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Chico Neto

Arquivo Geral

28/04/2005 0h00

Bem, amigos da Rede Globo, vamos lá: 40 anos compõem uma data respeitável. E muito do que há de melhor no somatório de todo esse tempo da emissora, solidificada como a todo-poderosa do sistema aberto, está em seus arquivos.

A festa das lembranças começou na terça-feira, data oficial em que a TV Globo completou quatro décadas de existência. Com 250 milhões de telespectadores espalhados pelo mundo, a Globo é hoje uma aclamada marca. E muito de seu passado precisa vir à tona agora, para ajudar a redimensionar a empresa.

Hoje tem mais festa. O especial que a Globo leva ao ar depois de América, a novela das emoções que estão começando a entrar no galope, tem muito a ver com esse olhar retroativo de quem sabe que a memória traz sabores únicos. Dramaturgia, a atração, ganha como leme o olhar de uma telespectadora familiarizada com a emissora desde a infância. Gente como eu e milhares por aí.

A Globo nasceu alguns anos depois de mim; portanto, meu retrovisor também me presenteia com lembranças da velha TV Tupi, com o logotipo do indiozinho, e que tinha até teleteatro em seus tempos áureos – espetáculos entremeados, nos intervalos, pela propaganda de guaraná champagne Antarctica.

Mas a Globo soube se firmar no mercado por oferecer, ao telespectador, um produto final de qualidade atraente. Além dos informativos básicos, a emissora carioca sempre investiu alto no setor entretenimento, e o resultado foi uma história de conquista de milhões de telespectadores. Mesmo sob uma compreensível resistência de quem estava satisfeito com o que já rolava naquelas primeiras décadas da televisão no Brasil, esse público foi se rendendo aos apelos da que se tornou a melhor.

Acho um luxo que, nesta temporada de especiais de aniversário e ainda que em pequenos flashes, a Globo revisite suas atrações marcantes. Quem acompanhou essa trajetória vai sentir, mesmo nessas exibições-relâmpago, que qualidade nunca faltou – mas o produto já foi mais generoso com o telespectador, ou menos comprometida com o comercial.

Na festa de abertura dessa temporada, aliás, muito material poderia ser enxugado. Até atores consagrados como Glória Meneses e Tarcísio Meira pareciam pouco à vontade com o texto da ocasião. Regina Duarte como segunda voz de Ivan Lins cantando Começar de Novo foi idéia infeliz; isso vale para festa íntima em que todo mundo pode se divertir em torno do videokê, mas, para exibição pública, jamais.

Mas vá lá, passou. Enquanto isso, aproveite para saborear momentos inesquecíveis das novelas de antigamente, menos dispersas; das minisséries, primorosas em qualquer tempo; dos humorísticos mais criativos, dos programas infantis com menos tecnologia e mais conteúdo… Como documentário, vale acompanhar tudo.

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    Chico Neto

    Arquivo Geral

    28/04/2005 0h00

    Bem, amigos da Rede Globo, vamos lá: 40 anos compõem uma data respeitável. E muito do que há de melhor no somatório de todo esse tempo da emissora, solidificada como a todo-poderosa do sistema aberto, está em seus arquivos.

    A festa das lembranças começou na terça-feira, data oficial em que a TV Globo completou quatro décadas de existência. Com 250 milhões de telespectadores espalhados pelo mundo, a Globo é hoje uma aclamada marca. E muito de seu passado precisa vir à tona agora, para ajudar a redimensionar a empresa.

    Hoje tem mais festa. O especial que a Globo leva ao ar depois de América, a novela das emoções que estão começando a entrar no galope, tem muito a ver com esse olhar retroativo de quem sabe que a memória traz sabores únicos. Dramaturgia, a atração, ganha como leme o olhar de uma telespectadora familiarizada com a emissora desde a infância. Gente como eu e milhares por aí.

    A Globo nasceu alguns anos depois de mim; portanto, meu retrovisor também me presenteia com lembranças da velha TV Tupi, com o logotipo do indiozinho, e que tinha até teleteatro em seus tempos áureos – espetáculos entremeados, nos intervalos, pela propaganda de guaraná champagne Antarctica.

    Mas a Globo soube se firmar no mercado por oferecer, ao telespectador, um produto final de qualidade atraente. Além dos informativos básicos, a emissora carioca sempre investiu alto no setor entretenimento, e o resultado foi uma história de conquista de milhões de telespectadores. Mesmo sob uma compreensível resistência de quem estava satisfeito com o que já rolava naquelas primeiras décadas da televisão no Brasil, esse público foi se rendendo aos apelos da que se tornou a melhor.

    Acho um luxo que, nesta temporada de especiais de aniversário e ainda que em pequenos flashes, a Globo revisite suas atrações marcantes. Quem acompanhou essa trajetória vai sentir, mesmo nessas exibições-relâmpago, que qualidade nunca faltou – mas o produto já foi mais generoso com o telespectador, ou menos comprometida com o comercial.

    Na festa de abertura dessa temporada, aliás, muito material poderia ser enxugado. Até atores consagrados como Glória Meneses e Tarcísio Meira pareciam pouco à vontade com o texto da ocasião. Regina Duarte como segunda voz de Ivan Lins cantando Começar de Novo foi idéia infeliz; isso vale para festa íntima em que todo mundo pode se divertir em torno do videokê, mas, para exibição pública, jamais.

    Mas vá lá, passou. Enquanto isso, aproveite para saborear momentos inesquecíveis das novelas de antigamente, menos dispersas; das minisséries, primorosas em qualquer tempo; dos humorísticos mais criativos, dos programas infantis com menos tecnologia e mais conteúdo… Como documentário, vale acompanhar tudo.

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      Chico Neto

      Arquivo Geral

      21/04/2005 0h00

      Sempre é cedo para se apreciar, para bem ou para mal, uma novela que estréia – especialmente na Globo, onde uma história inteira pode mudar radicalmente seu tom de um dia para outro.

      Mas não deixa de ser curioso sentir o impacto do que, pelo menos em seus primeiros dias de vida, é novidade. E A Lua me Disse tem sido um verdadeiro deleite nesses capítulos iniciais. Principalmente para quem gosta de ver o mundo sob as lentes da caricatura.

      A veia cômica do lado-autor do polivalente Miguel Falabella é um organismo permanentemente em ebulição. Ao que tudo indica, Maria Carmem Barbosa joga no mesmo time – pois Miguel, de nome solidificado o suficiente para poder escolher as condições de trabalho, jamais seria parceiro de quem não tivesse química com ele.

      Por esta razão, o elenco de uma obra que tenha na origem qualquer sinal de Miguel Falabella é sempre familiar. Acende-se o fogo e a panelinha funciona bem, preenchida com ingredientes de todas as receitas dele: Zezé Polessa, Deborah Bloch, Arlete Salles, Jacqueline Laurence, Zezeh Barbosa, Maria Zilda, Aracy Balabanian e toda sorte de artistas bem-talhados para a comédia.

      Agora Miguel parece ter superado o próprio recorde. Em termos de exagero, as personagens de A Lua me Disse estão graduadas com nota dez. E esse traço curioso pode ser notado, de cara, pelo visual da trupe que compõe a novela.

      Nem no interior da Bahia, em Cuba ou nos subúrbios da cidade do México alguém vai conseguir reunir, num só cenário, tantas cores berrantes misturadas ao léu. A vista do telespectador chega a pedir um tempo para poder decodificar as imagens que brotam na telinha, numa profusão louca de tons e detalhes.

      Os tipos também são desarvoradamente caricatos. E, cá para nós – aí com uma pitada de maledicência, que em nada destoa do espírito da trama –: é assombrosa também a quantidade de rostos batizados pela cirurgia plástica por ali. Valha-me, São Pitanguy da Era do Botox!

      Daqui a pouco vão fazer como no SBT, que, no final de uma certa novela de horário nobre, estampa nos créditos o nome de um bambambã paulista da estética restauradora responsável por não sei quantas cirurgias estéticas bem-sucedidas em gente da casa. Aliás, eis aí um tipo de argumento que é bem a cara de A Lua me Disse.

      Fatores derivados do exagero, enfim, ajudam bastante a compor a base dessa simpática fauna tresloucada da novela das sete. O astral alegre, despojado e muitas vezes barraqueiro que veste boa parte do núcleo desta nova novela também está presente em América – tanto no núcleo dos latinos-exportados quanto na histeria de personagens como Diva (Neusa Borges) e Islene (Paula Bulamarqui), que só conversam gritando. Insisto: o mexicanismo do SBT tem excelentes influências.

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        Chico Neto

        Arquivo Geral

        21/04/2005 0h00

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        Mas não deixa de ser curioso sentir o impacto do que, pelo menos em seus primeiros dias de vida, é novidade. E A Lua me Disse tem sido um verdadeiro deleite nesses capítulos iniciais. Principalmente para quem gosta de ver o mundo sob as lentes da caricatura.

        A veia cômica do lado-autor do polivalente Miguel Falabella é um organismo permanentemente em ebulição. Ao que tudo indica, Maria Carmem Barbosa joga no mesmo time – pois Miguel, de nome solidificado o suficiente para poder escolher as condições de trabalho, jamais seria parceiro de quem não tivesse química com ele.

        Por esta razão, o elenco de uma obra que tenha na origem qualquer sinal de Miguel Falabella é sempre familiar. Acende-se o fogo e a panelinha funciona bem, preenchida com ingredientes de todas as receitas dele: Zezé Polessa, Deborah Bloch, Arlete Salles, Jacqueline Laurence, Zezeh Barbosa, Maria Zilda, Aracy Balabanian e toda sorte de artistas bem-talhados para a comédia.

        Agora Miguel parece ter superado o próprio recorde. Em termos de exagero, as personagens de A Lua me Disse estão graduadas com nota dez. E esse traço curioso pode ser notado, de cara, pelo visual da trupe que compõe a novela.

        Nem no interior da Bahia, em Cuba ou nos subúrbios da cidade do México alguém vai conseguir reunir, num só cenário, tantas cores berrantes misturadas ao léu. A vista do telespectador chega a pedir um tempo para poder decodificar as imagens que brotam na telinha, numa profusão louca de tons e detalhes.

        Os tipos também são desarvoradamente caricatos. E, cá para nós – aí com uma pitada de maledicência, que em nada destoa do espírito da trama –: é assombrosa também a quantidade de rostos batizados pela cirurgia plástica por ali. Valha-me, São Pitanguy da Era do Botox!

        Daqui a pouco vão fazer como no SBT, que, no final de uma certa novela de horário nobre, estampa nos créditos o nome de um bambambã paulista da estética restauradora responsável por não sei quantas cirurgias estéticas bem-sucedidas em gente da casa. Aliás, eis aí um tipo de argumento que é bem a cara de A Lua me Disse.

        Fatores derivados do exagero, enfim, ajudam bastante a compor a base dessa simpática fauna tresloucada da novela das sete. O astral alegre, despojado e muitas vezes barraqueiro que veste boa parte do núcleo desta nova novela também está presente em América – tanto no núcleo dos latinos-exportados quanto na histeria de personagens como Diva (Neusa Borges) e Islene (Paula Bulamarqui), que só conversam gritando. Insisto: o mexicanismo do SBT tem excelentes influências.

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          Chico Neto

          Arquivo Geral

          14/04/2005 0h00

          Lá se vai mais uma novela das sete da Globo. Será que alguém vai sentir falta daquela Começar de Novo toda? Sei não. Mas, como há gosto para tudo, vão aí meus sentimentos a quem lamenta ter somente até amanhã para acompanhar a história.

          Qual história, aliás? Começar de Novo foi mais um engodo típico daquele horário de novelas na emissora. Tomara que A Lua me Disse, que estréia segunda-feira no lugar, não engate um “começar-de-novo” com essa lenga-lenga que mais parece consolidar uma espécie de urucubaca desse horário de novelas.

          O argumento inicial de Começar de Novo não pode ser considerado, exatamente, desprezível: rapaz é “morto” a mando da matriarca da família da namorada, mas na verdade é salvo e não morre; muda-se para a Rússia, cria nova identidade, passam-se muitos anos e, um belo dia, ele volta, querendo vingar-se, um a um, de todos os que o prejudicaram naquele tempo distante.

          Desta vez, o erro primordial tem a ver com a química. Efusivamente saudada pela mídia como a estrela da novela, a linda Gisele Itié (Júlia), originalmente destacada para compor par romântico com o dublê de diretor e ator Marcos Paulo (Andrei na fase russa e Miguel Arcanjo depois de assumir a real identidade), não segurou a onda. Verdade seja dita: Marcos Paulo, em que pese o talento como diretor, também não mostrou exatamente o perfil de galã.

          Para remendar o estrago, diminuíram-se os holofotes sobre Gisele Itié e abriram caminho para uma nova personagem: a destrambelhada Gigi, de Carolina Ferraz. Ajudou a distrair a platéia. Mais tarde, ainda em torno da mesma sem-gracice de Júlia, criaram um papel para a nota-10 Lúcia Alves, que passou a ser a mãe dos personagens de Gisele e de Erik Marmo (Carlos). Até aquele momento, essa mãe também era dada por morta.

          Não é o primeiro nem último exemplo de uma trama que escorrega pela pouca substância dos protagonistas oficiais. Nem tudo esteve perdido: personagens inicialmente não tão nobres, graças ao talento de seus intérpretes, foram aos poucos roubando cena e conquistando o público.

          Nesse setor, a novela pôde se valer do imperdível duelo entre a malvada Lucrécia (Eva Wilma) e a riponga alto-astral Janis (Marília Pêra). Neste núcleo, aliás, também mereceu destaque o Vô Doidão vivido por Luiz Gustavo. Os três deram preciosa contribuição para salvar do fracasso a trama das sete.

          Em termos de expectativa, pelo menos na próxima novela já se sabe que a comicidade é um dos pilares da trama – marca registrada de Miguel Falabella, que trabalha sempre com a mesma panelinha mas que, ao final das contas, é bom no que se propõe fazer: rir, sem muito mais profundas intenções. Mas, se o seu negócio é drama, fique com a concorrente Rubi, do SBT. É caricata e autêntica.

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            Chico Neto

            Arquivo Geral

            14/04/2005 0h00

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            Qual história, aliás? Começar de Novo foi mais um engodo típico daquele horário de novelas na emissora. Tomara que A Lua me Disse, que estréia segunda-feira no lugar, não engate um “começar-de-novo” com essa lenga-lenga que mais parece consolidar uma espécie de urucubaca desse horário de novelas.

            O argumento inicial de Começar de Novo não pode ser considerado, exatamente, desprezível: rapaz é “morto” a mando da matriarca da família da namorada, mas na verdade é salvo e não morre; muda-se para a Rússia, cria nova identidade, passam-se muitos anos e, um belo dia, ele volta, querendo vingar-se, um a um, de todos os que o prejudicaram naquele tempo distante.

            Desta vez, o erro primordial tem a ver com a química. Efusivamente saudada pela mídia como a estrela da novela, a linda Gisele Itié (Júlia), originalmente destacada para compor par romântico com o dublê de diretor e ator Marcos Paulo (Andrei na fase russa e Miguel Arcanjo depois de assumir a real identidade), não segurou a onda. Verdade seja dita: Marcos Paulo, em que pese o talento como diretor, também não mostrou exatamente o perfil de galã.

            Para remendar o estrago, diminuíram-se os holofotes sobre Gisele Itié e abriram caminho para uma nova personagem: a destrambelhada Gigi, de Carolina Ferraz. Ajudou a distrair a platéia. Mais tarde, ainda em torno da mesma sem-gracice de Júlia, criaram um papel para a nota-10 Lúcia Alves, que passou a ser a mãe dos personagens de Gisele e de Erik Marmo (Carlos). Até aquele momento, essa mãe também era dada por morta.

            Não é o primeiro nem último exemplo de uma trama que escorrega pela pouca substância dos protagonistas oficiais. Nem tudo esteve perdido: personagens inicialmente não tão nobres, graças ao talento de seus intérpretes, foram aos poucos roubando cena e conquistando o público.

            Nesse setor, a novela pôde se valer do imperdível duelo entre a malvada Lucrécia (Eva Wilma) e a riponga alto-astral Janis (Marília Pêra). Neste núcleo, aliás, também mereceu destaque o Vô Doidão vivido por Luiz Gustavo. Os três deram preciosa contribuição para salvar do fracasso a trama das sete.

            Em termos de expectativa, pelo menos na próxima novela já se sabe que a comicidade é um dos pilares da trama – marca registrada de Miguel Falabella, que trabalha sempre com a mesma panelinha mas que, ao final das contas, é bom no que se propõe fazer: rir, sem muito mais profundas intenções. Mas, se o seu negócio é drama, fique com a concorrente Rubi, do SBT. É caricata e autêntica.

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              Chico Neto

              Arquivo Geral

              07/04/2005 0h00

              Você já foi a alguma festa em que os homenageados eram as pessoas de menos importância? Pelo menos em suas primeiras semanas, América está sendo assim. A gente sabe que os protagonistas são Deborah Secco e Murilo Benício, mas nem os nomes dos dois desastrados astros na abertura dos créditos da novela e os sucessivos enquadramentos de câmera neles têm força para convencer de que ali existe um casal que segure a história.

              Vamos reconhecer que, em termos de marketing, a idéia de guindar Deborah Secco ao posto de estrela de primeira grandeza tem sido uma completa aula de forçar a barra. Esse status, que com Murilo Benício esteve relativamente bem-composto em O Clone – coitado, teve de se virar encarando o papel de irmãos gêmeos e depois o de replicante de um deles –, é o que a casa quer porque quer criar para a atriz.

              Não adianta fechar o capítulo, todos os dias, com um close no rosto de Deborah Secco. Aquela dicção murmurante, mais apropriada para um papel caricato de garota de teleatendimento, é um dos fatores que trabalham contra a atriz. Pelo menos se a missão que a ela destinaram é a de protagonista, falta muito laboratório.

              Também não surte efeito investir em clipes românticos da moça com Tião, esta uma criatura já contaminada pelo recorrente perfil de galinho de briga – que é como Murilo Benício tem vestido seus últimos personagens na televisão. Cada qual à sua maneira, tanto Murilo quanto Deborah parecem não ter vestido ainda a camisa de seus personagens.

              Culpa do papel? Pode ser. Mas, enquanto Tião parece emplacar uma versão glamourizada do Garoto Enxaqueca, Sol nada mais é do que uma Darlene (papel de Deborah Secco em Celebridade) que trocou o Andaraí pelos Estados Unidos, com escalas em Boiadeiros e na fronteira com o Texas.

              Sol – nome pomposo que sugere a composição de um personagem inesquecível, a partir do qual o mundo da teledramaturgia não será mais o mesmo – até agora tem sido um equívoco de interpretação. Pode ser que, no decorrer da história, eu quebre minha cara barbuda e descubra que a eleita para protagonista da novela de horário nobre da Globo está dando show de bola.

              Mas, enquanto isso não acontece, quem quer mesmo acreditar que existe vida inteligente em América – à frente da novela estão profissionais consolidados, como a autora Glória Perez e o diretor Jayme Monjardim – deve ignorar o assédio da mídia e enxergar a história a partir do universo de personagens oficialmente menos importantes que o casal-dono-da-festa.

              Exceção às tramas mexicanas, originalmente enxutas, novelas não são produtos estáticos. E, como América ainda é uma criança, pode não seguir caminho parecido com o de Começar de Novo. Aquilo ali, sim, é um perfeito Olimpo dos Equivocados.

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                Chico Neto

                Arquivo Geral

                07/04/2005 0h00

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                Vamos reconhecer que, em termos de marketing, a idéia de guindar Deborah Secco ao posto de estrela de primeira grandeza tem sido uma completa aula de forçar a barra. Esse status, que com Murilo Benício esteve relativamente bem-composto em O Clone – coitado, teve de se virar encarando o papel de irmãos gêmeos e depois o de replicante de um deles –, é o que a casa quer porque quer criar para a atriz.

                Não adianta fechar o capítulo, todos os dias, com um close no rosto de Deborah Secco. Aquela dicção murmurante, mais apropriada para um papel caricato de garota de teleatendimento, é um dos fatores que trabalham contra a atriz. Pelo menos se a missão que a ela destinaram é a de protagonista, falta muito laboratório.

                Também não surte efeito investir em clipes românticos da moça com Tião, esta uma criatura já contaminada pelo recorrente perfil de galinho de briga – que é como Murilo Benício tem vestido seus últimos personagens na televisão. Cada qual à sua maneira, tanto Murilo quanto Deborah parecem não ter vestido ainda a camisa de seus personagens.

                Culpa do papel? Pode ser. Mas, enquanto Tião parece emplacar uma versão glamourizada do Garoto Enxaqueca, Sol nada mais é do que uma Darlene (papel de Deborah Secco em Celebridade) que trocou o Andaraí pelos Estados Unidos, com escalas em Boiadeiros e na fronteira com o Texas.

                Sol – nome pomposo que sugere a composição de um personagem inesquecível, a partir do qual o mundo da teledramaturgia não será mais o mesmo – até agora tem sido um equívoco de interpretação. Pode ser que, no decorrer da história, eu quebre minha cara barbuda e descubra que a eleita para protagonista da novela de horário nobre da Globo está dando show de bola.

                Mas, enquanto isso não acontece, quem quer mesmo acreditar que existe vida inteligente em América – à frente da novela estão profissionais consolidados, como a autora Glória Perez e o diretor Jayme Monjardim – deve ignorar o assédio da mídia e enxergar a história a partir do universo de personagens oficialmente menos importantes que o casal-dono-da-festa.

                Exceção às tramas mexicanas, originalmente enxutas, novelas não são produtos estáticos. E, como América ainda é uma criança, pode não seguir caminho parecido com o de Começar de Novo. Aquilo ali, sim, é um perfeito Olimpo dos Equivocados.

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                  Chico Neto

                  Arquivo Geral

                  31/03/2005 0h00

                  Desconfio que a saga dos reality shows ainda vai tomar espaço das novelas. Também não será surpresa se um folhetim televisivo qualquer se basear nos argumentos de um reality show – mais ou menos como Metamorphoses, da Record, tentou fazer, mas foi atropelada no caminho por problemas internos.

                  Esse último Big Brother Brasil mostrou bem como a fórmula da holandesa Endemol, mesmo devidamente adaptada ao modus vivendi tropical, acerta na mosca ao ser implantada numa rede de televisão.

                  Lamento lembrar, mas a mosca somos nós, zunindo ao redor de qualquer sinalzinho de açúcar na parada.

                  O BBB da Globo se mostra sob diversos ângulos. Um é aquele que, de certa forma, materializa a máxima segundo a qual “a voz do povo é a voz de Deus”: a audiência, desta vez, parece ter sido mais criteriosa ao eleger, para a finalíssima da caça-ao-milhão, os personagens que se revelaram do bem.

                  Em versões anteriores, não necessariamente os vitoriosos tinham cacife para segurar a empatia com o público. A vitória de Jean parece trazer à tona critérios mais definidos do que os demonstrados pelo público que elegeu, nas respectivas quatro edições passadas do programa, o quase ingênuo Kleber Bambam, o caubói Rodrigo, o ardiloso Dhomini e Cida, a preferida do povão.

                  Outro aspecto do Big Brother Brasil é aquele para o qual atenta Pedro Bial: entrar na casa é, antes de tudo, uma oportunidade de travar autoconhecimento. Faz sentido. Gente que se acha o máximo percebe que ninguém engana todo mundo o tempo inteiro; pessoas de boa índole aprendem na marra que jogos nem sempre permitem meio-termo; e, com boa vontade, alguma prática de fraternidade consegue sobreviver e se infiltrar na bagagem de quem sai.

                  Um terceiro aspecto, porém, é o que dá o tom exato do produto Big Brother: serve para enriquecer a máquina, diante de cujo poder, reforçado com a mídia do programa, o milhão “doado” ao vencedor é um grãozinho. Tanto é assim que, reféns da repercussão nacional do produto, outros canais acabam trabalhando para a Globo em época de Big Brother, comentando em programas de fofoca os bastidores do programa e, desta forma, reforçando o poder da emissora onipresente.

                  Mal foram anunciados os vencedores de BBB5, Gilberto Barros, da Band, reuniu alguns ex-BBBs (aliás, “ex-BBB” virou referência) para comentar o resultado. A maioria desses ilustres convidados perdeu oportunidade de falar menos. Adriano insinuou que a edição da Globo privilegiou Jean, fazendo questão de jurar não ter “nada contra” ele. Mama frisou que rolou muito sexo no BBB do qual participou. Falaram nomes de quem transou com quem. Quanta baixaria! Mas dá lucro e audiência. Salve-se quem puder desses tentáculos da era dos reality shows.

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                    Chico Neto

                    Arquivo Geral

                    31/03/2005 0h00

                    Desconfio que a saga dos reality shows ainda vai tomar espaço das novelas. Também não será surpresa se um folhetim televisivo qualquer se basear nos argumentos de um reality show – mais ou menos como Metamorphoses, da Record, tentou fazer, mas foi atropelada no caminho por problemas internos.

                    Esse último Big Brother Brasil mostrou bem como a fórmula da holandesa Endemol, mesmo devidamente adaptada ao modus vivendi tropical, acerta na mosca ao ser implantada numa rede de televisão.

                    Lamento lembrar, mas a mosca somos nós, zunindo ao redor de qualquer sinalzinho de açúcar na parada.

                    O BBB da Globo se mostra sob diversos ângulos. Um é aquele que, de certa forma, materializa a máxima segundo a qual “a voz do povo é a voz de Deus”: a audiência, desta vez, parece ter sido mais criteriosa ao eleger, para a finalíssima da caça-ao-milhão, os personagens que se revelaram do bem.

                    Em versões anteriores, não necessariamente os vitoriosos tinham cacife para segurar a empatia com o público. A vitória de Jean parece trazer à tona critérios mais definidos do que os demonstrados pelo público que elegeu, nas respectivas quatro edições passadas do programa, o quase ingênuo Kleber Bambam, o caubói Rodrigo, o ardiloso Dhomini e Cida, a preferida do povão.

                    Outro aspecto do Big Brother Brasil é aquele para o qual atenta Pedro Bial: entrar na casa é, antes de tudo, uma oportunidade de travar autoconhecimento. Faz sentido. Gente que se acha o máximo percebe que ninguém engana todo mundo o tempo inteiro; pessoas de boa índole aprendem na marra que jogos nem sempre permitem meio-termo; e, com boa vontade, alguma prática de fraternidade consegue sobreviver e se infiltrar na bagagem de quem sai.

                    Um terceiro aspecto, porém, é o que dá o tom exato do produto Big Brother: serve para enriquecer a máquina, diante de cujo poder, reforçado com a mídia do programa, o milhão “doado” ao vencedor é um grãozinho. Tanto é assim que, reféns da repercussão nacional do produto, outros canais acabam trabalhando para a Globo em época de Big Brother, comentando em programas de fofoca os bastidores do programa e, desta forma, reforçando o poder da emissora onipresente.

