Camilla Sanches
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Devaneios e inquietações de um homem dividido entre a loucura e a sanidade mental. Este é o personagem Astrogildo, vivido por Chico Díaz, na peça A Lua Vem da Ásia, que estreia temporada nesta sexta, no Centro Cultural Banco do Brasil.
O espetáculo é baseado no romance homônimo do mineiro Campos de Carvalho. O texto foi escrito em 1956, mas, na opinião do ator continua atual. “Faz um diagnóstico muito próximo da nossa realidade, apesar da época em que foi escrito”, analisa Díaz, que também foi responsável pela adaptação da peça.
“Conheci o romance por intermédio do Aderbal Freire Filho (diretor), que montou O Púcaro Búlgaro, outro texto do Campos. Depois disso, li uma edição com os quatro livros que ele escreveu, antes de se calar para sempre, e me apaixonei por este, em especial”, conta.
Para Chico Díaz, o texto traz uma multiplicidade de metáforas e possibilidades cênicas que era tudo o que o ator procurava nessa altura da carreira, aos 57 anos, 30 deles como artista.
“O Chico é um ator muito rico, criativo e profícuo, e tem muita disposição para o trabalho“, diz Moacir Chaves, que assumiu a direção a convite de Díaz. Segundo o diretor, trabalhar com o ator foi muito fácil, pois ele já começou os ensaios com o texto decorado e anos de leitura.

O parceiro, também, não deixa de tecer elogios ao companheiro de tablado: “Conhecia outras peças dele e vi o cuidado com a palavra, a palavra bem dita e bem cuidada, e isso, para o texto do Campos (de Carvalho), era fundamental”, observa o artista.
No total, foram três anos de mergulho na literatura antes de concretizar e adaptar o texto para a montagem. “Fazia a passos largos, entre um filme e uma novela que apareciam no meio do percurso”, lembra Chico Díaz.
Na história, Astrogildo é um homem perdido em delírios e questionamentos. Um homem que vive na linha tênue entre a loucura e a lucidez. “Ele é composto de milhares de personagens em um. Representa toda uma civilização ocidental e oriental”, descreve.
Os cenários são divididos basicamente em dois espaços. O primeiro, mais confinado, mais restrito, onde o personagem escreve um diário. O segundo espaço é mais aberto, devido à mudança no personagem – o que, para Moacir Chaves, pode representar uma metáfora da vida de qualquer ser humano.
“A trajetória de um figura que pode ser uma ou várias, pode ser uma definição para o Astrogildo: um louco confinado que se liberta num determinado momento”, analisa. “É um texto muito libertador, reflexo da época em que foi escrito, num momento pós-Segunda Guerra, pós genocídio dos judeus”, completa.
O espetáculo segue em cartaz até o dia 3 de abril, com cenografia de Fernando Mello da Costa e figurinos de Maria Diaz.
A Lua Vem da Ásia – De sexta a 3 de abril, no CCBB (Setor de Clubes Sul, Trecho 2). Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 20h. Ingressos: R$ 15 (inteira). Não recomendado para menores de 14 anos.