Millena Lopes
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Vamos tomar uma no postinho? Vira naquela tesourinha ali. Cuidado com o pardal! Pega o zebrinha naquela parada. Muleque, xô te falar: é assim que os brasilienses convidam para tomar uma cerveja na loja de conveniência; ensinam a fazer um retorno; alertam sobre o radar de velocidade; e mostram o ponto para pegar o micro-ônibus.
Curioso pelo linguajar da capital federal, o jornalista baiano Marcelo Torres passou os últimos oito anos fazendo anotações e pesquisando o nome das coisas, que ele apresenta no livro O bê-á-bá de Brasília (Thesaurus Editora), que será lançado hoje, às 18h30, no Restaurante Carpe Diem.
“Eu sempre gostei desse tipo de coisa – Dicionário de Baianês, Dicionário de Cearês, Dicionário de Porto-Alegrês. Ao chegar aqui, me deparei com algumas palavrinhas que eu nunca tinha ouvido falar – como pilotis, superquadra, prumada. Um eito de palavras e coisas diferentes. Então, começou a nascer a ideia”, conta o autor.
As expressões colecionadas por Marcelo vieram da observação do dia a dia do brasiliense, a partir de conversas com amigos, pesquisas em anúncios, classificados de jornais, catálogos telefônicos, outdoors, livros e até na imprensa. “O livro contou com a colaboração de 70 pessoas”, diz. Todas elas citadas no capítulo Brigadin, brigadão.
O livro não se limita às gírias, mas faz referência, também, ao jeito de se viver na cidade das siglas e dos números. “Até o presidente que mandou construir a cidade é uma sigla – JK”, brinca Marcelo, lembrando Juscelino Kubitschek.
O comportamento dos brasilienses – que fazem goianada no trânsito e passam o mó vexa – também é retratado na obra. “Este livro é uma declaração de humor a Brasília”, diverte-se.
Expressões herdadas
Algumas expressões – como “sussa”, “periguete”, “belê”, “nó!”, “rampeira”, “chapa quente” – que aparecem no livro são derivadas do linguajar de outros estados e regiões. Mas o autor explica o porquê de terem sido incorporadas ao vocabulário do brasiliense: “Brasília é uma cidade feita de outras cidades. Um sotaque feito de outros sotaques. Uma cultura impregnada de outras centenas de culturas Logo, o vocabulário reflete isso”.
Para Marcelo Torres, o público-alvo do seu livro é qualquer pessoa que tenha curiosidade sobre Brasília, “seja o morador, seja a pessoa de fora”. “Espero que as pessoas não leiam achando que essas são coisas só de Brasília. Que saibam o que é típico e o que é original. Existem coisas que são apenas típicas de Brasília, mas não são exclusivas nem originais da capital. E existem coisas originais daqui”, fala.
A curiosidade norteou todo o trabalho de pesquisa do livro, como explica Marcelo. Ele alerta que a obra não tem pretensão literária. “Quer ser apenas um produto de entretenimento, quer ser apenas um livro divertido”. E explica: “Não sou etnógrafo, nem dicionarista, nem filólogo. Sou apenas um jornalista e, acima de tudo, um curioso”, confessa.
Satisfeito com o resultado do trabalho, o jornalista já faz planos maiores: “Depois, eu vou fazer o bê-á-bá do Brasil”, lembrando a música homônima da cantora Elba Ramalho. “Um projeto longo e difícil, mas vou fazer.”
Lançamento do livro O bê-á-bá de Brasília (Thesaurus Editora, 96 páginas, R$ 20). Nesta quarta-feira, a partir das 18h30, no Restaurante Carpe Diem (CLS 104 Bl. D, Lj. 1). Telefone: 3344-3738.