                    Mal foram anunciados os vencedores de BBB5, Gilberto Barros, da Band, reuniu alguns ex-BBBs (aliás, “ex-BBB” virou referência) para comentar o resultado. A maioria desses ilustres convidados perdeu oportunidade de falar menos. Adriano insinuou que a edição da Globo privilegiou Jean, fazendo questão de jurar não ter “nada contra” ele. Mama frisou que rolou muito sexo no BBB do qual participou. Falaram nomes de quem transou com quem. Quanta baixaria! Mas dá lucro e audiência. Salve-se quem puder desses tentáculos da era dos reality shows.

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                      Arquivo Geral

                      24/03/2005 0h00

                      Pode-se falar mal das novelas mexicanas – mas elas pegam a laço o telespectador. O SBT sabe disso e não abre mão do fator México em sua dramaturgia – exceção feita a Xica da Silva, que estréia segunda-feira na emissora. Noite dessas, a produção do SBT divulgava, nos intervalos da novela Rubi (19h30), que sua audiência vai muito bem, obrigado,

                      Não é para menos: num único capítulo, o dramalhão Rubi (com núcleo de personagens enxuto, como todos do gênero) desfiou um intensivão de dramas interpretados a rigor. Maribel, moça riquíssima e afetada por sério problema ortopédico oriundo de um acidente, arruma-se para seu casamento. Seu noivo Heitor, o bonitão da história, não aparece na igreja e foge com a melhor amiga dela – a estonteante Rubi. Maribel, vestida de noiva, toma um táxi e vai atrás deles no aeroporto. Lá, corre tanto que perde o aparelho ortopédico usado na perna direita. Sangrando, consegue ver, numa escada rolante, Rubi e Heitor. Rubi a vê e dá um beijo cinematográfico em Heitor. Diante da visão, Maribel deixa cair das alturas seu buquê de cristal. Na cena seguinte, Rubi revela que é virgem e tem um ataque quando Heitor tenta transar com ela, fugindo em desabalada carreira pela praia. Agora responda: alguém vai querer trocar esse cartum eletrônico pelas águas mornas de Começar de Novo, da Globo?

                      E a Globo, aliás, não quer perder a deixa. América, com aquela Deborah Secco toda, tem apresentado aventuras empolgantes na fronteira do México com os EUA. Sugiro que Sol e sua gangue fiquem mais tempo no México. Será uma escola preciosa de interpretação para a protagonista da novela do horário nobre.

                      Mexicanos também andam os mais recentes capítulos de Big Brother Brasil, a farsa da vida real. O povo ali anda chorando horrores, agora que o funil se estreita e a regra, mais que nunca, é trapacear para se dar bem.

                      Virgem de Guadalupe, ruega por nosotros neste caudaloso vale de lágrimas! Esses eflúvios pós-astecas ajudam muito a segurar a audiência. Falar nisso, vai uma isca de argumento de dramamexicano: Tatiane Pink e Astrid Fontenele teriam sido separadas ao nascer?

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                        Não é para menos: num único capítulo, o dramalhão Rubi (com núcleo de personagens enxuto, como todos do gênero) desfiou um intensivão de dramas interpretados a rigor. Maribel, moça riquíssima e afetada por sério problema ortopédico oriundo de um acidente, arruma-se para seu casamento. Seu noivo Heitor, o bonitão da história, não aparece na igreja e foge com a melhor amiga dela – a estonteante Rubi. Maribel, vestida de noiva, toma um táxi e vai atrás deles no aeroporto. Lá, corre tanto que perde o aparelho ortopédico usado na perna direita. Sangrando, consegue ver, numa escada rolante, Rubi e Heitor. Rubi a vê e dá um beijo cinematográfico em Heitor. Diante da visão, Maribel deixa cair das alturas seu buquê de cristal. Na cena seguinte, Rubi revela que é virgem e tem um ataque quando Heitor tenta transar com ela, fugindo em desabalada carreira pela praia. Agora responda: alguém vai querer trocar esse cartum eletrônico pelas águas mornas de Começar de Novo, da Globo?

                        E a Globo, aliás, não quer perder a deixa. América, com aquela Deborah Secco toda, tem apresentado aventuras empolgantes na fronteira do México com os EUA. Sugiro que Sol e sua gangue fiquem mais tempo no México. Será uma escola preciosa de interpretação para a protagonista da novela do horário nobre.

                        Mexicanos também andam os mais recentes capítulos de Big Brother Brasil, a farsa da vida real. O povo ali anda chorando horrores, agora que o funil se estreita e a regra, mais que nunca, é trapacear para se dar bem.

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                          17/03/2005 0h00

                          Segura a onda, peão. Em seus primeiros capítulos, América ainda não demarcou território. Talvez faltem algumas seqüências para a Sol de Deborah Secco se desvencilhar dos vestígios de Darlene (Celebridade). E Darlene, por sua vez, era uma espécie de “evolução” de Íris (papel de Deborah em Laços de Família, atração atual do Vale a Pena Ver de Novo da Globo).

                          Só vendo para crer. Resta esperar a novela pegar no tranco. Afinal, agora Deborah ataca de protagonista. Situação, convenhamos, difícil de se conceber para quem acompanha a carreira da atriz. Mas o diretor Jayme Monjardim é conhecido como um profissional de bom senso. A esperança está aí.

                          Ainda é muito cedo para se detectar qualquer ensaio de definição em América. Justiça seja feita: com relação às imagens, os primeiros capítulos capricharam. Em algumas cenas, também. A do assalto no túnel foi perfeita, um verdadeiro balé do carioca contemporâneo acostumado a conviver com a violência cotidiana. Seria cômico se não fosse trágico, real e, infelizmente, um fenômeno que se repete em proporções assustadoras.

                          De consistente, vale também destacar a performance de atores como Jandira Martini, Paulo Goulart e Eliane Giardini – que promete uma Viúva Neuta impagável, como são, aliás, todos os papéis caricatos que ela desempenha na televisão. Giardini está entre os artistas cuja simples presença agrega qualidade às produções televisivas.

                          Detalhe aparentemente malpensado está na abertura. Marcus Vianna é um músico genial, mas seu tema composto para América já se mostra recorrente, pelas semelhanças melódicas com a trilha de Pantanal e até de O Clone.

                          Melhor esperar a história decolar. Falando nisso, não dá para deixar de alertar, sobre uma das poucas mensagens concretas de América : criou-se uma síndrome de Governador Valadares, com o frisson detonado pela propaganda duvidosa de que a vida nos EUA é divina para imigrantes. Por conta disso, devem andar mais congestionadas do que de costume as filas de quem pretende viver naquela suposta maravilha. Até que esse mito seja desvendado na trama, não custa recomendar: menos, baby, menos.

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                            17/03/2005 0h00

                            Segura a onda, peão. Em seus primeiros capítulos, América ainda não demarcou território. Talvez faltem algumas seqüências para a Sol de Deborah Secco se desvencilhar dos vestígios de Darlene (Celebridade). E Darlene, por sua vez, era uma espécie de “evolução” de Íris (papel de Deborah em Laços de Família, atração atual do Vale a Pena Ver de Novo da Globo).

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                            Ainda é muito cedo para se detectar qualquer ensaio de definição em América. Justiça seja feita: com relação às imagens, os primeiros capítulos capricharam. Em algumas cenas, também. A do assalto no túnel foi perfeita, um verdadeiro balé do carioca contemporâneo acostumado a conviver com a violência cotidiana. Seria cômico se não fosse trágico, real e, infelizmente, um fenômeno que se repete em proporções assustadoras.

                            De consistente, vale também destacar a performance de atores como Jandira Martini, Paulo Goulart e Eliane Giardini – que promete uma Viúva Neuta impagável, como são, aliás, todos os papéis caricatos que ela desempenha na televisão. Giardini está entre os artistas cuja simples presença agrega qualidade às produções televisivas.

                            Detalhe aparentemente malpensado está na abertura. Marcus Vianna é um músico genial, mas seu tema composto para América já se mostra recorrente, pelas semelhanças melódicas com a trilha de Pantanal e até de O Clone.

                            Melhor esperar a história decolar. Falando nisso, não dá para deixar de alertar, sobre uma das poucas mensagens concretas de América : criou-se uma síndrome de Governador Valadares, com o frisson detonado pela propaganda duvidosa de que a vida nos EUA é divina para imigrantes. Por conta disso, devem andar mais congestionadas do que de costume as filas de quem pretende viver naquela suposta maravilha. Até que esse mito seja desvendado na trama, não custa recomendar: menos, baby, menos.

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                              10/03/2005 0h00

                              Oficialmente, a Globo não divulgou as sinopses dos dois últimos capítulos de Senhora do Destino, que vão ao ar hoje e amanhã. Mas isso é mais para levar ao telespectador um gostinho falso de suspense, já que tem sido “plantado” na imprensa farto material sobre o fim da trama. A Globo pode se dar a esse luxo: mesmo sabendo de quase tudo que vai rolar, o público não vai perder esse final.

                              É justo. Com eventuais tropeços – a linearidade não combina com novelas de muitos personagens –, a trama de Aguinaldo Silva não perde os atrativos, e por isso é mais uma a marcar temporada. E parte desse mérito pode ser atribuída à personagem mais odiosa da história: Nazaré, um salto de qualidade na interpretação de Renata Sorrah.

                              Tudo que Nazaré fez é deplorável. No somatório, prejudicou a vida de muita gente em Senhora do Destino, a começar pela protagonista da trama, Maria do Carmo (Susana Vieira). No decorrer da história, porém, Naza foi se tornando tão caricata que acabou criando uma empatia com o público da novela.

                              E é com todo esse teor de personagem estereotipada que nossa heroína do mal chega, quase invicta, ao capítulo final. Chego até a ver a megera, com seu uniforme de pomba-gira – pois Nazaré não pode se despedir do mundo trajada de outra cor que não o vermelho, e aposto que a calcinha é preta –, despencando na cachoeira de Paulo Afonso sem qualquer ajuda de Mamãe Oxum.

                              O resto, todo mundo já sabe. Reginaldo (Du Moscovis) viverá seu momento Madalena, sendo apedrejado até a morte. Josivaldo (José de Abreu) vai enlouquecer, virar “free-lancer do apocalipse” e falar com estátuas.

                              Como nada é perfeito, a vamp-vagaba Viviane (Letícia Spiller) consegue escapar e se casar com um senador muito corrupto. Aí talvez esteja um átomo da moral da história: morte não necessariamente é castigo. Este pode ser “degustado” em vida, nas mais suaves prestações.

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                                Tudo que Nazaré fez é deplorável. No somatório, prejudicou a vida de muita gente em Senhora do Destino, a começar pela protagonista da trama, Maria do Carmo (Susana Vieira). No decorrer da história, porém, Naza foi se tornando tão caricata que acabou criando uma empatia com o público da novela.

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                                  03/03/2005 0h00

                                  Não adianta torcer o nariz: pelo menos em sua reta final, Senhora do Destino se rendeu à escola mexicana de interpretação, e o resultado é que boa parte dos personagens centrais está nadando de braçada nos estereótipos.

                                  A influência é mais nítida no núcleo malvado, mas não livra a cara de gente do bem, como a latinamente simpática Maria do Carmo (Suzana Vieira) – cujo figurino, maquiagem e penteado merecem nota dez no quesito estética mexicana. Daqui a pouco vão servir guacamole num daqueles fartos lanches na casa da matriarca dos Ferreira da Silva, deleite para quem está “varado de fome”.

                                  Mas o México carimba mesmo é a performance de Renata Sorrah dando vida à personagem mais malévola da trama. Nazaré, com suas tiradas irônicas, trejeitos de vagaba graduada e modelitos que somente novelas mexicanas e desenhos animados de Hanna & Barbera apresentam, merece o Troféu Guadalupe com mariachise tudo.

                                  Letícia Spiller, embora tenha dito que se inspirou na Lady Macbeth de Shakespeare para compor sua Viviane, com boa vontade pode ser que chegue a Cancún. Reginaldo (Eduardo Moscovis) está primoroso incorporando o político sem qualquer escrúpulo. Também são mexicanizados Josivaldo (José de Abreu) e o advogado Edmundo (Felipe Camargo), este de oitava categoria.

                                  Dia desses, o universo de Chaves – produto mexicano inesquecível – foi outro a diluir por ali fortes influências. Ou o que mais terá sido aquele casamento todo de Danielle (Ludmila Dayer) e Venâncio (André Gonçalves)?

                                  Pelo menos nesses momentos, a fronteira entre SBT e Globo é tão estreita como aquela entre o México e os Estados Unidos – aliás, este é o alicerce da próxima novela do horário da Globo, América. Mas a moral da história também é curta: a forma mexicana de interpretar não faz sucesso à toa no SBT. Com jeitinho, migrou para o filé da teledramaturgia da Globo em seus últimos dias.

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                                      24/02/2005 0h00

                                      Ainda que por 15 segundos, participar do mundo encantado das celebridades tem preço alto. Já parou para pensar que um artista de televisão praticamente perde o direito de ser espontâneo, já que qualquer passo que dê terá repercussão especulativa na mídia?

                                      Por mais glamourosa que pareça ser, vida de estrela pressupõe que a pessoa nunca mais vai poder se sentir à vontade. Mesmo assim, a idéia da fama e do poder/dinheiro a ela agregada, para milhões de mortais comuns, é irresistivelmente sedutora.

                                      E é por esse canal que muita gente boa se afoga. Vide Big Brother e a saga (ou praga) dos reality shows que têm feito a festa das televisões do mundo inteiro, faturando um colosso por conta da audiência ávida em espionar a vida alheia.

                                      Quem sou eu para bradar um a contra o sonho de faturar R$ 1 milhão! Quem não gostaria? Apenas sinalizo o óbvio quanto ao preço que paga quem se aventura nessa carnificina de reality show, numa busca nem sempre feliz da fortuna e da notoriedade. A linha sucesso-aqui-vou-eu, afinal, não calça bem em todo mundo.

                                      Um artista de sucesso vira celebridade, na maioria das vezes, por seu talento (e não ignoro que talento, nos dias de hoje, seja confundido com boa forma ou beleza). A devassa de sua vida pessoal é uma conseqüência.

                                      Mas a turma de BBB e congêneres ingressa na caça à fama pelo lado oposto: num primeiro momento, é exatamente a sua atitude de vida que passa a ser objeto de curiosidade e purgação alheias. Se a pessoa se mostra do bem, o povo consagra. Mas a massa também se vinga de suas próprias fraquezas, execrando os que se revelam ardilosos sem limite.

                                      A estes últimos, minhas condolências. Porque não há lobby posterior, como o que é sistematicamente feito em torno de quem sai do BBB cedo, que resgate a popularidade do candidato. Fazer o quê? Preferência não se discute.

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                                        Um artista de sucesso vira celebridade, na maioria das vezes, por seu talento (e não ignoro que talento, nos dias de hoje, seja confundido com boa forma ou beleza). A devassa de sua vida pessoal é uma conseqüência.

                                        Mas a turma de BBB e congêneres ingressa na caça à fama pelo lado oposto: num primeiro momento, é exatamente a sua atitude de vida que passa a ser objeto de curiosidade e purgação alheias. Se a pessoa se mostra do bem, o povo consagra. Mas a massa também se vinga de suas próprias fraquezas, execrando os que se revelam ardilosos sem limite.

                                        A estes últimos, minhas condolências. Porque não há lobby posterior, como o que é sistematicamente feito em torno de quem sai do BBB cedo, que resgate a popularidade do candidato. Fazer o quê? Preferência não se discute.

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                                          Chico Neto

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                                          17/02/2005 0h00

                                          Nem pelo título ou honorários de “senhor do destino” eu gostaria de ter um filho como Reginaldo. Também ficaria muito infeliz de ser filho de alguém com aquele perfil – e de tamanho infortúnio, graças a Deus, consegui escapar nesta vida.

                                          Mas o caráter do personagem de Eduardo Moscovis em Senhora do Destino tem representantes espalhados por toda parte. Afirmar que aquela má índole é inerente a todo político é tão equivocado como supor que somente no Brasil existe corrupção nos poderes. Esse mal está situado num buraco bem mais abrangente que o de ozônio.

                                          Porém, como vivemos no Brasil das novelas prodigiosas, não há como deixar de ver, na performance de prefeito de Vila de São Miguel, um filme conhecido da maioria de nossos compatriotas.

                                          E esse desempenho a favor do que vai contra os princípios de uma administração honesta incomoda. E não é somente a legião de Maria do Carmo (Susana Vieira) está lutando contra ele, mas outros personagens da vida real.

                                          Em entrevista recente à Veja, Moscovis declarou ter se inspirado “na trajetória” de Rosinha Garotinho e seu marido, Anthony Garotinho, ela governadora do Rio e ele, secretário de Governo e Coordenação do Estado. O casal quer processar o ator.

                                          Bem fez Letícia Spiller, que, no papel de Viviane, a esposa-comparsa de Reginaldo, declarou à Veja ter se inspirado “em Lady Macbeth”, personagem de Shakespeare. Parece mais uma versão suburbana de Gilda (femme fatale imortalizada por Rita Hayworth no famoso filme de Charles Vidor de 1946) com nuances de Odete Roitman.

                                          O fato é que, em sua reta final, a trama revela shows de interpretação de Moscovis, Renata Sorrah (a Nazaré) e até de Letícia, com sua caracterização exagerada. Antes de sucumbirem, afinal, os vilões precisam brilhar. Qualquer problema, as semelhanças com a vida real são sempre meras coincidências.

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                                            17/02/2005 0h00

                                            Nem pelo título ou honorários de “senhor do destino” eu gostaria de ter um filho como Reginaldo. Também ficaria muito infeliz de ser filho de alguém com aquele perfil – e de tamanho infortúnio, graças a Deus, consegui escapar nesta vida.

                                            Mas o caráter do personagem de Eduardo Moscovis em Senhora do Destino tem representantes espalhados por toda parte. Afirmar que aquela má índole é inerente a todo político é tão equivocado como supor que somente no Brasil existe corrupção nos poderes. Esse mal está situado num buraco bem mais abrangente que o de ozônio.

                                            Porém, como vivemos no Brasil das novelas prodigiosas, não há como deixar de ver, na performance de prefeito de Vila de São Miguel, um filme conhecido da maioria de nossos compatriotas.

                                            E esse desempenho a favor do que vai contra os princípios de uma administração honesta incomoda. E não é somente a legião de Maria do Carmo (Susana Vieira) está lutando contra ele, mas outros personagens da vida real.

                                            Em entrevista recente à Veja, Moscovis declarou ter se inspirado “na trajetória” de Rosinha Garotinho e seu marido, Anthony Garotinho, ela governadora do Rio e ele, secretário de Governo e Coordenação do Estado. O casal quer processar o ator.

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                                            O fato é que, em sua reta final, a trama revela shows de interpretação de Moscovis, Renata Sorrah (a Nazaré) e até de Letícia, com sua caracterização exagerada. Antes de sucumbirem, afinal, os vilões precisam brilhar. Qualquer problema, as semelhanças com a vida real são sempre meras coincidências.

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                                              10/02/2005 0h00

                                              Terça-feira gorda e atraente foi a da noite de anteontem na Globo. Entre a ficção e o espetáculo da vida real com nítidos contornos de argumento para teledramaturgia, há tempos o telespectador não se via tão bem-servido – com o detalhe de que a sobremesa veio depois, com as beldades seminuas desfilando na Marquês de Sapucaí.

                                              Na novela das oito, que vai ao ar quase às nove, a casa de Maria do Carmo, estrategicamente vazia porque seus moradores estavam todos na Avenida, recebeu a visita da Malévola. Aprimorada na vilania, Nazaré deu show: derrubou retratos, desdenhou da decoração, se despojou na cama da rival e cuspiu no doce de abóbora.

                                              Quando ela foi flagrada pela dark-do-bem Claudinha, fecharam-se as cortinas e entrou no ar o matadouro da vida real do Big Brother. E aí foi a vez de quem achava ter o posto de senhora do destino da casa nem precisar de delegado ou oficial de Justiça para obedecer a mandado de despejo: bastaram os 92% de rejeição popular, ou seja, apenas quase 30 milhões de votos. Isso elege presidente num país como o nosso, sabia?

                                              Guardadas as devidas proporções, Nazaré é uma figura mítica do século 21 que tanto marca presença na novela de Aguinaldo Silva quanto faz estragos no reality show edição 5. Honorariamente, o maquiavelismo da personagem de Renata Sorrah e o – chamemos assim – “espírito de jogador” do médico-militar Rogério são parentes.

                                              Assim como a predadora da novela, que se acha irresistível, o loiro pisca-pisca dos BBB não deixou dúvidas: logo ao chegar à casa, pavoneou-se como um “médico carismático”, que cura “só de colocar a mão nos pacientes”, e foi logo ensinando à galera masculina como vestir uma cueca e tirar a sunga sem deixar a área de lazer exposta (ou muito) aos holofotes. Isca de capa da G, na melhor das hipóteses.

                                              No BBB, o recém-defenestrado ainda sapecou: “Quanto mais conheço os homens, mais gosto de meus cachorros”. Nazaré vem, Nazaré vai. Tanto em Senhora do Destino quanto em Big Brother Brasil, o ambiente é selvagem e conspirar é a palavra. A vida imita a arte ou vice-versa? Reflita.

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                                                10/02/2005 0h00

                                                Terça-feira gorda e atraente foi a da noite de anteontem na Globo. Entre a ficção e o espetáculo da vida real com nítidos contornos de argumento para teledramaturgia, há tempos o telespectador não se via tão bem-servido – com o detalhe de que a sobremesa veio depois, com as beldades seminuas desfilando na Marquês de Sapucaí.

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                                                Quando ela foi flagrada pela dark-do-bem Claudinha, fecharam-se as cortinas e entrou no ar o matadouro da vida real do Big Brother. E aí foi a vez de quem achava ter o posto de senhora do destino da casa nem precisar de delegado ou oficial de Justiça para obedecer a mandado de despejo: bastaram os 92% de rejeição popular, ou seja, apenas quase 30 milhões de votos. Isso elege presidente num país como o nosso, sabia?

                                                Guardadas as devidas proporções, Nazaré é uma figura mítica do século 21 que tanto marca presença na novela de Aguinaldo Silva quanto faz estragos no reality show edição 5. Honorariamente, o maquiavelismo da personagem de Renata Sorrah e o – chamemos assim – “espírito de jogador” do médico-militar Rogério são parentes.

                                                Assim como a predadora da novela, que se acha irresistível, o loiro pisca-pisca dos BBB não deixou dúvidas: logo ao chegar à casa, pavoneou-se como um “médico carismático”, que cura “só de colocar a mão nos pacientes”, e foi logo ensinando à galera masculina como vestir uma cueca e tirar a sunga sem deixar a área de lazer exposta (ou muito) aos holofotes. Isca de capa da G, na melhor das hipóteses.

                                                No BBB, o recém-defenestrado ainda sapecou: “Quanto mais conheço os homens, mais gosto de meus cachorros”. Nazaré vem, Nazaré vai. Tanto em Senhora do Destino quanto em Big Brother Brasil, o ambiente é selvagem e conspirar é a palavra. A vida imita a arte ou vice-versa? Reflita.

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                                                  03/02/2005 0h00

                                                  Quem se lembra do bar da Dona Jura, personagem que a então roliça Solange Couto fazia e com a qual arrebatou boa torcida em O Clone? Era o point mais simpático da novela; e, no decorrer da trama, passou a figurar com muita freqüência, transformando-se em palco efêmero de celebridades da música popular, que sempre íam ao subúrbio dar uma “canja” para a galera e fazer o merchandising básico.

                                                  A presença dessas celebridades não tinha nada a ver com o roteiro original de O Clone, mas serviu para preencher o tempo a partir do momento em que ficou conveniente esticar a trama. Trocando em miúdos, era gente que se agregava à história para não entediar o telespectador.

                                                  O recurso virou moda na Globo, e agora vem sendo usado, em outro formato (mas visando a efeito idêntico), em Começar de Novo, o morno folhetim das sete da emissora. Se você acompanha esta novela, já percebeu que a cada dia aparece mais personagem naquela história.

                                                  Quem puxou o cordão foi Carolina Ferraz, que entrou na dança para viver a ex-milionária Gigi, compondo um triângulo amoroso com Andrei/Miguel (Marcos Paulo) e Júlia (Gisele Itié) – dupla cuja química ficou muito aquém do esperado, apesar do alarde feito em torno do casal quando a novela começou. Ajudou a salvar a história, num momento em que ficou claro que a bela Gisele Itié tem muito chão a percorrer antes de se tornar protagonista.

                                                  A mais recente aquisição é Tarcísio Filho, no papel do novo delegado – vilão, claro – de Ouro Negro. Eis aí mais um artifício para vitaminar a trama. O fato é que Começar de Novo padece da urucubaca das novelas das sete na Globo: começa empolgante, depois escorrega no pastelão e dispersa o drama e o mistério, de quebra enfraquecendo o núcleo romântico.

                                                  Quem segura a onda ali ainda é Eva Wilma, que dá show no papel de Lucrécia e compõe bom dueto com a antagonista Janis (Marília Pêra). O resto passa e não deixa saudade.

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                                                    03/02/2005 0h00

                                                    Quem se lembra do bar da Dona Jura, personagem que a então roliça Solange Couto fazia e com a qual arrebatou boa torcida em O Clone? Era o point mais simpático da novela; e, no decorrer da trama, passou a figurar com muita freqüência, transformando-se em palco efêmero de celebridades da música popular, que sempre íam ao subúrbio dar uma “canja” para a galera e fazer o merchandising básico.

                                                    A presença dessas celebridades não tinha nada a ver com o roteiro original de O Clone, mas serviu para preencher o tempo a partir do momento em que ficou conveniente esticar a trama. Trocando em miúdos, era gente que se agregava à história para não entediar o telespectador.

                                                    O recurso virou moda na Globo, e agora vem sendo usado, em outro formato (mas visando a efeito idêntico), em Começar de Novo, o morno folhetim das sete da emissora. Se você acompanha esta novela, já percebeu que a cada dia aparece mais personagem naquela história.

                                                    Quem puxou o cordão foi Carolina Ferraz, que entrou na dança para viver a ex-milionária Gigi, compondo um triângulo amoroso com Andrei/Miguel (Marcos Paulo) e Júlia (Gisele Itié) – dupla cuja química ficou muito aquém do esperado, apesar do alarde feito em torno do casal quando a novela começou. Ajudou a salvar a história, num momento em que ficou claro que a bela Gisele Itié tem muito chão a percorrer antes de se tornar protagonista.

                                                    A mais recente aquisição é Tarcísio Filho, no papel do novo delegado – vilão, claro – de Ouro Negro. Eis aí mais um artifício para vitaminar a trama. O fato é que Começar de Novo padece da urucubaca das novelas das sete na Globo: começa empolgante, depois escorrega no pastelão e dispersa o drama e o mistério, de quebra enfraquecendo o núcleo romântico.

