Em Animais Perigosos, o mar deixa de ser paisagem paradisíaca para se tornar palco de horror. Dirigido por Sean Byrne, o longa australiano que chega aos cinemas nesta quinta-feira (18) explora a intersecção entre natureza selvagem e crueldade humana, construindo uma atmosfera sufocante que prende o fôlego do início ao fim. Se Tubarão simbolizava medos coletivos no suspense aquático, aqui o perigo ganha rosto, músculos e voz na figura de Bruce Tucker, interpretado por Jai Courtney.
A premissa é simples e perturbadora: um guia turístico transforma tubarões em cúmplices de seus crimes. Tucker não apenas assume sua brutalidade como a ostenta com prazer doentio, registrando cada ataque em fitas VHS — troféus de uma violência arquivada. Esse detalhe retrô reforça a estranheza: o assassino não só mata, mas coleciona memórias, como se vivesse uma vida paralela dedicada à barbárie.

O título Animais Perigosos joga com a ambiguidade. Se os tubarões carregam fama de predadores implacáveis, Byrne deixa claro que os monstros mais temidos continuam sendo humanos. Tucker, com sua força física e olhar predatório, projeta mais medo do que as barbatanas que cercam a embarcação. Sua violência metódica, quase erótica, define a experiência do espectador: claustrofóbica, inquietante e, em certos momentos, insuportavelmente próxima.
Há, no entanto, resistência. O roteiro dá fôlego a Zephyr (Hassie Harrison), surfista solitária marcada pela dureza dos lares adotivos. Longe de ser apenas a “final girl”, ela enfrenta Tucker em um embate que não é só físico, mas também psicológico, colocando em jogo a astúcia diante da brutalidade.
As passagens românticas entre Zephyr e Moses (Josh Heuston) acrescentam uma camada inesperada. O que poderia soar como distração juvenil se transforma em recurso narrativo: fazer o público se importar com as vítimas, apenas para vê-las dilaceradas pela lógica cruel do terror que prefere o choque à segurança.

Visualmente, o longa impressiona. O barco de Tucker, convertido em matadouro flutuante, funciona como um personagem à parte. As paredes marcadas com nomes de vítimas e o armário repleto de fitas e lembranças macabras compõem um museu da barbárie. A direção de arte de Pete Baxter expande o horror sem recorrer ao gore gratuito, estimulando a imaginação no espaço entre o sugerido e o visto.
Fiel ao estilo que recusa suavizar a crueldade, Byrne encontra aqui um equilíbrio raro: a violência é crua, mas envolvida em uma estética que evita a exploração fácil. O desconforto se intensifica ao lembrar que resorts de luxo e barcos de festa estão a poucos metros daquele pesadelo, enquanto gritos se perdem no som abafado das férias. Essa proximidade entre prazer e morte talvez seja o aspecto mais aterrorizante da narrativa.


Conclusão
Animais Perigosos não é apenas mais um filme de tubarão ou serial killer. É um híbrido ousado que combina slasher, survival horror e thriller psicológico. Um mergulho no abismo humano que demonstra que o verdadeiro pavor não está nos dentes afiados de criaturas marinhas, mas na mente de quem transforma a vida em espetáculo de morte — e garante ao longa seu lugar entre os exemplares mais inquietantes do recente terror australiano.
Confira o trailer:
Ficha Técnica
Direção: Sean Byrne;
Roteiro: Nick Lepard;
Elenco: Hassie Harrison, Jai Courtney, Josh Heuston, Ella Newton, Liam Greinke, Rob Carlton;
Gênero: Terror;
Duração: 93 minutos;
Distribuição: Diamond Films;
Classificação indicativa: 18 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z