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CCBB inicia mostra com obras do cineasta sueco Bergman

Arquivo Geral

18/06/2012 8h42

Cada um terá o seu Ingmar Bergman preferido. O diretor Walter Hugo Khouri amava Noites de Circo e dizia que o filme de 1953 havia sido decisivo para que se tornasse cineasta. O expressionista Morangos, com seu preto e branco rigoroso, narra a odisseia interior do idoso Isak Borg, que atravessa os planos da realidade e da imaginação para se purgar de uma vida sem amor. Em Gritos, a cor acrescenta ao mistério do filme e o próprio Bergman, explicando o projeto a suas atrizes, falou de mulheres de branco num útero vermelho, que se libertavam num jardim tão ensolarado que a luminosidade deveria doer nos olhos.divulgação

 

A cada um seu Bergman. Há para todos e a retrospectiva que começa amanhã no Centro Cultural Banco do Brasil (Setor de Clubes Sul) vai permitir a revisão completa de um autor visceral. Bergman está longe de ser um desconhecido no Brasil. Mais da metade de seus filmes foram lançados em DVD pela Versátil e, agora, além de exibir do primeiro, Kris, de 1944, ao último Bergman, Saraband, de 2003, a programação traz cópias novas de obras inéditas nos cinemas, como O Olho do Diabo, de 1960. Tudo isso e mais um especialista – o sueco Stig Bjorkman já está no Brasil. Veio para se encontrar com o público amante de Bergman.

Convidado
Bjorkman é autor de um livro de entrevistas com o diretor sueco e de outro com Woody Allen – que compartilha a preferência por Bergman, tendo, inclusive, feito Interiores à maneira de um drama intimista nórdico. Allen disse a Bjorkman a frase definitiva – “Bergman talvez seja o maior diretor do cinema desde a invenção da câmera”. Do próprio Bergman, a quem perguntou sobre as origens de seu cinema – os grandes temas -, ouviu, em 1970, uma história interessante, que colocou no livro de entrevistas.

 

“Na ilha de Farö, vi certa vez um velho barco. Era muito bonito e havia sido construído um século antes, segundo uma prescrição especial que lhe permitiu atravessar o tempo sem afundar. Sou diretor há 27 anos e o que posso dizer é que também construí um barco com o qual navego através de meus problemas como diretor. É um método prático que me permite abordar os temas difíceis que gosto de abordar.” O próprio Bergman reconhecia a irracionalidade do processo e dizia que a inspiração vinha diferente, de filme para filme. “Persona, Quando Duas Mulheres Pecam, nasceu de uma imagem. Vi duas mulheres sentadas muito próximas e que conversavam comparando suas mãos. Pensei que, na verdade, só uma falava e a outra ouvia. Comecei a imaginar o teor daquela conversa. Descobri que ela abria uma porta, que dava para um longo corredor, cheio de cenas. Foi assim que começou.”

A retrospectiva é sob medida para lembrar o quinto ano da morte de Bergman, em 30 de julho. Como homem de teatro, cinema e TV, ele foi marcado por escritores como August Strindberg e Henryk Ibsen e pelo filósofo Soren Kierkegaard. Filho de um pastor religioso, teve uma educação rígida e puritana, que se refletiu na abordagem do sexo em seus filmes e na indagação metafísica sobre a existência de Deus, que percorre a obra toda. Dele, disse Jean-Luc Godard em 1958: “O cinema não é um ofício. É uma arte. Não é um trabalho de equipe. O diretor está só diante de uma página em branco. Para Bergman estar só é se fazer perguntas; filmar é encontrar as respostas. Nada poderia ser mais classicamente romântico”.

 

 

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