                                                    Quem segura a onda ali ainda é Eva Wilma, que dá show no papel de Lucrécia e compõe bom dueto com a antagonista Janis (Marília Pêra). O resto passa e não deixa saudade.

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                                                      27/01/2005 0h00

                                                      Na vida selvagem, não importa se você é uma gazela ou um leão: a ordem é acordar cedinho e correr muito para sobreviver. A gazela, para se alimentar e escapar do ataque do leão; o leão, claro, para conseguir alcançar a gazela.

                                                      Em Big Brother Brasil, fica claro que o homem, instituído como superior ao animal, está anos-luz aquém dessa sabedoria da natureza. Ali ou na guerra, a ordem é conspirar contra o semelhante. O troféu dessa caçada à moda homo sapiens, afinal, é nada menos do que R$ 1 milhão.

                                                      É complicado. Cria-se ali uma escola de antropofagia que reduz o bicho homem a mera marionete do sistema, incentivando o esvaziamento de valores básicos de convivência a partir do momento em que, diante de cada jogador, a bandeja oferece uma tentadora necessidade de passar o outro para trás.

                                                      Considere que os reality shows dessa natureza – cá para nós, a palavra natureza nem combina com BBB – são irreversíveis, e que a natureza humana, esta sim, tem características alinhadas como num caleidoscópio. Quem assiste a esse show cotidiano de degradação pode tirar lá o seu proveito. É uma forma de ser meio Poliana (aquela personagem da literatura que vê tudo pelo lado bom), mas não deixa de valer.

                                                      Quer ver uma lição que o Big Brother dá de graça? É aquela que, quando a gente se aventura a julgar o comportamento dos participantes, revolvendo sentimentos de simpatia ou raiva, recomenda aproveitar esse momento para… mudar de canal, por exemplo. Uns são do bem, outros afoitos mordedores da isca da discórdia. Perfeitos, meu irmão, são os animais; a gente, nem de longe. Experimente tirar o som e refletir rapidamente sobre isso, que é lucro.

                                                      E aí voltamos ao ponto inicial: lucro é a palavra-chave daquele jogo. Que o diga Pedro Bial, profissional da maior envergadura, incumbido de chafurdar nessa lama, exercendo o ingrato papel de âncora. Passa a ser mais um deles, tendo de costurar piadinhas pouco felizes em cada inserção e, pior ainda, criando agonia em platéia e participantes ao encenar aqueles textos ansiosos e cruéis antes de anunciar quem é o eliminado do paredão do dia. Haja contracheque!

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                                                        27/01/2005 0h00

                                                        Na vida selvagem, não importa se você é uma gazela ou um leão: a ordem é acordar cedinho e correr muito para sobreviver. A gazela, para se alimentar e escapar do ataque do leão; o leão, claro, para conseguir alcançar a gazela.

                                                        Em Big Brother Brasil, fica claro que o homem, instituído como superior ao animal, está anos-luz aquém dessa sabedoria da natureza. Ali ou na guerra, a ordem é conspirar contra o semelhante. O troféu dessa caçada à moda homo sapiens, afinal, é nada menos do que R$ 1 milhão.

                                                        É complicado. Cria-se ali uma escola de antropofagia que reduz o bicho homem a mera marionete do sistema, incentivando o esvaziamento de valores básicos de convivência a partir do momento em que, diante de cada jogador, a bandeja oferece uma tentadora necessidade de passar o outro para trás.

                                                        Considere que os reality shows dessa natureza – cá para nós, a palavra natureza nem combina com BBB – são irreversíveis, e que a natureza humana, esta sim, tem características alinhadas como num caleidoscópio. Quem assiste a esse show cotidiano de degradação pode tirar lá o seu proveito. É uma forma de ser meio Poliana (aquela personagem da literatura que vê tudo pelo lado bom), mas não deixa de valer.

                                                        Quer ver uma lição que o Big Brother dá de graça? É aquela que, quando a gente se aventura a julgar o comportamento dos participantes, revolvendo sentimentos de simpatia ou raiva, recomenda aproveitar esse momento para… mudar de canal, por exemplo. Uns são do bem, outros afoitos mordedores da isca da discórdia. Perfeitos, meu irmão, são os animais; a gente, nem de longe. Experimente tirar o som e refletir rapidamente sobre isso, que é lucro.

                                                        E aí voltamos ao ponto inicial: lucro é a palavra-chave daquele jogo. Que o diga Pedro Bial, profissional da maior envergadura, incumbido de chafurdar nessa lama, exercendo o ingrato papel de âncora. Passa a ser mais um deles, tendo de costurar piadinhas pouco felizes em cada inserção e, pior ainda, criando agonia em platéia e participantes ao encenar aqueles textos ansiosos e cruéis antes de anunciar quem é o eliminado do paredão do dia. Haja contracheque!

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                                                          20/01/2005 0h00

                                                          Que ninguém se engane: Big Brother Brasil não passa de um mercadão onde mazelas humanas são expostas, compondo um jogo perverso em que o telespectador é incentivado a exercitar julgamentos e ajuizar valores. Em termos de empobrecimento cultural, é produto completo.

                                                          Mas fazer o que, se esse formato de programa foi testado com sucesso (e muito $ na jogada) no assim chamado Primeiro Mundo? BBB não existe para fazer cultura e sim para vender. Sendo assim, de vez em quando é preciso fazer uma média com o bom senso do público, para não cair no eticamente condenável. E o primeiro “paredão” do programa foi um exemplo dessa concessão. Quer ver como?

                                                          Imagine se, depois de revelar sua suspeita de que a condição assumida de homossexual tenha contribuído para enquadrá-lo no paredão, o candidato Jean tivesse sido eliminado. A Globo, como instituição, estaria queimando seu filme. Seria um soco na boca do estômago da cidadania. E cidadania ofendida não é alvo fácil para os apelos comerciais que sustentam o badalado programa, ou seja, não rende audiência.

                                                          Repare que, exatamente no dia desse paredão ancorado por uma questão de tamanha delicadeza, o capítulo de Senhora do Destino, no ar antes do programa, deu mais espaço a duas situações em que personagens homossexuais, já consagrados pelo público, despontam com simpatia.

                                                          Jenifer (Bárbara Borges) e Leonora (Mylla Christie) quase se beijaram, numa cena sem apelação nenhuma em que a viabilidade do namoro entre duas mulheres apareceu como escolha merecedora de respeito. E Ubiracy (Luiz Henrique Nogueira) brilhou como nunca, respondendo à altura quando exposto à chacota da platéia de uma churrascaria.

                                                          Coincidência? Pode ser. Mas a edição das imagens dos candidatos ao paredão, depois da novela, mostrou um Jean coerente e uma Juliana muito “verde” para prosseguir no jogo. Os 14 mil e-mails do Grupo Arco-Íris (de defesa dos direitos gays) favoráveis a Jean puxaram outros milhares de votos, invertendo o favoritismo de Juliana. Jean ficou mais popular. Se chega ao final, é outro papo. Mas é ponto ganho: cidadania merece respeito.

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                                                            Imagine se, depois de revelar sua suspeita de que a condição assumida de homossexual tenha contribuído para enquadrá-lo no paredão, o candidato Jean tivesse sido eliminado. A Globo, como instituição, estaria queimando seu filme. Seria um soco na boca do estômago da cidadania. E cidadania ofendida não é alvo fácil para os apelos comerciais que sustentam o badalado programa, ou seja, não rende audiência.

                                                            Repare que, exatamente no dia desse paredão ancorado por uma questão de tamanha delicadeza, o capítulo de Senhora do Destino, no ar antes do programa, deu mais espaço a duas situações em que personagens homossexuais, já consagrados pelo público, despontam com simpatia.

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                                                            Coincidência? Pode ser. Mas a edição das imagens dos candidatos ao paredão, depois da novela, mostrou um Jean coerente e uma Juliana muito “verde” para prosseguir no jogo. Os 14 mil e-mails do Grupo Arco-Íris (de defesa dos direitos gays) favoráveis a Jean puxaram outros milhares de votos, invertendo o favoritismo de Juliana. Jean ficou mais popular. Se chega ao final, é outro papo. Mas é ponto ganho: cidadania merece respeito.

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                                                              13/01/2005 0h00

                                                              Carregaram nas tintas da composição cenográfica de Hoje é Dia de Maria, microssérie nacional que a Globo estreou esta semana. Imbatível no segmento, a emissora brindou o horário com um formato pouco usual de produção – aquele que dá a sensação de efeito especial o tempo todo.

                                                              Até aí, Hoje é Dia de Maria surge como uma colagem. Cenicamente, tem os pés no emblemático O Mágico de Oz (do tempo de Judy Garland), no pré-infantil Teletubies e, mais perto de nossa realidade, em O Auto da Compadecida – produção que também se valeu da presença forte de Fernanda Montenegro.

                                                              E é ela, nossa diva do teatro, quem aparece pouco depois de uma prévia com Osmar Prado, outra personalidade artística que, por si só, costuma ser garantia de bom espetáculo. Seduz qualquer telespectador.

                                                              Na Compadecida tendo vivido Nossa Senhora, Fernanda Montenegro, em Hoje é Dia de Maria, tem a força de um ciclone ao interpretar a Madrasta com todas as características folclóricas daquela mãe-postiça-do-mal.

                                                              Pena que seu texto, mais carregado que o dos demais personagens (que já se expressam num português muito distante do de nossos dias), seja difícil de acompanhar. No capítulo de abertura, narrado por Laura Cardoso, isso parece ser apenas mostra do preciosismo utilizado.

                                                              Coitada de Maria! Pelo menos no dia da estréia, só fez sofrer. E com a maior dignidade. A minissérie, aliás, revela aí um talento: a atriz-mirim Carolina Oliveira, que, na pele da protagonista da história, pelo menos na primeira fase, come com manteiga rançosa o pão que o diabo amassou.

                                                              Até Carolina se metamorfosear em Letícia Sabatella (a Maria adulta), a gente fica torcendo para que ela chegue salva à “terra onde não existe noite”. Há de consegui-lo, guiada por Nossa Senhora da Conceição (Juliana Carneiro da Cunha) e pelo Pássaro Incomum, que já a salvou de ser violentada pelo pai.

                                                              Por enquanto, é um arrebatamento só. Vale acompanhar. Até porque, bom lembrar, micro e minisséries, nem de longe comparáveis às novelas, têm a vantagem de não sofrer “alongamentos” que descaracterizem o roteiro original. Já os folhetins…

                                                                Você também pode gostar

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                                                                Na Compadecida tendo vivido Nossa Senhora, Fernanda Montenegro, em Hoje é Dia de Maria, tem a força de um ciclone ao interpretar a Madrasta com todas as características folclóricas daquela mãe-postiça-do-mal.

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                                                                Até Carolina se metamorfosear em Letícia Sabatella (a Maria adulta), a gente fica torcendo para que ela chegue salva à “terra onde não existe noite”. Há de consegui-lo, guiada por Nossa Senhora da Conceição (Juliana Carneiro da Cunha) e pelo Pássaro Incomum, que já a salvou de ser violentada pelo pai.

                                                                Por enquanto, é um arrebatamento só. Vale acompanhar. Até porque, bom lembrar, micro e minisséries, nem de longe comparáveis às novelas, têm a vantagem de não sofrer “alongamentos” que descaracterizem o roteiro original. Já os folhetins…

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                                                                  Sabe quando você está sonolento sem ter se dado conta disso e, em intervalos cada vez mais curtos, deixa escapar uma cochilada? Quem parece estar assim é Senhora do Destino. A trama tem boa audiência por méritos próprios: a história enreda o telespectador.

                                                                  Mas enredar, vamos lá, é verbo de dois gumes. Tanto nos deixamos arrebatar por alguma coisa interessante quanto podemos ser iludidos por aquilo que enreda. No caso da novela das oito, o lado mau de estar enredado é visível no merchandising avassalador incorporado pelo roteiro. Propagandas descaradas pipocam em falas de mais de um personagem.

                                                                  Meu inconsciente reclama desses assédios constantes de marca de celular, colônias, cremes e de todo o catálogo de vendas que é encaixado, habilmente, nas falas dos personagens da trama. É marketing abusivo, e merece uma contrapartida de cenas que sejam muito interessantes para compensar o aluguel.

                                                                  Mas alguém ali na direção perdeu as rédeas, ou, caso grave, anda subestimando a inteligência básica do telespectador. É sabido, por exemplo, que Raul Cortez precisou se ausentar das gravações para intenso tratamento de saúde. Está fora de perigo, bom lembrar. Mas a forma com que se justifica a ausência de seu personagem, o Barão, é ridícula. No casamento de Maria Eduarda (Débora Falabella), falou-se apenas que ele “está em viagem”.

                                                                  Se é uma obra de ficção, ora, que fossem mais criativos ou simplesmente inventassem uma doença temporária para o Barão. O mesmo tratamento foi dado a Clementina, personagem de Miriam Pires. A atriz faleceu em setembro do ano passado, e desde então Clementina se transformou em uma história mal contada. Custava deixar a personagem acompanhar o descanso de sua intérprete?

                                                                  São esses cochilos que deixam entrever o “cansaço” da trama. Outro dia, Maria do Carmo (Suzana Vieira) dirigiu-se ao padre que celebrava o casamento de Viriato (Marcello Antony) e Maria Eduarda e disse: “Faça o favor de mexer seu traseiro gordo e começar logo a cerimônia”! Ficou fora de contexto. É mais apropriado para Casseta & Planeta ou making of de Vídeo Show. Que mais virá até março?

                                                                    Você também pode gostar

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                                                                      Arquivo Geral

                                                                      30/12/2004 0h00

                                                                      Para quem incorporou ao cotidiano as novelas como uma espécie de aperitivo ou licor – antes ou depois de qualquer degustação, caem bem –, o ano que se aproxima promete algumas novidades.

                                                                      Há rumores de que a Bandeirantes lançará um título novo e de que a Record, satisfeita com os bons resultados aferidos em pesquisa de audiência sobre A Escrava Isaura, também vai engrenar no segmento da teledramaturgia.

                                                                      A despeito do que venha a aparecer nas telas dessas duas emissoras no ano que vem, não há como negar que, a princípio, novelinhas no cardápio costumam servir de boas iscas para a emissora assegurar sua posição na mídia.

                                                                      Tanto é assim que, à exceção da rede alternativa de televisão aberta (TV Cultura, Rede Brasil e sua programação no formato da TV Educativa, nutritiva o suficiente para dispensar produções caça-níqueis), todas as emissoras, hoje em dia, têm sua cota de teledramaturgia. Até a Rede TV! resolveu reprisar Betty, a Feia, novela colombiana de bom apelo popular. Como se vê, 2004 está sendo um ano com fartura de folhetim televisivo.

                                                                      Nem de longe, é bom notar, isso significa que a qualidade seja presença comum a todas as novelas. Entre uma e outra atrações, o que permite ver isso mais de perto é a analogia entre duas emissoras que, distintas em origem e objetivos, ainda são as que caracterizam a concorrência mais próxima uma da outra – Globo e SBT, claro.

                                                                      Novelas do SBT são compactas, intensa e assumidamente inspiradas em originais mexicanos ou, na maioria das vezes, diretamente importadas de lá. Vilão tem cara de mau, bonzinhos procedem como bons, os diálogos e os figurinos formam um circo à parte e tudo é previsível.

                                                                      Já a Globo, com mais estrada e recursos avançados, não trabalha com produto fechado. Esqueçam roteiros originais, pois tudo pode mudar ao sabor do vento (leia-se conveniência pró-campanhas publicitárias). Que o diga Senhora do Destino, esticada até março do ano que vem e, a cada capítulo, mais afogada em merchandising. Será que 2005 trará novidade fora do SBT e da Globo? Isso fica para os próximos capítulos. Vale esperar.

                                                                        Você também pode gostar

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                                                                        Há rumores de que a Bandeirantes lançará um título novo e de que a Record, satisfeita com os bons resultados aferidos em pesquisa de audiência sobre A Escrava Isaura, também vai engrenar no segmento da teledramaturgia.

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                                                                        Tanto é assim que, à exceção da rede alternativa de televisão aberta (TV Cultura, Rede Brasil e sua programação no formato da TV Educativa, nutritiva o suficiente para dispensar produções caça-níqueis), todas as emissoras, hoje em dia, têm sua cota de teledramaturgia. Até a Rede TV! resolveu reprisar Betty, a Feia, novela colombiana de bom apelo popular. Como se vê, 2004 está sendo um ano com fartura de folhetim televisivo.

                                                                        Nem de longe, é bom notar, isso significa que a qualidade seja presença comum a todas as novelas. Entre uma e outra atrações, o que permite ver isso mais de perto é a analogia entre duas emissoras que, distintas em origem e objetivos, ainda são as que caracterizam a concorrência mais próxima uma da outra – Globo e SBT, claro.

                                                                        Novelas do SBT são compactas, intensa e assumidamente inspiradas em originais mexicanos ou, na maioria das vezes, diretamente importadas de lá. Vilão tem cara de mau, bonzinhos procedem como bons, os diálogos e os figurinos formam um circo à parte e tudo é previsível.

                                                                        Já a Globo, com mais estrada e recursos avançados, não trabalha com produto fechado. Esqueçam roteiros originais, pois tudo pode mudar ao sabor do vento (leia-se conveniência pró-campanhas publicitárias). Que o diga Senhora do Destino, esticada até março do ano que vem e, a cada capítulo, mais afogada em merchandising. Será que 2005 trará novidade fora do SBT e da Globo? Isso fica para os próximos capítulos. Vale esperar.

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                                                                          Já que Senhora do Destino irá além dos capítulos previstos – meio praxe nas novelas de horário nobre da Globo –, quem se afeiçoou à trama deve aproveitar que ainda existem personagens memoráveis.

                                                                          Ultimamente, quem tem valido pela novela toda é o Giovanni Improtta de José Wilker. O ator, de admirável química com Heitor Martinez (na trama, seu filho João Manoel), vem dando show de bola na composição desse personagem caricato e tão intensamente humano que é Giová.

                                                                          O mérito é de ambos, mas começa pelo talento de José Wilker, que há muito tempo não aparece nos folhetins em papéis tão intensamente populares como Giová. Bom de jogo no palco e no cinema, Wilker é uma aula viva do que todo artista deveria ser ao ingressar no deslumbrante mundo da televisão: ter disciplina suficiente para não emplacar tiques de personagens anteriores. Ou, noutras palavras, não ser intérprete de um tipo só, vício que atinge até alguns artistas consagrados.

                                                                          Giová é um personagem muito rico. No sentido material da palavra, é abastado por se tratar de um ex-bicheiro e, mesmo jurando não estar metido em nada ilegal nos dias de hoje, tem mais dinheiro que a maioria dos mortais comuns.

                                                                          Mas a riqueza maior, real e contagiosa de Giová é a interior. A dignidade com que ele trata, por exemplo, a delicada questão da recém-revelada homossexualidade da filha Jenifer (Bárbara Borges) dá banho de sabedoria. E ali não se trata daquela sabedoria que muitos julgam só poder ser obtida na escola.

                                                                          Pelo contrário: a sabedoria de Giová é aquela vinculada à simplicidade de viver. Ele é o tipo de pessoa que Buda chama de livre como uma porta aberta; o que acolhe com simpatia e sem preconceito os novos ensinamentos que a vida traz, muitas por via das “linhas tortas”.

                                                                          Giová está agindo exatamente como essa porta aberta: a nova informação que obteve não fazia parte, nem de longe, do que ele idealizava para sua filha. Mas sua conduta é aquela assinalada por uma frase que ele proferiu, semanas atrás, quando começou a desconfiar de que a amizade entre Jenifer e Eleonora (Mylla Christie) era tão profunda como parece: “Tudo que acontecer aqui, debaixo do meu teto, eu vou procurar entender”.

                                                                          Aqui, falou a voz da sabedoria – que recomenda aceitar antes de pré-julgar aquilo que foge à compreensão usual. O mesmo caminho tem tomado a mãe de Eleonora, Janice (Mara Manzan). Oficialmente uma pessoa de “pouca instrução”, ela deixou que seu coração tomasse a frente e aceitou a escolha da filha.

                                                                          Pois é. A novela, dizem, ainda está na metade, portanto exposta a artifícios para encher o tempo (um deles é o pesado merchandising; e o daquele celular, aliás…). Mas a vida interior de alguns personagens passa por cima de tudo isso e torna a história, ainda, muito nutritiva.

                                                                            Você também pode gostar

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                                                                            Já que Senhora do Destino irá além dos capítulos previstos – meio praxe nas novelas de horário nobre da Globo –, quem se afeiçoou à trama deve aproveitar que ainda existem personagens memoráveis.

                                                                            Ultimamente, quem tem valido pela novela toda é o Giovanni Improtta de José Wilker. O ator, de admirável química com Heitor Martinez (na trama, seu filho João Manoel), vem dando show de bola na composição desse personagem caricato e tão intensamente humano que é Giová.

                                                                            O mérito é de ambos, mas começa pelo talento de José Wilker, que há muito tempo não aparece nos folhetins em papéis tão intensamente populares como Giová. Bom de jogo no palco e no cinema, Wilker é uma aula viva do que todo artista deveria ser ao ingressar no deslumbrante mundo da televisão: ter disciplina suficiente para não emplacar tiques de personagens anteriores. Ou, noutras palavras, não ser intérprete de um tipo só, vício que atinge até alguns artistas consagrados.

                                                                            Giová é um personagem muito rico. No sentido material da palavra, é abastado por se tratar de um ex-bicheiro e, mesmo jurando não estar metido em nada ilegal nos dias de hoje, tem mais dinheiro que a maioria dos mortais comuns.

                                                                            Mas a riqueza maior, real e contagiosa de Giová é a interior. A dignidade com que ele trata, por exemplo, a delicada questão da recém-revelada homossexualidade da filha Jenifer (Bárbara Borges) dá banho de sabedoria. E ali não se trata daquela sabedoria que muitos julgam só poder ser obtida na escola.

                                                                            Pelo contrário: a sabedoria de Giová é aquela vinculada à simplicidade de viver. Ele é o tipo de pessoa que Buda chama de livre como uma porta aberta; o que acolhe com simpatia e sem preconceito os novos ensinamentos que a vida traz, muitas por via das “linhas tortas”.

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                                                                            Pois é. A novela, dizem, ainda está na metade, portanto exposta a artifícios para encher o tempo (um deles é o pesado merchandising; e o daquele celular, aliás…). Mas a vida interior de alguns personagens passa por cima de tudo isso e torna a história, ainda, muito nutritiva.

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                                                                              Na era da tecnologia, o que hoje é top de linha amanhã já estará obsoleto. Essa inevitável impermanência, a princípio, refere-se a produtos eletrônicos, mas também atinge criaturas de carne e osso que a mídia produz – e dispensa.

                                                                              Sendo um meio eletrônico, a televisão é farta desses seres relâmpago; gente que não se sabe de onde veio e que, para onde vai, pouco importa. Mas nem tudo foi sempre assim. Houve um tempo em que só chegava ao estrelato quem tinha algo de consistente a mostrar.

                                                                              A consistência contemporânea parece ser aquela confinada no conceito do “palpável” propriamente dito: boa forma, beleza e, no caso das mulheres, recheios apetitosos. O talento para cantar, dançar ou interpretar, ah, sim, esse não raramente fica em segundo plano. Criam-se estrelas, impõem-se mitos e engata-se marcha-à-ré na cultura.

                                                                              Mas, vez por outra, surgem ecos daqueles tempos em que artista tinha de mostrar talento. E parte desse resgate é feita pela própria televisão, pelo menos nos núcleos onde as novidades do momento não parecem estar rendendo o que delas se esperava. Nesses casos, abre-se o baú.

                                                                              O SBT, via Ratinho, é pródigo nesses mergulhos. No programa desse bizarro apresentador, com freqüência aparece gente que a mídia esqueceu, mas que, nem por isso, deixou de existir. O que andam fazendo, por exemplo, artistas como Cláudia Barroso, Vanusa, Jane & Herondy? O Boteco do Ratinho conta. Estão fora da mídia, mas continuam na ativa.

                                                                              Outras figuras que noutros tempos marcaram presença no rol da fama e que ressurgiram recentementesão Wilza Carla e Lady Francisco. A primeira, durante anos, foi jurada de auditório e fez papéis cômicos – como a Dona Redonda de Saramandaia, a primeira novela surreal da Rede Globo –, aproveitando-se de seu perfil obeso. Hoje, encontra-se doente e sem dinheiro. Localizada pela produção do programa de Luciana Gimenez na Rede TV!, apareceu em comovente reportagem com grande repercussão.

                                                                              Já Lady Francisco, que recentemente lançou um livro chamado Nunca Fui Santa, é outra que, recentemente, bateu ponto em outros canais, ressurgindo. Nunca Fui Santa, título pouco original e que lembra as obras de Nelson Rodrigues, é uma autobiografia em que a atriz conta diversas passagens de sua vida, aí inclusa uma relação de “grande intimidade” com um ex-presidente brasileiro. Esquecida pela televisão, Lady Francisco, que de boba não tem nada, botou a boca no trombone para lembrar que existe.

                                                                              Independentemente do valor que tenha tanta gente deslocada dos holofotes contemporâneos, são pessoas que marcaram época. O que serve para mostrar que muitos “talentos explosivos” vendidos pela mídia de hoje não dão conta do recado. Se desaparecerem amanhã, a história nem será arranhada.

                                                                                Você também pode gostar

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                                                                                09/12/2004 0h00

                                                                                Na era da tecnologia, o que hoje é top de linha amanhã já estará obsoleto. Essa inevitável impermanência, a princípio, refere-se a produtos eletrônicos, mas também atinge criaturas de carne e osso que a mídia produz – e dispensa.

                                                                                Sendo um meio eletrônico, a televisão é farta desses seres relâmpago; gente que não se sabe de onde veio e que, para onde vai, pouco importa. Mas nem tudo foi sempre assim. Houve um tempo em que só chegava ao estrelato quem tinha algo de consistente a mostrar.

                                                                                A consistência contemporânea parece ser aquela confinada no conceito do “palpável” propriamente dito: boa forma, beleza e, no caso das mulheres, recheios apetitosos. O talento para cantar, dançar ou interpretar, ah, sim, esse não raramente fica em segundo plano. Criam-se estrelas, impõem-se mitos e engata-se marcha-à-ré na cultura.

                                                                                Mas, vez por outra, surgem ecos daqueles tempos em que artista tinha de mostrar talento. E parte desse resgate é feita pela própria televisão, pelo menos nos núcleos onde as novidades do momento não parecem estar rendendo o que delas se esperava. Nesses casos, abre-se o baú.

