No momento em que o cinema brasileiro está em evidência e reafirma sua vitalidade, a empresa Petrobras anuncia a recuperação de obras clássicas dos cineastas Joaquim Pedro de Andrade e Glauber Rocha, datadas das décadas de 60 e 70.
Serão restauradas as matrizes originais de seis longas e oito curtas-metragens de Pedro de Andrade, a começar por sua obra-prima Macunaíma, e os quatro principais títulos de Glauber Rocha (Barravento, Terra em Transe, Deus e o Diabo na Terra do Sol e O Dragão da Maldade e O Santo Guerreiro).
Os filmes serão relançados nas principais capitais do Brasil, Estados Unidos e França no próximo ano. O processo de restauração será realizado a partir de um sofisticado processo de escaneamento em alta-definição dos negativos com acompanhamento dos fotógrafos Afonso Beato e Mário Carneiro, que trabalharam em três filmes de Pedro de Andrade.
Segundo Antônio de Andrade, filho de Joaquim e um dos idealizadores do projeto, a revitalização dos filmes desvenda ruídos confusos que, na verdade, são sonoplastias criadas pelos cineastas. “Descobrimos jóias como sons de roupas batendo ao vento e águas de um rio que passa ao fundo. Sons que haviam desaparecido por conta da precariedade das cópias existentes”, diz.
Apesar de pertencerem ao mesmo movimento, o Cinema Novo, a obra dos dois cineastas segue caminhos diferentes. Joaquim Pedro teve na literatura sua segunda maior paixão. Ele levou à tela romances de Carlos Drummond de Andrade (O Padre e A Moça) Dalton Trevisan (Guerra Conjugal), Oswald de Andrade (Homem do Pau-Brasil) e Mário de Andrade (Macunaíma, que rendeu a maior bilheteria do Cinema Novo).
Ao contrário, Glauber – o louco (ou o gênio) – percorreu uma trajetória mais lúdica, com uma narrativa metafórica e referências constantes ao fanatismo religioso do sertanejo. Algumas vezes, portanto, bebia na fonte da literatura, principalmente na de cordel, com temática mais regionalista.