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Saúde

Alcóolicos Anônimos: cresce 243% número de pedidos de ajuda durante pandemia

Um problema é que o momento de isolamento social dificulta o acesso às alternativas de apoio ao alcoolismo, como terapia e grupos de autoajuda

Agência UniCeub

16/09/2020 19h00

Arthur Ribeiro, Bernardo Guerra e Vinícius Pinelli
Jornal de Brasília / Agência UniCEUB

As angústias dos dias de pandemia provocaram aumento no consumo de bebidas alcóolicas. Segundo pesquisa da Fiocruz em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), divulgada em junho, cresceu em 26% o número de pessoas que fizeram uso de alguma bebida com álcool (veja mais números aqui). Se, por um lado, cresce o consumo, por outro, também há indícios de conscientização para o problema. Segundo uma fonte (que pediu para não ser identificada) em um grupo de Alcóolicos Anônimos (AA), testemunha que aumentou o número de pedidos de ajuda em mais de 200%.

“O que posso lhe dizer é que o número de pedidos de ajuda em nossa linha aumentou. De março para abril este número foi 61,19% maior, continuando a crescer regularmente até somar 243,28% de aumento em julho por comparação a março. Em agosto houve pela primeira vez na pandemia retração em relação ao mês anterior (de 18,43%). Mas isso não significa necessariamente que o alcoolismo tenha aumentado, ou pelo menos que ele tenha aumentado na mesma proporção. Em muitos casos, o que aconteceu foi que ele se tornou visível”, disse ela.

Um problema é que o momento de isolamento social dificulta o acesso às alternativas de apoio ao alcoolismo, como terapia e grupos de autoajuda. De acordo com esta representante do AA, os grupos  buscam se adaptar à nova rotina, alterar certos procedimentos, como evitar apertos de mãos e a proximidade entre os indivíduos, diminuir o número de encontros, e realizar todo o processo de higienização. Por outro lado, certos grupos adotaram planos de contingência, que envolvem manter contato por plataformas virtuais, como telefone, e-mail, mídias sociais ou reuniões por vídeo. Apesar da segunda opção ser a mais comum, ela reforça que independente das resoluções, cada membro é responsável por suas decisões.

A representante do AA reitera que “o único requisito para ser membro é o desejo de parar de beber”. Assim sendo, o Alcoólicos Anônimos, e outros grupos de ajuda, além de terapias pagas, estão sempre dispostos a ajudar quem quer ser ajudado. Para entrar em contato com o A.A., o número de telefone disponível é o +55 (11) 3229 3611 ou então a linha de ajuda 24h, cujo número é +55 (11) 3315-9333.

Momento delicado

A pandemia se mostrou um momento que estimula desenvolvimento de vícios e dependências químicas. O alcoolismo é uma doença presente no cotidiano brasileiro desde antes do surto mundial da Covid-19, segundo estudo do Hospital Israelita Albert Einstein reporta, cerca de 10% da população do país sofre com algum grau do distúrbio. Entretanto, apesar do consumo de álcool ser muito presente no dia a dia, ainda é algo que tem seus principais fatores e características desconhecidos por muitos.

Tendo em vista a falta de conhecimento de várias pessoas quanto ao alcoolismo, a psicoterapeuta Marília Márcia Santos Pereira, 55, explicou que a dependência do álcool envolve diferentes circunstância. “Podemos considerar multifatorial (quantidade e frequência de uso do álcool, a condição de saúde do indivíduo e fatores genéticos, psicossociais e ambientais), que interfere na autonomia do cidadão em diversos aspectos, social, laboral, familiar, relacionamentos como um todo, inclusive de par”.

Além disso, segundo Marília Pereira, o apoio por parte de familiares e amigos tem extrema importância aos indivíduos,  ao oferecer suporte no tratamento, e especialmente no período crítico de abstinência, para colaborar de maneira sensível, como por exemplo, nas reuniões sociais, evitar o consumo de álcool para não gerar qualquer tipo de desejo ou desconforto para a pessoa. Segundo ainda a especialista, aos dependentes, ela explica que é necessário que mantenham o autocuidado, com terapia, e contato permanente com familiares, que podem ser fundamentais para a recuperação e período de abstinência.

(Imagem que consta no Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), e usada no site do CISA.)

Devido a quarentena, é de se imaginar que o consumo de álcool possa ter aumentado ou diminuído por inúmeros fatores, como a solidão do isolamento, tédio, estresse, renda, autorreflexão, e outros.  “A dependência é multifatorial, então, não é a exposição há um ou dois meses que determina alcoolismo, envolvendo outros fatores, mas pode abrir precedentes, dependendo da condição do indivíduo”.

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