                                                                                O SBT, via Ratinho, é pródigo nesses mergulhos. No programa desse bizarro apresentador, com freqüência aparece gente que a mídia esqueceu, mas que, nem por isso, deixou de existir. O que andam fazendo, por exemplo, artistas como Cláudia Barroso, Vanusa, Jane & Herondy? O Boteco do Ratinho conta. Estão fora da mídia, mas continuam na ativa.

                                                                                Outras figuras que noutros tempos marcaram presença no rol da fama e que ressurgiram recentementesão Wilza Carla e Lady Francisco. A primeira, durante anos, foi jurada de auditório e fez papéis cômicos – como a Dona Redonda de Saramandaia, a primeira novela surreal da Rede Globo –, aproveitando-se de seu perfil obeso. Hoje, encontra-se doente e sem dinheiro. Localizada pela produção do programa de Luciana Gimenez na Rede TV!, apareceu em comovente reportagem com grande repercussão.

                                                                                Já Lady Francisco, que recentemente lançou um livro chamado Nunca Fui Santa, é outra que, recentemente, bateu ponto em outros canais, ressurgindo. Nunca Fui Santa, título pouco original e que lembra as obras de Nelson Rodrigues, é uma autobiografia em que a atriz conta diversas passagens de sua vida, aí inclusa uma relação de “grande intimidade” com um ex-presidente brasileiro. Esquecida pela televisão, Lady Francisco, que de boba não tem nada, botou a boca no trombone para lembrar que existe.

                                                                                Independentemente do valor que tenha tanta gente deslocada dos holofotes contemporâneos, são pessoas que marcaram época. O que serve para mostrar que muitos “talentos explosivos” vendidos pela mídia de hoje não dão conta do recado. Se desaparecerem amanhã, a história nem será arranhada.

                                                                                  Você também pode gostar

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                                                                                  Arquivo Geral

                                                                                  02/12/2004 0h00

                                                                                  Uma vez perguntaram a Elba Ramalho algo como se ela não se preocupava com a invasão de axé music, que poderia tomar campo da música nordestina mais autêntica. “Olhe pro céu e me responda se você algum dia viu alguma estrela brigar com outra por causa de espaço”, respondeu ela. “Claro que não: há lugar para todas lá em cima!”.

                                                                                  OK, o céu é infinito, mas aqui na terra as estrelas costumam se estranhar quando o espaço em questão se resume a um programa de televisão. Foi mais ou menos assim o que rolou, nesta semana, no programa do Jô, quando ele entrevistou a cantora Georgia Brown, brasileira de 26 anos que aparece no Guinness como a mulher de maior amplitude vocal do mundo.

                                                                                  Jô, reconhecido potencial em termos de cultura e criatividade, começou fazendo troça. Apresentou Georgia como alguém que figurou no famoso livro dos recordes como “a mulher dos maiores peitos do mundo”. Certamente não fez isso à revelia dela, que, bem-humorada e portadora de seios que matariam Pamela Anderson de inveja, usa esse atributo físico como parte da performance artística que apresenta pelo País.

                                                                                  Mas seu maior trunfo continua sendo o vocal privilegiado, um talento que lhe permite fazer gato e sapato com as nove oitavas em escala harmônica sem utilizar o falsete. Traduzindo: é dona de uma voz que tem as mais inimagináveis possibilidades. Verdadeiramente admirável.

                                                                                  Ao mesmo tempo, Georgia é alto-astral e escandalosamente espirituosa – o suficiente para, por si só, roubar a cena onde quer que esteja. Fala muito, brinca demais, incorporando essa personagem exótica de tal forma que conseguiu o feito de chamar mais atenção do que o próprio Jô Soares. E isso, todo mundo que acompanha o programa sabe, incomoda um tanto o apresentador.

                                                                                  Mais escolado que Georgia, Jô Soares, sempre que podia, tentava reduzir o espaço da artista. OK que ela não é nenhuma sumidade e, por vezes, marcou território na entrevista com exageros dispensáveis. Consciente de seu talento, Georgia também não forjou modéstia quando Jô lhe perguntou se havia vencido determinado concurso: “É óbvio!”, respondeu, emendando: “Desculpe, gente, mas é verdade. Nunca participo de um concurso se não for para vencer”.

                                                                                  Jô precisou recorrer ao saxofonista Derico, reforço indispensável ao apresentador, de ego tão guloso. Com sua retórica afiada, Derico curtiu elegantemente com a cara de Georgia em certo trecho da entrevista. Não surtiu efeito: para ela, tudo era diversão.

                                                                                  Não houve como disfarçar: personalidades fortes, dotadas de talento impermeável a qualquer intimidação, incomodam nosso herói. Nesses momentos, não é demais lembrar: por melhor que seja o entrevistador – e Jô tem bagagem –, o destaque de um bate-papo, ora, é o entrevistado.

                                                                                    Você também pode gostar

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                                                                                    Arquivo Geral

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                                                                                    Uma vez perguntaram a Elba Ramalho algo como se ela não se preocupava com a invasão de axé music, que poderia tomar campo da música nordestina mais autêntica. “Olhe pro céu e me responda se você algum dia viu alguma estrela brigar com outra por causa de espaço”, respondeu ela. “Claro que não: há lugar para todas lá em cima!”.

                                                                                    OK, o céu é infinito, mas aqui na terra as estrelas costumam se estranhar quando o espaço em questão se resume a um programa de televisão. Foi mais ou menos assim o que rolou, nesta semana, no programa do Jô, quando ele entrevistou a cantora Georgia Brown, brasileira de 26 anos que aparece no Guinness como a mulher de maior amplitude vocal do mundo.

                                                                                    Jô, reconhecido potencial em termos de cultura e criatividade, começou fazendo troça. Apresentou Georgia como alguém que figurou no famoso livro dos recordes como “a mulher dos maiores peitos do mundo”. Certamente não fez isso à revelia dela, que, bem-humorada e portadora de seios que matariam Pamela Anderson de inveja, usa esse atributo físico como parte da performance artística que apresenta pelo País.

                                                                                    Mas seu maior trunfo continua sendo o vocal privilegiado, um talento que lhe permite fazer gato e sapato com as nove oitavas em escala harmônica sem utilizar o falsete. Traduzindo: é dona de uma voz que tem as mais inimagináveis possibilidades. Verdadeiramente admirável.

                                                                                    Ao mesmo tempo, Georgia é alto-astral e escandalosamente espirituosa – o suficiente para, por si só, roubar a cena onde quer que esteja. Fala muito, brinca demais, incorporando essa personagem exótica de tal forma que conseguiu o feito de chamar mais atenção do que o próprio Jô Soares. E isso, todo mundo que acompanha o programa sabe, incomoda um tanto o apresentador.

                                                                                    Mais escolado que Georgia, Jô Soares, sempre que podia, tentava reduzir o espaço da artista. OK que ela não é nenhuma sumidade e, por vezes, marcou território na entrevista com exageros dispensáveis. Consciente de seu talento, Georgia também não forjou modéstia quando Jô lhe perguntou se havia vencido determinado concurso: “É óbvio!”, respondeu, emendando: “Desculpe, gente, mas é verdade. Nunca participo de um concurso se não for para vencer”.

                                                                                    Jô precisou recorrer ao saxofonista Derico, reforço indispensável ao apresentador, de ego tão guloso. Com sua retórica afiada, Derico curtiu elegantemente com a cara de Georgia em certo trecho da entrevista. Não surtiu efeito: para ela, tudo era diversão.

                                                                                    Não houve como disfarçar: personalidades fortes, dotadas de talento impermeável a qualquer intimidação, incomodam nosso herói. Nesses momentos, não é demais lembrar: por melhor que seja o entrevistador – e Jô tem bagagem –, o destaque de um bate-papo, ora, é o entrevistado.

                                                                                      Você também pode gostar

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                                                                                      Por que uma figura como Xuxa, a Rainha dos Baixinhos, no decorrer de sua carreira construiu fortuna e serviu de inspiração para outras emissoras instalarem apresentadoras infantis, loirinhas da silva, em sua programação?

                                                                                      Dizer que tamanho sucesso se deve ao talento de Xuxa seria simplório, ou, em avaliação mais simpática, incompleto. Porque o motivo que pode ser apontado como a razão desse triunfo é um talento, mas não exatamente o artístico – mas aquele capaz de farejar o quão rentável pode ser o público infantil.

                                                                                      É uma faixa muito apetitosa em termos de retorno de marketing, um veio de ouro para atrair audiência. Concretamente mais animador que tal característica é o fato de que criança e adolescente fazem parte de uma faixa de consumo muito boa de se fisgar.

                                                                                      Assim é que, nos últimos tempos, o namoro com o público infantil deixou de ser restrito às sessões da tarde das emissoras comerciais. O SBT que o diga, pois há muitos anos amplia seu espaço para o núcleo infanto-juvenil no horário de novelas.

                                                                                      Chiquititas, por exemplo, entrou em nova fase de reprise. Alegrifes e Rabujos está fazendo o maior sucesso – mais ainda que as novelas antriores, Poucas, Poucas Pulgas e Amy, a Menina da Mochila Azul –, e a tendência, diante desse retorno, outra não será que não a de continuar investindo nesse filão.

                                                                                      Pois é, o SBT é o concorrente número 1 da Globo. Perde para a emissora carioca no jornalismo e ainda não tem o charme “global” das novelas das oito, mas seu teor popularesco, parece, está começando a incomodar a maior rede de televisão do País. E na concorrência, vale tudo – principalmente inspirar-se na boa idéia do vizinho.

                                                                                      Afirmar que a Globo copia o SBT também seria simplório. Mas é fácil perceber a “coincidência” de que, assim como no SBT, na Globo o núcleo infantil das novelas está se expandindo. E tal ampliação, vamos lá, ocorre bem depois que o SBT já a praticava.

                                                                                      O exemplo mais recente pode ser conferido em Como Uma Onda (18h), onde haverá destaque para um grupo de crianças chegadas a “assombrações”. Pode render cenas divertidas, mas, até agora, a interação da criançada com o mundo sobrenatural em Alegrifes e Rabujos, do SBT, é que está conquistando a galera. E, antes de Alegrifes, divertiu-se muito quem assistiu às cenas com sereias, piratas e até tritões.

                                                                                      Com recursos mais sofisticados, é certo que, ao investir nesse filão, a Globo tem tudo para brilhar nas produções que envolvam cenas infantis, mais ainda as com efeitos especiais. A expectativa é de qualidade.

                                                                                      E será um deleite para muitos telespectadores se, agora que resolveu caprichar no núcleo infantil, a poderosa emissora utilizar melhor seus talentos mirins em vez de produzir bobagens como a abobalhada Família Sardinha de Da Cor do Pecado.

                                                                                        Você também pode gostar

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                                                                                        Arquivo Geral

                                                                                        25/11/2004 0h00

                                                                                        Por que uma figura como Xuxa, a Rainha dos Baixinhos, no decorrer de sua carreira construiu fortuna e serviu de inspiração para outras emissoras instalarem apresentadoras infantis, loirinhas da silva, em sua programação?

                                                                                        Dizer que tamanho sucesso se deve ao talento de Xuxa seria simplório, ou, em avaliação mais simpática, incompleto. Porque o motivo que pode ser apontado como a razão desse triunfo é um talento, mas não exatamente o artístico – mas aquele capaz de farejar o quão rentável pode ser o público infantil.

                                                                                        É uma faixa muito apetitosa em termos de retorno de marketing, um veio de ouro para atrair audiência. Concretamente mais animador que tal característica é o fato de que criança e adolescente fazem parte de uma faixa de consumo muito boa de se fisgar.

                                                                                        Assim é que, nos últimos tempos, o namoro com o público infantil deixou de ser restrito às sessões da tarde das emissoras comerciais. O SBT que o diga, pois há muitos anos amplia seu espaço para o núcleo infanto-juvenil no horário de novelas.

                                                                                        Chiquititas, por exemplo, entrou em nova fase de reprise. Alegrifes e Rabujos está fazendo o maior sucesso – mais ainda que as novelas antriores, Poucas, Poucas Pulgas e Amy, a Menina da Mochila Azul –, e a tendência, diante desse retorno, outra não será que não a de continuar investindo nesse filão.

                                                                                        Pois é, o SBT é o concorrente número 1 da Globo. Perde para a emissora carioca no jornalismo e ainda não tem o charme “global” das novelas das oito, mas seu teor popularesco, parece, está começando a incomodar a maior rede de televisão do País. E na concorrência, vale tudo – principalmente inspirar-se na boa idéia do vizinho.

                                                                                        Afirmar que a Globo copia o SBT também seria simplório. Mas é fácil perceber a “coincidência” de que, assim como no SBT, na Globo o núcleo infantil das novelas está se expandindo. E tal ampliação, vamos lá, ocorre bem depois que o SBT já a praticava.

                                                                                        O exemplo mais recente pode ser conferido em Como Uma Onda (18h), onde haverá destaque para um grupo de crianças chegadas a “assombrações”. Pode render cenas divertidas, mas, até agora, a interação da criançada com o mundo sobrenatural em Alegrifes e Rabujos, do SBT, é que está conquistando a galera. E, antes de Alegrifes, divertiu-se muito quem assistiu às cenas com sereias, piratas e até tritões.

                                                                                        Com recursos mais sofisticados, é certo que, ao investir nesse filão, a Globo tem tudo para brilhar nas produções que envolvam cenas infantis, mais ainda as com efeitos especiais. A expectativa é de qualidade.

                                                                                        E será um deleite para muitos telespectadores se, agora que resolveu caprichar no núcleo infantil, a poderosa emissora utilizar melhor seus talentos mirins em vez de produzir bobagens como a abobalhada Família Sardinha de Da Cor do Pecado.

                                                                                          Você também pode gostar

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                                                                                          Arquivo Geral

                                                                                          18/11/2004 0h00

                                                                                          Se você um dia visitar a casa de Nazaré, tome cuidado. Principalmente se a dona da casa estiver presente, não aceite convite para ir ao andar superior. Nem que seja para conhecer o quarto de Isabel ou o de Claudinha. Conforme todo mundo já percebeu, a escada daquela casa tem urucubaca.

                                                                                          Escadinha perigosa, aquela. Reduziu a dois capítulos a participação de Tarcísio Meira na trama, no papel de José Carlos, esposo de Naza. Assim que ele descobriu o que a sinopse antecipada da novela não escondeu – que Isabel não é filha dele e que foi seqüestrada por aquele diabo loiro que tem nome de cidade santa –, passou mal, foi empurrado degrau abaixo e morreu.

                                                                                          Tempos depois, outra participação que já começava a cativar o público também foi abatida pela escada assassina: a brejeira Djenane, personagem que Elisângela soube compor com maestria. Djenane precisou ser eliminada porque, mais que José Carlos, sabia detalhes comprometedores da vida de Nazaré.

                                                                                          Naza, aliás, é chegada a um empurrão. Joga pra baixo qualquer espécie de vida que sinta ameaçar seu reinado do mal. O taxista Gilmar (Roberto Bomtempo), outra vítima da desocupada, só não rolou escada abaixo porque ainda não tinha intimidade suficiente para freqüentar a casa de madame. Mas foi se entusiasmar, tomou um banho de piscina no motel onde Naza lhe fez um “agrado” pelos relevantes serviços prestados e acabou eletrocutado pela megera.

                                                                                          Pois é, com Nazaré não tem meio-termo: bobeou, ela joga pra baixo. Quer ficar sempre no topo. E tem conseguido, pois sai sempre ilesa, de maquiagem intacta e roupa bem-passada, de qualquer muquifo onde se mete. Poderosa.

                                                                                          Pelo jeito, a heroína-do-mal da novela das oito tem um genezinho de Mulher Maravilha. No capítulo de terça-feira, ela conseguiu encontrar colchas e lençóis à vontade num lugar pouco propício a ter roupas de cama, confeccionou uma “teresa” (corda de lençóis usada pelos presos para fugir de lugares altos) e, mais uma vez, escapou.

                                                                                          E ainda teve tempo de dar adeuzinho ao atônito Madruga (André Mattos), que acordou com a chamada do celular e pôde chegar à janela para vê-la fugir. Não entendi como é que ele não teve expediente para mandar seus três guarda-costas ir atrás da vagaba. Em minutos, seria apanhada. Mas não: faceira, fugiu e chegou à casa comemorando mais uma vitória.

                                                                                          Nazaré é algo mais do que a personificação do mal: dá corpo à imagem feminina como centro do poder. Tanto na literatura quanto no cinema, no teatro ou na TV, a maldade é mais difícil de se vencer quando tem como representante uma mulher. Vilão macho existe, mas só triunfa se estiver atrelado a uma mulher má. Pelo lado bom, reconheçamos: quem sabe das coisas é a mulher. Nunca duvidei. O planeta deve muito a todas elas.

                                                                                            Você também pode gostar

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                                                                                            Arquivo Geral

                                                                                            18/11/2004 0h00

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                                                                                            Escadinha perigosa, aquela. Reduziu a dois capítulos a participação de Tarcísio Meira na trama, no papel de José Carlos, esposo de Naza. Assim que ele descobriu o que a sinopse antecipada da novela não escondeu – que Isabel não é filha dele e que foi seqüestrada por aquele diabo loiro que tem nome de cidade santa –, passou mal, foi empurrado degrau abaixo e morreu.

                                                                                            Tempos depois, outra participação que já começava a cativar o público também foi abatida pela escada assassina: a brejeira Djenane, personagem que Elisângela soube compor com maestria. Djenane precisou ser eliminada porque, mais que José Carlos, sabia detalhes comprometedores da vida de Nazaré.

                                                                                            Naza, aliás, é chegada a um empurrão. Joga pra baixo qualquer espécie de vida que sinta ameaçar seu reinado do mal. O taxista Gilmar (Roberto Bomtempo), outra vítima da desocupada, só não rolou escada abaixo porque ainda não tinha intimidade suficiente para freqüentar a casa de madame. Mas foi se entusiasmar, tomou um banho de piscina no motel onde Naza lhe fez um “agrado” pelos relevantes serviços prestados e acabou eletrocutado pela megera.

                                                                                            Pois é, com Nazaré não tem meio-termo: bobeou, ela joga pra baixo. Quer ficar sempre no topo. E tem conseguido, pois sai sempre ilesa, de maquiagem intacta e roupa bem-passada, de qualquer muquifo onde se mete. Poderosa.

                                                                                            Pelo jeito, a heroína-do-mal da novela das oito tem um genezinho de Mulher Maravilha. No capítulo de terça-feira, ela conseguiu encontrar colchas e lençóis à vontade num lugar pouco propício a ter roupas de cama, confeccionou uma “teresa” (corda de lençóis usada pelos presos para fugir de lugares altos) e, mais uma vez, escapou.

                                                                                            E ainda teve tempo de dar adeuzinho ao atônito Madruga (André Mattos), que acordou com a chamada do celular e pôde chegar à janela para vê-la fugir. Não entendi como é que ele não teve expediente para mandar seus três guarda-costas ir atrás da vagaba. Em minutos, seria apanhada. Mas não: faceira, fugiu e chegou à casa comemorando mais uma vitória.

                                                                                            Nazaré é algo mais do que a personificação do mal: dá corpo à imagem feminina como centro do poder. Tanto na literatura quanto no cinema, no teatro ou na TV, a maldade é mais difícil de se vencer quando tem como representante uma mulher. Vilão macho existe, mas só triunfa se estiver atrelado a uma mulher má. Pelo lado bom, reconheçamos: quem sabe das coisas é a mulher. Nunca duvidei. O planeta deve muito a todas elas.

                                                                                              Você também pode gostar

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                                                                                              Arquivo Geral

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                                                                                              Virou surto essa onda de reality shows na televisão. O contágio começa pelo nome da coisa, que nossa mansa postura aculturada mantém no original da língua inglesa, incorporando ao vocabulário mais um termo do atacado império colonizador.

                                                                                              Triste, mas coerente. Afinal, se o Brasil exporta novelas e fecha os olhos para a “migração” arranjada de recursos naturais, faz sentido sorver da contrapartida do primeiro mundo – pois reality shows, assim como aqueles programas de auditório em que as pessoas vão a público “lavar roupa suja”, são heranças dos países mandões.

                                                                                              A Globo tem Big Brother, o SBT ataca com Casa dos Artistas (ultimamente com a versão Protagonistas de Novela, um perigo para a qualidade da arte dramática na telinha!), a Record tem Sem Saída e O Aprendiz e a Band bate ponto com Na Pressão.

                                                                                              Em comum, a inspiração em modelos importados de programas que deram certo. Mas deram certo para quem, cara-pálida? Os que conseguiram chegar ao fim dos desafios, faturando o troco prometido, podem ser considerados parte do sucesso desses programas.

                                                                                              Mas não são, nem de longe, representativos da mina de ouro em que se convertem essas atrações para seus patrocinadores e para as emissoras que os hospedam. Ou você acha mesmo que qualquer anunciante do horário de Casa dos Artistas, Sem Saída e Big Brother fatura menos do que o finalista de um desses programas?

                                                                                              A marca maior de produtos desse quilate, que só existem por demonstrar sua infalível rentabilidade, é o igualmente eficaz sistema de manipulação com que operam. Instalado nesse vendaval de ilusões, o telespectador tem a mesma agilidade de raciocínio que um gato faminto na direção de um apetitoso peixe estrategicamente colocado na boca de um alçapão.

                                                                                              Programas dessa natureza – pensando bem, natureza nem é palavra que combina com esses enlatados caça-níqueis – só contribuem para o sistema, raramente para quem os assiste. Triunfaram e jamais serão tirados do ar porque pegam o pescado pela boca – televisão é item básico no cotidiano da maioria.

                                                                                              Assim como os primeiros carros a álcool fabricados no Brasil – “você ainda vai ter um”, dizia a propaganda –, ter algum amigo participando de um reality show, torcer por algum inscrito ou até mesmo se alistar num desses programas pode fazer parte da vida de qualquer pessoa.

                                                                                              Se for este o seu caso, nem por isso desanime da chance de ganhar dinheiro da maneira que lhe parece relativamente fácil – e que vai lhe render alguma fama. Mas também não desconheça que seu prêmio máximo será o mínimo, comparado àquele que a domesticada audiência garimpa, engolindo mensagens subliminares e ficando à mercê dos comerciais dos intervalos desses shows. Ganha quem vence. Paga quem assiste.

                                                                                                Você também pode gostar

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                                                                                                Arquivo Geral

                                                                                                11/11/2004 0h00

                                                                                                Virou surto essa onda de reality shows na televisão. O contágio começa pelo nome da coisa, que nossa mansa postura aculturada mantém no original da língua inglesa, incorporando ao vocabulário mais um termo do atacado império colonizador.

                                                                                                Triste, mas coerente. Afinal, se o Brasil exporta novelas e fecha os olhos para a “migração” arranjada de recursos naturais, faz sentido sorver da contrapartida do primeiro mundo – pois reality shows, assim como aqueles programas de auditório em que as pessoas vão a público “lavar roupa suja”, são heranças dos países mandões.

                                                                                                A Globo tem Big Brother, o SBT ataca com Casa dos Artistas (ultimamente com a versão Protagonistas de Novela, um perigo para a qualidade da arte dramática na telinha!), a Record tem Sem Saída e O Aprendiz e a Band bate ponto com Na Pressão.

                                                                                                Em comum, a inspiração em modelos importados de programas que deram certo. Mas deram certo para quem, cara-pálida? Os que conseguiram chegar ao fim dos desafios, faturando o troco prometido, podem ser considerados parte do sucesso desses programas.

                                                                                                Mas não são, nem de longe, representativos da mina de ouro em que se convertem essas atrações para seus patrocinadores e para as emissoras que os hospedam. Ou você acha mesmo que qualquer anunciante do horário de Casa dos Artistas, Sem Saída e Big Brother fatura menos do que o finalista de um desses programas?

                                                                                                A marca maior de produtos desse quilate, que só existem por demonstrar sua infalível rentabilidade, é o igualmente eficaz sistema de manipulação com que operam. Instalado nesse vendaval de ilusões, o telespectador tem a mesma agilidade de raciocínio que um gato faminto na direção de um apetitoso peixe estrategicamente colocado na boca de um alçapão.

                                                                                                Programas dessa natureza – pensando bem, natureza nem é palavra que combina com esses enlatados caça-níqueis – só contribuem para o sistema, raramente para quem os assiste. Triunfaram e jamais serão tirados do ar porque pegam o pescado pela boca – televisão é item básico no cotidiano da maioria.

                                                                                                Assim como os primeiros carros a álcool fabricados no Brasil – “você ainda vai ter um”, dizia a propaganda –, ter algum amigo participando de um reality show, torcer por algum inscrito ou até mesmo se alistar num desses programas pode fazer parte da vida de qualquer pessoa.

                                                                                                Se for este o seu caso, nem por isso desanime da chance de ganhar dinheiro da maneira que lhe parece relativamente fácil – e que vai lhe render alguma fama. Mas também não desconheça que seu prêmio máximo será o mínimo, comparado àquele que a domesticada audiência garimpa, engolindo mensagens subliminares e ficando à mercê dos comerciais dos intervalos desses shows. Ganha quem vence. Paga quem assiste.

                                                                                                  Você também pode gostar

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                                                                                                  Arquivo Geral

                                                                                                  04/11/2004 0h00

                                                                                                  Entra ano, sai ano e Hebe Camargo não perde o prumo. Com todas as breguices que se podem apontar em seu programa – e nisso ela não é única, num mundão onde as portas televisivas estão constantemente abertas ao brega –, a loira do sofá faz jus ao status conquistado de ser personagem de si própria.

                                                                                                  Mas o que mais destaca Hebe Camargo nesse aloprado cenário é que ela se mantém no ar desde a inauguração da televisão no Brasil sendo democrática na escolha de seus convidados. Em seu programa, há vez para todos.

                                                                                                  E essa peculiaridade remove montanhas. Noite dessas, ela recebeu Nicette Bruno, que levou o marido (Paulo Goulart) e toda a família para assistir ao programa. O que haveria demais nisso?

                                                                                                  Na ponta do lápis, o simples fato de que Nicette, Paulo e a filha Beth Goulart fazem parte do cast da Rede Globo, de quem o SBT é concorrente direto. A emissora os liberou, sem arengas, para ir ao programa da Hebe. Demonstrou respeito ao fato de que a apresentadora afinal, tem boa repercussão.

                                                                                                  Convidada de honra daquela noite, Adriane Galisteu, que deixou a Record para estrear um programa no SBT, estava mais em casa do que nunca. Trocou confetes à beça com Hebe, que se empenhou em desmentir rumores segundo os quais as duas estariam se estranhando.

                                                                                                  A certa altura, elas abordavam justamente a questão da exclusividade dos artistas, condição que faz parte do contrato de toda celebridade com qualquer emissora do País. “Eu bem que queria que você tivesse ido ao meu programa, mas o SBT não te liberava”, disse Adriane.

