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Saúde

Estresse, ansiedade, depressão: pandemia causa danos psicológicos nos jovens

A pandemia deixou uma enorme marca psicológica nos jovens

Redação Jornal de Brasília

19/11/2020 10h33

Como a pandemia influenciou o avanço da tecnologia

Como a pandemia influenciou o avanço da tecnologia

“Olá, aqui é Nightline, estou ouvindo”. Os telefones dessa linha gratuita de atenção para estudantes em Paris não param de tocar desde março. Depressão, ansiedade, dificuldade para dormir… A pandemia deixou uma enorme marca psicológica nos jovens.

Todas as noites, entre 21h30 e 2h, essa associação dirigida por estudantes recebe dezenas de ligações de outras pessoas com sintomas de ansiedade, ou sintomas depressivos, devido ao confinamento.

“Quando você começou a se sentir assim?”, pergunta um dos 60 voluntários do Nightline que, após treinamento, revezam-se no telefone.

Do outro lado da linha, jovens entre 18 e 24 anos procuram um ouvido amigável para desabafar.

Os voluntários não dão conselhos diretos, mas apenas ouvem com empatia, com compaixão e sem julgamentos.

“Às vezes é mais fácil desabafar com alguém com quem não se tem uma relação hierárquica, como um psicólogo, alguém como eles que pode entender o que está passando”, diz à AFP Daphne Argyrou, que trabalha na Nightline há dois anos.

– 31% com transtornos psicológicos –

Por questões de sigilo, os voluntários não podem revelar os detalhes das conversas, mas apontam entre os sintomas mais recorrentes problemas de ansiedade, tristeza, isolamento, baixo-astral, insônia e aparecimento de transtornos como depressão.

“Encontramos os temas usuais, como problemas de solidão, ou incertezas sobre o futuro, mas agravados pelo confinamento”, explica à AFP Florian Tirana, presidente da Nightline França.

“Também recebemos muitos telefonemas de estudantes estrangeiros, que têm problemas particulares… Não é fácil ficar confinado em um país que não é o deles, cuja língua não falam, com outros códigos culturais”, acrescenta.

Criada em 2016, a associação percebeu uma explosão no número de ligações desde o dia em que foi decretado o primeiro confinamento na França, em 17 de março.

“Entre 40 e 50 pessoas procuram nos contatar todas as noites por telefone, ou por chat, é o dobro do ano passado”, diz Tirana.

E os telefones tocam ainda mais desde que um segundo confinamento foi decretado há 15 dias para desacelerar o avanço do novo coronavírus, que já ceifou a vida de quase 47.000 pessoas na França.

De acordo com uma pesquisa nacional realizada pelo Observatório Francês da Vida do Estudante (OVE), metade dos estudantes sofreu de solidão, ou de isolamento, durante o primeiro confinamento. E 31% deles apresentaram transtornos psicológicos.

Estudantes estrangeiros e com dificuldades financeiras são os mais afetados.

– “De 10.000 passos ao dia para 8” –

Muitos alunos também procuram ajuda de profissionais. “Em tempo normal, o sistema já está lotado, mas agora está completamente saturado”, diz a psiquiatra Dominique Montchablon, chefe de departamento da Fundação de Saúde Estudantil da França.

Inés, uma estudante de arquitetura sem histórico de transtornos psicológicos, começou a consultar um psiquiatra após um primeiro ataque de pânico. “Foi isso que me fez perceber que eu estava com depressão, todos notavam, menos eu”, diz a jovem de 24 anos.

“Meus dias são muito menos ativos do que de costume. Antes eu praticava esportes, saía para festas. Agora não durmo bem e me sinto física e mentalmente exausta, embora não faça muito… Antes eu dava 10.000 passos por dia, hoje dou oito”, conta, mostrando seu telefone.

Para ela, o “sentimento de isolamento” é ainda mais forte durante esse segundo confinamento. “Há dias em que não estou nada bem. No primeiro confinamento, disseram para a gente que era ‘excepcional’. O segundo é demais… A única coisa que espero é saber se posso passar o Natal com a minha família”, suspira.

Para Dominique Montchablon, quando esses sintomas ocorrem, é importante agir rapidamente. “Há uma continuidade entre o bem-estar, o equilíbrio psicológico durante os estudos e o bem-estar depois, quando se depara novamente com o acúmulo de fatores de estresse”, afirma.

E avisa: “Essas vulnerabilidades que se revelam na vida universitária vão ser reativadas na vida profissional. É a questão do estresse e do burn-out”.

AFP

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