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Saúde

Coronavírus: profissionais de enfermagem estão mais expostos à doença

Em contato direto com os pacientes e ocupando a linha de frente na pandemia, não há medida milagrosa que evite a contaminação desses profissionais

Redação Jornal de Brasília

30/04/2020 16h56

Por Mayra Christie
Jornal de Brasília/Agência UniCEUB

Por comporem o grupo mais exposto ao novo Coronavírus e por estarem na linha de frente do combate à doença, o número de profissionais da saúde contaminados pelo Covid-19 no País são elevados. Dados divulgados diariamente pela Secretaria de Saúde do DF mostram que, na capital, 14% dos casos confirmados que informaram a profissão, referiram ser profissionais da saúde. 

Dentre todos os atuantes da área, os profissionais de enfermagem seriam os mais expostos à doença. “São eles que têm contato direto, 24h, com esse paciente, seja suspeito e/ou confirmado, realizando diversos procedimentos que aumentam o risco de transmissão do vírus”, explica a enfermeira Isabella Severina, especialista em terapia intensiva.

De acordo com Walkírio Almeida, coordenador do Comitê de Gestão de crises da Covid-19 no Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), há muitas situações nas quais ocorre uma significativa elevação da probabilidade de contaminação. “Intubação ou aspiração traqueal, ventilação mecânica invasiva ou não, ressuscitação cardiopulmonar, ventilação manual, banho no leito, troca de vestimentas, cuidados com dispositivos vasculares e respiratórios, cuidados com feridas, etc”, esclarece Walkírio Almeida. 

A tabela mais recente divulgada pelo Cofen, mostra que, no Distrito Federal, houve seis casos de enfermeiros contaminados e duas mortes já foram confirmadas, ou 2,8% dos profissionais da área contaminados no país. Para Marcos Wesley, presidente do Conselho Regional de Enfermagem do DF (Coren- DF), esse número “baixo” é reflexo das medidas de segurança tomadas pelo Governo no momento certo.

“O panorama de profissionais de enfermagem contaminados no DF acompanha o panorama de infecção da população. As medidas de isolamento propostas pelo governo no início da pandemia surtiram um bom efeito,  e estamos vendo um cenário melhor que em muitos outros estados”, afirma o presidente da entidade. Entretanto, por ainda não termos atingido o pico da doença, o presidente do Coren- DF acredita que o número deve crescer. “Na medida em que o número de casos aumenta, os números de profissionais de enfermagem também crescem”, completa. 

Afastamentos

?Além do comprometimento da própria saúde, existe também o impacto que essa situação causa na assistência à população. Walkírio Almeida explica que, todos os profissionais que apresentem sintomas suspeitos devem ser afastados e substituídos para cumprirem protocolo de quarentena. “Quanto maior o número de profissionais de saúde doentes, maior será o impacto no atendimento a população e menor será a capacidade de atendimento”, explica Walkírio.  

“Enfermeiros têm um treinamento diferenciado. Afastando-os da UTI, por exemplo, não tem como substituir por outros profissionais. Enfermeiros de UTI é intensivista, e tem conhecimentos que recém formados ou enfermeiros do cotidiano não têm”, completa o presidente do Coren-DF. 

Em contato direto com os pacientes e ocupando a linha de frente na pandemia, não há medida milagrosa que evite a contaminação desses profissionais além da intensificação das já conhecidas pela população. Para a enfermeira Isabella Severino, o uso de máscaras, luvas e higienização das mãos continuam sendo primordiais. “Temos contato direto com secreções, líquidos corporais e até aerossóis em diversos procedimentos que são realizados nos pacientes, então todas as medidas de segurança devem ser redobradas se tratando de quem trabalha em hospitais”, relata a profissional. 

Falta EPIs

A falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) na rede pública é mais um agravante. “Precisamos racionar e priorizar o uso de máscara, avental e luva durante todo o plantão, e isso é triste pois já estamos na linha de frente e expostos à contaminação”, conta a enfermeira. Para Marcos Wesley, a falta desses equipamentos, e má qualidade de alguns, é mais um desafio enfrentado pelos profissionais. “Às vezes temos esses equipamentos só pra dizer que existem, mas não há eficácia”, relata o presidente. 

De acordo com a Secretaria de Saúde do DF, a distribuição desses materiais foi reorganizada para abastecer igualmente todas as unidades de saúde de modo que não falte EPI’s para nenhum profissional. 

Quanto ao que deve ser feito pelo profissional que apresentar qualquer sintoma gripal ou respiratório, Marcos Wesley explica que é imprescindível que este, imediatamente, informe a chefia, faça exames e peça afastamento independente do resultado. O presidente do Coren-Df também ressalta a importância de fazer essa notificação de afastamento do serviço, pois só assim o controle do número de profissionais infectados será eficiente. Para Wesley, esse número pode ser maior que o divulgado por falta de comunicação.

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Já mandamos ofício para os responsáveis técnicos de que não estamos tendo muita adesão nas notificações, principalmente no controle do Conselho de Enfermagem. Acredito que tenhamos casos de subnotificação”, acrescenta. 

Para tentar minimizar os efeitos desse cenário, Walkírio explica que o Cofen, juntamente com os conselhos regionais estão tomando algumas providências. “O Conselho Federal de Enfermagem tem mantido interlocução com o Ministério da Saúde para discutir as condições de trabalho inapropriadas nas quais esses profissionais estão prestando assistência a população”, explica o coordenador.

Algumas medidas incluem doações de máscaras N95 à diversas instituições de saúde e cursos de atualização aos profissionais de enfermagem, todos com foco na Covid-19. “Os cursos serão de Biossegurança (para enfermeiros e técnicos de enfermagem), de Assistência de Enfermagem em Unidades de Terapia Intensiva para enfermeiros e de Assistência de Enfermagem em Unidades de Terapia Intensiva para técnicos”, informa Walkírio Almeida.

As aulas serão disponibilizadas por meio de plataformas de ensino a distância, e terão capacidade operacional para atender, neste primeiro momento, 300 mil profissionais. 

Atualmente, o estado com maior número de óbitos confirmados por coronavírus é São Paulo, com 9 casos. Em todo o país, 28 óbitos já foram confirmados, sendo homens a maioria. O Brasil já registrou 995 enfermeiros infectados pelo Coronavírus. Os dados são do último levantamento divulgado pelo Conselho Federal de Enfermagem. 

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