Por João Victor e Mateus Souza
A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira (30) a Operação Caixa Preta, voltada à apuração de crimes eleitorais relacionados ao pleito municipal de 2024 em Roraima, tendo como alvos a deputada federal Helena Lima (MDB-RR) e o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Samir Xaud. Foram cumpridos dez mandados de busca e apreensão, expedidos pela Justiça Eleitoral, nos estados de Roraima e do Rio de Janeiro. Também foi determinado o bloqueio de mais de R$ 10 milhões em contas de investigados.
A sede da CBF, localizada no Rio, e a residência do dirigente foram visitadas por agentes federais nas primeiras horas do dia.
As investigações tiveram início em setembro de 2024, quando Renildo Lima foi preso em flagrante com R$ 500 mil em espécie, parte do montante escondido na cueca, às vésperas da eleição. A Polícia Federal apura se o valor seria destinado à compra de votos.
A CBF confirmou o cumprimento de mandado em sua sede, entre 6h24 e 6h52, e declarou, por meio de nota, que a operação não está relacionada às atividades da confederação ou ao futebol. Segundo a entidade, nenhum equipamento foi apreendido e o presidente Samir Xaud “permanece tranquilo e à disposição das autoridades”.
Apesar da negativa da CBF, Xaud já teve sua conduta questionada em outras ocasiões. Quando concorreu a deputado estadual em 2018, omitiu da Justiça Eleitoral a posse de dois imóveis. O artigo 350 do Código Eleitoral prevê pena de até cinco anos para esse tipo de omissão em documentos oficiais.
Além disso, processos trabalhistas contra Xaud indicam que ele foi responsabilizado por dívidas de uma empresa da qual era sócio em Boa Vista. A Justiça determinou bloqueio de bens após constatar salários não pagos, ausência de recolhimento de FGTS e outros direitos trabalhistas descumpridos. Embora ele tenha alegado que não era mais sócio à época das ações, o Judiciário entendeu que havia responsabilidade solidária pelos débitos.
Samir Xaud foi eleito presidente da CBF em maio de 2025 com 103 votos de um total de 141. Sua candidatura foi única, sucedendo Ednaldo Rodrigues. Com passagens por disputas eleitorais locais, Xaud era visto como representante de uma geração mais jovem dentro da cartolagem nacional e buscava projetar uma imagem de renovação.
Dois dias antes da operação, ele esteve na sede da PF em Brasília, em encontro com o diretor-geral da corporação, Andrei Rodrigues, para tratar de temas como integridade esportiva e segurança em eventos. A reunião, segundo fontes oficiais, não tinha relação com o inquérito em curso.
A operação segue em andamento e ainda não houve prisões decretadas além da que motivou a investigação.