                                                                                                  “Não, minha filha, isso é fofoca”, respondeu, na lata, a loira-matriz. “Eu é que não tolerava você”. Mais autenticidade, impossível. Não ficaria bem em nenhum outro apresentador. Mas Hebe pode. Soube conquistar o coração do brasileiro simples.

                                                                                                  E quem acompanha a carreira de Adriane já deve ter notado que ela desenvolve algo próximo a esse comportamento despojado. Charme, programa que estreou na semana passada, não tem nada de novidade no formato: entrevistas, games, linha direta com o telespectador – que pode ganhar até R$ 1.500 respondendo a perguntas como “quantos feijões estão nessa garrafa?” –, algum convidado que canta e pronto.

                                                                                                  Adriane serve ao sistema, como Hebe, pois a lei é a de quem sabe vender. Mas tem presença, desempenha a função com tranqüilidade e, pelo menos por enquanto, sem interferir com gracejos. Galisteu tem perfeita consciência do espaço que pode ocupar.

                                                                                                  Charme, por enquanto, também caminha com cuidado: vai ao ar às 15h30, de segunda a sexta, em faixa de horário não tão concorrida. Sílvio Santos não costuma apostar no insólito. E Adriane, com jeitinho, pode ser uma espécie de Hebe amanhã. A loira-matriz parece adorar a idéia.

                                                                                                    Você também pode gostar

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                                                                                                    Arquivo Geral

                                                                                                    04/11/2004 0h00

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                                                                                                    Mas o que mais destaca Hebe Camargo nesse aloprado cenário é que ela se mantém no ar desde a inauguração da televisão no Brasil sendo democrática na escolha de seus convidados. Em seu programa, há vez para todos.

                                                                                                    E essa peculiaridade remove montanhas. Noite dessas, ela recebeu Nicette Bruno, que levou o marido (Paulo Goulart) e toda a família para assistir ao programa. O que haveria demais nisso?

                                                                                                    Na ponta do lápis, o simples fato de que Nicette, Paulo e a filha Beth Goulart fazem parte do cast da Rede Globo, de quem o SBT é concorrente direto. A emissora os liberou, sem arengas, para ir ao programa da Hebe. Demonstrou respeito ao fato de que a apresentadora afinal, tem boa repercussão.

                                                                                                    Convidada de honra daquela noite, Adriane Galisteu, que deixou a Record para estrear um programa no SBT, estava mais em casa do que nunca. Trocou confetes à beça com Hebe, que se empenhou em desmentir rumores segundo os quais as duas estariam se estranhando.

                                                                                                    A certa altura, elas abordavam justamente a questão da exclusividade dos artistas, condição que faz parte do contrato de toda celebridade com qualquer emissora do País. “Eu bem que queria que você tivesse ido ao meu programa, mas o SBT não te liberava”, disse Adriane.

                                                                                                    “Não, minha filha, isso é fofoca”, respondeu, na lata, a loira-matriz. “Eu é que não tolerava você”. Mais autenticidade, impossível. Não ficaria bem em nenhum outro apresentador. Mas Hebe pode. Soube conquistar o coração do brasileiro simples.

                                                                                                    E quem acompanha a carreira de Adriane já deve ter notado que ela desenvolve algo próximo a esse comportamento despojado. Charme, programa que estreou na semana passada, não tem nada de novidade no formato: entrevistas, games, linha direta com o telespectador – que pode ganhar até R$ 1.500 respondendo a perguntas como “quantos feijões estão nessa garrafa?” –, algum convidado que canta e pronto.

                                                                                                    Adriane serve ao sistema, como Hebe, pois a lei é a de quem sabe vender. Mas tem presença, desempenha a função com tranqüilidade e, pelo menos por enquanto, sem interferir com gracejos. Galisteu tem perfeita consciência do espaço que pode ocupar.

                                                                                                    Charme, por enquanto, também caminha com cuidado: vai ao ar às 15h30, de segunda a sexta, em faixa de horário não tão concorrida. Sílvio Santos não costuma apostar no insólito. E Adriane, com jeitinho, pode ser uma espécie de Hebe amanhã. A loira-matriz parece adorar a idéia.

                                                                                                      Você também pode gostar

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                                                                                                      Arquivo Geral

                                                                                                      28/10/2004 0h00

                                                                                                      Nunca vi uma briga de mulher em que um dos primeiros golpes não fosse a tradicional puxada de cabelos. Mas, pelo jeito, a valente Maria do Carmo de Suzana Vieira, em Senhora do Destino, já alimentava, ao longo dos anos, uma vingança mais objetiva para castigar a vagaba que seqüestrou sua filha.

                                                                                                      Assim, pelo menos, aconteceu numa das cenas da novela que mais deve ter dado ibope, a de anteontem, quando Nazaré (Renata Sorrah) ganhou seu momento escrava-isaura e só não foi ao tronco pela provável falta de uma corda para ser amarrada – já que um chicote saindo de repente de dentro da bolsa de Maria do Carmo não seria surpresa para ninguém.

                                                                                                      Difícil entender como não rolou um bom puxão de cabelos para arrancar a peruca da megera. Mais incrível ainda é Maria do Carmo, essa sim, provavelmente vivendo um momento mulher-maravilha, ter conseguido sair daquele galpão num imaculado conjunto branco, elegante como jamais havia aparecido nos capítulos da novela.

                                                                                                      Sequer caiu do salto-alto, que lhe deve ter sido emprestado por alguém da escola de samba da Vila de São Miguel. Será que o Ubiracy (Luiz Henrique Nogueira) sabe disso?

                                                                                                      Nem um respingo de sangue, nem uma poeirinha, nada disso deixou um átomo sequer de mancha no chique costume da empresária da Baixada Fluminense. Jamais se registrou uma pancadaria tão asséptica assim nesses folhetins televisivos.

                                                                                                      Mas ela merecia essa brancura total. Afinal, na semana passada, a melhor personagem de Senhora do Destino atravessou muitos capítulos repetindo um modelito combinando rosa-desespero com verde-ai-socorro-tem-um-disco-voador-no-meu-quintal. Ter saído impecável dessa situação emocional e fisicamente tão estressante deve ter sido uma espécie de redenção do figurino.

                                                                                                      Tal intervalo de breguice, pude perceber, também premiou a perturbada Naza. Se até então a malvada do Bairro Peixoto tem deixado predominar em suas roupas as tonalidades do Flamengo ou da pomba-gira – está quase sempre de preto e vermelho –, no capítulo de anteontem, envergava um modelito quase discreto, eu diria até com um pé no esportivo.

                                                                                                      Esportividade também foi a marca de Nazaré na pancadaria. Pelo menos perdeu um dos saltos, senão teria sido tudo muito fantasioso. Para isso, já bastava aquela maquilagem, cujo efeito final dava a impressão de que a coitadinha tinha esbarrado o carão num balde de creme de beterraba.

                                                                                                      Mas Naza, mulher do balaco, teve forças para pegar a tesoura na bolsa e tentar golpear o guarda-costas disfarçado de habitante ocasional do galpão, tentar seduzi-lo e ainda improvisar uma muleta com aquela vassoura (fantástico, num local abandonado!). Para quem gostou, um alento: a novela está muito longe de terminar.

                                                                                                        Você também pode gostar

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                                                                                                        28/10/2004 0h00

                                                                                                        Nunca vi uma briga de mulher em que um dos primeiros golpes não fosse a tradicional puxada de cabelos. Mas, pelo jeito, a valente Maria do Carmo de Suzana Vieira, em Senhora do Destino, já alimentava, ao longo dos anos, uma vingança mais objetiva para castigar a vagaba que seqüestrou sua filha.

                                                                                                        Assim, pelo menos, aconteceu numa das cenas da novela que mais deve ter dado ibope, a de anteontem, quando Nazaré (Renata Sorrah) ganhou seu momento escrava-isaura e só não foi ao tronco pela provável falta de uma corda para ser amarrada – já que um chicote saindo de repente de dentro da bolsa de Maria do Carmo não seria surpresa para ninguém.

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                                                                                                        Sequer caiu do salto-alto, que lhe deve ter sido emprestado por alguém da escola de samba da Vila de São Miguel. Será que o Ubiracy (Luiz Henrique Nogueira) sabe disso?

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                                                                                                        Mas ela merecia essa brancura total. Afinal, na semana passada, a melhor personagem de Senhora do Destino atravessou muitos capítulos repetindo um modelito combinando rosa-desespero com verde-ai-socorro-tem-um-disco-voador-no-meu-quintal. Ter saído impecável dessa situação emocional e fisicamente tão estressante deve ter sido uma espécie de redenção do figurino.

                                                                                                        Tal intervalo de breguice, pude perceber, também premiou a perturbada Naza. Se até então a malvada do Bairro Peixoto tem deixado predominar em suas roupas as tonalidades do Flamengo ou da pomba-gira – está quase sempre de preto e vermelho –, no capítulo de anteontem, envergava um modelito quase discreto, eu diria até com um pé no esportivo.

                                                                                                        Esportividade também foi a marca de Nazaré na pancadaria. Pelo menos perdeu um dos saltos, senão teria sido tudo muito fantasioso. Para isso, já bastava aquela maquilagem, cujo efeito final dava a impressão de que a coitadinha tinha esbarrado o carão num balde de creme de beterraba.

                                                                                                        Mas Naza, mulher do balaco, teve forças para pegar a tesoura na bolsa e tentar golpear o guarda-costas disfarçado de habitante ocasional do galpão, tentar seduzi-lo e ainda improvisar uma muleta com aquela vassoura (fantástico, num local abandonado!). Para quem gostou, um alento: a novela está muito longe de terminar.

                                                                                                          Você também pode gostar

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                                                                                                          Arquivo Geral

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                                                                                                          Noite dessas, eu zapeava com o controle remoto quando o SBT me mandou uma: “(…) Ela é loira, mas é tão inteligente que veio para o SBT”. A xícara de chá escapou da mão, o cigarro escorregou, queimou a beira do sofá e chamuscou meus pensamentos: foi isso mesmo que eu ouvi?!

                                                                                                          Não deveria ter me surpreendido com a chamada do programa que Adriane Galisteu, nova aquisição do SBT, fará na emissora paulistana. Lugar que acomoda determinados comentários de Ratinho tem espaço para essas sandices. Mas a piadinha está mais para os arroubos da Rede TV!, aquela que justifica, a cada dia, esse ponto de exclamação em sua logomarca.

                                                                                                          De qualquer forma, vamos lá: a chamada faz efeito, talvez até pelo fato de ser calcada num conceito tão gritante. Instiga a curiosidade do telespectador sobre a nova performance de Galisteu, e instala a sugestão de um vistoso contraste entre a loira que chegou lá, contrariando a quase-lenda segundo a qual cabelos clarinhos em mulheres não costumam emoldurar cabeças com recheio.

                                                                                                          Este, sim, é um caso a se observar com mais carinho. Porque Adriane Galisteu, afinal, surgiu de onde? De uma história malcontada, na época cheirando a oportunismo, e que a incensou na mídia como a última namorada de Ayrton Senna – na ocasião, só isso.

                                                                                                          Mas de burra ela não tem nada. Surpreende até hoje, porque, desde aqueles tempos, não assumiu postura de estrela. E mostra, a todo momento, que se encontra em permanente e cultivado processo de aprendizagem. Tinha tudo para ser uma deslumbrada, igual a tantas que a mídia impõe e o tempo se encarrega de nos fazer esquecer.

                                                                                                          Mas, seja por uma boa orientação empresarial ou por índole, Adriane Galisteu sabe que não é o máximo, e assume uma atitude coerente com a necessidade de se aprimorar. Antes de qualquer outra coisa, é um posicionamento sadio.

                                                                                                          Adriane gosta de aprender, e até no teatro surpreendeu público e crítica. Nem por isso tomou o atalho da fama se infiltrando em elenco de novela, o que não lhe seria difícil conseguir, nos dias de hoje. Demonstra maturidade, ou, para quem prefere assim, abertura para amadurecer.

                                                                                                          Essa garra de aprender ela já mostrou no É Show, da Record, e provavelmente arrastará para o SBT uma boa audiência em seu horário. Não tripudia em cima da concorrência – diferentemente de Luciana Gimenez, que já declarou odiar ser comparada a ela –, não fala do que não conhece, não engana.

                                                                                                          Adriane Galisteu é isso aí. Não enverga charminho de estrela, dificilmente prolonga conversa com gracinhas sobre aquilo que não conhece, não sopra a vela do próximo que a dela brilhe mais. Seja lá o que for que ela vai fazer no SBT, tem pique para segurar a onda. Silvio Santos, aliás, dificilmente apostaria no escuro. Sabe que um considerável público vai ter o que merece.

                                                                                                            Você também pode gostar

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                                                                                                            Noite dessas, eu zapeava com o controle remoto quando o SBT me mandou uma: “(…) Ela é loira, mas é tão inteligente que veio para o SBT”. A xícara de chá escapou da mão, o cigarro escorregou, queimou a beira do sofá e chamuscou meus pensamentos: foi isso mesmo que eu ouvi?!

                                                                                                            Não deveria ter me surpreendido com a chamada do programa que Adriane Galisteu, nova aquisição do SBT, fará na emissora paulistana. Lugar que acomoda determinados comentários de Ratinho tem espaço para essas sandices. Mas a piadinha está mais para os arroubos da Rede TV!, aquela que justifica, a cada dia, esse ponto de exclamação em sua logomarca.

                                                                                                            De qualquer forma, vamos lá: a chamada faz efeito, talvez até pelo fato de ser calcada num conceito tão gritante. Instiga a curiosidade do telespectador sobre a nova performance de Galisteu, e instala a sugestão de um vistoso contraste entre a loira que chegou lá, contrariando a quase-lenda segundo a qual cabelos clarinhos em mulheres não costumam emoldurar cabeças com recheio.

                                                                                                            Este, sim, é um caso a se observar com mais carinho. Porque Adriane Galisteu, afinal, surgiu de onde? De uma história malcontada, na época cheirando a oportunismo, e que a incensou na mídia como a última namorada de Ayrton Senna – na ocasião, só isso.

                                                                                                            Mas de burra ela não tem nada. Surpreende até hoje, porque, desde aqueles tempos, não assumiu postura de estrela. E mostra, a todo momento, que se encontra em permanente e cultivado processo de aprendizagem. Tinha tudo para ser uma deslumbrada, igual a tantas que a mídia impõe e o tempo se encarrega de nos fazer esquecer.

                                                                                                            Mas, seja por uma boa orientação empresarial ou por índole, Adriane Galisteu sabe que não é o máximo, e assume uma atitude coerente com a necessidade de se aprimorar. Antes de qualquer outra coisa, é um posicionamento sadio.

                                                                                                            Adriane gosta de aprender, e até no teatro surpreendeu público e crítica. Nem por isso tomou o atalho da fama se infiltrando em elenco de novela, o que não lhe seria difícil conseguir, nos dias de hoje. Demonstra maturidade, ou, para quem prefere assim, abertura para amadurecer.

                                                                                                            Essa garra de aprender ela já mostrou no É Show, da Record, e provavelmente arrastará para o SBT uma boa audiência em seu horário. Não tripudia em cima da concorrência – diferentemente de Luciana Gimenez, que já declarou odiar ser comparada a ela –, não fala do que não conhece, não engana.

                                                                                                            Adriane Galisteu é isso aí. Não enverga charminho de estrela, dificilmente prolonga conversa com gracinhas sobre aquilo que não conhece, não sopra a vela do próximo que a dela brilhe mais. Seja lá o que for que ela vai fazer no SBT, tem pique para segurar a onda. Silvio Santos, aliás, dificilmente apostaria no escuro. Sabe que um considerável público vai ter o que merece.

                                                                                                              Você também pode gostar

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                                                                                                              Arquivo Geral

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                                                                                                              Ando desconfiado que Metamorphoses, aquela novela que tinha tudo para ser boa e enveredou pelo caminho da disritmia, deixou urucubaca em alguns setores da Record, onde foi produzida (ou cometida, a se julgar pela mutilação que sofreu em sua segunda e derradeira fase).

                                                                                                              A esta altura, Metamorphoses é palavra pertencente ao passado e muita gente nem deve ligar o nome à coisa. Melhor assim. Mas uma herança que esse desatino da teledramaturgia legou ao entretenimento da Record é aquela que diz respeito à origem do nome – metamorfose.

                                                                                                              E quem demonstra ser herdeiro desse encosto é Tom Cavalcante. Vamos nos situar? Metamorfose, segundo o dicionário Aurélio, significa algo como “mudança de forma ou estrutura que ocorre na vida de certos seres”.

                                                                                                              Que Tom Cavalcante atravessa mudanças, é óbvio. Migrou da Globo para a Record, por exemplo – o que já configura uma transformação palpável. Para melhor ou pior, só vendo. Mas aí entra o espinho da questão: quem é que agüenta ver o Show do Tom na Record?

                                                                                                              Não devo ser tão pessimista. Claro que há quem assiste àquele desfile de baboseiras batidas. Também deve existir quem goste. Se gosto não se discute, mau gosto não escapa de ser comentado.

                                                                                                              E mau gosto não é artigo racionado no programa de Tom Cavalcante. Abunda. Mas nisso, vamos convir, ele não está sozinho, já que o mau gosto, generoso que é, marca presença em outros humorísticos da televisão aberta brasileira, não sendo, portanto, exclusividade da Record.

                                                                                                              Pior do que todos os signos de mau gosto, no Show do Tom, é a flagrante falta de rumo do apresentador. Estava bem quando era apenas personagem de humorísticos, mas perdeu o sentido ao assumir um progama inteiro. Não tem pique para tanto, e parece viver em transição.

                                                                                                              Olhando pelo lado bom – felizmente nada na vida tem um lado só –, ele parece estar nesse estágio de metamorfose. Mas deveria respeitar a lei natural, que reserva aos seres nesse processo uma espécie de casulo, para que enfrentem a mutação absolutamente sozinhos. Faz parte da perfeição da natureza.

                                                                                                              No somatório, o programa passa a impressão de ser experimental; uma gravação que não valia, mas que foi levada ao ar assim mesmo. Tom não sabe o que fazer. Canta para cachorros, tentando provocá-los – e lá isso é coisa que se faça com o melhor amigo do homem? –, contracena com gente despreparada e até faz entrevistas.

                                                                                                              Essa última idéia pode dar certo. Desde que Tom não escorregue na maionese, querendo se sobressair ao entrevistado com gracinhas fora de hora e que dispersam o tema discutido. Porque no Jô a gente até perdoa essa gula de ego. E mesmo assim porque, pelo menos, ele é bem-informado sobre a pessoa com quem vai conversar.

                                                                                                                Você também pode gostar

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                                                                                                                Arquivo Geral

                                                                                                                14/10/2004 0h00

                                                                                                                Ando desconfiado que Metamorphoses, aquela novela que tinha tudo para ser boa e enveredou pelo caminho da disritmia, deixou urucubaca em alguns setores da Record, onde foi produzida (ou cometida, a se julgar pela mutilação que sofreu em sua segunda e derradeira fase).

                                                                                                                A esta altura, Metamorphoses é palavra pertencente ao passado e muita gente nem deve ligar o nome à coisa. Melhor assim. Mas uma herança que esse desatino da teledramaturgia legou ao entretenimento da Record é aquela que diz respeito à origem do nome – metamorfose.

                                                                                                                E quem demonstra ser herdeiro desse encosto é Tom Cavalcante. Vamos nos situar? Metamorfose, segundo o dicionário Aurélio, significa algo como “mudança de forma ou estrutura que ocorre na vida de certos seres”.

                                                                                                                Que Tom Cavalcante atravessa mudanças, é óbvio. Migrou da Globo para a Record, por exemplo – o que já configura uma transformação palpável. Para melhor ou pior, só vendo. Mas aí entra o espinho da questão: quem é que agüenta ver o Show do Tom na Record?

                                                                                                                Não devo ser tão pessimista. Claro que há quem assiste àquele desfile de baboseiras batidas. Também deve existir quem goste. Se gosto não se discute, mau gosto não escapa de ser comentado.

                                                                                                                E mau gosto não é artigo racionado no programa de Tom Cavalcante. Abunda. Mas nisso, vamos convir, ele não está sozinho, já que o mau gosto, generoso que é, marca presença em outros humorísticos da televisão aberta brasileira, não sendo, portanto, exclusividade da Record.

                                                                                                                Pior do que todos os signos de mau gosto, no Show do Tom, é a flagrante falta de rumo do apresentador. Estava bem quando era apenas personagem de humorísticos, mas perdeu o sentido ao assumir um progama inteiro. Não tem pique para tanto, e parece viver em transição.

                                                                                                                Olhando pelo lado bom – felizmente nada na vida tem um lado só –, ele parece estar nesse estágio de metamorfose. Mas deveria respeitar a lei natural, que reserva aos seres nesse processo uma espécie de casulo, para que enfrentem a mutação absolutamente sozinhos. Faz parte da perfeição da natureza.

                                                                                                                No somatório, o programa passa a impressão de ser experimental; uma gravação que não valia, mas que foi levada ao ar assim mesmo. Tom não sabe o que fazer. Canta para cachorros, tentando provocá-los – e lá isso é coisa que se faça com o melhor amigo do homem? –, contracena com gente despreparada e até faz entrevistas.

                                                                                                                Essa última idéia pode dar certo. Desde que Tom não escorregue na maionese, querendo se sobressair ao entrevistado com gracinhas fora de hora e que dispersam o tema discutido. Porque no Jô a gente até perdoa essa gula de ego. E mesmo assim porque, pelo menos, ele é bem-informado sobre a pessoa com quem vai conversar.

                                                                                                                  Você também pode gostar

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                                                                                                                  Arquivo Geral

                                                                                                                  07/10/2004 0h00

                                                                                                                  Segurem-se, maridos insatisfeitos, e olho vivo, companheiras ciumentas: Vera Fischer já está efervescendo os hormônios em Senhora do Destino. Por acaso – lembre-se de que qualquer semelhança é sempre mera coincidência nas novelas –, sua personagem se chama Vera e também já foi Miss Brasil.

                                                                                                                  Mais real, difícil. Emagrecida e cada vez mais fascinante, a deusa loira pode se dar ao luxo de ter, só para ela e por tempo curto, um papel especialmente composto na novela de horário nobre da Globo.

                                                                                                                  Desembarcou na trama com status de predadora de luxo, inicialmente contratada para atrapalhar um namoro bem-sucedido (o de Viriato/Marcello Antony com Eduarda/Débora Falabella) e depois, possivelmente, para enredar em sua teia irresistível alguns que perambulam sem muito sentido pelo roteiro da história.

                                                                                                                  O primeiro é o deputado Thomas Jefferson (Mário Frias), que, convenhamos, anda mesmo precisando de um bom trato afetivo-sexual, já que sua pretendida só tem olhos para os belos olhos de Viriato. Aproveite, pois a novela está vivendo um raro momento de estreita proximidade com a vida real.

                                                                                                                  E isso se pode verificar, especialmente, pela construção de personagens como o deputado Thomas Jefferson e o ambicioso vereador Reginaldo (Eduardo Moscovis), este último com vistas a faturar, depois de uma campanha bem desonesta, a prefeitura do recém-emancipado distrito de Vila de São Miguel.

                                                                                                                  Quem dera os contornos que compõem o perfil de gente como Reginaldo e Thomas Jefferson fossem, por regra, artigos exclusivos da ficção! Não o são, nem de longe, e aí estão as eleições municipais – das quais, neste Brasil imenso, só escapam Brasília e Fernando de Noronha – para confirmar quantas criaturas daquele quilate existem por aí.

                                                                                                                  São homens públicos consagrados pelo voto popular, o que, de certa forma, tira um peso dos políticos corruptos ao assinalar que sua má conduta é referendada pelo voto. Se quem votou está iludido ou integra a barca dos que perpetuam ilusões, não vem ao caso. O efeito é que se mostra desastroso para a comunidade – conforme, aliás, a valente Maria do Carmo (Suzana Vieira), mãe e opositora de Reginaldo, já preconizou com relação à quase pacata Vila de São Miguel.

                                                                                                                  Nem que seja por meio de brechas, novelas também podem exercer a função educativa e social. Reginaldo e Thomas Jefferson, por mais caricaturados que se apresentem, não são de mentira. Quando pouco, podem ser comparados a fumaça – e onde há fumaça, claro que existe fogo.

                                                                                                                  No mundo real, gente como esses dois não necessariamente é desmascarada. Mas novela tem ficção: pode ser que Thomas e Reginaldo se dêem mal. É o lado bom da máquina de fazer ilusões. Ao telespectador, resta se divertir.

                                                                                                                    Você também pode gostar

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                                                                                                                    Arquivo Geral

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                                                                                                                    Segurem-se, maridos insatisfeitos, e olho vivo, companheiras ciumentas: Vera Fischer já está efervescendo os hormônios em Senhora do Destino. Por acaso – lembre-se de que qualquer semelhança é sempre mera coincidência nas novelas –, sua personagem se chama Vera e também já foi Miss Brasil.

                                                                                                                    Mais real, difícil. Emagrecida e cada vez mais fascinante, a deusa loira pode se dar ao luxo de ter, só para ela e por tempo curto, um papel especialmente composto na novela de horário nobre da Globo.

                                                                                                                    Desembarcou na trama com status de predadora de luxo, inicialmente contratada para atrapalhar um namoro bem-sucedido (o de Viriato/Marcello Antony com Eduarda/Débora Falabella) e depois, possivelmente, para enredar em sua teia irresistível alguns que perambulam sem muito sentido pelo roteiro da história.

                                                                                                                    O primeiro é o deputado Thomas Jefferson (Mário Frias), que, convenhamos, anda mesmo precisando de um bom trato afetivo-sexual, já que sua pretendida só tem olhos para os belos olhos de Viriato. Aproveite, pois a novela está vivendo um raro momento de estreita proximidade com a vida real.

                                                                                                                    E isso se pode verificar, especialmente, pela construção de personagens como o deputado Thomas Jefferson e o ambicioso vereador Reginaldo (Eduardo Moscovis), este último com vistas a faturar, depois de uma campanha bem desonesta, a prefeitura do recém-emancipado distrito de Vila de São Miguel.

                                                                                                                    Quem dera os contornos que compõem o perfil de gente como Reginaldo e Thomas Jefferson fossem, por regra, artigos exclusivos da ficção! Não o são, nem de longe, e aí estão as eleições municipais – das quais, neste Brasil imenso, só escapam Brasília e Fernando de Noronha – para confirmar quantas criaturas daquele quilate existem por aí.

                                                                                                                    São homens públicos consagrados pelo voto popular, o que, de certa forma, tira um peso dos políticos corruptos ao assinalar que sua má conduta é referendada pelo voto. Se quem votou está iludido ou integra a barca dos que perpetuam ilusões, não vem ao caso. O efeito é que se mostra desastroso para a comunidade – conforme, aliás, a valente Maria do Carmo (Suzana Vieira), mãe e opositora de Reginaldo, já preconizou com relação à quase pacata Vila de São Miguel.

