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Caco Ciocler é Kafka em pleno conflito com sua obra na peça A Construção

Arquivo Geral

13/06/2012 9h27

O ator Caco Ciocler tirou a ideia de levar aos palcos o conto A Construção, de Franz Kafka (1883-1924), depois de uma de suas sessões de análise. Mas antes de concretizá-la, esperou um bom tempo, fez outros trabalhos, foi dirigido por Roberto Alvim no espetáculo 45 Minutos, mesmo diretor que topou a empreitada de adaptar de forma bastante pessoal ou própria o conto fascinante do autor tcheco-judeu-alemão. O espetáculo pode ser visto somente hoje e amanhã no Espaço Mosaico, da 714/15 Norte, pelo projeto Arte e Estética. Bob Souza

 

Na encenação de Alvim, a vida do autor e o conto estão embaralhados. O diretor optou por mesclar o lado biográfico com o texto, além de inserir um segundo ator em cena uma figura vestida com sobretudo e chapéu pretos, lembrando fisicamente o próprio Franz Kafka, que aparece em alguns momentos fazendo um contraponto de tensão com o ator em cena. O tradutor e ensaísta Modesto Carone dizia que A Construção representava o testamento literário de Kafka, pois ficou incompleta e foi escrita um ano antes de sua morte

 

A peça retrata o exato momento em que Kafka escreve A Construção, quando já estava doente, incurável, ciente da proximidade da morte. Vestindo um pijama, lápis à mão, Caco está sentado em uma cadeira em frente a uma escrivaninha. É um autor atormentado, introspectivo, fechado em seu mundo interior. Já o outro personagem, que não tem texto, representa a imagem pública do escritor, como as pessoas o viam em sua máscara social. Acrescentamos essa circunstancia do quarto, da morte e do ato de escrever em contraposição com o que o texto propõe, explica Roberto Alvim.

 

A questão do outro é sempre universal, comenta o ator Caco Ciocler. Alvim concorda e ressalta: O texto aborda o isolamento, um namoro com a saída e com a não saída, a vida inteira para construir uma casa, para ter sua casa e para se fechar na casa. É como a gente se fecha ou se abre para o outro.

 

A Construção é considerada uma ficção fundamental e autobiográfica de Franz Kafka em sua fase terminal. Oferece uma imagem insuperável do modo de existência do escritor, perseguido por dentro pela tuberculose e por fora pelo terror alemão no auge da ascensão nazista. No conto, uma criatura constrói uma toca subterrânea para se proteger dos perigos do mundo externo. No espetáculo, Caco Ciocler é Franz Kafka escrevendo em seu quarto, madrugada adentro, tomando cuidado para não acordar o pai que dorme no quarto ao lado. Com ele, contracena Ricardo Grasson. Durante a encenação, a vida do protagonista da peça e o conto se entrelaçam e revelam um jogo híbrido entre Kafka e a criatura, o quarto e a toca, o pai e o imenso animal que tenta invadir a construção.

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