A violência na classe média brasiliense é o tema do curta Uma Noite Por Testemunha de Bruno Torres, exibido na noite de quarta-feira no 14º Cine PE – Festival do Audiovisual. Mais especificamente, o diretor (que esteve como ator em O Homem Mau Dorme Bem, de seu pai, Geraldo Moraes, também na seleção do festival) trata do assassinato do índio Galdino por jovens que atearam fogo nele, pensando que se tratava de um mendigo dormindo na parada de ônibus.
De forma não linear e com poucas palavras, o filme, cujo elenco foi premiado no Festival de Brasília do ano passado, reconstitui os eventos da noite do crime que chocou o País. Sem citar o nome da cidade ou das pessoas envolvidas, o diretor optou por uma representação humanizada dos personagens. “Minha intensão era fazer o filme mais universal possível sobre a culpa e a inconsequência”, afirma. “O filme seria polêmico tanto se eu tentasse humanizar os personagens quanto se eu os representasse como bandidos. Como realizador, preferi humanizá-los”.
Utilizando uma estética bem resolvida, o filme passa mensagens fortes em pequenos momentos, como a banalização da violência, quando os rapazes comem pizza no capô do carro enquanto premeditam casualmente a “brincadeira”. “Acho que o que existia ali era um desejo mórbido de ver a pessoa em estado de submissão”, opina Torres.
O diretor diz que a vontade de fazer o filme surgiu quando encerrou as gravações de O Último Raio de Sol em 2004, que também trata da violência entre os jovens de classe média da cidade. “Faço parte dessa geração e acompanhei a história do índio Galdino na época. De alguma forma me sinto um porta voz dessa geração e queria falar de coisas com as quais estou insatisfeito em relação a ela”, esclarece.