                                                                                                                    Nem que seja por meio de brechas, novelas também podem exercer a função educativa e social. Reginaldo e Thomas Jefferson, por mais caricaturados que se apresentem, não são de mentira. Quando pouco, podem ser comparados a fumaça – e onde há fumaça, claro que existe fogo.

                                                                                                                    No mundo real, gente como esses dois não necessariamente é desmascarada. Mas novela tem ficção: pode ser que Thomas e Reginaldo se dêem mal. É o lado bom da máquina de fazer ilusões. Ao telespectador, resta se divertir.

                                                                                                                      Você também pode gostar

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                                                                                                                      Arquivo Geral

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                                                                                                                      Algo pesado, grudento e indigesto parece rondar o tradicional bom humor brasileiro. Como esta não é uma coluna filosófica e seu titular, muito menos, alimenta pretensões ou se encontra habilitado a digressões sociológicas, a observação diz respeito ao humor da televisão, não àquele generalizado.

                                                                                                                      Mas a tevê ainda é um canal de representação da cultura de um povo, embora não se possa dizer que a sandice presente na grade da maioria das emissoras abertas reflita exatamente a cabeça de todos nós. Com relação aos programas humorísticos, acompanhe e perceba: se não se pode dizer que já foram muito melhores, certo é que atualmente andam fracos.

                                                                                                                      Os tombados pelo tempo – como A Praça é Nossa, do SBT, que tem mais de 40 anos, e A Turma do Didi, herança dos Trapalhões da Globo – nem vêm ao caso. Eles simplesmente vencem pelo cansaço. Parecem estar ali, batendo ponto, mais por decurso de prazo do que por mérito próprio. Perderam o sabor, mas são inofensivos.

                                                                                                                      Ruim é quando a mídia faz alarde em torno de uma atração que se anuncia fantástica e aterrissa sem muita novidade. Quem ilustra bem o exemplo é Tom Cavalcante na TV Record. Muita festa, pouca graça. Pode ser que o programa tome forma, mas, até agora, parece que a emissora apostou na marca Tom Cavalcante e relaxou.

                                                                                                                      Humor não é estático; carece de renovação constante. A geração Casseta & Planeta, da Globo, demonstra pouca preocupação com esta necessidade. Com freqüência eles se valem de fórmulas repetitivas, criam um pouco em cima das possibilidades do humor escatológico ou do calcado em picuinhas sobre a diversidade da orientação sexual das pessoas, e… Se colar, colou.

                                                                                                                      Nem por isso perdem o mérito. Quando se aventuram a caricaturar personagens de novelas – mesmo não poupando esse segmento da escatologia e das piadinhas sexuais –, os cassetas são impagáveis. Fazem lembrar os tempos da TV Pirata, que nos anos 80 deu show na mesma emissora, a Globo, com elenco de qualidade e um humor mais criativo.

                                                                                                                      Dessa turma, dispersaram-se os melhores: Cláudia Raia, Deborah Bloch, Cristina Pereira, Louise Cardoso, Fernanda Torres, Pedro Cardoso, Luís Fernando Guimarães… Fernanda e Luís Fernando nadaram de braçada em Os Normais, que virou filme. Pedro integra o elenco fixo de A Grande Família, que ainda resiste. Cláudia, Deborah, Cristina e Louise continuam insubstituíveis.

                                                                                                                      Ainda há o que aproveitar em A Diarista, onde Cláudia Rodrigues e Dira Paes interagem com convidados de qualidade. O resto fica por conta dos engraçadinhos ocasionais das novelas das sete e do humor involuntário de algumas produções (inclusive locais), originalmente não-humorísticas, onde os equívocos dão vontade de rir. Mas este é outro capítulo.

                                                                                                                        Você também pode gostar

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                                                                                                                        Arquivo Geral

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                                                                                                                        Algo pesado, grudento e indigesto parece rondar o tradicional bom humor brasileiro. Como esta não é uma coluna filosófica e seu titular, muito menos, alimenta pretensões ou se encontra habilitado a digressões sociológicas, a observação diz respeito ao humor da televisão, não àquele generalizado.

                                                                                                                        Mas a tevê ainda é um canal de representação da cultura de um povo, embora não se possa dizer que a sandice presente na grade da maioria das emissoras abertas reflita exatamente a cabeça de todos nós. Com relação aos programas humorísticos, acompanhe e perceba: se não se pode dizer que já foram muito melhores, certo é que atualmente andam fracos.

                                                                                                                        Os tombados pelo tempo – como A Praça é Nossa, do SBT, que tem mais de 40 anos, e A Turma do Didi, herança dos Trapalhões da Globo – nem vêm ao caso. Eles simplesmente vencem pelo cansaço. Parecem estar ali, batendo ponto, mais por decurso de prazo do que por mérito próprio. Perderam o sabor, mas são inofensivos.

                                                                                                                        Ruim é quando a mídia faz alarde em torno de uma atração que se anuncia fantástica e aterrissa sem muita novidade. Quem ilustra bem o exemplo é Tom Cavalcante na TV Record. Muita festa, pouca graça. Pode ser que o programa tome forma, mas, até agora, parece que a emissora apostou na marca Tom Cavalcante e relaxou.

                                                                                                                        Humor não é estático; carece de renovação constante. A geração Casseta & Planeta, da Globo, demonstra pouca preocupação com esta necessidade. Com freqüência eles se valem de fórmulas repetitivas, criam um pouco em cima das possibilidades do humor escatológico ou do calcado em picuinhas sobre a diversidade da orientação sexual das pessoas, e… Se colar, colou.

                                                                                                                        Nem por isso perdem o mérito. Quando se aventuram a caricaturar personagens de novelas – mesmo não poupando esse segmento da escatologia e das piadinhas sexuais –, os cassetas são impagáveis. Fazem lembrar os tempos da TV Pirata, que nos anos 80 deu show na mesma emissora, a Globo, com elenco de qualidade e um humor mais criativo.

                                                                                                                        Dessa turma, dispersaram-se os melhores: Cláudia Raia, Deborah Bloch, Cristina Pereira, Louise Cardoso, Fernanda Torres, Pedro Cardoso, Luís Fernando Guimarães… Fernanda e Luís Fernando nadaram de braçada em Os Normais, que virou filme. Pedro integra o elenco fixo de A Grande Família, que ainda resiste. Cláudia, Deborah, Cristina e Louise continuam insubstituíveis.

                                                                                                                        Ainda há o que aproveitar em A Diarista, onde Cláudia Rodrigues e Dira Paes interagem com convidados de qualidade. O resto fica por conta dos engraçadinhos ocasionais das novelas das sete e do humor involuntário de algumas produções (inclusive locais), originalmente não-humorísticas, onde os equívocos dão vontade de rir. Mas este é outro capítulo.

                                                                                                                          Você também pode gostar

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                                                                                                                          Arquivo Geral

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                                                                                                                          Que muito desenho animado contemporâneo padece de criatividade minguada, não dá para negar. E desconfio que, pouco a pouco, as novelas das sete da noite estão querendo suprir essa lacuna. Trocando em miúdos, o público infantil é o que parece estar na mira dessas produções da teledramaturgia, pelo menos nas duas emissoras que disputam, mais de perto, a audiência: a carioca Globo e o SBT paulista.

                                                                                                                          O SBT não inventou essa moda. Novelas como Alegrifes e Rabujos e sua antecessora Amy, a Menina da Mochila Azul fazem parte de um pacotão latino de aventuras infanto-juvenis que há muito marcam presença no horário. Ali tem de tudo: assombração, cachorro que fala, sereias, tritões… Uma festa.

                                                                                                                          Se fossem novelas brasileiras, certamente lá estariam Curupira, Saci, Boto e outras personagens de nosso rico folclore tupiniquim, com espaço aberto para coleguinhas da mitologia internacional, como o Minotauro. O Sítio do Picapau Amarelo, há décadas, navega por aí.

                                                                                                                          Talvez para não caracterizar uma inspiração tão devota (leia cópia deslavada), as novelas das sete da Globo não aderiram ainda a histórias com essa população mitológica nacional. Em compensação, há tempos abriram o pacote das infantilidades, sempre apresentando, em meio a uma trama teoricamente “adulta”, um núcleo de personagens muito mais apropriadas à criançada.

                                                                                                                          OK, atrações infantis não são proibidas para adultos. Com quase meio século de vida, faço coro aos graúdos que adoram ver Bob Esponja (um dos poucos da safra atual que ainda é criativo), alguns desenhos da Disney, todos da geração Hanna & Barbera e, sempre que possível, também os programas infantis da TVE, que não tratam a criança como um ser retardado.

                                                                                                                          Mas nem sempre é bem-dosada a parcela infanto-juvenil presente nas novelas das sete da Globo. O núcleo dos Sardinha, capitaneado pela Mamuska de Rosi Campos, e o casal Verinha-Eduardo (Maitê Proença e Ney Latorraca), por exemplo, tiveram atuações bastante dispensáveis em Da Cor do Pecado.

                                                                                                                          Terminada essa farsa – cujos índices de audiência agradaram à emissora –, Começar de Novo entrou no ar e logo mostrou disposição em garimpar nesse filão infanto-juvenil. Quem dá conta desse recado é a turma dos marcianos (personagens de Betty Gofman e Miguel Piva, cujas atuações, na extinta O Beijo do Vampiro, obedeceram à mesma linha; e o casal-doidão vivido por Marília Pêra e Luís Gustavo.

                                                                                                                          Mas essas preciosas criaturas, até agora, comportam-se como personagens de humorístico mexicano. Estão mais para paspalhões do que para a divertida composição do casal que foi a Woodstock e não voltou até hoje. Bem, isso é só o começo. Onde existe Marília Pêra, podem-se esperar surpresas. Tomara que não faltem.

                                                                                                                            Você também pode gostar

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                                                                                                                            Arquivo Geral

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                                                                                                                            Que muito desenho animado contemporâneo padece de criatividade minguada, não dá para negar. E desconfio que, pouco a pouco, as novelas das sete da noite estão querendo suprir essa lacuna. Trocando em miúdos, o público infantil é o que parece estar na mira dessas produções da teledramaturgia, pelo menos nas duas emissoras que disputam, mais de perto, a audiência: a carioca Globo e o SBT paulista.

                                                                                                                            O SBT não inventou essa moda. Novelas como Alegrifes e Rabujos e sua antecessora Amy, a Menina da Mochila Azul fazem parte de um pacotão latino de aventuras infanto-juvenis que há muito marcam presença no horário. Ali tem de tudo: assombração, cachorro que fala, sereias, tritões… Uma festa.

                                                                                                                            Se fossem novelas brasileiras, certamente lá estariam Curupira, Saci, Boto e outras personagens de nosso rico folclore tupiniquim, com espaço aberto para coleguinhas da mitologia internacional, como o Minotauro. O Sítio do Picapau Amarelo, há décadas, navega por aí.

                                                                                                                            Talvez para não caracterizar uma inspiração tão devota (leia cópia deslavada), as novelas das sete da Globo não aderiram ainda a histórias com essa população mitológica nacional. Em compensação, há tempos abriram o pacote das infantilidades, sempre apresentando, em meio a uma trama teoricamente “adulta”, um núcleo de personagens muito mais apropriadas à criançada.

                                                                                                                            OK, atrações infantis não são proibidas para adultos. Com quase meio século de vida, faço coro aos graúdos que adoram ver Bob Esponja (um dos poucos da safra atual que ainda é criativo), alguns desenhos da Disney, todos da geração Hanna & Barbera e, sempre que possível, também os programas infantis da TVE, que não tratam a criança como um ser retardado.

                                                                                                                            Mas nem sempre é bem-dosada a parcela infanto-juvenil presente nas novelas das sete da Globo. O núcleo dos Sardinha, capitaneado pela Mamuska de Rosi Campos, e o casal Verinha-Eduardo (Maitê Proença e Ney Latorraca), por exemplo, tiveram atuações bastante dispensáveis em Da Cor do Pecado.

                                                                                                                            Terminada essa farsa – cujos índices de audiência agradaram à emissora –, Começar de Novo entrou no ar e logo mostrou disposição em garimpar nesse filão infanto-juvenil. Quem dá conta desse recado é a turma dos marcianos (personagens de Betty Gofman e Miguel Piva, cujas atuações, na extinta O Beijo do Vampiro, obedeceram à mesma linha; e o casal-doidão vivido por Marília Pêra e Luís Gustavo.

                                                                                                                            Mas essas preciosas criaturas, até agora, comportam-se como personagens de humorístico mexicano. Estão mais para paspalhões do que para a divertida composição do casal que foi a Woodstock e não voltou até hoje. Bem, isso é só o começo. Onde existe Marília Pêra, podem-se esperar surpresas. Tomara que não faltem.

                                                                                                                              Você também pode gostar

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                                                                                                                              Arquivo Geral

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                                                                                                                              Nem só nos filmes de ficção científica o tempo é contado de maneira subjetiva. Quem assiste a Senhora do Destino já deve ter percebido que a cronologia daquela novela é, pelo menos, algo muito curioso.

                                                                                                                              O lado A dessa história é fácil perceber: informações desencontradas na história, que teoricamente se passa nos anos 90, mas, em pequenos descuidos de continuidade – como a presença freqüente de carros que só foram lançados depois de 2000 –, abusa da inverossimilhança.

                                                                                                                              O lado B – tanto quanto na vida real, a ficção também nunca tem um lado só – é mais alentador. Faz supor, por exemplo, que é possível atravessar mais de três décadas com um índice ínfimo de envelhecimento. Já que a história começa em 1968, quando Plínio (Dado Dolabella), o mais novo dos filhos de Maria do Carmo (Carolina Dieckman, nessa fase) tinha cerca de quatro anos, o personagem teria, nos dias de hoje, pelo menos 40.

                                                                                                                              Não sou o primeiro nem último a questionar essa cronologia. Tanto que o autor Aguinaldo Silva, em outra oportunidade, distribuiu extensa carta à imprensa justificando, a seu modo autoral, a questão. Lembrou que novela não é documentário jornalístico, e tem toda razão.

                                                                                                                              “O tempo ficcional de Senhora de Destino é alguns anos depois de 1968, ou seja, é agora, assim como o distrito de Vila São Miguel existe apenas nela”, disse, a certa altura da carta. E aproveitou para disparar: “As pessoas que se preocupam em achar na novela minúsculos erros de época não deveriam sequer levá-la em conta, já que ela se passa num lugar que não existe, e mostra pessoas que também não são verdadeiras, ou seja, é toda ela um erro, uma mentira”.

                                                                                                                              É, nosso autor se magoou. Nem precisava tanto. Praticamente instalou um abismo entre críticos e telespectadores, assegurando que esses últimos “há muito consideram esse assunto encerrado”. Gozado. No meu tempo, que por sinal também é hoje tanto quanto foi ontem, crítica e telespectador interagem, não são facções rivais. Um aprende com o outro.

                                                                                                                              Como entendo que aprendizado é uma porta que se abre a todo momento para qualquer um de nós, mortais comuns, vivo aprendendo com todo mundo. E, na qualidade de contumaz telespectador que sou, proponho que algum colega de sofá me ajude a entender alguns detalhes de Senhora do Destino.

                                                                                                                              Adoraria entender, por exemplo, como é possível que Leandro (Leonardo Vieira), ao encontrar Isabel (a mesma Carolina Dieckman que fez a Maria do Carmo/Suzana Vieira da primeira fase), não achou, pelo menos, que ela era igualzinha à sua mãe naquela época. Porque cara da mãe a gente não esquece, principalmente se conviveu a vida toda com ela. A não ser que, por se tratar da “senhora do destino”, ela tenha também o poder de embotar a inteligência média dos personagens.

                                                                                                                                Você também pode gostar

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                                                                                                                                16/09/2004 0h00

                                                                                                                                Nem só nos filmes de ficção científica o tempo é contado de maneira subjetiva. Quem assiste a Senhora do Destino já deve ter percebido que a cronologia daquela novela é, pelo menos, algo muito curioso.

                                                                                                                                O lado A dessa história é fácil perceber: informações desencontradas na história, que teoricamente se passa nos anos 90, mas, em pequenos descuidos de continuidade – como a presença freqüente de carros que só foram lançados depois de 2000 –, abusa da inverossimilhança.

                                                                                                                                O lado B – tanto quanto na vida real, a ficção também nunca tem um lado só – é mais alentador. Faz supor, por exemplo, que é possível atravessar mais de três décadas com um índice ínfimo de envelhecimento. Já que a história começa em 1968, quando Plínio (Dado Dolabella), o mais novo dos filhos de Maria do Carmo (Carolina Dieckman, nessa fase) tinha cerca de quatro anos, o personagem teria, nos dias de hoje, pelo menos 40.

                                                                                                                                Não sou o primeiro nem último a questionar essa cronologia. Tanto que o autor Aguinaldo Silva, em outra oportunidade, distribuiu extensa carta à imprensa justificando, a seu modo autoral, a questão. Lembrou que novela não é documentário jornalístico, e tem toda razão.

                                                                                                                                “O tempo ficcional de Senhora de Destino é alguns anos depois de 1968, ou seja, é agora, assim como o distrito de Vila São Miguel existe apenas nela”, disse, a certa altura da carta. E aproveitou para disparar: “As pessoas que se preocupam em achar na novela minúsculos erros de época não deveriam sequer levá-la em conta, já que ela se passa num lugar que não existe, e mostra pessoas que também não são verdadeiras, ou seja, é toda ela um erro, uma mentira”.

                                                                                                                                É, nosso autor se magoou. Nem precisava tanto. Praticamente instalou um abismo entre críticos e telespectadores, assegurando que esses últimos “há muito consideram esse assunto encerrado”. Gozado. No meu tempo, que por sinal também é hoje tanto quanto foi ontem, crítica e telespectador interagem, não são facções rivais. Um aprende com o outro.

                                                                                                                                Como entendo que aprendizado é uma porta que se abre a todo momento para qualquer um de nós, mortais comuns, vivo aprendendo com todo mundo. E, na qualidade de contumaz telespectador que sou, proponho que algum colega de sofá me ajude a entender alguns detalhes de Senhora do Destino.

                                                                                                                                Adoraria entender, por exemplo, como é possível que Leandro (Leonardo Vieira), ao encontrar Isabel (a mesma Carolina Dieckman que fez a Maria do Carmo/Suzana Vieira da primeira fase), não achou, pelo menos, que ela era igualzinha à sua mãe naquela época. Porque cara da mãe a gente não esquece, principalmente se conviveu a vida toda com ela. A não ser que, por se tratar da “senhora do destino”, ela tenha também o poder de embotar a inteligência média dos personagens.

                                                                                                                                  Você também pode gostar

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                                                                                                                                  Cada vez mais presente nos canais abertos – é de se supor que o bom senso não abra espaço para esse mico pelo menos das emissoras ligadas à Rede Cultura/TV Educativa –, a febre dos reality shows não deixa de ser um campo onde, vez por outra, se descobrem figuras interessantes.

                                                                                                                                  A mais recente dessas pérolas surgiu na declaração de uma das primeiras eliminadas de Casa dos Artistas, do SBT, Bianca Soares, a candidata transexual. “Não sei se vale a pena se matar para ser uma celebridade”.

                                                                                                                                  Haverá quem veja nisso algo semelhante à posição adotada pela raposa com relação às uvas, na fábula de La Fontaine – não conseguindo alcançar os apetitosos frutos da videira, jogou o rabão ruivo de lado e saiu dizendo: “Não importa, estão verdes mesmo!”.

                                                                                                                                  Isso nem cabe discutir aqui. O importante do desabafo de Bianca é a centelha de questionamento que a candidata eliminada produz com tal observação, seja ou não sincera. Ela simplesmente pensou no que devem pensar, pelo menos no início do caminho, aquelas pessoas que mordem a isca da fama fácil.

                                                                                                                                  Ninguém nega que é tentadora a possibilidade de ganhar dinheiro de forma relativamente fácil, ao mesmo tempo vitaminando o marketing pessoal por meio de tantas inserções num canal de televisão. Mas a gente aqui, do outro lado da telinha, vê bem como a auto-exposição irradiada na TV enriquece muito mais a máquina capitalista do que a conta bancária de quem se habilita a mostrar a cara.

                                                                                                                                  Exagero? Pois vá ao site do SBT – www.sbt.com.br – e clique no ícone Casa dos Artistas. A qualquer hora aparecerá um banner com o enunciado: “Se você é do sexo masculino e ninguém percebe quando você se transforma em mulher, inscreva-se agora mesmo, mandando também a sua foto, para concorrer ao prêmio de meio milhão de reais em um grande concurso do SBT”.

                                                                                                                                  Ficou alguma dúvida de que o fato de Bianca ter se “revelado” transexual está sendo muito bem-aproveitada pela emissora? Mais: você realmente acredita que a produção do programa desconhecia o fato de que a candidata era candidato? A própria Bianca, em entrevista posterior, afirmou que já sabiam disso.

                                                                                                                                  Agora analise como um “incidente” desses ajuda a aumentar a audiência do programa. O mesmo vale para alguns barracos protagonizados nesses reality shows (até porque o SBT não está sozinho nessa; a Globo tem seu Big Brother e agora Band e Record também entram no filão).

                                                                                                                                  Como já disse Dercy Gonçalves num programa da Hebe, ao conversar com uma ex-participante de edição anterior de Casa dos Artistas, “não vá querer me convencer de que as coisas ali não são combinadas!”. Espontaneidade zero, audiência tilintando no caixa da empresa. Nada demais. Cada qual, afinal, tem direito de escolher o que tem na vida como riqueza.

                                                                                                                                    Você também pode gostar

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                                                                                                                                    Ninguém nega que é tentadora a possibilidade de ganhar dinheiro de forma relativamente fácil, ao mesmo tempo vitaminando o marketing pessoal por meio de tantas inserções num canal de televisão. Mas a gente aqui, do outro lado da telinha, vê bem como a auto-exposição irradiada na TV enriquece muito mais a máquina capitalista do que a conta bancária de quem se habilita a mostrar a cara.

                                                                                                                                    Exagero? Pois vá ao site do SBT – www.sbt.com.br – e clique no ícone Casa dos Artistas. A qualquer hora aparecerá um banner com o enunciado: “Se você é do sexo masculino e ninguém percebe quando você se transforma em mulher, inscreva-se agora mesmo, mandando também a sua foto, para concorrer ao prêmio de meio milhão de reais em um grande concurso do SBT”.

                                                                                                                                    Ficou alguma dúvida de que o fato de Bianca ter se “revelado” transexual está sendo muito bem-aproveitada pela emissora? Mais: você realmente acredita que a produção do programa desconhecia o fato de que a candidata era candidato? A própria Bianca, em entrevista posterior, afirmou que já sabiam disso.

                                                                                                                                    Agora analise como um “incidente” desses ajuda a aumentar a audiência do programa. O mesmo vale para alguns barracos protagonizados nesses reality shows (até porque o SBT não está sozinho nessa; a Globo tem seu Big Brother e agora Band e Record também entram no filão).

                                                                                                                                    Como já disse Dercy Gonçalves num programa da Hebe, ao conversar com uma ex-participante de edição anterior de Casa dos Artistas, “não vá querer me convencer de que as coisas ali não são combinadas!”. Espontaneidade zero, audiência tilintando no caixa da empresa. Nada demais. Cada qual, afinal, tem direito de escolher o que tem na vida como riqueza.

                                                                                                                                      Você também pode gostar

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                                                                                                                                      Arquivo Geral

                                                                                                                                      02/09/2004 0h00

                                                                                                                                      Divertido é quando começa uma novela nova. As primeiras aparições dos personagens são sempre uma novidade, bem como as locações, em especial nos primeiros capítulos, vêm caprichadas – pelo menos no caso da Globo, que de vez em quando abre uma nova trama com gravações em outros países.

                                                                                                                                      Assim ocorre em Começar de Novo, que brinda o telespectador com belas imagens de Moscou, mostrando não só a parte histórica e pomposa da capital russa como, sem muita ênfase, mas não deixando de lado, os contrastes de uma sociedade que há menos de duas décadas se desligou de um regime fechado para ingressar na era global.

                                                                                                                                      O argumento original da trama é atraente, desconsideradas, claro, as distorções que essa situação possa apresentar com relação à vida real. Andrei Ivanovich (Marcos Paulo) descobre, de repente, que é Miguel Arcanjo, e que tem atrás de si todo um passado do qual começa a se lembrar, após 30 anos vivendo como outra pessoa.

                                                                                                                                      Não é o primeiro nem último desmemoriado da teledramaturgia brasileira. Quem se lembra de Suave Veneno (1999), em que Glória Pires vivia uma personagem sem referência de nada, simplesmente porque esquecera quem era? OK, mais para a frente a história mostrou que isso era armação, mas durante muito tempo prevaleceu a versão da coitadinha.

                                                                                                                                      Mais recentemente, Metamorphoses, da Record, trabalhou com argumento semelhante: médica sofre acidente, ganha um novo rosto da irmã que morreu no mesmo desastre e, a partir do susto que leva ao tirar as ataduras, perde a memória e não conhece mais quem, onde, o quê, por quê e nem quando. Infelizmente essa história escorregou feio dos trilhos, foi encurtada e acabou sem mais nem menos, queimando filme de elenco e emissora a um tempo só.

                                                                                                                                      Por enquanto ainda é cedo para saber que destino terá Andrei/Miguel, a nova vítima da amnésia de Começar de Novo. Se o desdobramento for semelhante ao da personagem de Glória Pires, será esquisito, mas não surpresa. Pior é se acontecer com a novela o que rolou com Metamorphoses. Mas isso é remoto, em se tratando da Globo.

                                                                                                                                      Assim, estas primeiras semanas têm cheiro de novidade em Começar de Novo. E cada personagem que surge, enquanto tem perfil desconhecido, é um deleite. Ri muito das cenas iniciais de Erik Marmo envergando um modelito à la Walter Mercado (lembra daquele ligue djá?), gravando em praça pública russa.

                                                                                                                                      E o grande barato é que, por enquanto, ainda há muito a descobrir nessa história. Fica por conta de personagens como os de Marília Pêra e Luís Gustavo encarnando dois sessentões pós-Woodstock, e de outros cujo caráter irá aos poucos se revelando. Eva Wilma de vilã é sempre um deleite, Luiza Tomé sempre conquista espaço… Até prova em contrário, é tudo aventura. Por que não?

                                                                                                                                        Você também pode gostar

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                                                                                                                                        Arquivo Geral

                                                                                                                                        02/09/2004 0h00

                                                                                                                                        Divertido é quando começa uma novela nova. As primeiras aparições dos personagens são sempre uma novidade, bem como as locações, em especial nos primeiros capítulos, vêm caprichadas – pelo menos no caso da Globo, que de vez em quando abre uma nova trama com gravações em outros países.

