Funciona como  massagem para o ego da Academia, saudosistas dos early years da Era de Ouro.

 

O ponto de partida é a fama de George (Dujardin), o mais concorrido ator da indústria na segunda metade dos anos 1920. De um encontro casual com uma fã, Peppy Miller (Bérénice Bejo), ele a transforma por acaso numa estrela – muito graças aos paparazzi. Até que a Grande Depressão chega a Hollywood. Os estúdios, coincidentemente, aderem à tecnologia da fala. George debocha, não crê que cinema falado seja coisa séria e o esnoba.

 

Ladeira abaixo

 

Logo se vê descendo ladeira abaixo, ébrio, quebrado e amargurado. A trama é simples assim, uma trajetória do herói comum, mas com tempero metalinguístico. No ápice de sua crise, George delira, acorda em um mundo onde tudo faz som, menos ele. É um elemento que arranca O Artista do lugar comum. Afinal, aquela prolífica era de D.W. Griffith e Charles Chaplin trouxe à sétima arte exemplares muito superiores neste gênero em relação à proposta de Hazanavicius.

 

 Ele dialoga com propriedade com essa estética do cinema mudo, mas guarnecido de tecnologia contemporânea de fotografia e até mesmo som (estrategicamente utilizado em favor da narrativa). Ainda assim, é um filme que diz muito pouco para justificar tamanho burburinho e as dez indicações ao Oscar que carrega nas costas. Até mesmo porque o discurso é arcaico (Dançando na Chuva o fazia em 1952); e a  irreverência metalinguística foi aplicada com mais propriedade e melhor sintonia com o cinema contemporâneo por Mel Brooks, em sua Última Loucura (Silent Movie), de 1976.

 

As qualidades de O Artista se concentram no elenco. Dujardin realmente dificulta a vida de George Clooney da briga pela estatueta ao encarnar tão bem a canastrice dos heróis do cinema mudo e, na segunda parte, assume um papel melodramático com maestria. O mesmo serve para Bérénice Brejo, com sua empatia fora do comum; e ainda o cachorro que acompanha George da fama ao calvário, com ótimas gags e um humor inocente raro. O fato de o diretor brincar com a ideia do filme dentro do filme ao menos ajuda O Artista a ir além de um mero filme mudo e p&b no século 21. Mas não ficará para a posteridade. 

 

 

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado