O universo fragmentado, intelectual e filosófico de Fernando Pessoa retorna ao Brasil pelas mãos de uma exposição interativa que abriu hoje suas portas ao público com a intenção de render uma homenagem ao povo que, seduzido pela mensagem do poeta português, juntou música a seus versos.
A mostra, que será exibida no Museu de Língua Portuguesa de São Paulo até o próximo 30 de janeiro, quer ser “uma homenagem aos brasileiros, que estão entre os primeiros que apreciaram Fernando Pessoa”, disse à agência Efe Richard Zenith, um dos responsáveis pela exposição.
Segundo o especialista, o interesse por Pessoa no Brasil data da década de 60. Ele explicou que músicos como Caetano Veloso e Maria Bethânia cantaram e adaptaram versos de Pessoa, enquanto em Portugal ele só ganhou popularidade autêntica depois da publicação do Livro do Desassossego em 1982.
A mostra, intitulada Fernando Pessoa, Plural Como o Universo percorre o mundo criativo do literato e começa com a apresentação de alguns dos heterônimos mais célebres dos quais o português se valeu para sua produção literária como Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Bernardo Soares.
A exposição, que procura aproximar a complexidade literária e filosófica de Pessoa de um público que não conhece a sua obra, compreende imagens da Lisboa na qual o poeta viveu, uma cronologia sobre a sua vida, artigos que escreveu para revistas e cópias de cartas ao único amor do escritor de que se tem conhecimento, Ophelia Queiroz.
Também é possível ler e escutar alguns dos poemas mais conhecidos de Fernando Antonio Nogueira Pessoa (1888-1935).
Além disso, a mostra contém uma reprodução virtual e interativa da primeira edição de sua obra Mensagem, a única que o escritor publicou em vida.
“A fragmentação da obra de Pessoa é muito mais clara para nós que para seus contemporâneos, eles tinham mais dificuldades. Em sua época se buscavam as coisas bonitas e acabadas”, disse Zenith.
Enquanto isso, o professor e escritor Carlos Felipe Moisés, também curador da mostra, afirma que outra das pretensões da exposição é que o visitante “faça uma reflexão sobre a multiplicidade” que existe em todos os seres humanos.
Segundo Moisés, nos últimos anos os leitores brasileiros iniciaram um processo de recuperação da poesia. Para ele é “cada vez mais frequente” a realização em teatros e escolas de recitais, eventos que já fazem parte da agenda cultural de muitas cidades do Brasil.
“Há uma volta às origens, à oralidade da poesia”, disse à Agência Efe o responsável pel exposição, para quem está começando um fenômeno de “revalorização da poesia no qual Pessoa colabora porque sua obra é muito estimulante”.
Moisés considera que uma das chaves da exposição é fazer com que o visitante se sinta “intrigado” pelo trabalho de Pessoa e pela “imaginação impregnada de raciocínio” que percorre sua obra.
“Lemos Pessoa por assim dizer contemporâneo, revelando o mundo como se estivesse vivo e falando conosco. Pessoa alimenta nossa consciência crítica e nossa imaginação”, concluiu.
Depois de São Paulo, a exposição segue para o Rio, em março de 2011.