Andréia Castro
Especial para o Jornal de Brasília
Diante de um polo de cinema decadente e limitada ao financiamento do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), a produção cinematográfica feita na capital atualmente luta para se destacar. Com 103 inscrições de obras brasilienses, apenas uma participa da mostra competitiva do 45º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro este ano, que vai de 17 a 24 de setembro: o curta-metragem de documentário A Ditadura da Especulação, de Zé Furtado. O filme, que retrata a luta contra o Setor Noroeste, não recebeu patrocínio e foi feito de maneira voluntária e coletiva.
Hoje foram anunciados os títulos que vão disputar o Troféu Câmara Legislativa do Distrito Federal na Mostra Brasília do evento. Ano passado, na mesma mostra, o longa Sagrada Terra Especulada, também dirigido por Zé Furtado e que trata do tema de A Ditadura…, conquistou o prêmio de R$ 35 mil por ter sido eleito o segundo melhor da categoria.
A Ditadura da Especulação está focado na luta pela permanência dos indígenas que vivem desde a década de 1970 no local onde será construído o setor Noroeste. “Os indígenas Fulni-ô ainda estão por lá e têm uma ligação forte com aquela terra. Os apoiadores sofreram inúmeros tipos de violência no ano passado por parte da segurança das construtoras e da Polícia Militar do DF. O filme traz cenas destes embates e mostra que a resistência ainda continua. Há, inclusive, uma possibilidade da criação do filme Sagrada Terra Especulada 2, um longa-metragem sem data para lançamento que deve aprofundar ainda mais a continuação desta história”, revela Zé Furtado.
Realizado por voluntários do Centro de Mídia Independente do DF, Coletivo Muruá e Apoiadores do Santuário dos Pajés, o curta-metragem é um filme exclusivamente voltado para o ativismo. Perguntado sobre o fato de ser o único filme local selecionado para a mostra competitiva deste ano, o diretor diz que gostaria que mais produções brasilienses tivessem sido escolhidas.
“Há uma produção local crescente e de qualidade que já tem espaço no cenário nacional. No entanto, a escolha dos filmes foi feita por profissionais qualificados que devem ser respeitados. Por outro lado, o protesto deve ser feito, já que sempre haverá filmes locais com condições de competir na mostra principal. Isso poderia ser resolvido de melhor maneira caso a Mostra Brasília tivesse um espaço com maior destaque dentro do festival”, comenta. “Pelo menos no ano passado o horário de exibição dos filmes foi no período da tarde onde a grande parte das pessoas não pode ver”, critica o realizador.
A cineasta Cibele Amaral, que fez parte da comissão de seleção dos longas-metragens de ficção do festival este ano, atesta, no entanto, que a seleção de apenas uma produção candanga “não reflete de forma alguma na qualidade das 103 obras. E, sim, na opinião dos jurados. Ou seja, trata-se de um julgamento parcial”, explica.
Segundo ela, “a produção de cinema da capital vai muito bem, obrigada”. E a falta de mais nomes de Brasília no evento foi apenas uma infeliz coincidência. “O que não significa, de maneira alguma, que os mesmo não sejam bons”, conclui a jurada. 
O Governo do Distrito Federal (GDF) remanejou recursos destinados à reforma do Polo de Cinema de Sobradinho este ano (cerca de R$ 180 mil) para gastos com o passe livre de alunos – o que gerou dúvidas sobre o futuro do projeto. “O polo será renovado, já está na pauta. Só não será agora. Outras obras estão em andamento e é questão de tempo até que ele passe por uma reforma”, explica Cibele Amaral, que atualmente é coordenadora de audiovisual da Subsecretaria de Políticas e Promoções Culturais, que cuida do polo.
Ela afirma que o projeto inteiro tem de ser discutido porque a demanda para ele é muito pequena. “Infelizmente, o Polo de Cinema foi se desvirtuando nos últimos anos. Precisamos que ele fomente o cinema, e não apenas sirva para produzir as obras”, revela.