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Django Reinhardt, criador do jazz cigano, completaria hoje um século

Arquivo Geral

23/01/2010 0h00

Cem anos completaria hoje Django Reinhart, o criador do jazz cigano, um músico extraordinário que criou um estilo próprio de tocar violão com apenas três dedos de sua mão esquerda.

Embora tenha nascido na Bélgica por acaso e feito carreira musical na França e nos Estados Unidos, “o cigano dos dedos de ouro” é motivo de orgulho para os belgas, que o elogiam como a maior figura europeia de jazz e lhe prestam homenagem com um grande festival musical.

Django veio ao mundo em 1910 em uma caravana na cidade valã de Liberchies. Sua família de artistas ambulantes poderia tê-lo trazido ao mundo em qualquer outro país do Velho Continente dos que percorriam habitualmente.

Com apenas 13 anos, começou a viver da música exibindo seu talento inato em bares e cabarés parisienses. Dele se dizia que era capaz de tocar uma música após tê-la ouvido uma só vez.

Aos 18 gravou seu primeiro álbum, o qual batizou de “Jiango Renard” – era analfabeto e incapaz de soletrar corretamente seu nome. Ganhou alguma fama e foi recrutado pelo diretor Jack Hilton para ir com sua orquestra de jazz a Londres, projeto que se viu truncado pelo acidente que sofreu logo antes de partir.

Sua lenda começou depois daquele incêndio em sua caravana que poderia ter custado a vida e a carreira a qualquer outro músico. As chamas causaram-lhe graves queimaduras e deixaram o dedo mínimo e o anular de sua mão esquerda praticamente inutilizados.

Mas Django retomou seu violão e criou uma nova técnica de tocar, usando unicamente os dedos médio e indicador para pressionar as cordas e usando os dedos afetados para ajudar em alguns acordes.

Em suas mãos, o violão “ri e chora”, e adquire uma “voz humana”, escreveu um dia o autor francês Jean Cocteau após vê-lo tocar em um bar de Toulon (sul da França).

Com ingredientes do folclore indiano e do swing, “inventou um novo estilo musical, o seu próprio”, afirma Henri Vandenberghe, diretor do festival Djangofollies, que há 16 anos homenageia o gênio reunindo seus melhores discípulos.

Nesta edição especial, o festival oferece entre os dias 15 e 31 de janeiro 15 shows em outros tantos pontos da Bélgica, que incluem desde grandes cidades como Bruxelas, Gante ou Antuérpia até lugares mais modestos com valor sentimental, como a cidade natal do músico.

Djangofollies “busca captar o espírito nômade” do violonista, e convida o público “a deslocar-se constantemente, como Django fazia, para poder assistir a todos os shows”, explica à Agência Efe Vandenberghe.

O “manouche” (cigano) se tornou um fenômeno musical nos anos 30 como líder do quinteto de corda Hot Clube de France, do qual também fazia parte seu irmão Joseph, e que triunfou em toda Europa até a explosão da Segunda Guerra Mundial.

Mais tarde, Django tocou junto a grandes estrelas americanas como Coleman Hawkins, Louis Armstrong ou Duke Ellington, com quem viajou pela terra do jazz.

Voltou à França enriquecido pelas influências “bop”, e gravou o disco “Djangologie” junto ao violinista francês e co-autor de suas partituras Stéphane Grappelli, primeira pedra do gênero do “Jazz manouche” ou “Gypsy swing”.

Entre seus fãs, ganhou fama de imprevisível após não se apresentar em vários shows com a sala cheia com a desculpa de ter ido passear no parque ou na praia ou simplesmente de não querer se levantar da cama.

No final da vida, Django dedicava mais tempo à pintura, à pesca e ao jogo de bilhar do que à música. Gravou seu último disco em abril de 1953, um mês antes de morrer em Samois-sur-Seine (França) de hemorragia cerebral.

Mesmo no auge de sua carreira musical, Django dormia toda noite em sua caravana. O mestre abandonou o mundo como veio a ele, fiel a suas raízes.

Seu legado ainda inspira gerações de violonistas e amantes da música, e demonstra que quando a música corre pelas veias, nenhum obstáculo pode contê-la.

Por causa do centenário do músico também estão sendo organizados diversos festivais e shows na França, e vários compilações de seus grandes sucessos estão à venda, como “Minor Swing”, “Nuages” ou “Belleville”.

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