Em 1962, Dias Gomes escreveu a peça Odorico, o Bem-Amado ou Os Mistérios do Amor e da Morte, que contava a história do emblemático Odorico Paraguaçu, um político corrupto, conquistador e hipócrita, porém repleto de carisma e com um discurso capaz de deixar pessoas de queixo caído pela eloqüência e confiança com que falava. Quarenta anos depois e a história remete aos dias de hoje? Sim, como se tivesse sido escrita em 2010.
Após duas famosas transposições para a televisão (uma novela em 1973 e uma minissérie com mesmo elenco exibida entre 1980 e 1984), O Bem-Amado – título reduzido em ambas as versões – se tornou uma das mais populares histórias de sátira e denúncia à corrupção política já feita no Brasil.
Com O Bem Amado, Dias Gomes conta a história de Odorico Paraguaçu, o político eleito da pacata cidade fictícia de Sucupira, na Bahia.
Tendo como fiéis escudeiros o secretário Dirceu Borboleta e as irmãs Dulcinéa, Dorotéia e Judicéa, Odorico precisa inaugurar sua primeira obra como novo prefeito: um cemitério. O problema é que não morre ninguém na cidade. Para solucionar o problema, ele conta com diversas artimanhas como, até mesmo, contratar o perigoso matador Zeca Diabo, assassino do seu predecessor.
Nesse ínterim, tem de lidar com os jornalistas Neco Pedreira e Vladmir de Castro, que sabe da corrupção de seu governo e almeja tirá-lo do poder.
Com roteiro surpreendente, a peça traça um panorama sarcástico da corrupção política, na fictícia Sucupira, mas que se torna atual se fizermos um paralelo com a Política Brasileira.
A estratégia de Odorico para conseguir que um morto na cidade solidifique sua glória contém o diálogo dinâmico, o ritmo rápido que fazem com que a peça não perca o ritmo da narrativa. E o político tem nas engraçadas irmãs Cajazeiras, três mulheres que sonham em ser a primeira dama da cidade, seja na romântica Dulcinéa, na resguardada Dorotéia ou na espevitada Judicéa, a libidinosa, alcoólatra e mais nova do trio.
Com os neologismos do seu inigualável vocabulário, Odorico não fala, discursa. É o típico político que faz uso das palavras para conquistar a todos, sem exceção. E cria expressões enfeitadas para impressionar, como “mal-caratistas”, “emboramente”, “construimento” e “sigilento”. Quem não entende, claro, fica boquiaberto com a “inteligência” do prefeito. E ele ganha fama e inimigos no caminhar da carruagem.
Em sua sina de inaugurar o Cemitério, Odorico chega ao ponto de nomear um pistoleiro, como Delegado da Cidade de Sucupira, contudo o mesmo se converte e deixa a “vida bandida” de lado, temporariamente.
O final pode surpreender aos que não conhecem o desfecho dado por Dias Gomes à história. O Bem-Amado fala de um personagem brasileiro emblemático que, como político, foi destruído pelo povo; e, como ser humano, foi destruído pelas pessoas próximas a ele. Pena que Odorico Paraguaçu represente muitos políticos, mas seu destino será diferente daqueles que governam na vida real.
Nesta montagem, a Barcaça dos Beltranos, optou pela mescla da Obra Original literária com a obra cinematográfica, bem como referências da teledramaturgia, que fez de Dias Gomes um renomado Dramaturgo brasileiro, pela novela O Bem Amado, na década de 70.
A Barcaça dos Beltranos novamente irá surpreender o público, com uma agradável montagem.
Serviço
Teatro Goldoni, Casa D’Itália. (EQS. 208/209, Asa Sul, Brasília – DF)
De 07 a 30 de Junho de 2013
21h (Sextas e Sábados) e 20h (Domingos).
Ingressos: R$ 15,00 (Meia) e R$ 30,00 (Inteira).
Classificação Indicativa: A partir de 12 Anos.