Em breve, uma Brasília diferente da exibida diariamente nos telejornais ganhará as telas dos cinemas brasileiros. Dois longas-metragens baseados na obra da banda Legião Urbana e na vida de seu vocalista, Renato Russo, além de um documentário sobre o rock brasiliense na década de 1980 jogarão luzes sobre um dos momentos mais instigantes da música brasileira e atrair olhar diferenciado para a capital do País.
Dirigido pelo brasiliense René Sampaio, o longa-metragem Faroeste Caboclo se inspira na canção sobre a saga do “aprendiz de carpinteiro” João de Santo Cristo no Distrito Federal, onde se torna “bandido destemido e temido” antes de conhecer Maria Lúcia, “uma menina linda”, a quem promete seu amor. As principais cenas estão sendo filmadas na Cidade Ocidental (GO), a 40 quilômetros de Brasília. As ruas do município goiano retomam as de Ceilândia no final da década de 1970 – cidade do DF onde, na letra da música, ocorre o duelo mais conhecido do rock nacional. A expectativa é que o filme seja lançado ainda este ano.
Com Fabrício Boliveira e Ísis Valverde nos papéis de Santo Cristo e Maria Lúcia, o elenco conta com Antonio Calloni e muitos figurantes. Segundo o produtor Marcello Maia, além de quatro alunos de cinema, a produção empregou mais de uma centena de profissionais brasilienses. E irá surpreender quem acha que Brasília se limita aos cartões-postais do Plano Piloto.
Santo Cristo
“Santo Cristo representa um grupo de pessoas que vieram para Brasília tentar a sorte, mas a quem as desigualdades sociais acabam impondo outro caminho. A Ceilândia onde ele vive é um contraponto a Brasília do Plano Piloto de Maria Lúcia. E, nas filmagens no Plano Piloto, buscamos mostrar um tipo de vivência que as pessoas não estão acostumadas”, afirmou Maia, ao explicar que o trecho da infância de Santo Cristo será filmado na cidade de Paulínia (SP).
Outra produção a se apropriar de canção da Legião Urbana, Somos Tão Jovens, é dirigida por Antonio Carlos da Fontoura. O filme trata da adolescência de Renato Russo, fase em que, devido a uma doença óssea rara, ele tinha de ficar em casa, lendo e sonhando com o sucesso. Muitas das suas canções que se tornariam conhecidas começaram a ser compostas no período.
Arquivo pessoal
Já o cineasta Vladimir Carvalho optou por garimpar em seu arquivo pessoal as imagens que utilizará no documentário Rock Brasília – Era de Ouro. Entre as cenas históricas captadas pelo documentarista há imagens como as do último show da Legião Urbana em Brasília, em 18 de junho de 1988, no Estádio Mané Garrincha, quando um quebra-quebra deixou centenas de feridos.
“O documentário conta a jornada de bandas surgidas nos anos 1980, como a Legião, Capital Inicial, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso, e que se projetaram para o País. Outra importante contribuição será mostrar uma Brasília viva, contestadora, expondo a dinâmica das pessoas que vivem aqui”, diz o produtor Marcus Ligocki, que vive na capital desde 1974 e para quem o fato de as três histórias estarem sendo produzidas é uma “feliz coincidência”.
De acordo com o diretor de Cinema e Vídeo da Secretaria de Cultura do DF, Sérgio Fidalgo, além de movimentar a economia por meio da contratação de mão de obra técnica e artística, um filme de qualidade funciona como fator de atração turística. “As pessoas vão ao cinema, se apaixonam pela locação e passam a querer conhecer o lugar onde a história foi filmada”, diz Fidalgo.