                                                                                                                                        Assim ocorre em Começar de Novo, que brinda o telespectador com belas imagens de Moscou, mostrando não só a parte histórica e pomposa da capital russa como, sem muita ênfase, mas não deixando de lado, os contrastes de uma sociedade que há menos de duas décadas se desligou de um regime fechado para ingressar na era global.

                                                                                                                                        O argumento original da trama é atraente, desconsideradas, claro, as distorções que essa situação possa apresentar com relação à vida real. Andrei Ivanovich (Marcos Paulo) descobre, de repente, que é Miguel Arcanjo, e que tem atrás de si todo um passado do qual começa a se lembrar, após 30 anos vivendo como outra pessoa.

                                                                                                                                        Não é o primeiro nem último desmemoriado da teledramaturgia brasileira. Quem se lembra de Suave Veneno (1999), em que Glória Pires vivia uma personagem sem referência de nada, simplesmente porque esquecera quem era? OK, mais para a frente a história mostrou que isso era armação, mas durante muito tempo prevaleceu a versão da coitadinha.

                                                                                                                                        Mais recentemente, Metamorphoses, da Record, trabalhou com argumento semelhante: médica sofre acidente, ganha um novo rosto da irmã que morreu no mesmo desastre e, a partir do susto que leva ao tirar as ataduras, perde a memória e não conhece mais quem, onde, o quê, por quê e nem quando. Infelizmente essa história escorregou feio dos trilhos, foi encurtada e acabou sem mais nem menos, queimando filme de elenco e emissora a um tempo só.

                                                                                                                                        Por enquanto ainda é cedo para saber que destino terá Andrei/Miguel, a nova vítima da amnésia de Começar de Novo. Se o desdobramento for semelhante ao da personagem de Glória Pires, será esquisito, mas não surpresa. Pior é se acontecer com a novela o que rolou com Metamorphoses. Mas isso é remoto, em se tratando da Globo.

                                                                                                                                        Assim, estas primeiras semanas têm cheiro de novidade em Começar de Novo. E cada personagem que surge, enquanto tem perfil desconhecido, é um deleite. Ri muito das cenas iniciais de Erik Marmo envergando um modelito à la Walter Mercado (lembra daquele ligue djá?), gravando em praça pública russa.

                                                                                                                                        E o grande barato é que, por enquanto, ainda há muito a descobrir nessa história. Fica por conta de personagens como os de Marília Pêra e Luís Gustavo encarnando dois sessentões pós-Woodstock, e de outros cujo caráter irá aos poucos se revelando. Eva Wilma de vilã é sempre um deleite, Luiza Tomé sempre conquista espaço… Até prova em contrário, é tudo aventura. Por que não?

                                                                                                                                          Você também pode gostar

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                                                                                                                                          Arquivo Geral

                                                                                                                                          26/08/2004 0h00

                                                                                                                                          De que cor mesmo é o pecado? Se você não dá um passo sem consultar o capítulo da novela, só vai saber amanhã. Mas, se presta atenção a cada detalhe do que rola nesse folhetim das sete da Globo que termina sexta-feira, talvez só assista ao final de Da Cor do Pecado para confirmar que é tudo previsível.

                                                                                                                                          Esta novela não conseguiu escapar da praga que assola a maioria das tramas do horário na Globo. Apesar do tratamento diferenciado que o roteirista João Emanuel Carneiro tentou imprimir à história – a idéia era fugir de lugares-comuns –, algo mais forte que o espírito inovador dele fez valer ali a sua força. Que temível entidade seria essa?

                                                                                                                                          Chame-a como quiser, pois esse fator descaracterizante se abriga sob diversos nomes. Na emissora, há anos costuma se falar de uma coisa equivalente a “conselho de telespectadores”, gente escolhida “aleatoriamente” para se reunir e opinar sobre o rumo que a história deve tomar.

                                                                                                                                          A se considerar tal conceito ao pé da letra, os direitos autorais deverão ser divididos entre o público. E isso, se fosse possível, já renderia um bom argumento para outra novela. Já imaginou um produto glorificado pela audiência e de autoria coletiva?

                                                                                                                                          Fora a espinha dorsal da história – gêmeos separados ao nascer, um ficando com o pai burguesão (que não sabia ser dupla a ninhada) e outro com a mãe despojada, cada um num canto da cidade –, o que se pode aproveitar da trama é, na melhor das hipóteses, passível de dividir em compartimentos.

                                                                                                                                          Novela que se preza tem de ter luta entre o bem e o mal. OK: Bárbara (Giovanna Antonelli), como vilã maior de Da Cor do Pecado, deu conta da missão com direito a enlouquecer no final e até a merecer desfecho trágico. Teve em Tony (Guilherme Weber) seu braço direito. Os dois atores deram um show de interpretação; aliás, por enquanto nem dá para imaginar Guilherme Weber em outro tipo de papel, de tão convincente.

                                                                                                                                          Um amor sofrido, que triunfa no fim das contas, também não pode faltar, e marcou presença em Da Cor do Pecado. Paco (Reynaldo Gianecchini) vai ficar com Preta (Taís Araújo), e os dois terão um superbebê. Pausa: o que exatamente virá a ser isso?

                                                                                                                                          Pouco importa. Só restam dois capítulos. Se for algo muito fictício, não estará sozinho na novela; sugiro, em tempo, que passe a integrar o time de Mamãe-Popeye-Mamuska (Rosi de Campos) e suas Sardinhas Abobalhadas. E que tenha como padrinhos Prima Veroca (Maitê Proença) e Eduardo (Ney Latorraca), casal-bobagem mais apropriado para Chaves.

                                                                                                                                          Com tudo isso, Da Cor do Pecado ainda terá um final bem menos descosido que Metamorphoses, novela da Record que, sem mais nem menos, também termina amanhã deixando queimadinho o filme da emissora em termos de teledramaturgia. O que foi aquilo?!

                                                                                                                                            Você também pode gostar

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                                                                                                                                            Arquivo Geral

                                                                                                                                            26/08/2004 0h00

                                                                                                                                            De que cor mesmo é o pecado? Se você não dá um passo sem consultar o capítulo da novela, só vai saber amanhã. Mas, se presta atenção a cada detalhe do que rola nesse folhetim das sete da Globo que termina sexta-feira, talvez só assista ao final de Da Cor do Pecado para confirmar que é tudo previsível.

                                                                                                                                            Esta novela não conseguiu escapar da praga que assola a maioria das tramas do horário na Globo. Apesar do tratamento diferenciado que o roteirista João Emanuel Carneiro tentou imprimir à história – a idéia era fugir de lugares-comuns –, algo mais forte que o espírito inovador dele fez valer ali a sua força. Que temível entidade seria essa?

                                                                                                                                            Chame-a como quiser, pois esse fator descaracterizante se abriga sob diversos nomes. Na emissora, há anos costuma se falar de uma coisa equivalente a “conselho de telespectadores”, gente escolhida “aleatoriamente” para se reunir e opinar sobre o rumo que a história deve tomar.

                                                                                                                                            A se considerar tal conceito ao pé da letra, os direitos autorais deverão ser divididos entre o público. E isso, se fosse possível, já renderia um bom argumento para outra novela. Já imaginou um produto glorificado pela audiência e de autoria coletiva?

                                                                                                                                            Fora a espinha dorsal da história – gêmeos separados ao nascer, um ficando com o pai burguesão (que não sabia ser dupla a ninhada) e outro com a mãe despojada, cada um num canto da cidade –, o que se pode aproveitar da trama é, na melhor das hipóteses, passível de dividir em compartimentos.

                                                                                                                                            Novela que se preza tem de ter luta entre o bem e o mal. OK: Bárbara (Giovanna Antonelli), como vilã maior de Da Cor do Pecado, deu conta da missão com direito a enlouquecer no final e até a merecer desfecho trágico. Teve em Tony (Guilherme Weber) seu braço direito. Os dois atores deram um show de interpretação; aliás, por enquanto nem dá para imaginar Guilherme Weber em outro tipo de papel, de tão convincente.

                                                                                                                                            Um amor sofrido, que triunfa no fim das contas, também não pode faltar, e marcou presença em Da Cor do Pecado. Paco (Reynaldo Gianecchini) vai ficar com Preta (Taís Araújo), e os dois terão um superbebê. Pausa: o que exatamente virá a ser isso?

                                                                                                                                            Pouco importa. Só restam dois capítulos. Se for algo muito fictício, não estará sozinho na novela; sugiro, em tempo, que passe a integrar o time de Mamãe-Popeye-Mamuska (Rosi de Campos) e suas Sardinhas Abobalhadas. E que tenha como padrinhos Prima Veroca (Maitê Proença) e Eduardo (Ney Latorraca), casal-bobagem mais apropriado para Chaves.

                                                                                                                                            Com tudo isso, Da Cor do Pecado ainda terá um final bem menos descosido que Metamorphoses, novela da Record que, sem mais nem menos, também termina amanhã deixando queimadinho o filme da emissora em termos de teledramaturgia. O que foi aquilo?!

                                                                                                                                              Você também pode gostar

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                                                                                                                                              19/08/2004 0h00

                                                                                                                                              Aleluia, rapeize: pelo menos até outubro, Brasília, que não tem prefeito, é a única cidade do País que se encontra livre do horário eleitoral gratuito. Pelo menos no caso da Globo, vale aproveitar, na faixa noturna, os 30 minutos entre o Jornal Nacional e Senhora do Destino, espaço que aqui está sendo utilizado para a retransmissão da minissérie A Muralha.

                                                                                                                                              Escrita por Maria Adelaide Amaral, inspirada no livro homônimo publicado em 1954 por Dinah Silveira de Queiroz (1910-1982), a minissérie mergulha nos primórdios do século 16 e vai até São Paulo de Piratininga, a capital dos temíveis bandeirantes. Temos aqui, portanto, um saboroso épico sobre o nascimento de uma nação. Tudo com paixão transpirando por todos os cantos.

                                                                                                                                              A Muralha não faz exceção na categoria das minisséries brasileiras: é produto da melhor qualidade. Seja pelo formato, que não permite alongamentos ou interferências descaracterizadoras em função do que a emissora juraria ser “desejo do público” (quando na verdade leva em maior consideração o espaço aberto a bons anunciantes), seja pela originalidade do argumento, minissérie sempre é mais interessante, por exemplo, do que novela.

                                                                                                                                              Melhor ainda é ver no elenco gente que nem sempre aparece bem-aproveitada nos folhetins. Não é o caso de feras como Vera Holz (Mãe Cândida), André Gonçalves (impagável como o índio Apingorá), Deborah Evelyn (Basília), Matheus Nachtergaele (Padre Miguel), Caco Ciocler (Bento Coutinho) e alguns outros. Mas veja lá que você vai identificar, por exemplo, uma Maria Luísa Mendonça que, nesse papel de Margarida Olinto, dá de dez como nunca fez em novela nenhuma.

                                                                                                                                              Interessante também é que, pelo inusitado da situação – a propaganda eleitoral gratuita com os candidatos a prefeito corre nas demais cidades sem intervalos –, A Muralha é transmitida em um único bloco. Lutas, assaltos, paixão em intensas vertentes, tudo isso desfila diante de um telespectador que não encontra sequer motivação para levantar e tomar um copo d´água.

                                                                                                                                              Trata-se, enfim, de uma história que envolve, pega a gente pelo pé, além de ser fundamentada em investigações históricas que ajudam a enriquecer o conhecimento que temos da base de nosso país.

                                                                                                                                              Nesse ponto, aliás, A Muralha cruza caminho com a propaganda eleitoral gratuita. Neste nobre espaço destinado aos políticos e aspirantes a tal, muitas vezes se mostra o Brasil como ele é. Mas muitos candidatos temperam esse produto com promessas que, vamos convir, jamais passarão do âmbito da ficção.

                                                                                                                                              Nesse ponto, sou forçado a concordar que muita gente sentirá falta do horário eleitoral. Como o editor de Torcida de nosso jornal, Marcelo Agner, que, consultado a respeito dessa rara lacuna da programação de TV, fuzilou-me com essa: “Mas aí eu vou rir de quê?”

                                                                                                                                                Você também pode gostar

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                                                                                                                                                Aleluia, rapeize: pelo menos até outubro, Brasília, que não tem prefeito, é a única cidade do País que se encontra livre do horário eleitoral gratuito. Pelo menos no caso da Globo, vale aproveitar, na faixa noturna, os 30 minutos entre o Jornal Nacional e Senhora do Destino, espaço que aqui está sendo utilizado para a retransmissão da minissérie A Muralha.

                                                                                                                                                Escrita por Maria Adelaide Amaral, inspirada no livro homônimo publicado em 1954 por Dinah Silveira de Queiroz (1910-1982), a minissérie mergulha nos primórdios do século 16 e vai até São Paulo de Piratininga, a capital dos temíveis bandeirantes. Temos aqui, portanto, um saboroso épico sobre o nascimento de uma nação. Tudo com paixão transpirando por todos os cantos.

                                                                                                                                                A Muralha não faz exceção na categoria das minisséries brasileiras: é produto da melhor qualidade. Seja pelo formato, que não permite alongamentos ou interferências descaracterizadoras em função do que a emissora juraria ser “desejo do público” (quando na verdade leva em maior consideração o espaço aberto a bons anunciantes), seja pela originalidade do argumento, minissérie sempre é mais interessante, por exemplo, do que novela.

                                                                                                                                                Melhor ainda é ver no elenco gente que nem sempre aparece bem-aproveitada nos folhetins. Não é o caso de feras como Vera Holz (Mãe Cândida), André Gonçalves (impagável como o índio Apingorá), Deborah Evelyn (Basília), Matheus Nachtergaele (Padre Miguel), Caco Ciocler (Bento Coutinho) e alguns outros. Mas veja lá que você vai identificar, por exemplo, uma Maria Luísa Mendonça que, nesse papel de Margarida Olinto, dá de dez como nunca fez em novela nenhuma.

                                                                                                                                                Interessante também é que, pelo inusitado da situação – a propaganda eleitoral gratuita com os candidatos a prefeito corre nas demais cidades sem intervalos –, A Muralha é transmitida em um único bloco. Lutas, assaltos, paixão em intensas vertentes, tudo isso desfila diante de um telespectador que não encontra sequer motivação para levantar e tomar um copo d´água.

                                                                                                                                                Trata-se, enfim, de uma história que envolve, pega a gente pelo pé, além de ser fundamentada em investigações históricas que ajudam a enriquecer o conhecimento que temos da base de nosso país.

                                                                                                                                                Nesse ponto, aliás, A Muralha cruza caminho com a propaganda eleitoral gratuita. Neste nobre espaço destinado aos políticos e aspirantes a tal, muitas vezes se mostra o Brasil como ele é. Mas muitos candidatos temperam esse produto com promessas que, vamos convir, jamais passarão do âmbito da ficção.

                                                                                                                                                Nesse ponto, sou forçado a concordar que muita gente sentirá falta do horário eleitoral. Como o editor de Torcida de nosso jornal, Marcelo Agner, que, consultado a respeito dessa rara lacuna da programação de TV, fuzilou-me com essa: “Mas aí eu vou rir de quê?”

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                                                                                                                                                  Arquivo Geral

                                                                                                                                                  12/08/2004 0h00

                                                                                                                                                  Pegue um bebê de tamanho médio. Também podem ser dois; se forem gêmeos, beleza. Encontre os pais que, por qualquer motivo, não poderão viver com o recém-nascido. Garimpe pai ou mãe adotivos e coloque o bebê a assar, quero dizer, instale-o no domicílio deles. Acrescente alguns anos decorridos, de preferência calculando o tempo necessário para a criança virar adolescente ou beirar a idade adulta. Pronto: você já tem o argumento para criar uma novela.

                                                                                                                                                  Tenho quase certeza que essa receita, em absoluto, não é invenção minha, já anda circulando no ritmo da internet há alguns anos pelo mundo latino. O resultado final, ao que tudo indica, tem sido sucesso absoluto. Tanto que, nos últimos tempos, essa fórmula parece ser obrigatória no argumento original dos folhetins que aterrissam no Brasil.

                                                                                                                                                  Achou exagero? Seu controle-remoto pode lhe provar que não. No SBT, por exemplo, a novela mexicana A Outra (que acaba amanhã) deita e rola na história de duas irmãs gêmeas – Carlota e Cordélia, vividas pela bela Yadhira Carrillo –, uma boazinha e a outra malvada.

                                                                                                                                                  O SBT, aliás, ama essas histórias fundamentadas em gêmeos separados ao nascer ou de menina pobretona, que na verdade é filha de ricaços, mas enfrentou algum “acidente de percurso” e, no final da história, quando já tiver sido humilhada por meio mundo, terá direito a fortuna e ao devido reconhecimento dos pais e da sociedade.

                                                                                                                                                  E, pelo jeito, a emissora de Silvio Santos não está sozinha nessa obsessão. A Globo já fez isso, nos anos 70, com Mulheres de Areia, em que Eva Wilma vivia as gêmeas Ruth e Raquel, a boa e a má, respectivamente. Quase na virada do século, voltou à carga com um remake desse drama catito e colocou Glória Pires nesse papel literalmente dúbio.

                                                                                                                                                  Uma vez, vá lá. Duas da mesma história, já começa a soar cansativo. Agora, em pleno século 21, voltar à carga com a mirabolante história de Paco e Apolo (Reynaldo Gianecchini) em Da Cor do Pecado… Que preguiça, meu!

                                                                                                                                                  Fantástico mesmo é o fato de nenhum personagem ligado a um desses dois perceber a diferença, nem mesmo a vivida Preta (Taís Araújo), que teve um filho com Paco e agora “acredita” estar casada com Apolo. Tudo bem que para respeitável torcida seja um bálsamo poder “desfrutar” de Reynaldo Gianecchini duplicado. Mas que esse argumento é tosco e pouco original, lá isso é.

                                                                                                                                                  OK, que um pouco de inverossimilhança seja ingrediente bem-chegado à teledramaturgia: novela não é documentário, portanto, se tempera com ficção. Mas sugiro que as aventuras de Amy, a Menina da Mochila Azul (19h10, SBT) são mais autênticas em termos de ficção. Tem até sereia e tritão entre os personagens humanos. Melhor que os gêmeos, os Três Patetas Tardios (Verinha/Edu/Beki)e os trapalhões infiltrados nos Sardinhas.

                                                                                                                                                    Você também pode gostar

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                                                                                                                                                    Arquivo Geral

                                                                                                                                                    12/08/2004 0h00

                                                                                                                                                    Pegue um bebê de tamanho médio. Também podem ser dois; se forem gêmeos, beleza. Encontre os pais que, por qualquer motivo, não poderão viver com o recém-nascido. Garimpe pai ou mãe adotivos e coloque o bebê a assar, quero dizer, instale-o no domicílio deles. Acrescente alguns anos decorridos, de preferência calculando o tempo necessário para a criança virar adolescente ou beirar a idade adulta. Pronto: você já tem o argumento para criar uma novela.

                                                                                                                                                    Tenho quase certeza que essa receita, em absoluto, não é invenção minha, já anda circulando no ritmo da internet há alguns anos pelo mundo latino. O resultado final, ao que tudo indica, tem sido sucesso absoluto. Tanto que, nos últimos tempos, essa fórmula parece ser obrigatória no argumento original dos folhetins que aterrissam no Brasil.

                                                                                                                                                    Achou exagero? Seu controle-remoto pode lhe provar que não. No SBT, por exemplo, a novela mexicana A Outra (que acaba amanhã) deita e rola na história de duas irmãs gêmeas – Carlota e Cordélia, vividas pela bela Yadhira Carrillo –, uma boazinha e a outra malvada.

                                                                                                                                                    O SBT, aliás, ama essas histórias fundamentadas em gêmeos separados ao nascer ou de menina pobretona, que na verdade é filha de ricaços, mas enfrentou algum “acidente de percurso” e, no final da história, quando já tiver sido humilhada por meio mundo, terá direito a fortuna e ao devido reconhecimento dos pais e da sociedade.

                                                                                                                                                    E, pelo jeito, a emissora de Silvio Santos não está sozinha nessa obsessão. A Globo já fez isso, nos anos 70, com Mulheres de Areia, em que Eva Wilma vivia as gêmeas Ruth e Raquel, a boa e a má, respectivamente. Quase na virada do século, voltou à carga com um remake desse drama catito e colocou Glória Pires nesse papel literalmente dúbio.

                                                                                                                                                    Uma vez, vá lá. Duas da mesma história, já começa a soar cansativo. Agora, em pleno século 21, voltar à carga com a mirabolante história de Paco e Apolo (Reynaldo Gianecchini) em Da Cor do Pecado… Que preguiça, meu!

                                                                                                                                                    Fantástico mesmo é o fato de nenhum personagem ligado a um desses dois perceber a diferença, nem mesmo a vivida Preta (Taís Araújo), que teve um filho com Paco e agora “acredita” estar casada com Apolo. Tudo bem que para respeitável torcida seja um bálsamo poder “desfrutar” de Reynaldo Gianecchini duplicado. Mas que esse argumento é tosco e pouco original, lá isso é.

                                                                                                                                                    OK, que um pouco de inverossimilhança seja ingrediente bem-chegado à teledramaturgia: novela não é documentário, portanto, se tempera com ficção. Mas sugiro que as aventuras de Amy, a Menina da Mochila Azul (19h10, SBT) são mais autênticas em termos de ficção. Tem até sereia e tritão entre os personagens humanos. Melhor que os gêmeos, os Três Patetas Tardios (Verinha/Edu/Beki)e os trapalhões infiltrados nos Sardinhas.

                                                                                                                                                      Você também pode gostar

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                                                                                                                                                      05/08/2004 0h00

                                                                                                                                                      Encostada na confortável posição de produtora de novelas de apelo popular, apetitoso para países importadores da teledramaturgia nacional, a Globo ainda goza de bom status. Mas um reinado não dura para sempre; e, em tempos marcados menos por originalidade do que por sofisticadas técnicas de “adaptação” (leia cópia), há espaço para mais de um trono.

                                                                                                                                                      Não fosse assim, o SBT não estaria deitando e rolando nas reprises de novelas como Marimar e Pícara Sonhadora, que, se estão no ar, é porque tiveram aferida sua capacidade de agradar ao público.

                                                                                                                                                      Esse mexicanismo emprestado é marca de sucesso no SBT, tanto que as novelas do horário nobre produzidas no Brasil para a emissora são, no mínimo, respeitosas adaptações de originais pós-astecas. Ou então pegam carona em produções da Colômbia, que também rezam a mesma cartilha.

                                                                                                                                                      Isso quer dizer exatamente o quê? Que também existe vida inteligente fora da Globo, ora. E isso amplia as opções do telespectador não só na direção aos dramalhões do SBT, com aqueles personagens estilizados e mulheres ostentando overdose de laquê, mas também, recentemente, com relação à Record.

                                                                                                                                                      Brigar com Senhora do Destino continua difícil. Mas tanto existe quem goste mais de Seus Olhos, do SBT, quanto aqueles que estão sabendo saborear a nova fase de Metamorphoses, a novela que a Record apresenta nesse horário.

                                                                                                                                                      Metamorphoses é diferente de tudo que já se viu até hoje em termos de folhetim. Além do formato digitalizado, a história ali nasceu com um argumento interessante – o do transplante facial –, depois atropelou-se por querelas internas que envolviam insatisfação de direção-elenco-produção e, de uma hora para outra, fez jus ao título e entrou em metamorfose.

                                                                                                                                                      Se a lagarta virou borboleta ou o belo inseto de asas coloridas está se transformando em taturana, ainda é cedo para saber. Mas o que não se pode negar é que a nova fase de Metamorphoses tem, pelo menos, aspectos cômicos que já fazem a diferença.

                                                                                                                                                      Quer coisa mais hilária do que a família de Valdirene (Rosaly Papadopol), a ex-Miss Pindamonhangaba casada com um novo-rico do interior de São Paulo e que deseja a todo custo ingressar na alta sociedade paulistana? Essa família, novidade introduzida pela nova autora da trama, Letícia Dornelles, chegou com a responsabilidade de dar novos rumos à história.

                                                                                                                                                      A missão ali é suprir lacunas deixadas pela saída de personagens densos da primeira fase – Aspásia (Myrian Muniz), Bel (Lúcia Alves), Valentina (Francisca Queiroz), Dr. Eugênio (Gianfrancesco Guarnieri) – e fazer a coisa ter sentido. Minha curiosidade é esperar para ver Ricardo Macchi (Ângelo) se desfazer do justo estigma de Cigano Igor canastrão. Seria esse o fecho da metamorfose propriamente dita?

                                                                                                                                                        Você também pode gostar

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                                                                                                                                                        Arquivo Geral

                                                                                                                                                        05/08/2004 0h00

                                                                                                                                                        Encostada na confortável posição de produtora de novelas de apelo popular, apetitoso para países importadores da teledramaturgia nacional, a Globo ainda goza de bom status. Mas um reinado não dura para sempre; e, em tempos marcados menos por originalidade do que por sofisticadas técnicas de “adaptação” (leia cópia), há espaço para mais de um trono.

                                                                                                                                                        Não fosse assim, o SBT não estaria deitando e rolando nas reprises de novelas como Marimar e Pícara Sonhadora, que, se estão no ar, é porque tiveram aferida sua capacidade de agradar ao público.

                                                                                                                                                        Esse mexicanismo emprestado é marca de sucesso no SBT, tanto que as novelas do horário nobre produzidas no Brasil para a emissora são, no mínimo, respeitosas adaptações de originais pós-astecas. Ou então pegam carona em produções da Colômbia, que também rezam a mesma cartilha.

                                                                                                                                                        Isso quer dizer exatamente o quê? Que também existe vida inteligente fora da Globo, ora. E isso amplia as opções do telespectador não só na direção aos dramalhões do SBT, com aqueles personagens estilizados e mulheres ostentando overdose de laquê, mas também, recentemente, com relação à Record.

                                                                                                                                                        Brigar com Senhora do Destino continua difícil. Mas tanto existe quem goste mais de Seus Olhos, do SBT, quanto aqueles que estão sabendo saborear a nova fase de Metamorphoses, a novela que a Record apresenta nesse horário.

                                                                                                                                                        Metamorphoses é diferente de tudo que já se viu até hoje em termos de folhetim. Além do formato digitalizado, a história ali nasceu com um argumento interessante – o do transplante facial –, depois atropelou-se por querelas internas que envolviam insatisfação de direção-elenco-produção e, de uma hora para outra, fez jus ao título e entrou em metamorfose.

                                                                                                                                                        Se a lagarta virou borboleta ou o belo inseto de asas coloridas está se transformando em taturana, ainda é cedo para saber. Mas o que não se pode negar é que a nova fase de Metamorphoses tem, pelo menos, aspectos cômicos que já fazem a diferença.

