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Viva

A arte de não fazer nada

Arquivo Geral

10/05/2013 9h17

Estreia de Francisco Garcia nas telonas, Cores – que apesar do nome é rodado inteiramente em preto e branco – retrata a vida de três jovens adultos. Todos têm 30 e poucos anos e vivem na capital paulista durante o governo Lula. É a geração nascida na década de 1980 que não deslanchou junto com a economia do País.

 

Enquanto Luca (Pedro di Pietro) é um tatuador mal-sucedido e sustentado pela avó; Luara (Simone Iliescu) trabalha em uma loja de peixes ornamentais e vive em um apartamento com vista para a pista do Aeroporto de Congonhas – o mais perto que chega de seu sonho de viajar pelo mundo; e Luiz (Acauã Sol), namorado de Luara, que mora numa pensão decadente e é funcionário de uma farmácia onde desvia remédios tarja preta.

 

Os personagens tentam sair à noite ou viajar, mas sua vida permanece estática. Uma juventude à deriva que está sempre bebendo, fumando maconha ou apenas não fazendo nada, vislumbrando o completo vazio de suas existências. Imorais e amorais, eles dialogam com o fracasso em uma realidade que parece não ser a deles. Estrangeiros em seu próprio País que não se adequam à época em que vivem.

 

Sem clichês

Garcia sabe trabalhar o tempo, retratando os três personagens com leveza e parcimônia. Felizmente, Cores passa longe do batido recurso dos planos-sequência de longuíssima duração e totalmente vazios. Não é preciso produzir cenas arrastadas e entediantes para retratar a vida de pessoas entediadas. Garcia acertou em cheio.

 

Peça premiada vira filme

Baseado em peça homônima, de Alexandre Ribondi, Cru gira em torno da pistolagem. Assassinatos por encomenda. O longa flagra o encontro do contratante e do assassino em um açougue em algum lugar perdido, mas não longe de Brasília.

 

O enredo tem um tom soturno adicional ao colocar em confronto um evangélico, um travesti e o pistoleiro. Entre eles tudo é cru, da conversa à carne servida em fatias. Em algum momento, a narrativa toma outro rumo com contornos passionais e místicos.

 

Engajamento

Além de mistério existencial e psicológico, a produção tem também denúncia ao fazer menção indireta às mortes do seringueiro e ambientalista Chico Mendes, no Acre (1988) e da religiosa Dorothy Stang, no Pará (2005).

 

O dramaturgo Alexandre Ribondi divide o roteiro do filme com Jimi Figueiredo, outro diretor que estreia nas telas de cinema. O título foi premiado Festival de Brasília do Cinema Brasileiro de 2011.

 

Documentário traça panorama econômico

O Brasil Deu Certo. E Agora?. Dirigido por Louise Sottomaior, o documentário conta a história da economia brasileira relatada por seus protagonistas.

 

No longa, três ex-presidentes da República, 12 ex-ministros de Estado, sete ex-presidentes do Banco Central e especialistas em finanças revelam o passado da economia brasileira e refletem sobre o presente e o futuro do País, além de discutir o que é “dar certo”.

 

O corte ágil, a linguagem simples e as artes gráficas criativas permitem que as respostas a esta e outras perguntas, dadas por alguns dos principais protagonistas da história recente do Brasil sejam esclarecedoras e acessíveis a todos os públicos.

 

Sonho com a fama e holofotes

Reality – A Grande Ilusão é um filme italiano de toques surrealistas sobre a vacuidade da fama. Dirigido por Matteo Garrone (de Gomorra), está sendo considerado uma versão moderna e colorida de La Dolce Vita, de Fellini. Mas fica diferente com a mão pesada do diretor para comédia e um certo exagero no tom fantasioso e lúdico.

 

O longa é sobre um homem que participa da versão italiana de Big Brother, que por lá se chama Gran Fratello. Reality é ambicioso e foge da estética de “sitcom” das recentes comédias italianas.

 

O diretor arrepende-se por não haver lançado o filme na Itália imediatamente após o prêmio que recebeu no Festival de Cannes do ano passado. Ele preferiu esperar, achando que teria mais tempo de preparar o lançamento.

 

Surpreendeu-o a má acolhida da crítica e do público, o reverso de seu trabalho anterior, que havia sido um grande sucesso. “Os críticos escreveram que era um filme sobre o Gran Fratello e transferiram seu ódio do programa para o filme”, comenta o cineasta.

 

Inspiração

Matteo conta que, para fazer Reality, se baseou num caso real, ocorrido na família da sua companheira. “Um parente dela, um primo, iniciou essa viagem louca que terminou envolvendo toda a família. Não precisei fazer outra pesquisa senão construir um roteiro sobre o que todos nós acompanhamos. São histórias que me interessam”, explica.

 

“Luciano, de Reality, é um ingênuo. Perde a própria identidade tentando realizar o sonho de virar uma celebridade. É um personagem em busca de um autor. Essa relação não estava na minha cabeça quando comecei a trabalhar no roteiro, mas, no limite, foi isso que ocorreu durante o processo”, revela.

 

Elenco

Garrone elogia Aniello Arena, que faz o protagonista. “Ele não é só talentoso. Como presidiário, integrante de um grupo de teatro no cárcere, ele sabe bem o que é perseguir um sonho e enfrentar a indiferença de um sistema que não está interessado nas pessoas”, comenta.

 

Roubando sem escrúpulo

Modalidade de crime em alta, o roubo de identidade é o motor de Uma Ladra Sem Limites, comédia conduzida por Jason Bateman e Melissa McCarthy, dois atores com experiência no gênero.

 

Como manda a receita, os personagens interpretados pela dupla têm características contrastantes: Bateman é Sandy, um contador introvertido, enquanto McCarthy vive a exuberante Diana.

 

A vida de Sandy entra em parafuso quando ele descobre que Diana usurpou sua identidade e abriu um rombo em sua conta bancária. O chefe de Sandy lhe dá uma semana para resolver o problema, sob pena de demissão. Ele viaja a Miami para agarrar a ladra e convencê-la acompanhá-lo até Denver para explicar tudo à polícia. 

 

Perseguição

O essencial da trama se desenrola durante a viagem de volta, quando Diana é perseguida por um caçador de recompensas e uma dupla de pistoleiros a serviço de um gângster. 

 

Cheio de perseguições e acidentes, o road movie se perde com fartas doses de humor físico, piadas sem graça e peripécias nada verossímeis. Além disso, o roteiro é uma via de mão única para Diana: ela caçoa de Sandy o tempo todo, enquanto ele nunca zomba dela.

 

Mas o pior são as intenções edificantes e a maneira pela qual esse moralismo vem à tona, procurando enternecer o espectador. Mentirosa contumaz, Diana não rouba por maldade, mas porque é solitária. O final redentor é o corolário dessa efusão de bons sentimentos, totalmente deslocados em uma comédia que se pretende escrachada. 

 

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