Após treze anos de silêncio, diversos cantares – além do repente e do cordel – ressoaram na Casa do Cantador, na cidade de Ceilândia, em 2011. Conhecida por ser um templo da cultura nordestina, a casa projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer retomou projetos que ocorreram de 1995 a 1998 e implementou novidades como a apresentação de artistas de diversas linhas musicais, como choro, blues, funk, rock e MPB.
O resultado é que cerca de 30 mil pessoas estiveram presentes nos espetáculos da Casa do Cantador em 2011, com geração de renda direta e indireta para cerca de mil pessoas. “Sabemos que, para os cantadores, estamos quebrando alguns paradigmas, mas tudo é arte e cultura. Para mim, não existe essa questão de arte popular e arte erudita. Arte é arte”, avalia o diretor da Casa do Cantador, Francisco de Assis Silva. Em 2012 o espaço de cinco mil metros quadrados passará por ampla reforma.
Chico Repentista, como é conhecido o nordestino do Rio Grande do Norte, ocupa o cargo de diretor pela segunda vez. A primeira foi de 1995 a 1998. Morador de Ceilândia há 17 anos, o artista plástico, graduado pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, voltou a casa no dia 31 de janeiro de 2011. Quarenta dias após a posse a nova diretoria realizou uma seletiva de cantadores para o Festival Regional de Repentistas. Em 18 de março foi a vez da Sexta do Repente, com apresentações de uma dupla de repentista vinda do Nordeste e outra formada por cantadores do DF. O primeiro encontro recebeu dois grandes repentistas, Valdir Teles e Geraldo Amâncio. Ao todo, foram dez edições.
Outro feito foi trazer artistas de renome, como Alceu Valença, Geraldo Azevedo e Xangai. “São artistas que bebem na fonte do repente e da literatura de cordel. Tem tudo a ver com a casa”, explica Chico. “Se somarmos tudo que fizemos aqui, podemos dizer que, em 2011, fizemos mais do que nos últimos 24 anos. Este é o espaço mais importante de arte e cultura de Ceilândia. Não temos cinema ou teatro, e o espaço da Casa do Cantador estava ocioso”, destaca. As apresentações são gratuitas para o público.
Além disso, o Palácio da Poesia, como também o espaço é conhecido, recebeu eventos projetados por entidades e artistas que escolheram o local para projetos como O Piauí é aqui no coração do Brasil, Dia Nacional do Forró e Canta Ceilândia, bem como lançamento de CDs, a exemplo da dupla Kleuton e Karen e a banda Mestre Zé do Pife e as Juvelinas. A ideia é democratizar cada vez mais o espaço para as diversas manifestações culturais. “Temos ouvido a comunidade ceilandense e do Distrito Federal e as mudanças aqui têm reverberado no Nordeste, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Temos muita aceitação da comunidade local, em função de termos aberto o espaço não apenas para o repente e o cordel. Entendemos que devemos estar à mercê das necessidades dos verdadeiros bens culturais da cidade e ampliar o acesso para os fazedores, os artistas; e para o público, os que assistem”, diz Chico.
Novidades – Em 2012 o público da Casa do Cantador poderá acompanhar notícias do repente e do cordel na Folha de Cordel e, para ouvir a cantoria que passa por lá, bastará acessar, pela internet, a Rádio web Repente e Cordel. São projetos da casa que a diretoria pretende implantar em 2012. A cantoria também dará espaço para a reativação da biblioteca do local, que funcionou de 1995 a 1998.
O projeto Cantoria Escola também será retomado. A proposta é levar a apresentação de repentistas para escolas públicas do DF, com oficinas e distribuição gratuita de livretos de literatura de cordel. De 1996 a 1998 um público de mais de 200 mil alunos foi beneficiado pelo projeto. Dessa maneira, espera-se que a casa tenha atividades contínuas e que interajam com a população do Distrito Federal. Entre os projetos que terão continuidade estão Sexta do Repente, De repente outros cantares e Ferrock de canto a canto.
Vinculada à Secretaria de Cultura do Distrito Federal, a Casa do Cantador do Brasil, situada em Ceilândia, foi criada em 1986, com projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. A Casa conta com um teatro de arena, uma cantina, três salas administrativas no térreo e vários cômodos no 1º andar, que eram utilizados por repentistas que passavam por Brasília em visitas ou temporadas para trabalhos.