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Em O Engenho de Zé Lins, de Vladimir Carvalho, palavra retoma seu valor

Arquivo Geral

26/11/2006 0h00

Guilherme Lobão

O maior remorso do cineasta paraibano-brasiliense Vladimir Carvalho ao documentar a vida do escritor conterrâneo José Lins do Rego foi não conseguir imagens filmadas da personalidade explosiva e divertida do romancista para abrilhantar seu filme O Engenho de Zé Lins, terceiro concorrente da  mostra competitiva de longas-metragens do 39º Festival de Brasília, exibido na sexta-feira.

Dada a escassez de material ilustrativo sobre o escritor, Vladimir imprime solução engenhosa ao filme e anula a máxima segundo a qual "uma imagem diz mais que mil palavras", ao extrair reais diamantes da maior parte dos testemunhos.

A pesquisa realizada pelo diretor – também roteirista da fita – revelou apenas algumas fotos e um único registro em áudio do personagem central do filme. A sorte estaria lançada.

Antes do documentarista, entretanto, vem o guerreiro. Persistência é uma das principais virtudes do autor dos não menos extenuantes trabalhos O País de São Saruê e Conterrâneos Velhos de Guerra – seu mais recente, antes de O Engenho de Zé Lins, fora Barra 68, filme de abertura do Festival de Brasília de 2001.

Assim, Vladimir supera a limitação dos arquivos e encaixa estrategicamente na narrativa as poucas fotos do autor de Fogo Morto e Menino de Engenho. O diretor, então, costura os depoimentos. O formato arrastado de "pingue-pongue" aplicado nas primeiras entrevistas logo ganha força com revelações emocionantes ou chocantes sobre a história de Zé Lins, que, desde garoto (no engenho de Tapuá, interior de São Paulo), carregava o trauma de um assassinato involuntário abafado pela família até os dias de hoje.

No entanto, Vladimir presta com respeito essa homenagem. Equilibra, suavemente, os altos e baixos da vida do torcedor fanático do Flamengo e pregador de peças – tirava jornais das bancas sem pagar e adorava inventar boatos sobre a vida pessoal de garçons vascaínos. Vladimir apresenta Zé Lins por inteiro ao espectador, mas focaliza o autor por trás da obra, o "homem que virava menino de tanta alegria que tinha na vida".

Sonho cotidiano distante

Um trabalhador braçal que, nas horas de folga, canta num botequim com o auxílio de uma máquina de karaokê e, ao soltar sua bela voz, se imagina como um artista de sucesso que se apresenta num palco de verdade e tem bonitas fãs chorando na platéia. Este é o sonho do operário de O Brilho dos Meus Olhos, curta do carioca Allan Ribeiro exibido na noite de sexta-feira, no Festival de Brasília. O filme expõe, de forma singela, um dia na vida de uma pessoa, como tantas outras neste País, que trabalha apenas para sobreviver e que, sem encontrar prazer no que faz, sonha com uma vida mais interessante e até glamourosa. Em preto-e-branco, enquanto mistura a massa para fazer o cimento, assenta um tijolo ou mexe a comida na marmita, a mente viaja e o leva a viver o que talvez seja a sua verdadeira vocação, sufocada pela falta de oportunidades e a necessidade de pagar as contas. Em cena colorida, o trabalhador entoa, ao final do dia: "(…) E se eu chorar e o sal molhar o meu sorriso/ Não se espante, cante, que o seu canto é minha força pra eu cantar" (Sangrando, de Gonzaguinha). Um curta simples, com mensagem direta e universal, bem-realizado. (Márcia Binder)   

Amor e afeto, seria isso?

A Vida ao Lado, sexto curta-metragem do brasiliense Gustavo Galvão, apresentado na noite de sexta-feira no 39º Festival de Brasília, que chegou cercado de expectativas, decepcionou.

O filme é uma incógnita. O diretor o definiu como "uma obra que retrata amor e afeto". Na verdade, porém, este curta  não mostra a que veio. Um bêbado suicida parece manter um caso indefinido com uma mulher, que por sua vez se interessa pela vizinha. As duas têm uma noite de prazer, no sonho de uma delas, cujo desfecho abre a fita. Em seguida, surgem as insinuações de que algo mais acontecerá, mas nada se cumpre.

Até uma cena de assalto (muito bem-feita) perde sua força, porque o suicida não morre. Tecnicamente, Gustavo Galvão vem se superando e deixa aberta a porta para se lançar com um longa-metragem – desde que isso se faça com um bom roteiro, pois o de A Vida ao Lado não convenceu. (Rodrigo Leitão). 

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