Quando se fala em cultura, o imaginário nos leva a palcos, livros, museus e festivais. Mas há outra dimensão, menos visível, que também faz parte da cultura. É a forma como nos relacionamos com o ambiente e com os resíduos que geramos. É nesse espaço que o Na Praia Festival atua, unindo música, inclusão social, gastronomia e responsabilidade socioambiental.
No dia 9 de agosto, a quarta edição do Clean Up Day Na Praia trouxe ao Lago Paranoá uma ação de limpeza que envolveu mais de 20 mergulhadores da Migulho Centro de Mergulho e profissionais da Unidade de Operações Lacustres da Polícia Militar do Distrito Federal. O objetivo foi retirar resíduos submersos, devolvendo vida ao lago e conscientizando o público sobre preservação ambiental.
Ao final da ação, foram retirados cerca de 516 quilos de resíduos do Lago Paranoá, todos encaminhados para reciclagem. Entre os materiais recolhidos estavam pneus, garrafas PET, copos plásticos e outros objetos descartados de forma irregular. Apesar do volume de lixo, os voluntários também encontraram diversas conchas, indício de que o lago vem passando por um processo de recuperação da vida aquática. A limpeza se estendeu ainda à área externa da orla, com a participação de voluntários de diferentes idades, incluindo crianças acompanhadas pelos pais.

A programação iniciou com um café da manhã de boas-vindas e, ao meio-dia, os participantes receberam brindes da Cerveja Praya, patrocinadora do evento. O Clean Up Day é uma iniciativa ligada ao 14º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, relativo à vida na água, mas sua relevância ultrapassa estatísticas: é uma forma de envolver a população na preservação de um patrimônio natural.
Resultados que impactam a sustentabilidade
Segundo Kallel Kopp, estrategista ESG do festival e CEO da IS.ECO, “o Clean Up Day é nossa principal estratégia de devolutiva, de agradecimento ao lago que abraça o festival. Em quatro edições já tiramos mais de 2.500 kg de lixo. Muito mais do que limpar, é inspirar. Mostrar a importância de preservar esse legado, esse espetáculo que é o Lago Paranoá.”
A ação do festival não surgiu do nada. Em 2017, em parceria com a Agência Goiana de Habitação e a ONG Litro de Luz, o Na Praia levou energia solar para a maior comunidade quilombola do Brasil, os Kalungas, na Chapada dos Veadeiros. Mais de 30 voluntários instalaram 57 postes e 80 lampiões, beneficiando mais de 600 pessoas com iluminação pública e em residências. A tecnologia utilizava placas fotovoltaicas que captavam energia durante o dia e acendiam lâmpadas LED à noite, oferecendo segurança e dignidade à comunidade.

Menos de um ano depois, durante a crise hídrica de 2018, a R2, produtora do festival, mobilizou recursos e voluntários para realizar o reflorestamento da Bacia do Descoberto, principal fonte de abastecimento do Distrito Federal. Em parceria com a organização internacional não governamental dedicada à conservação da natureza, WWF, a R2 financiou integralmente o projeto, tornando-se a única iniciativa privada a liderar toda a operação, que também atendeu a múltiplos ODSs, como água potável (ODS 6), energia limpa (ODS 7), redução de desigualdades (ODS 10) e vida terrestre (ODS 15).
Transformação de cultura
Para Eduardo Azambuja, sócio do Grupo R2 e diretor de sustentabilidade do festival, o Na Praia vai além da música e da gastronomia. “Enxergamos o evento como uma plataforma de transformação cultural. É motivo de orgulho sediar em Brasília o maior festival lixo zero do mundo, superando referências internacionais como a NBA (National Basketball Association, liga profissional de basquete dos Estados Unidos), a NFL (National Football League, liga profissional de futebol americano dos Estados Unidos) e até mesmo o Super Bowl, final da temporada da NFL. Esse protagonismo inspira as pessoas a adotarem práticas mais sustentáveis. A limpeza do lago, por exemplo, envolve não apenas mergulhadores, mas também famílias inteiras, incluindo crianças, o que torna a experiência ainda mais significativa”, afirmou.

A ação de limpeza envolveu mergulhadores experientes, como Michelli Gobi, sócia da Migulho, que reforçou: “Nosso objetivo é manter o lago sempre limpo. A gente só entra para remover o que alguém jogou. O ideal seria trabalhar para que ninguém jogasse.” A dedicação de voluntários e profissionais simboliza a força de uma cultura que entende que preservação é parte do entretenimento e não um obstáculo a ele.
Para Karen Silva, Head de Sustentabilidade da Cerveja Praya, apoiar o festival é conectar propósito e impacto social. “A Cerveja Praya é a primeira cerveja Selo B do Brasil e se preocupa com o coletivo. Não queremos agir sozinhos; buscamos parceiros que pensem no impacto que vão gerar para a sociedade e o meio ambiente. Estar aqui hoje é estar perto de ações que realmente transformam”, destaca Karen.
O Na Praia Festival já acumula números expressivos: mais de 1.215.000 kg de resíduos reciclados, 160.000 kg de resíduos orgânicos compostados, 10 milhões de litros de água economizados e 9,7 milhões de copos descartáveis evitados. Mais do que estatísticas, esses números simbolizam a possibilidade de unir cultura, diversão e impacto ambiental.