Os cineclubes podem não ter a infraestrutura das salas de cinema comerciais, dominadas pelas grandes produções hollywoodianas e quase sempre sediadas em shopping centers. Mas atrem quem quer discutir sobre o filme a que acabou de assistir, com as imagens ainda gravadas na retina. Essa é a proposta do Cineclube Vladimir Carvalho, mais novo ponto de encontro cinéfilo de Brasília, inaugurado na última sexta-feira (9).
Quem empresta o nome à iniciativa é um dos principais documentarista do País, paraibano de nascimento e brasiliense há quatro décadas. Carvalho se diz “lisonjeado” e agradece a “generosidade”. “Fico satisfeito, não porque tem meu nome, mas porque o cineclube cumpre um papel muito importante na formação de público e como vitrine do cinema brasileiro”, argumenta.
A noite de abertura foi dedicada ao cineasta, que esteve presente. Foram exibidos os títulos “Brasília Segundo Feldman”, dirigido pelo homenageado, e “O Cinema Segundo Vladimir Carvalho”, de Maria Maia. A idéia é que, após as sessões, os debates contem sempre com pelo menos um convidado ligado à sétima arte.
“O lema desse primeiro ano é: mostrar 50 filmes em 50 anos de Brasília”, explica a curadora do cineclube, Berê Bahia. “Não só produções locais, mas que tenham a ver com a história da fundação e da cidade”, complementa. A programação está definida até a semana que antecede a Copa do Mundo, em julho.
As exibições do cineclube Vladimir Carvalho devem ocorrer sempre às sextas, com entrada franca. Nesta semana, a atração é o documentário “O Risco – Lúcio Costa e a Utopia Moderna”, de Geraldo Motta Filho. O cineclube é localizado no Conic (Setor de Diversões Sul, Edifício Venâncio III, Sobreloja). A iniciativa é da Fundação Astrojildo Pereira, vinculada ao Partido Popular Socialista e da qual Carvalho é ex-presidente.
Revitalização
O novo cineclube se junta a outras iniciativas semelhantes na capital federal, como o Cineclube dos Bancários (314/315 Sul), um dos mais conhecidos. Carvalho, que já freqüentou esses redutos da cinefilia, não consegue mais achar tempo por causa da dedicação à atividade como cineasta. “Nos últimos cinco anos, houve uma espécie de refundação do movimento cineclubista”, comemora.
“O cineclube pode ser um chamamento para a revitalização do Conic como um todo”, acredita Carvalho. Ele lamenta que, “de uns anos pra cá”, o enorme centro comercial tenha “declinado na questão de cultura”. E recorda tempos melhores. “Lá funcionou o cinema Atlântida, um dos melhores do Brasil na época, era tecnicamente perfeito. Ele chegou a sediar uma edição do Festival de Brasília (do Cinema Brasileiro), na década de 1970”.