Com jeito simples de homem do povo e fala firme de artista afeito a defender suas convicções, o cineasta e professor emérito da Universidade de Brasília Vladimir Carvalho recebeu em sua casa, na 703 Sul, um grupo de convidados especiais e amigos de longa data: o reitor José Geraldo de Sousa Junior, o arquiteto José Carlos Coutinho, a diretora Dácia Ibiapina, e representantes da Comissão UnB 50 Anos.
O encontro aconteceu na tarde desta segunda-feira, 17 de setembro, e foi talhado especialmente para reverenciar o trabalho de preservação realizado na Fundação Cinememória, que funciona ali mesmo, em sua casa, na W3 Sul. E para marcar simbolicamente a transferência de todo o acervo de Vladimir Carvalho, doado por ele à Universidade que o abrigou por 24 anos.
Como não poderia deixar de ser, a reunião de pioneiros da Capital Federal e da UnB se transformou em uma oportunidade para um dedo de prosa, muitas estórias e um agradável passeio pelas imagens e documentos que marcaram a história e os profissionais que fizeram e fazem o cinema de Brasília. Animados, reitor e cineasta lembraram dos tempos áureos da W3, nos anos 1970.
Uma especial atenção foi dada à lembrança do professor Paulo Emílio Salles Gomes, que criou a 1ª Semana do Cinema Brasileiro, em 1965, como atividade de extensão universitária. O evento inaugurou o Cine Brasília – tradicional sala de exibição da cidade, projetada por Oscar Niemeyer – e foi também o ponto de partida para o Festival de Cinema de Brasília, principal evento do gênero no país e que este ano homenageia seu inspirador.
“Fiquei 38 anos da minha vida coletando uma série de materiais relativos a Brasília. Nunca tinha encontrado uma entidade para confiar tudo isso”, desabafou Vladimir, que se disse satisfeito de poder entregar seu legado para que a Universidade preserve a memória de tantas obras e realizadores. “A UnB é a cabeça dessa cidade, ela tem essa função de pensar e preservar a nossa tradição cultural”, defendeu.
A doação inclui não apenas os objetos, mas também a casa onde o acervo foi guardado. O cineasta impôs como condição que o local fosse preservado com suas características originais, o que implica numa série de procedimentos para garantir a segurança, a recuperação de materiais deteriorados e a preservação dos objetos.
“Para isso, precisaremos de uma equipe dedicada integralmente ao trabalho”, explica o professor Ricardo Trevisan, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e membro integrante da Comissão UnB 50 Anos. “Além disso, precisaremos entrar com um pedido na Secretaria de Cultura do Distrito Federal para tombar a casa como bem cultural de Brasília e mudar a destinação, já que ele se encontra em área residencial”, explicou.
Para o reitor José Geraldo de Sousa Junior o esforço vale a pena. “O cineasta é símbolo não só da arte, mas também da luta para preservar a memória da cidade. Além disso, o Cinememória guarda um sentido didático, um sentido pedagógico, que merece a devida atenção e o respeito de toda a comunidade acadêmica. É uma aula da história, da cultura e da tradição”, defendeu.
O projeto de Fundação Cinememória foi criado por Vladimir Carvalho em 1994 e era, a princípio, uma maneira de o cineasta guardar e conservar a obra documentária que ele mesmo realizou em mais de 50 anos de atividade. O acervo, no entanto, também reúne filmes feitos em Brasília e sobre Brasília, vídeos, fotografias, roteiros e outros documentos e livros sobre o cinema local, nacional e mundial. O acervo inclui uma biblioteca com mais de três mil volumes, e importantes textos da literatura brasileira.