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A abertura do 14º Cine PE – ou simplesmente Festival do Recife – foi marcada pela participação calorosa de um público de quase 3 mil pessoas que, desde cedo, faziam fila para entrar no Cine-Teatro Guararapes, no Centro de Convenções de Olinda. A grande atração da noite foi a estreia nacional do longa O Bem Amado, do recifense Guel Arraes, que também foi homenageado pelo festival.
Fora de competição, o filme baseado na peça de Dias Gomes divertiu o público ao resgatar a ascensão e a queda do inescrupuloso Odorico Paraguaçu, prefeito de uma cidadezinha do litoral baiano, interpretado de forma irretocável por Marco Nanini. O ator domina o filme traduzindo as manias de grandeza de Odorico em um palavrório infinito e gestual precisamente exagerado. Outro ponto forte é a participação de José Wilker no papel de Zeca Diabo, que transforma o jagunço em algo parecido com o personagem de Lee Van Cleef, em Três Homens em Conflito.
Uma das poucas intervenções do autor no texto original foi o romance entre o personagem de Caio Blat e Maria flor, que acaba solto e dispensável na história.
Apesar da expectativa gerada pelo filme de Arraes, o longa não superou o sucesso que o curta Recife Frio, de Kléber Mendonça, fez com o público local. De forma espirituosa o filme, que sagrou-se o grande vencedor no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, mostra a cidade após sofrer uma brusca mudança de clima, que fez com que a temperatura passasse a girar em torno dos 10 graus.
Na nova realidade, pinguins habitam as praias, pessoas morrem (literalmente) de frio nas ruas, a classe média abandona os apartamentos à beira mar por conta do vento insuportável e os patrões passam a disputar o quarto da empregada, o menor e mais quentinho cômodo da casa. O único feliz com a situação é um papai-noel profissional que quase derretia com o calor de mais de 30 graus que costuma fazer na época do verão.
Através da perspectiva de um documentarista estrangeiro, o filme mostra o drama da cidade praiana para se adaptar às novas condições climáticas, ao mesmo tempo em que faz críticas ferrenhas ao desordenado crescimento urbano da capital e até mesmo sobre relações entre classes. Às gargalhadas, o público aplaudiu o curta de 20 minutos em vários momentos.
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Anna Beatriz Lisbôa
