Carolina Tulim
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Foi agarrada ao bom e velho violão, instrumento que ganhou do avô quando ainda menina, aos seis anos de idade, que Adriana Calcanhotto trouxe ao mundo O Micróbio do Samba – seu décimo disco. Com 12 canções que transitam pelo universo do samba, mas que, na forma e no conteúdo, apresentam uma inversão ao que tradicionalmente se entende como samba clássico, o trabalho propõe uma troca de papéis entre os malandros do samba da velha guarda e o eu lírico feminino.
É com a turnê deste novo trabalho que a cantora desembarca neste sábado (24) em Brasília, para apresentação única no Museu Nacional, a partir das 20h. O nome, conta Adriana, veio de uma frase de Lupicínio Rodrigues – autor de clássicos dor de cotovelo como Volta e Vingança. Ele dizia que, quanto mais velho ficava, mais o micróbio do samba se apegava a ele. “É uma frase que traduz perfeitamente a minha relação com o samba”, diz a cantora.
Com sambas como Beijo Sem, lançado por Teresa Cristina e Tá Na Minha Hora, a cantora apresenta a miscigenação entre o samba de raiz de Nelson Cavaquinho e a bossa nova de João Gilberto. “Essas músicas não seriam possíveis antes, porque as coisas não funcionavam assim. Quem tinha o micróbio do samba era o homem. Se a mulher tivesse, era vadia”, explica a compositora.
O Micróbio do Samba tem fortes influências. “O próprio João Gilberto, na síntese da batida do violão dele, Nelson Cavaquinho, Ismael, Noel, Lupicínio, mas também o mundo de hoje, e sobretudo as mulheres que trabalham e ainda cuidam de marido e filhos, verdadeiras heroínas contemporâneas”, revela a artista.
A veia artística de Adriana, ainda na infância, foi inspirada pelos pais, um baterista de jazz e bossa nova e uma bailarina. “Não pelo mero fato deles serem artistas, mas pelo incentivo que sempre deram. Vi meu pai ensaiar, minha mãe conceber espetáculos, vi o trabalho por dentro e isso certamente me influenciou”.
Musa de trilhas sonoras de produções televisivas – incluindo 18 telenovelas, Adriana não se incomoda com isso. “Eu gosto de compor trilhas, acho que ajuda a chegar perto das pessoas. E eu amo novela, é um gênero muito interessante, interativo, vivo”.
Participações
No disco, Adriana Calcanhotto é acompanhada por uma banda composta por Domênico Lancelotti (bateria), Davi Moraes (violão) e Alberto Continentino (baixo). Mas, em algumas faixas, há participações de Rodrigo Amarante na guitarra, Moreno Veloso no prato-e-faca, Nando Duarte no violão de sete cordas e Davi Moraes no cavaquinho.
“Foi muito divertido trabalhar com essa turma, eles amam o que fazem, então tudo flui”, diz. Quanto ao show em Brasília, Adriana não faz mistério. “Faremos o show como vimos fazendo pelo mundo. São os sambas do Micróbio e mais alguns sem os quais o disco, provavelmente, não existiria”.
Adriana Calcanhotto – Sábado, às 20h. Na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Cláudio Santoro (Eixo Monumental). Ingressos: R$ 160 (inteira) e R$ 80 (meia para estudantes, idosos, professores e doadores de
1kg de alimento). Informações: 3244-4794. Não recomendado para menores de 14 anos.