Os saberes e práticas das mulheres sempre atravessaram o tempo por caminhos de resistência, reinvenção e cuidado. Agora, ganham também o foco das lentes. A Ocre Imagem, coletivo de mulheres e mães atuantes no audiovisual e na fotografia, lançou o concurso “Olhar d’Elas – Mulheres na Fotografia”, voltado exclusivamente para fotógrafas do Distrito Federal (cis e trans). As inscrições são gratuitas e estão abertas até 20 de julho, com edital disponível no perfil @ocreimagem no Instagram.
Com o tema “Mulheridades: Tecnologias Ancestrais”, o concurso vai selecionar 20 imagens para uma exposição inédita no Complexo Cultural de Samambaia, com abertura prevista para o dia 23 de agosto. As três fotografias com melhor avaliação receberão prêmios no valor de R$ 1.000 cada. Duas serão escolhidas pela curadoria, e uma terceira será definida por voto popular, em votação online.

Além de reconhecer e valorizar o trabalho de fotógrafas profissionais e amadoras, o projeto quer ampliar a presença das mulheres na cadeia produtiva da cultura. Idealizado por Gabriela Pires e Tatiana Reis, da Ocre Imagem, o concurso nasce de vivências que muitas vezes combinam maternidade, militância e criação artística.
Em entrevista exclusiva ao Jornal de Brasília, Gabriela Pires detalha as motivações que levaram à criação do projeto. “O tema do projeto foi surgindo aos poucos. A gente sentiu que, sem um recorte temático, a curadoria teria dificuldade em selecionar as imagens. ‘Mulheridades’ veio de um outro projeto que eu tinha participado, sobre um grupo de samba só de mulheres. Anotei a palavra na parede do meu quarto. Depois, com minha sócia Tati, chegamos à formulação final: Mulheridades: Tecnologias Ancestrais. E foi um ‘amém’ coletivo”, conta a fotógrafa, mãe e uma das proponentes do concurso.
Poética do cuidado
O foco em “tecnologias ancestrais” não aponta apenas para saberes tradicionais. A proposta da Ocre Imagem é, sobretudo, evocar o afeto, o cuidado e a coletividade. Elementos historicamente exercidos por mulheres e, muitas vezes, invisibilizados. “A gente espera provocar nas fotógrafas uma reflexão. Que elas contem histórias das mulheres que estão ao seu redor, da família, da comunidade. A ideia é que venham imagens poéticas, afetuosas, que possam abordar desde a ancestralidade até a tradição do cuidado”, afirma Gabriela.
Para além das imagens, o concurso também homenageará a fotógrafa e documentarista Marisol Kadiegi, angolana radicada em Brasília, cuja trajetória inspira gerações de mulheres negras e migrantes. Ela participará de uma roda de conversa no encerramento da exposição, marcada para 20 de setembro.

A curadoria do projeto será composta por quatro fotógrafas do Distrito Federal: Aya, Ramona Jucá, Thaís Mallon e Gabriela Pires. A seleção das 20 imagens busca refletir a pluralidade de olhares e histórias das mulheres participantes. “Fizemos questão de montar uma curadoria diversa. Ramona é indígena, Aya é uma mulher preta, eu sou uma mulher gorda, e temos também a Thaís, fotógrafa renomada. Essa diversidade é essencial para que as participantes se sintam pertencentes ao edital”, diz Gabriela.
Ela destaca ainda o cuidado com a representatividade desde a concepção do projeto. “A cara do projeto diz muito sobre quem ele convida. Se uma mulher não se vê naquele espaço, ela pode não se sentir à vontade para participar. Por isso, quisemos garantir que o edital tivesse uma cara que fosse, de fato, feminina e diversa”, destaca Pires.
Fotografia como resistência
A Ocre Imagem surgiu em 2023 como uma resposta às barreiras estruturais enfrentadas por mulheres, sobretudo mães, no mercado criativo. “As dificuldades continuam sendo as mesmas. Existe o discurso da inclusão, mas na prática o mercado é dominado por homens, principalmente brancos. Áreas técnicas de bastidores como fotografia e audiovisual ainda não são espaços acolhedores para mulheres”, lamenta Gabriela.
Ela lembra que a maternidade muitas vezes se torna um impeditivo para a permanência de profissionais na área. “Não há rede de apoio. A gente sempre se sente menor, silenciada. Quando entra numa equipe, geralmente é a única mulher. A Ocre nasceu justamente dessa vontade de mudar isso”, pontua Pires. Atualmente formado por Gabriela Pires, Tatiana Reis, Beatriz Braga, Sabrina May, Jully Kathleen e Karla Raposo, o coletivo já atuou na cobertura de festivais, oficinas, espetáculos e shows no DF. Agora, busca ampliar ainda mais sua atuação.
Próximos passos
Entre os planos futuros da Ocre Imagem está a criação de um espaço físico de acolhimento. “Queremos ter um local onde essas mulheres possam deixar seus filhos com segurança e também acessar formação e infraestrutura para trabalhar. Um estúdio, por exemplo, para ser usado coletivamente. Nosso objetivo é seguir captando recursos para tornar isso realidade”, explica Gabriela.
Para quem deseja participar do concurso, o processo é simples: cada fotógrafa pode inscrever até três imagens em uma única ficha, respeitando os critérios estabelecidos no edital. O resultado da seleção será divulgado no dia 11 de agosto, e a fotografia premiada pelo público será anunciada no dia 20 de setembro, durante o encerramento da exposição.
- Cronograma do concurso
 - 20/06/25 a 20/07/25: período de inscrições
 - 20/07/25 a 02/08/25: período de curadoria das fotógrafas inscritas
 - 11/08/25: divulgação do resultado da seleção
 - 23/08/25 a 20/09/25: período de exposição no Complexo Cultural da Samambaia
 - 27/08/25 a 14/09/25 (até às 18h): votação popular online
 - 19/09/25: encerramento com roda de conversa e premiação
 
SERVIÇO
Concurso Olhar D’Elas – Mulheres na Fotografia
Período de inscrições: 20 de junho a 20 de julho de 2025
Abrangência: Distrito Federal
Premiação: exposição coletiva e R$ 1.000 para as três primeiras colocadas
Formulário de inscrição: https://instagram.com/ocreimagem 
Informações: projetoolhardela@gmail.com