Torcedores do Flamengo denunciam fuga e negligência do motorista após acidente na Via Dutra
Juliana Abreu cobra respostas de responsáveis e denúncia que motorista fugiu do local do acidente e está desaparecido após 4 dias
Késia Alves
31/10/2025 16h54
Foto: Reprodução / Redes Sociais
O Flamengo está classificado para a final da Copa Libertadores da América de 2025. No entanto, um grave acidente envolvendo o ônibus que transportava torcedores rubro-negros do Rio de Janeiro para o jogo da semifinal contra o Racing, na Argentina, marcou a semana e segue causando impactos significativos para as vítimas. Nesta sexta-feira (31), a esposa de um dos torcedores que estavam no veículo denunciou a fuga do motorista e a negligência das empresas responsáveis pelo transporte, cobrando respostas sobre o ocorrido.
Em publicação nas redes sociais, a jornalista Juliana Abreu escreveu o relato sobre o acidente que aconteceu na segunda-feira (27). Segundo Juliana, que não estava no ônibus mas é esposa de uma das vítimas, o fato foi marcado por negligência. O relato começa pelos detalhes da viagem e informações sobre os motoristas escalados:
Na segunda-feira, 27 de outubro de 2025, 44 torcedores do Flamengo, entre integrantes das torcidas Movimento Nação 12 e Urubuzada, embarcaram por volta das 10h na portaria D do estádio do Maracanã, em frente à estátua do Belini. Com eles também seguiam um motorista auxiliar, sem vínculo empregatício com a empresa contratada, e o motorista Luis Carlos Vieira Neto, este sim vinculado à empresa. O ônibus era da Rio Sul Transporte Turismo e Viagens Ltda (CNPJ 45.314.699/0001-00), placa HGJ-1202, cor azul com detalhes em amarelo.
Em seguida, Juliana detalhe o problema apresentado pelo ônibus. De acordo com ela, o veículo quase perdeu a roda traseira esquerda. Roda, inclusive, que deveria estar presa por dez parafusos, mas, apenas três deles possuim rosca.
Fotos: Reprodução / @jullieabreu
TROCA DE VEÍCULO
Após notarem o defeito, um outro veículo foi solicitado para prosseguir a viagem. O ônibus substituto chegou por volta das 14h45, pertencente à empresa WF Liboti Transportes Eireli (CNPJ 11.954.975/0001-75), placa KNT6D69, cor branca. Apesar da mudança, a responsabilidade permaneceu com os motoristas do início da viagem.
NEGLIGÊNCIA E FUGA DO MOTORISTA
Os passageiros que estavam no ônibus relataram que chovia muito e o comportamento do motorista não parecia correto. De acordo com o relato publicado por Juliana, o veículo estava em alta velocidade com o motorista fazendo uma espécie de brincadeira para emparelhar com outro ônibus que levava torcedores de outra torcida organizada do Flamengo:
Passageiros relatam que, nos momentos que antecederam o acidente, chovia forte e o comportamento do motorista foi descrito como negligente. Segundo depoimentos, Luis Carlos conduzia em alta velocidade, buzinava e gritava de forma excessiva e festiva, numa atitude de “brincadeira” que virava provocação, buscando emparelhar e ultrapassar outro ônibus da Rio Sul que transportava torcedores da Torcida Jovem Fla.
Ao tentar ultrapassar o veículo da Torcida Jovem Fla, Luis Carlos perdeu o controle, colidindo contra o guarda-corpo que separa as pistas. O impacto arrancou a porta do ônibus e arremessou o motorista auxiliar para fora do veículo. Testemunhas contam que o ônibus girou duas ou três vezes antes de tombar.
Após o acidente, Luis Carlos Vieira Neto fugiu do local sem prestar socorro, nem ao colega de trabalho, nem aos passageiros feridos, e sem oferecer qualquer explicação sobre o ocorrido. Essas informações constam no laudo pericial emitido pela Polícia Rodoviária Federal.
Ainda no relato, Juliana cita a suspeita de que Luiz Carlos não possua idade suficiente para possuir a habilitação profissional para conduzir veículos de grande porte em operação comercial com passageiros. Além disso, uma testemunha que passava pela via do acidente afirma ter visto Luiz Carlos fugindo do local.
Os primeiros socorros foram prestados pelos integrantes da Torcida Jovem Fla, que retiraram os feridos do interior do veículo e acionaram as autoridades competentes.
VIDA APÓS O ACIDENTE
Ainda na publicação, Juliana relata como tem sido os dias após o acidente. O motorista segue desaparecido e as empresas envolvidas no acidente também não prestou nenhum suporte aos acidentados.
