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Resgate da cultura popular

Arquivo Geral

11/03/2006 0h00

A companhia brasiliense Alaya Dança comemora 15 anos de fundação mostrando a brasilidade por meio da cultura popular. Sob comando da coreógrafa e diretora Lenora Lobo, o grupo apresenta o espetáculo Matracar, um dos mais bonitos e aplaudidos da companhia, hoje e amanhã, a partir das 20h, no Teatro da Caixa. A entrada é franca.
O espetáculo é o nono trabalho do grupo e une corpo, som e espaço por meio da dança, fazendo o cruzamento do antigo com o novo, do tradicional com o contemporâneo. “Essa coreografia traz todo o repertório da companhia, com a idéia da resistência cultural como pano de fundo”, explica a coreógrafa.
No espetáculo, os corpos brincam sobre o palco e os dançarinos se transformam ainda em músicos e intérpretes das expressões culturais resgatadas. Além dos ritmos da dança, será possível ouvir sons produzidos pelo corpo.
Durante o ano de 2004, os seis bailarinos – Aida Cruz, João Negreiros, Christiane Lapa, Selma Trindade, Beneto Luna e Hilton Gonçalves – fizeram uma pesquisa focada na memória corporal das danças populares, do Bumba-Meu-Boi do Maranhão ao Cacuriá, todas aqui no DF, com o famoso Seu Teodoro e com os professores Celso Carvalho (aulas de percussão) e Daraina Pregnolatto (laboratório de cultura popular).
“As coreografias foram baseadas na memória de cada um dos dançarinos, todas as referências da cultura que eles tinham e como eles traziam para o movimento contemporâneo do corpo”, diz Lenora.
A palavra matracar significa persistir, resistir, insistir em alguma coisa. Na apresentação, a Cia Alaya incorpora os repertórios populares e reelabora uma obra que é de domínio público e folclórica, mas que acaba remontada através de cores, som, luz e muito movimento.
O colorido do figurino e as expressões vindas do Bumba-Meu-Boi e do Cacuriá tornam Matracar atrativo aos sentidos. Os dançarinos dançam, cantam e tocam percussão, sob a direção musical de Cláudio Vinícius. A trilha sonora é composta por músicas da cultura popular e também composições dos próprios bailarinos. A abertura fica por conta de um hino para pedir licença para entrar, que os dançarinos criaram. “Tem cantiga, percussão, várias versões do Bumba-Meu-Boi, da mais primitiva à mais moderna”, adianta Lenora.
Após a apresentação de hoje, será lançado, também no Teatro da Caixa, o livro Angel Viana, Uma Biografia da Dança Contemporânea, de autoria da bailarina Ana Vitória, com a presença das duas.
históriaQuando desembarcou em Brasília, em 1986, a coreógrafa Lenora Lobo iniciou um trabalho sobre pesquisa e formação com artistas do Distrito Federal. Desde então, esta companhia vem construindo uma trajetória, destacando-se pela investigação de uma linguagem brasileira de dança e teatro, fundamentada pelo método “Teatro do Movimento”, como define Lenora.
Em dezembro de 1990, o grupo estreou nos palcos com o nome Alaya Dança, apresentando o espetáculo Terra. De lá pra cá, mais oito espetáculos foram produzidos e três mostras, sempre acentuando a busca por uma dança popular, tipicamente brasileira.
Os integrantes da companhia sempre mudam. “Há pessoas que saem para fazer trabalhos independentes, então criamos um núcleo, para que essas pessoas voltem a trabalhar com a gente, não necessariamente tendo que estar sempre na companhia”, explica a diretora.
Para Lenora, a principal dificuldade durante esses 15 anos é em manter a companhia. “Faltam leis no Brasil que façam manutenção de companhias. Nunca sei quanto vou receber a cada ano, nem quantos bailarinos posso pagar, por isso essa instabilidade no número de profissionais”, diz. O que ela chama de manutenção seria uma verba que fosse além da montagem do espetáculo e da circulação, uma espécie de renda fixa para que pudesse pagar os bailarinos e ter um grupo fixo. “Assim, eles poderiam se dedicar exclusivamente às coreografias. Atualmente, não dá para viver só de dança, mas vontade e dedicação eles têm”, ressalta.
Aos 49 anos, Lenora Lobo contabiliza 27 anos de carreira como bailarina, com experiências em dança clássica, moderna, pós-moderna e popular, além das influências do Movimento Consciente de Klauss Vianna, do Rio de Janeiro, e a Análise do Movimento do Método Laban. Ela iniciou seus estudos pelo balé clássico em Recife e no Rio de Janeiro, dedicando-se mais tarde à dança moderna e contemporânea.
No início da década de 1980, foi para Europa e estudou no Laban Center for Movement and Dance, na London University, em Londres. Na Europa, participou ainda de vários workshops de dança pós-moderna ou experimental.
De volta ao Brasil, continuou seus estudos, fez pesquisa em danças folclóricas brasileiras e, de 1993 a 1996, foi pesquisadora associada na Universidade de Brasília (UnB), desenvolvendo trabalho no Instituto de Artes do Departamento de Artes Cênicas. Atualmente, Lenora dedica-se à divulgação de seu livro em parceria com Cassia Navas, intitulado Teatro do Movimento, e à direção da Cia Alaya Dança. “Mas tenho aposentadoria do Senado Federal, pois não consigo me sustentar apenas com a dança”, lamenta.

SERVIÇO

Matracar – Espetáculo da companhia Alaya Dança. Hoje e amanhã, às 20h, no Teatro da Caixa (Setor Bancário Sul, quadra 4, Caixa Cultural). Entrada mediante a doação de 1kg de alimento.

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