O ano de 1970 ficou marcado na vida dos brasileiros de alguma forma. Seja pela ditadura militar, que estava em seu auge, seja pela conquista da seleção brasileira, que era tricampeão de futebol. Para o menino Mauro, aquele seria o ano em os pais deles sairiam de férias e o deixariam para trás.
É esse o mote para o filme O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger, que traz o menino Michel Joelsas na pele de Mauro. Os pais deles (vividos por Simone Spoladore e Eduardo Moreira) fogem da ditadura e, para não assustar o menino, falam que vão sair de férias e ele vai ficar na casa de seu avô, personagem de Paulo Autran.
Só que ele não está em casa para receber o menino e nem vai voltar. "Por um golpe do destino, Mauro se vê sozinho e sem nenhum conhecido por perto. Ele tem que passar um dia com uma pessoa, o dia seguinte com outra pessoa e todos os dias sozinho", afirma Cao Hamburger.
O menino acaba nas mãos de um senhor rabugento amigo de seu avô, de uma menina da mesma idade que ele e de um jovem que se torna o protetor de Mauro, personagens de Germano Hauit, Daniela Piepszyk e Caio Blat, respectivamente.
Embora em O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, Cao volte a trabalhar com crianças, este não é um filme infantil, como o anterior Castelo Ra Ti Bum, O Filme, lançado em 1999. "É um filme sobre a infância para divertir crianças de 12 a 80 anos", afirma o diretor.
"Eu já havia feito muitos trabalhos para criança na TV e no cinema. Faltava a experiência de falar da infância para o público adulto, já que essa fase é muito importante na formação de um adulto. É na infância que definimos nosso caráter, por exemplo", afirma Cao.
Sobre a experiência de trabalhar com crianças, Cao diz que é maravilhoso e gratificante. "Não levo em conta só o talento na hora de escolher. A criança tem que ter uma cabeça boa, tem que ter responsabilidade e não pode ser mimada e nem egoísta", explica Cao, que assistiu ao teste de mais de 1,2 mil crianças antes de chegar ao nome de Michel. Cao gosta tanto de trabalhar com criança que adianta que seu próximo longa, um suspense, terá um pequeno em cena, mas não será um filme infantil.
Tanta intimidade com o universo infantil (Cao também assinou o roteiro de vários programas na TV Educativa), faz com que o diretor se sinta à vontade para criticar a programação infantil da televisão aberta no Brasil.
"Houve uma época em que os programas com conteúdo não estavam somente na TV Nacional e na TV Educativa. Mas, agora as emissoras voltaram para a velha fórmula do desenho animado, sem nenhuma instrução", lamenta Cao, citando como exceções o programa Cocoricó e a série O Menino Maluquinho.