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Repertório soa como sobra de estúdio

Arquivo Geral

11/03/2006 0h00

O lançamento simultâneo de dois discos de inéditas poderia significar simplesmente que a lâmpada acendeu sobre a cabeça da compositora Marisa Monte. No entanto, a impressão passada ao ouvinte é de que o volume de canções não remete necessariamente à qualidade. Infinito Particular, o segundo CD a ser gravado nesse “pacotão” (eles chegam juntos, porém, independentes entre si), é revestido de uma textura sonora muito frágil, sem novidade. Ao longo das faixas, o repertório cansa. Seja pela repetição da fórmula do pop “tribalista” ou pelo excesso da orquestra (arranjada, pasmem, por gente da estirpe de Eumir Deodato e João Donato), que faz um bom trabalho em embalar o público numa espécie de canção de ninar – aliás, a faixa O Rio soa precisamente como tal.

Já Universo ao Meu Redor aponta um rumo interessante para a carreira de Marisa. É bem superior ao Infinito, mas a presença dos irmãos de tribo Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown na assinatura de boa parte das faixas – 11, ao todo, somados os dois discos – não permite o nascimento de uma grande canção. Algumas soam como sobras de Tribalistas (2002), outras como nova tentativa de buscar um hit. Não encontra. O diferencial na interpretação de Marisa e na concepção dos arranjos está no tratamento intimista e na valorização do samba por bambas, tais como Paulinho da Viola (que concede sua Pra Mais Ninguém), Mauro Diniz (no cavaquinho), Monarco (tamborim) e Casquinha (reco-reco) . Afinal, Marisa Monte não é uma sambista de mão cheia (ela mesma concorda).

O bom trabalho registrado em Universo se concentra na pesquisa realizada pela cantora, mergulhando de cabeça em antologias do samba pouco conhecidas ou nunca antes gravadas em disco. Aí encontram-se os empoeirados Meu Canário (Jayme Silva), Perdoa, Meu Amor (Casemiro Vieira) e Pétalas Esquecidas (Dona Ivone Lara e Teresa Batista); além de uma raridade dos Novos Baianos: Três Letrinhas (Moraes Moreira e Galvão).

De suas liberdades autorais, Marisa é bem-sucedida no encaixe de duas obras modernosas, que quebram a seriedade de Universo ao Meu Redor, com a irreverência do pop. São elas O Bonde do Dom (Marisa, Arnaldo e Carlinhos) e Statue of Liberty (com bem-vinda, porém, não muito emocionante interferência do músico britânico David Byrne. Não foi o suficiente para fazer os álbuns decolarem. Por mais esmero que Marisa tenha tido em lapidar os trabalhos, a sensação é de que ela só fez despejar trabalho acumulado sobre o ouvinte. (G.L.)

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