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Viva

Aos 66 anos, cantor Alceu Valença estreia como roteirista e cineasta

Arquivo Geral

30/12/2012 16h36

Alceu Valença, de 66 anos, vive presente, passado e futuro ao mesmo tempo. Com cinco safenas caprichosas que deixaram o seu coração igualzinho Recife, “cheio de pontes”, parece ser levado por cada uma delas a um destino diferente.

 

O gás de Alceu não arrefece com sua volta. É para este ano que ele promete a estreia de A Luneta do Tempo, seu primeiro filme, do qual assina roteiro e direção. Suas ideias começaram há dez anos, quando lhe vieram os esboços da trama de amor que se passa no cangaço de violeiros e artistas circenses, inspirada em rimas de cordel e linguagem de repentistas. 

 

A trama

Conta a história de Rodrigo, um diretor de cinema que volta a São Bento do Una (terra do próprio músico) para filmar a saga de Lampião, Maria Bonita, Severo Brilhante e seu bando contra Antero Tenente e seus soldados. Irandhir Santos aparece como Lampião, Hermila Guedes é Maria Bonita e Ceceu Valença, filho de Alceu, vive o mulherengo e canastrão Nagib Mazola.

 

A mão de Alceu está na trilha sonora e em um texto que poderia sempre ser música. Sem saber que está no purgatório com Maria Bonita, Lampião se enfeza com a mulher que tenta convencê-lo de que ambos estão mortos. Magoada, ela se refugia em uma pedra alta e fica por lá, contemplando um fim de tarde inebriante com toda a sua tristeza. Lampião chega por trás e começa a cortejá-la: “Se o tempo tivesse a medida pequena de um dia de feira e tu não fosse a minha vida, eu cometia uma besteira. Voava daqui do lajedo nas asas leves do vento, matava cabo e sargento e virava o mundo todo do avesso. Mas confesso o meu segredo, do fundo do meu sentimento: sem você, morro de medo. Não te esqueço um só momento.” Maria Bonita fica desconcertada. “Tu és o rei da poesia, Lampião.” E ele devolve: “Ah Maria, deixe de besteira.”

 

Um caminho alternativo na vida musical

 

O músico revela os planos para o filme: “Quero colocar o filme primeiro nos circuitos internacionais para depois trazê-lo ao Brasil, ainda em 2013”. O longa, uma ficção, ganha tons biográficos quando reconduz o artista às origens de São Bento do Una. Pois foi lá que seu pai sentiu com agulhadas no peito que o moleque tinha mesmo um pé no palco.  “Música era uma coisa proibida lá em casa. Meu pai não quis me dar nem um violão, queria que eu estudasse outra coisa”, lembra

 

Apesar de ter Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga subindo suas veias lado a lado com os genes do rock and roll setentista e de frevos, maracatus, choros e da música árabe que historicamente usa o baião como seu melhor hospedeiro no Brasil, Alceu diz ser um homem sem ídolos, inspirado por uma conversa de corredor que teve com Hermeto Pascoal. “Mas Hermeto, quem você ouve para se inspirar?” “Eu não ouço nada.” “Por que não?” “Para não me influenciar.”

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