“Exibir no Museu Nacional a mostra Geometria da Transformação – Arte Construtiva Brasileira na Coleção Fadel, durante as comemorações do 52º aniversário de Brasília, significa contextualizar historicamente o surgimento da cidade, concebida sob o signo de uma síntese das artes, onde a arquitetônica e o urbanística protagonizam a cena e compartilham nesta exposição os mesmos princípios estéticos”.
O texto acima está na apresentação da exposição Geometria da Transformação, pelo diretor do Museu Nacional, Wagner Barja. E realmente Brasília pode ver uma exposição que tem várias conexões plásticas e conceituais com a capital do país. A exposição tem abertura nesta terça no Museu Nacional, Conjunto Cultural da República.
Geometria da Transformação traz parte do acervo da Coleção Fadel, um dos acervos particulares mais importantes do país. Pertence ao casal Hecilda e Sérgio Fadel, este um advogado carioca que começou comprado obras de Portinari e Pancetti. É informação corrente que as grandes coleções particulares são as guardiãs do melhor da arte brasileira,
como a de Chateaubriand, a de Paulo Geyer e dos Fadel, que desde o final de 1960, a partir da compra de obras de Augusto Rodrigues, criou seu valioso acervo, contado e bem contado por Alexei Bueno no livro Arte e História do Brasil na Coleção Fadel.
São 142 obras de 55 artistas entre pinturas, desenhos, gravuras e esculturas, compreendendo o período que vai do início da década de 1950 ao final da década de 1980.
A Coleção Hecilda e Sergio Fadel é uma coleção privada que reúne significativas obras de arte realizadas entre os séculos XVII ao XXI. A seleção apresentada nesta exposição, de forma inédita, é um amplo panorama da arte construtiva no Brasil. A exposição está dividida em cinco núcleos de representação: Atelier Abstração, Grupo Ruptura e Concretismo, Grupo Frente e Neoconcretismo, os artistas geométricos não vinculados a grupos e a segunda geração construtiva.
Transformação geométrica é a expressão da matemática que denomina uma isonomia, equilíbrio que se faz em rotações, translações e possiblidades infinitas. Na Rússia, as primeiras experiêncis com a geometria e abstração começaram com as vanguardas das primeiras décadas do século XX. A tendência abstrato-geométrica tomou conta da arte moderna, com representantes de ponta como Max Bill.
O modernismo brasileiro, que se dá algumas poucas décadas depois, tem muitos pontos de contato, embora quase que em seguida a um primeiro momento,o corpo torne-se o protagonista desses modernistas como Tarsila do Amaral. A vinda para o Brasil de informações, artistas ou estudantes da Escola Bauhaus, da Alemanha, e a 1ª Bienal de São Paulo, em 1951, em que exatamente o suíço Max Bill se destaca em primeiro lugar.
Os artistas que vieram depois podem ser chamados de neomodernistas e muitas e aglutinaram em torno do movimento concreto, especialmente em São Paulo,e no desdobramento do neoconcretismo, de acento carioca. Hélio Oiticica, Lygia Page e Lígia Clark formam o primeiro trio reconhecedor e até hoje influente na produção atual.
Esta exposição é certamente um marco para as artes visuais do ano, exatamente num momento que parece prenunciar cada vez mais a descoberta internacional do poder dos construtivistas brasileiros que se desdobraram em conceitos e estéticas, mas são abstratos, geométricos e têm uma originalidade que interessa ao mundo. Privilégio para os que moram e visitam Brasília nos próximos meses, apreciar de perto obras de Lothar Charoux, Alfredo Volpi, Ubi Bava, Ivan Serpa e Luís Sacilato, entre tantos artistas originais, inventivos, poeticamente construtivos.
E como constata uma matéria de imprensa: o mercado profissionalizou-se e a arte brasileira valorizou-se enormemente, inclusive no exterior. Na década de 90, os preços dos quadros nacionais começaram a atingir valores estratosféricos na Sotheby’s e na Christie’s, as duas mais importantes casas de leilões do mundo.