A relação entre homem e máquina levanta questionamentos há décadas. Em Tempos Modernos, clássico de Charles Chaplin de 1936, por exemplo, já se tratava da sobreposição do ser humano pela tecnologia.
Muito mais do que o temor de que as máquinas possam substituir os homens, o artista plástico uruguaio Gustavo Alamón retrata, por meio de seus pincéis, uma série de robôs que evidenciam a problemática da desumanização da sociedade atual.
Com curadoria de Enock Sacramento, a exposição Os Robôs de Alamón traz, a partir de hoje, na Caixa Cultural (Setor Bancário Sul), 30 telas que misturam técnicas como óleo sobre tela, sobre MDF e colagens, além de três obras do artista que integraram a delegação uruguaia na 17ª Bienal de São Paulo de 1983.
Falsa sensação
Em entrevista ao Jornal de Brasília, o pintor Gustavo Alamón afirma que “a sociedade está vivendo um momento que beira a catástrofe”. “Somos como animais domesticados e temos a falsa sensação de bem-estar. Somos castrados e mantidos em coleiras e isso me preocupa bastante. Sempre me preocupou”, completa.
Para o uruguaio, a arte não consegue mudar nada sozinha. “Mas o poder de reflexão, sim. A arte é apenas um meio utilizado para fazer o homem pensar. Se a obra não consegue fazer isso, não é considerada arte”, opina o artista.
Sem face
Na minirretrospectiva, os robôs não têm face, mas usam roupas e fazem poses humanizadas. “Ainda acredito nos seres humanos e num mundo melhor. Na minha obra, uso os robôs para explicar a necessidade de uma profunda transformação. Essa falsa cultura do espetáculo, tão explorada na televisão, por exemplo, precisa acabar”, acredita Alamón.
O artista nasceu em 1935 e despontou como um dos principais nomes da pintura de seu país, realizando mais de 150 exposições individuais e coletivas no mundo todo.