Mateus Baeta
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Pode-se dizer que a breguice, ou o romantismo extremado, como preferirem, se equivale ao Carnaval naquilo que a festa da carne tem de mais pungente: a libertação. Nada mais saudável, portanto, do que usar o gênero que consagrou ícones como o agora saudoso Wando para iniciar a contagem regressiva rumo à maior celebração do povo brasileiro. Hoje, a partir das 23h, o Arena Futebol Clube abre alas para dois lados do mesmo confete: o melodramático repertório da banda Brega & Rosas e o gingado malandro, com direito a samba, do grupo Praga de Baiano. Batizado de Ó do Borogodó, o pré-Carnaval terá orquestra de frevo que fará intervenções no meio do público.
“Tanto no Carnaval quanto nos shows bregas as pessoas se despem da vergonha, da carapaça e se entregam. Ficamos com o coração aberto para sentir emoções profundas”, garante Harrisson Azevedo, guitarrista da Brega & Rosas e admirador de “bon vivants” como Reginaldo Rossi e o próprio Wando.
Para alguns, ser brega é uma fantasia, daquelas que você usa quando quer sair de si mesmo. Para outros, é estilo. A ordem é uma só: “Basta ir sem medo ou vergonha. Vá ser feliz!”, diz Harrisson, lembrando que, além da música, os shows do grupo são uma chance, com o perdão do clichê, para “perder as estribeiras”. Além de abusar de bigodes, costeletas, camisas de estampas esdrúxulas e acessórios condenáveis como a gravata-borboleta, os cinco integrantes da Brega & Rosas – ao lado de Harrisson, fazem parte do grupo o vocalista e guitarrista Fernando Cabral, o baterista Vítor de Moraes, o baixista Samir Mello e o tecladista Igor Silveira –, se esforçam para atiçar a platéia. Hoje, eles prometem distribuir badulaques luminosos e óculos de plástico para o público, premiar a melhor fantasia brega com o Troféu Abacaxi e fazer uma homenagem surpresa a Wando, que morreu na quarta-feira. Sim, as moças estão autorizadas a jogar as calcinhas no palco.
“Não tocamos só os grandes hits, mas tentamos apresentar coisas menos conhecidas justamente para compartilhar a história desses caras”, explica Igor. No fim, ao som de brega, samba ou frevo, o Carnaval é um só. E ele já começou.
O adeus ao Rei das Calcinhas
E, por falar em Wando, seis mil pessoas foram ao cemitério Bosque da Esperança, em Belo Horizonte, se despedir do cantor – nascido há 66 anos e batizado com o nome de Wanderley Alves dos Reis –, ontem. Ele morreu após sofrer uma parada cardíaca, em um hospital de Nova Lima, onde estava internado havia 13 dias por complicações cardíacas. Poucos artistas foram ao local. Sobre o caixão, calcinhas levadas por fãs, e rosas, a flor preferida de Wando.
Por volta das 10h30, quando um padre conduzia a cerimônia, houve um mal-estar. Ele pediu ao cantor Agnaldo Timóteo para prestar uma homenagem. Quando Timóteo pegou o microfone, Gabrielle Burcci, uma das filhas de Wando, não o deixou falar. Ela disse que Timóteo havia “falado muito mal” do pai. E chegou a puxar o coro de uma das suas músicas, Moça (1975).
Timóteo lamentou, dizendo que a perda “era um desastre para a identidade brasileira”. “Vai deixar muita saudade. Há muito preconceito contra o brega, mas veja o carinho do público”, disse. O velório seria fechado ao público, mas a família decidiu abrir o funeral à visitação. Houve tumulto e a visita foi limitada a três pessoas por vez, ao lado do caixão. Muitos fãs pegaram a estrada para se despedir do ídolo.