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Saúde

Novembro Roxo: o grave quadro dos bebês prematuros em tempos de covid-19

O Brasil é o 10º país com mais partos prematuros no mundo, com cerca de 340 mil nascimentos de bebês nessas condições por ano, aponta a OMS

Redação Jornal de Brasília

18/11/2020 12h32

Com 340 mil partos de prematuros por ano, Brasil entra no “Novembro Roxo” como décimo país em incidência de prematuridade e, no contexto da pandemia, enfrenta desafios complexos, como o isolamento de prematuros na UTI, a evasão de consultas de gestantes e um quadro de pânico e desinformação

De acordo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a pandemia do coronavírus já provocou mais de 1 milhão de mortes em todo o mundo, somando 32 milhões de casos em 188 países. Os números, assombrosos por si só, agravam outras situações que já eram bem complexas antes da pandemia. Uma delas é o universo da prematuridade como um todo, que envolve, entre outros pontos, a prevenção durante a gestação, o tratamento de bebês prematuros e o acolhimento à família.

O Brasil é o 10º país com mais partos prematuros no mundo, com cerca de 340 mil nascimentos de bebês nessas condições por ano, aponta a OMS. A lista inclui ainda China, Estados Unidos, Índia e Nigéria, sendo que 60% desses nascimentos ocorrem na África e no Sul da Ásia, o que demonstra o caráter global do problema. Vale destacar ainda que, no mundo, ocorrem 15 milhões de nascimentos nesse perfil, ou seja, um em cada dez bebês nascem prematuros todo ano, sendo que 1 milhão deles morre, consolidando assim a prematuridade como a principal causa de mortalidade infantil até 5 anos.

Um recente estudo realizado pela Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA relatou que as mulheres com Covid-19 têm maior chance de parto prematuro. O resultado aponta que 12,9% dos nascidos vivos entre uma amostra de 3.912 mulheres foram prematuros, em comparação com 10,2% na população em geral.

“Precisamos colocar esse assunto com a evidência e a urgência que merece. Trata-se de um problema que pode até ser evitado com um bom pré-natal ou, ainda que haja o parto prematuro, certamente o bebê pode se recuperar com o mínimo de danos à saúde quando recebe o atendimento adequado. O resumo é que podemos interferir positivamente nesse quadro e vidas podem ser salvas. E agora temos que adaptar a realidade da prematuridade ao cenário do COVID-19”, explica Denise Leão Suguitani, fundadora e Diretora Executiva da ONG Prematuridade.com.

Evasão de consultas e isolamento de bebês na UTI: medo leva a erros graves

De maneira resumida, um parto é considerado prematuro quando acontece antes de 37 semanas de gestação. São várias as causas que podem levar à prematuridade, mas o principal passo para evitar esse problema é a prevenção. Nesse sentido, o pré-natal é uma das medidas mais eficazes para uma gestação saudável e completa. E aqui começa o primeiro processo agravado pela COVID-19: a evasão de consultas de gestantes por medo de infecção.

Recentemente, a Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) realizaram um grande estudo com 2.753 mulheres (1.713 grávidas e 1.040 puérperas – mães de recém nascidos com até 45 dias – de todas as classes sociais, em todas as regiões do país.

Entre outros dados, o estudo revelou que 81% das grávidas temem a contaminação pelo novo coronavírus durante as consultas de pré-natal, e 82% têm medo da internação hospitalar por ocasião do parto. Além disso, mais da metade (53%) das gestantes também não sabia se poderia ter acompanhante no hospital no pós-parto, o que é garantido por lei desde 2005.

Embora não justifique o abandono de pré-natal – cujas consequências podem ser irreversíveis para mãe e para o bebê e isso tem que ficar muito claro – o receio das mulheres tem razão de ser. Uma pesquisa publicada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos descobriu que mulheres grávidas com coronavírus são mais propensas a desenvolver sintomas graves e têm maior probabilidade de ter parto prematuro ou sofrerem uma perda gestacional.

Cerca de 12% das mulheres infectadas tiveram parto prematuro – maior que a taxa de 10% de partos prematuros registrados na população em geral. No caso de mulheres sintomáticas, a taxa de nascimento de prematuros quase dobrou, chegando a 23%. Mulheres sintomáticas e assintomáticas também tiveram aborto espontâneo, com uma taxa geral de 2,2%. A pesquisa analisou os registros médicos de cerca de 600 gestantes, entre 18 e 45 anos, diagnosticadas com coronavírus entre março e agosto deste ano.

E, além da evasão de consultas, este cenário tem vários desdobramentos, entre eles a separação de mãe e bebê prematuro na UTI. Como já se sabe, o isolamento social é a principal forma de evitar a transmissão do coronavírus. O problema central é que o distanciamento é exatamente o oposto à principal premissa do Método Canguru, que consiste basicamente em colocar o bebê prematuro em contato pele a pele com sua mãe ou com seu pai para fins de tratamento e recuperação do recém-nascido.

O Método já é pacificado pela medicina moderna e viabiliza uma série de benefícios, entre eles o estímulo ao aleitamento materno, melhor desenvolvimento neurocomportamental e psicoafetivo do bebê, além de redução do estresse e da dor no recém-nascido prematuro ou de baixo peso.

A diretora da ONG acrescenta ainda que há um movimento mundial chamado “Separação Zero”, voltado a promover a aproximação dos pais com os bebês prematuros nas UTIs. A campanha foi traduzida para mais de 20 línguas e acontece em dezenas de países de todos os continentes, como Alemanha, Reino Unido, Ucrânia, Gana, Austrália, Israel, México e Estados Unidos. No Brasil, a ação foi capitaneada pela ONG Prematuridade.com.

“Houve casos de pais que testaram negativo para o coronavírus e, mesmo assim, foram impedidos de entrar na UTI. Isso é muito grave! É certo que precisamos zelar pela segurança de todos: dos bebês, das famílias e das equipes, mas a presença materna, principalmente, faz parte do processo de cura do prematuro e só deve ser restringida em casos extremos”, diz.

Por que Novembro Roxo?

No dia 17 de novembro, é celebrado o Dia Mundial da Prematuridade, data escolhida pelo significado especial para Jürgen Popp, um dos fundadores da EFCNI (European Foundation for the Care of Newborn Infants), parceira da ONG Prematuridade.com. Após a morte de seus trigêmeos prematuros, em dezembro de 2006, ele tornou-se pai de uma filha nascida em 17 de novembro de 2008. Ao mesmo tempo, o March of Dimes, organização de caridade americana para prematuros e recém-nascidos teve uma ideia semelhante e lançou um Dia da Consciência para a Prematuridade, em 17 de novembro, nos EUA.

O roxo simboliza sensibilidade e individualidade, características que são muito peculiares aos bebês prematuros. Além disso, o roxo também significa transmutação e mudança, ou seja, a arte de transformar algo em outra forma ou substância, assim como no desenvolvimento de um bebê prematuro.

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