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Podem atirar as pedras

Arquivo Geral

11/04/2003 0h00

Agora que já terminou o malsinado Big Brother Brasil, deixem-me fazer uma pergunta que coça mais que bicho-de-pé: será que os milhões de brasileiros que assistiam todas as noites ao programa global não têm nada, absolutamente nada melhor, mais construtivo, mais útil ou, mesmo, mais divertido para fazer?

Já imagino a chuva de pedras caindo em minha caixa-postal. Afinal, o BBB 3 foi um campeão de audiência. Era quase uma histeria coletiva. Mas, entre uma vaia e outra, este papo de esquina, sem a pretensão de ser o fiscal da moralidade, gostaria de dar uma cutucada na consciência de cada um.

O que é o Big Brother? Um impressionante resumo das mais lamentáveis características inerentes a todos nós, seres humanos. No programa, aquelas pessoas “comuns” envolvem-se em intrigas, mentiras, amores fúteis, invejas, agressões e inimizades – motivados, o que é ainda mais degradante, pelo dinheiro. Quem já não mentiu e enganou, ora para livrar-se de uma situação incômoda ou para preservar um emprego? Mas o BBB é um escárnio aos milhares de anos que a civilização humana investiu na tentativa de organizar-se de forma mais digna. É como se o programa lembrasse a cada um de nós, em cada intervalo comercial: “Vocês eram melhores quando viviam em cavernas”.

Exercitam a arte da dissimulação, da cizânia, da torpeza. É uma verdadeira colônia de bactérias morais, em descontrolada promiscuidade e procriando-se em velocidade diretamente proporcional à audiência. No comando, um ex-jornalista que trocou as pretensões literárias pelo gerenciamento diário desse circo de horrores.

Naquela casa, gestos nobres ou genuínos sentimentos humanos são severamente punidos. Paga-se caro pela sinceridade, ganha-se uma rasteira por cada gesto de amizade, perde-se muito ao demonstrar solidariedade. E cada um dos “jogadores” cresce na admiração do público na exata medida de sua falsidade, de sua competência em manipular os demais.

Piores que os participantes ou seu coordenador somos nós, brasileiros, que ficamos a espiar as manifestações de sordidez, torcendo e vibrando a cada paredão. Perdemos nosso tempo e contaminamos nossa alma durante semanas a fio, hipnotizados pelo espetáculo de nossas próprias fraquezas e defeitos. Francamente, acho até que as pedradas são bem-vindas…

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    11/04/2003 0h00

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    Já imagino a chuva de pedras caindo em minha caixa-postal. Afinal, o BBB 3 foi um campeão de audiência. Era quase uma histeria coletiva. Mas, entre uma vaia e outra, este papo de esquina, sem a pretensão de ser o fiscal da moralidade, gostaria de dar uma cutucada na consciência de cada um.

    O que é o Big Brother? Um impressionante resumo das mais lamentáveis características inerentes a todos nós, seres humanos. No programa, aquelas pessoas “comuns” envolvem-se em intrigas, mentiras, amores fúteis, invejas, agressões e inimizades – motivados, o que é ainda mais degradante, pelo dinheiro. Quem já não mentiu e enganou, ora para livrar-se de uma situação incômoda ou para preservar um emprego? Mas o BBB é um escárnio aos milhares de anos que a civilização humana investiu na tentativa de organizar-se de forma mais digna. É como se o programa lembrasse a cada um de nós, em cada intervalo comercial: “Vocês eram melhores quando viviam em cavernas”.

    Exercitam a arte da dissimulação, da cizânia, da torpeza. É uma verdadeira colônia de bactérias morais, em descontrolada promiscuidade e procriando-se em velocidade diretamente proporcional à audiência. No comando, um ex-jornalista que trocou as pretensões literárias pelo gerenciamento diário desse circo de horrores.

    Naquela casa, gestos nobres ou genuínos sentimentos humanos são severamente punidos. Paga-se caro pela sinceridade, ganha-se uma rasteira por cada gesto de amizade, perde-se muito ao demonstrar solidariedade. E cada um dos “jogadores” cresce na admiração do público na exata medida de sua falsidade, de sua competência em manipular os demais.

    Piores que os participantes ou seu coordenador somos nós, brasileiros, que ficamos a espiar as manifestações de sordidez, torcendo e vibrando a cada paredão. Perdemos nosso tempo e contaminamos nossa alma durante semanas a fio, hipnotizados pelo espetáculo de nossas próprias fraquezas e defeitos. Francamente, acho até que as pedradas são bem-vindas…

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