Hoje, sexta-feira, 31 de outubro de 2025, Luis Carlos Vieira Neto segue desaparecido. A empresa Rio Sul Transporte Turismo e Viagens Ltda não se pronunciou sobre o ocorrido e, até o momento, não ofereceu qualquer suporte aos acidentados.
Circula na internet informações de que havia óleo derramado na pista e que esta seria a causa do acidente. O laudo pericial oficial da Polícia Rodoviária Federal desmente este fato. Não havia óleo na pista no momento do acidente.
A escolha e contratação da empresa Rio Sul Transporte Turismo e Viagens Ltda foi de exclusiva responsabilidade da Torcida Flamanguaça, que, sozinha, tratou do contato com patrocinadores, do recebimento da verba, da pesquisa, da contratação e do pagamento do serviço de transporte. Até a publicação desta nota, a Torcida Flamanguaça também não se pronunciou nem prestou suporte efetivo às vítimas.
O marido de Juliana sofreu fraturas alinhadas do 3º ao 6º arcos costais, com laudo médico indicando repouso absoluto de 4 a 6 semanas. Ele necessita de ajuda para levantar, sentar, deitar e fazer tarefas cotidianas como tomar banho e até mesmo se alimentar. Além disso, o companheiro da jornalista também sofreu danos psicológicos.
No momento do impacto, meu marido estava sentado junto à janela, que ficou voltada para o chão do ônibus; sobre ele caíram outras três pessoas. Além das costelas fraturadas, apresenta hematomas na cabeça, lesões pulmonares que dificultam a respiração, edema no braço esquerdo, cortes e lesões nos pés e dores musculares intensas. As crises de pânico são frequentes; ele, que é motorista profissional, hoje não consegue sequer entrar em um carro sem sofrer um ataque de pânico.
Em forte desabafo, Juliana afirma que os últimos quatro dias mudaram a rotina de todos:
…Eu não me acidental, mas minha vida inteira mudou nos últimos dias por causa dos cuidados que ele precisa. Meu trabalho, nossa rotina, a estabilidade da nossa família… tudo foi abalado pela irresponsabilidade e negligência de quem deveria zelar pela segurança.
Estamos falando de 44 vidas. Nem todos sofreram ferimentos físicos graves, mas os danos psicológicos são incalculáveis. Há mães, esposas, maridos, filhos, irmãos e pais. Vidas inteiras afetadas direta e indiretamente. O que começou como a realização de um sonho tornou-se, para muitos, um pesadelo cotidiano de dor, desespero e incerteza a cada amanhecer…. Durmo e acordo tomada pelas imagens daquela câmera de segurança: o ônibus girando e tombando, vidas esmagadas no interior daquele metal torcido. Mesmo conhecendo o desfecho, cada vez que relembro, dói como se fosse a primeira vez. Ainda ouço, no silêncio, a voz falha e assustada do meu marido ao me contar o que viveu.
Por fim, Juliana cobra informações sobre o paradeiro do motorista desaparecido ou detalhes que possam ajudar na investigação.
Se você tiver qualquer informação sobre o paradeiro do motorista desaparecido ou detalhes que possam auxiliar na investigação, entre em contato comigo ou com qualquer integrante do Movimento Nação 12. Sua identidade será preservada. Se preferir, denuncie ao Disque Denúncia: (21) 2253-1177, funciona por WhatsApp e garante total sigilo.
Registro aqui, com toda a convicção: não vou descansar nenhum dia até que a justiça seja feita e até que todos os responsáveis respondam pelos danos que causaram a mim, à minha família, ao meu marido e aos amigos que estavam naquele ônibus.
TORCEDORES COBRAM JUSTIÇA
Nos comentários da publicação, outros torcedores cobram por justiça: “Queremos resposta”, “Que a justiça seja feita e que vocês fiquem bem”, “Decepção por tanta negligência, tanta irresponsabilidade. Que a justiça seja feita”.
Em nota, no dia do acidente, o Flamengo se pronunciou nas redes sociais:
“O Flamengo tomou conhecimento do acidente que ocorreu com o ônibus de torcedores que seguiam para Buenos Aires e entrou em contato com o Prefeito de Barra Mansa, Luiz Furlani, que prontamente colocou à disposição o Hospital Municipal e a Santa Casa para atendimento aos acidentados.
O clube também acionou o Comando Geral do Corpo de Bombeiros e está em contato direto com a Superintendência da PRF Rio, acompanhando todas as providências no local.
Seguimos monitorando a situação.”
Contudo, até o momento, nenhum responsável ou o próprio clube se pronunciou sobre a denúncia e a cobrança por respostas.