                                                                                                                                                        Quer coisa mais hilária do que a família de Valdirene (Rosaly Papadopol), a ex-Miss Pindamonhangaba casada com um novo-rico do interior de São Paulo e que deseja a todo custo ingressar na alta sociedade paulistana? Essa família, novidade introduzida pela nova autora da trama, Letícia Dornelles, chegou com a responsabilidade de dar novos rumos à história.

                                                                                                                                                        A missão ali é suprir lacunas deixadas pela saída de personagens densos da primeira fase – Aspásia (Myrian Muniz), Bel (Lúcia Alves), Valentina (Francisca Queiroz), Dr. Eugênio (Gianfrancesco Guarnieri) – e fazer a coisa ter sentido. Minha curiosidade é esperar para ver Ricardo Macchi (Ângelo) se desfazer do justo estigma de Cigano Igor canastrão. Seria esse o fecho da metamorfose propriamente dita?

                                                                                                                                                          Você também pode gostar

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                                                                                                                                                          Arquivo Geral

                                                                                                                                                          29/07/2004 0h00

                                                                                                                                                          Giovanna Antonelli merece tempo livre para se recuperar da canseira que deve estar lhe dando a Bárbara de Da Cor do Pecado. Para quem nunca havia feito uma vilã, essa estréia merece aplausos.

                                                                                                                                                          E é no rastro da lavoura de maldades semeadas por Bárbara ao longo dessa história que a novela engata suas últimas semanas. Em boa hora, diga-se de passagem – pois Da Cor do Pecado é contaminada pela síndrome dos folhetins das sete da noite, onde se contrasta a ala dramática propriamente dita com um núcleo cômico mais apropriado para programas infantis exibidos à tarde.

                                                                                                                                                          Nesse festival de gracinhas, gente boa também costuma se perder. É o caso de Rosi de Campos, que empresta seu talento a uma personagem – Edilásia, a Mamuska – aparentemente muito inspirada em Popeye. Caio Blat (Abelardo) é outro que, componente do mesmo núcleo de Rosi – a Família Sardinha, Buscapé honorária –, desperdiça competência nas performances exageradamente caricatas.

                                                                                                                                                          Nessa espécie de Chaves honorário, outros tipos que mereciam enxugamento são a Verinha de Maitê Proença e o Eduardo de Ney Latorraca. Maitê, aliás, corre o risco de sair da novela com cacoetes, tamanha a profusão de caras e bocas que enverga para viver seu papel. São boas idéias desnecessariamente alongadas, pode-se dizer.

                                                                                                                                                          Na mesma lama chafurda o excelente Matheus Nachtergaele, que, na pele de Pai Helinho, arrasta toda sua trupe para um festival de repetições de tiques. Negar que o argumento original é hilário seria pleitear atestado de mal-com-a-vida. Mas graça repetida esvazia a criatividade.

                                                                                                                                                          Em breve, isso tudo será apenas lembrança: pelo menos oficialmente, Da Cor do Pecado não passa do fim de agosto, quando a Globo vai estrear Começar de Novo.

                                                                                                                                                          Assim sendo, engata-se uma contagem regressiva a partir de um único fato importante a esquentar os rumos da novela: a morte de Afonso (Lima Duarte). A esperança de que não haja mais enrolação tem fundamento no fato de que, pelo menos nesse caso, o assassino é conhecido: o vilão Tony (Guilherme Weber).

                                                                                                                                                          Isso representa um mistério a menos. E abre caminho para a agonia, já que o golpe aplicado por Tony e Bárbara foi tão perfeito que fica difícil conceber tanto a prova de que Paco (Reynaldo Gianecchini) não é autor do crime – a arma está com as digitais dele – quanto a volta da fortuna que era de Afonso para sua família.

                                                                                                                                                          No balanço geral, Da Cor do Pecado, vamos lá, não está sendo exatamente um traste. Já houve coisas piores. Fora escorregadas como essas e o batido argumento dos gêmeos (Paco e Apolo) em que um desaparece e o outro se faz passar por ele sem que nem as pessoas mais íntimas percebam a diferença (é muito!!!), a novela cumpriu bem o seu papel.

                                                                                                                                                            Você também pode gostar

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                                                                                                                                                            Giovanna Antonelli merece tempo livre para se recuperar da canseira que deve estar lhe dando a Bárbara de Da Cor do Pecado. Para quem nunca havia feito uma vilã, essa estréia merece aplausos.

                                                                                                                                                            E é no rastro da lavoura de maldades semeadas por Bárbara ao longo dessa história que a novela engata suas últimas semanas. Em boa hora, diga-se de passagem – pois Da Cor do Pecado é contaminada pela síndrome dos folhetins das sete da noite, onde se contrasta a ala dramática propriamente dita com um núcleo cômico mais apropriado para programas infantis exibidos à tarde.

                                                                                                                                                            Nesse festival de gracinhas, gente boa também costuma se perder. É o caso de Rosi de Campos, que empresta seu talento a uma personagem – Edilásia, a Mamuska – aparentemente muito inspirada em Popeye. Caio Blat (Abelardo) é outro que, componente do mesmo núcleo de Rosi – a Família Sardinha, Buscapé honorária –, desperdiça competência nas performances exageradamente caricatas.

                                                                                                                                                            Nessa espécie de Chaves honorário, outros tipos que mereciam enxugamento são a Verinha de Maitê Proença e o Eduardo de Ney Latorraca. Maitê, aliás, corre o risco de sair da novela com cacoetes, tamanha a profusão de caras e bocas que enverga para viver seu papel. São boas idéias desnecessariamente alongadas, pode-se dizer.

                                                                                                                                                            Na mesma lama chafurda o excelente Matheus Nachtergaele, que, na pele de Pai Helinho, arrasta toda sua trupe para um festival de repetições de tiques. Negar que o argumento original é hilário seria pleitear atestado de mal-com-a-vida. Mas graça repetida esvazia a criatividade.

                                                                                                                                                            Em breve, isso tudo será apenas lembrança: pelo menos oficialmente, Da Cor do Pecado não passa do fim de agosto, quando a Globo vai estrear Começar de Novo.

                                                                                                                                                            Assim sendo, engata-se uma contagem regressiva a partir de um único fato importante a esquentar os rumos da novela: a morte de Afonso (Lima Duarte). A esperança de que não haja mais enrolação tem fundamento no fato de que, pelo menos nesse caso, o assassino é conhecido: o vilão Tony (Guilherme Weber).

                                                                                                                                                            Isso representa um mistério a menos. E abre caminho para a agonia, já que o golpe aplicado por Tony e Bárbara foi tão perfeito que fica difícil conceber tanto a prova de que Paco (Reynaldo Gianecchini) não é autor do crime – a arma está com as digitais dele – quanto a volta da fortuna que era de Afonso para sua família.

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                                                                                                                                                              Você também pode gostar

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                                                                                                                                                              Arquivo Geral

                                                                                                                                                              22/07/2004 0h00

                                                                                                                                                              Novelas se parecem com gangorras: ora sobem num balanço bem-impulsionado, ora decaem. A diferença é que tudo vira diversão numa gangorra; na novela, o balanço para baixo sinaliza tédio. Assíduos do sofá que somos, aproveitar o eventual impulso alto dos folhetins é boa pedida.

                                                                                                                                                              Na Globo, quem anda em alta é Senhora do Destino. Bem-amarrada, a história está entretendo a atenção do nobre videota (aqui, peço licença para descartar o teor pejorativo do termo, pois televisão nem sempre é doença) porque tem consistência. E consistência, você sabe, não é característica freqüente em novela.

                                                                                                                                                              Como não se interessar, por exemplo, pela saia-justa vivida por Nalva (Thania Kalil), que é casada com Leandro (Leonardo Vieira) mas se tomou de paixão pelo irmão dele, Viriato (Marcello Antony), e manifesta esse desejo incontrolável da maneira que a hipocrisia social convencionou só ser aceitável para os homens – atacando sua “presa” sem falso pudor?

                                                                                                                                                              E a barra pesada que é a vida de Rita (Adriana Lessa)? Alcoólatra e com o marido na cadeia (Cigano, papel de Chico Diaz), Rita luta para criar Lady Daiane (Jéssica Sodré), que se envolve com o marginal Shao Lin (Leonardo Miggiorin) e a afronta. No capítulo de anteontem, Rita chegou a apanhar de Shao Lin e de sua turma. Mas o pior ainda está por vir: o outro filho dela, Maikel Jeckson (Agles Steid), ainda vai lhe dar muito trabalho.

                                                                                                                                                              Tudo isso se passa no núcleo suburbano da trama, onde a personagem central é a valente Maria do Carmo (Susana Vieira), cuja vida se entrelaça, de diferentes formas, com outras figuras da história.

                                                                                                                                                              Mãe de Leandro e de Viriato, Do Carmo tem ainda dois filhos homens – Reginaldo (Du Moscovis), um jovem político francamente aspirante a corrupto, e o sedutor e malandro Plínio (Dado Dolabella) – e muito espinho para cortar. E a namorada de Reginaldo, Viviane (Letícia Spiller, que se esmera no papel de vagaba), é um espinhaço.

                                                                                                                                                              Mas o X da história ainda vem por aí: a filha perdida, Lindalva. Raptada quando bebê pela personagem de Adriana Esteves (que voltará na pele de Renata Sorrah), Lindalva, quando aparecer, será vivida por Carolina Dieckmann, que foi a Maria do Carmo da primeira fase. Pois é, Senhora do Destino ainda tem muito caldo.

                                                                                                                                                              Enquanto isso, em horário bem próximo e na Record, Metamorphoses também vive sua fase de gangorra. Tem tido cenas intensas, como a operação de resgate de Thallyta (Thallyta Cardoso) e a revelação oficial de que Lia (Vanessa Lóes) na verdade é Circe (Lígia Cortez) – o que, de certa forma, compensa a falta de rumo amargada pela trama em função da sucessiva troca de autores.

                                                                                                                                                              Mas outro dia apareceu ali um flash com um dos personagens da nova fase, vivido por Ricardo Macchi. Desce, gangorra, desce.

                                                                                                                                                                Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                Arquivo Geral

                                                                                                                                                                22/07/2004 0h00

                                                                                                                                                                Novelas se parecem com gangorras: ora sobem num balanço bem-impulsionado, ora decaem. A diferença é que tudo vira diversão numa gangorra; na novela, o balanço para baixo sinaliza tédio. Assíduos do sofá que somos, aproveitar o eventual impulso alto dos folhetins é boa pedida.

                                                                                                                                                                Na Globo, quem anda em alta é Senhora do Destino. Bem-amarrada, a história está entretendo a atenção do nobre videota (aqui, peço licença para descartar o teor pejorativo do termo, pois televisão nem sempre é doença) porque tem consistência. E consistência, você sabe, não é característica freqüente em novela.

                                                                                                                                                                Como não se interessar, por exemplo, pela saia-justa vivida por Nalva (Thania Kalil), que é casada com Leandro (Leonardo Vieira) mas se tomou de paixão pelo irmão dele, Viriato (Marcello Antony), e manifesta esse desejo incontrolável da maneira que a hipocrisia social convencionou só ser aceitável para os homens – atacando sua “presa” sem falso pudor?

                                                                                                                                                                E a barra pesada que é a vida de Rita (Adriana Lessa)? Alcoólatra e com o marido na cadeia (Cigano, papel de Chico Diaz), Rita luta para criar Lady Daiane (Jéssica Sodré), que se envolve com o marginal Shao Lin (Leonardo Miggiorin) e a afronta. No capítulo de anteontem, Rita chegou a apanhar de Shao Lin e de sua turma. Mas o pior ainda está por vir: o outro filho dela, Maikel Jeckson (Agles Steid), ainda vai lhe dar muito trabalho.

                                                                                                                                                                Tudo isso se passa no núcleo suburbano da trama, onde a personagem central é a valente Maria do Carmo (Susana Vieira), cuja vida se entrelaça, de diferentes formas, com outras figuras da história.

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                                                                                                                                                                Enquanto isso, em horário bem próximo e na Record, Metamorphoses também vive sua fase de gangorra. Tem tido cenas intensas, como a operação de resgate de Thallyta (Thallyta Cardoso) e a revelação oficial de que Lia (Vanessa Lóes) na verdade é Circe (Lígia Cortez) – o que, de certa forma, compensa a falta de rumo amargada pela trama em função da sucessiva troca de autores.

                                                                                                                                                                Mas outro dia apareceu ali um flash com um dos personagens da nova fase, vivido por Ricardo Macchi. Desce, gangorra, desce.

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                                                                                                                                                                  24/06/2004 0h00

                                                                                                                                                                  Todos a postos. Na reta de chegada propriamente dita, o último capítulo de Celebridade vai ao ar amanhã. Enxugando as adiposidades inerentes a qualquer trama – a perfeição, pelo menos no mundo dos homens, não anda de braços dados com o interessante –, a novela marcou boa temporada. E isso tem muito a ver com seu autor central, Gilberto Braga, presença não assídua e muito querida na televisão.

                                                                                                                                                                  Os que andam fazendo apostas para ver quem matou Lineu (Hugo Carvana) já devem ter eliminado alguns suspeitos. Ubaldo (Gracindo Jr) seria óbvio demais. Ana Paula (Ana Beatriz Nogueira) e Yolanda (Nathália Timberg) também devem ser descartadas, uma vez que já se divulgou que ambas terminarão como sacoleiras do Andaraí – portanto, livres da prisão que, por uma questão de honra, deverá abrigar o verdadeiro assassino do empresário.

                                                                                                                                                                  Mas as suspeitas ainda não livraram a cara de alguns personagens, o que torna o jogo mais interessante para quem acompanha a história. Renato (Fábio Assunção), o mal-encarado Caetano (Roney Vilella) e até a servil Olga (Cristina Amadeo) são alguns dessa lista.

                                                                                                                                                                  Porém, como diz a deslumbrada Darlene (Deborah Secco), “atenção, realize”. Ainda é uma incógnita esse desfecho – como convém ao gênero, uma pincelada no aprendizado de Agatha Christie cai bem. Mesmo os telespectadores mais atentos podem ter surpresas; afinal, Celebridade não é uma trama de inspiração mexicana, onde os contornos de bem e mal chegam a ser ingênuos de tão nítidos.

                                                                                                                                                                  Há ainda outro fator que, este sim, torna a novela impermeável à lógica: nos últimos tempos, mesmo as histórias mais bem-amarradas podem sofrer acidentes de percurso por conta do que a mídia insiste em delegar à tal opinião pública.

                                                                                                                                                                  E isso é tão dúbio como quase tudo na vida terrena. Tem cara de democrático por se apoiar no que o povão decide como mais adequado; mas beneficia, na ponta do lápis, aquela ala que enriquece com as entrelinhas da novela. Esses são os ilustres anunciantes, que tanto nadam de braçada nos caríssimos intervalos comerciais quanto, se investirem mais alto, ainda ganham fatia nas falas dos personagens.

                                                                                                                                                                  No meio dessa fogueira, a batata que está assando é a do telespectador. Como no fim das contas tudo verte em entretenimento, melhor relaxar e aproveitar esses últimos capítulos sem se envolver muito.

                                                                                                                                                                  Divirta-se, por exemplo, tentando imaginar como é que Ubaldo conseguiu tirar das falanges das mãos todas aquelas tatuagens. De repente, apareceu sem elas. Mesmo que fosse uma remoção a laser, ostentaria cicatrizes horrendas. Coisas de novela. Viva o mundo da incoerência!

                                                                                                                                                                  Esta coluna estará temporariamente suspensa, em função das férias do titular.

                                                                                                                                                                    Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                    Arquivo Geral

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                                                                                                                                                                    Todos a postos. Na reta de chegada propriamente dita, o último capítulo de Celebridade vai ao ar amanhã. Enxugando as adiposidades inerentes a qualquer trama – a perfeição, pelo menos no mundo dos homens, não anda de braços dados com o interessante –, a novela marcou boa temporada. E isso tem muito a ver com seu autor central, Gilberto Braga, presença não assídua e muito querida na televisão.

                                                                                                                                                                    Os que andam fazendo apostas para ver quem matou Lineu (Hugo Carvana) já devem ter eliminado alguns suspeitos. Ubaldo (Gracindo Jr) seria óbvio demais. Ana Paula (Ana Beatriz Nogueira) e Yolanda (Nathália Timberg) também devem ser descartadas, uma vez que já se divulgou que ambas terminarão como sacoleiras do Andaraí – portanto, livres da prisão que, por uma questão de honra, deverá abrigar o verdadeiro assassino do empresário.

                                                                                                                                                                    Mas as suspeitas ainda não livraram a cara de alguns personagens, o que torna o jogo mais interessante para quem acompanha a história. Renato (Fábio Assunção), o mal-encarado Caetano (Roney Vilella) e até a servil Olga (Cristina Amadeo) são alguns dessa lista.

                                                                                                                                                                    Porém, como diz a deslumbrada Darlene (Deborah Secco), “atenção, realize”. Ainda é uma incógnita esse desfecho – como convém ao gênero, uma pincelada no aprendizado de Agatha Christie cai bem. Mesmo os telespectadores mais atentos podem ter surpresas; afinal, Celebridade não é uma trama de inspiração mexicana, onde os contornos de bem e mal chegam a ser ingênuos de tão nítidos.

                                                                                                                                                                    Há ainda outro fator que, este sim, torna a novela impermeável à lógica: nos últimos tempos, mesmo as histórias mais bem-amarradas podem sofrer acidentes de percurso por conta do que a mídia insiste em delegar à tal opinião pública.

                                                                                                                                                                    E isso é tão dúbio como quase tudo na vida terrena. Tem cara de democrático por se apoiar no que o povão decide como mais adequado; mas beneficia, na ponta do lápis, aquela ala que enriquece com as entrelinhas da novela. Esses são os ilustres anunciantes, que tanto nadam de braçada nos caríssimos intervalos comerciais quanto, se investirem mais alto, ainda ganham fatia nas falas dos personagens.

                                                                                                                                                                    No meio dessa fogueira, a batata que está assando é a do telespectador. Como no fim das contas tudo verte em entretenimento, melhor relaxar e aproveitar esses últimos capítulos sem se envolver muito.

                                                                                                                                                                    Divirta-se, por exemplo, tentando imaginar como é que Ubaldo conseguiu tirar das falanges das mãos todas aquelas tatuagens. De repente, apareceu sem elas. Mesmo que fosse uma remoção a laser, ostentaria cicatrizes horrendas. Coisas de novela. Viva o mundo da incoerência!

                                                                                                                                                                    Esta coluna estará temporariamente suspensa, em função das férias do titular.

                                                                                                                                                                      Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                      17/06/2004 0h00

                                                                                                                                                                      Pelo bem de nosso organismo, é recomendável aderir às refeições cada vez mais leves na parte da noite. Principalmente se a noite consome seu tempo em frente à televisão.

                                                                                                                                                                      Se a dica tem a ver com o fato de que alimentação frugal no período noturno é o melhor para a saúde, no caso do telespectador de carteirinha vale ainda mais. Você já parou para pensar na avalanche de merchandising com que a televisão nos bombardeia?

                                                                                                                                                                      Se já, também percebeu que nem sempre ignorar os intervalos comerciais propriamente ditos é a solução. A publicidade, voraz conforme rezam as conveniências do século atual, não se contenta com esses intervalos cada vez mais espaçosos. Ela se apodera de programas e, em ritmo que já se tornou impossível de ser controlado, também das novelas.

                                                                                                                                                                      Tempos massacrantes, esses. Lutar contra essa corrente predatória seria tarefa para Dom Quixote, mas isso não nos impede de refletir sobre o papel de obrigados-à-gula em que nos tornamos diante da invasão do merchandising.

                                                                                                                                                                      Faustão, Hebe Camargo, Ratinho, Sônia Abrão, Luciana Gimenez, Adriane Galisteu, Otávio Mesquita, Leão Lobo, Gilberto Barros e a maioria dos apresentadores tem embutida no contrato essa obrigação, a de vender durante seu programa. OK, faz parte. Compra, afinal, quem quer.

                                                                                                                                                                      Mas é ridículo, nem mais nem menos, o papel a que se vêm obrigados alguns atores de novelas, especialmente os de horário nobre da Globo, de declamar falas publicitárias em seus diálogos.

                                                                                                                                                                      O que tem a ver com um capítulo de Celebridade, por exemplo, determinada personagem dizer que naquela empresa só se fazem ligações interurbanas pelo 23? Ou que aquele banco é o melhor para os investimentos?

                                                                                                                                                                      Mas atenção, moçada: jamais estaria insinuando que Celebridade tem “exclusividade” nesse mercadão antidramaturgia. Não é o primeiro nem será o último folhetim a utilizar o recurso de indução ao consumo. Coisas do século.

                                                                                                                                                                      Belas atrizes, em outras situações, costumam aparecer usando cremes sobre cujas marcas o close é maior do que no corpo delas. Vera Fischer em Laços de Família, Christiane Torloni em Mulheres Apaixonadas… O boa-praça Fernando (Marcos Palmeira) já teve de ocupar preciosos minutos de um bloco da novela atual das oito apenas para aparecer tomando um isotônico da moda.

                                                                                                                                                                      Não me lembro de ter visto isso nos dramalhões do SBT. Mas ali o caso é diferente: a emissora praticamente se basta, com seus alicerces comerciais do grupo Silvio Santos, o que permite levar ao ar novelas mais enxutas. Já em Metamorphoses (Record), cujo argumento original, uma boa sacada, se perdeu com as sucessivas trocas de autores, o excesso de inserções de cenas mostrando cirurgias plásticas tem cara de lobby. Quanto alçapão!

                                                                                                                                                                        Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                        17/06/2004 0h00

                                                                                                                                                                        Pelo bem de nosso organismo, é recomendável aderir às refeições cada vez mais leves na parte da noite. Principalmente se a noite consome seu tempo em frente à televisão.

                                                                                                                                                                        Se a dica tem a ver com o fato de que alimentação frugal no período noturno é o melhor para a saúde, no caso do telespectador de carteirinha vale ainda mais. Você já parou para pensar na avalanche de merchandising com que a televisão nos bombardeia?

                                                                                                                                                                        Se já, também percebeu que nem sempre ignorar os intervalos comerciais propriamente ditos é a solução. A publicidade, voraz conforme rezam as conveniências do século atual, não se contenta com esses intervalos cada vez mais espaçosos. Ela se apodera de programas e, em ritmo que já se tornou impossível de ser controlado, também das novelas.

                                                                                                                                                                        Tempos massacrantes, esses. Lutar contra essa corrente predatória seria tarefa para Dom Quixote, mas isso não nos impede de refletir sobre o papel de obrigados-à-gula em que nos tornamos diante da invasão do merchandising.

                                                                                                                                                                        Faustão, Hebe Camargo, Ratinho, Sônia Abrão, Luciana Gimenez, Adriane Galisteu, Otávio Mesquita, Leão Lobo, Gilberto Barros e a maioria dos apresentadores tem embutida no contrato essa obrigação, a de vender durante seu programa. OK, faz parte. Compra, afinal, quem quer.

                                                                                                                                                                        Mas é ridículo, nem mais nem menos, o papel a que se vêm obrigados alguns atores de novelas, especialmente os de horário nobre da Globo, de declamar falas publicitárias em seus diálogos.

                                                                                                                                                                        O que tem a ver com um capítulo de Celebridade, por exemplo, determinada personagem dizer que naquela empresa só se fazem ligações interurbanas pelo 23? Ou que aquele banco é o melhor para os investimentos?

                                                                                                                                                                        Mas atenção, moçada: jamais estaria insinuando que Celebridade tem “exclusividade” nesse mercadão antidramaturgia. Não é o primeiro nem será o último folhetim a utilizar o recurso de indução ao consumo. Coisas do século.

                                                                                                                                                                        Belas atrizes, em outras situações, costumam aparecer usando cremes sobre cujas marcas o close é maior do que no corpo delas. Vera Fischer em Laços de Família, Christiane Torloni em Mulheres Apaixonadas… O boa-praça Fernando (Marcos Palmeira) já teve de ocupar preciosos minutos de um bloco da novela atual das oito apenas para aparecer tomando um isotônico da moda.

                                                                                                                                                                        Não me lembro de ter visto isso nos dramalhões do SBT. Mas ali o caso é diferente: a emissora praticamente se basta, com seus alicerces comerciais do grupo Silvio Santos, o que permite levar ao ar novelas mais enxutas. Já em Metamorphoses (Record), cujo argumento original, uma boa sacada, se perdeu com as sucessivas trocas de autores, o excesso de inserções de cenas mostrando cirurgias plásticas tem cara de lobby. Quanto alçapão!

                                                                                                                                                                          Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                          Arquivo Geral

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                                                                                                                                                                          Se existe uma novela que faz jus ao nome, outra não é senão Metamorphoses, da TV Record. Original em seu formato – é toda digitalizada –, a trama parece estar pagando caro o preço de seu ineditismo na televisão brasileira. E parte dessa conta é debitada na paciência do telespectador.

                                                                                                                                                                          Metamorphoses é fiel ao título porque vive mudando. Começou bem, estreando num domingo – dia em que, tradicionalmente, a programação dos canais abertos, exceção às afiliadas da TV Educativa, se mostra fraca – e sem intervalos comerciais. Assim prosseguiu durante algum tempo, destacando-se, desde então, por essa raridade que é proporcionar ao telespectador a linearidade na exibição.

                                                                                                                                                                          Porém, como o que é bom demais costuma durar pouco, logo a trama se adequou aos padrões tradicionais – afinal, trata-se de uma produção cara que precisa ser bancada. Tudo bem, isso a gente entende.

                                                                                                                                                                          A bagunça maior ainda estava por vir, a partir da saída de Tizuka Yamasaki, que assinava a direção. Desse dia em diante, a novela é uma colcha de retalhos desencontrados. Talvez por falta de mais argumentos, as cenas que mostram cirurgias ficaram mais longas, e hoje praticamente tomam um bloco inteiro, a cada capítulo. Para estudantes de Medicina, deve ser legal – se é que eles têm tempo de assistir a novelas.

                                                                                                                                                                          Mas Metamorphoses não caiu de todo no desastre, até agora, por conta de alguns personagens interessantes – entre outros poucos, Bel (Lúcia Alves) e Aspásia (Myrian Muniz). Mas esses também parecem estar se desgarrando do que a história ainda tem de original.

                                                                                                                                                                          Se alguém me perguntar que história, exatamente, se conta ali, não saberei responder. Ao suposto argumento-alicerce, que é a complicada questão do transplante facial, misturam-se envolvimentos com a Yakusa (a máfia japonesa), uma deslocada Thallyta Cardoso fazendo papel de si mesma e puxando o cordão de personagens com aparição-relâmpago no mais puro tom de reality show – sem contar com a inexplicável participação de personagens do seriado Turma do Gueto!

                                                                                                                                                                          Para simpatizantes da teledramaturgia como eu e alguns milhares espalhados pelo País, está valendo ver até onde vai essa geléia-geral. Mas não resisto a revelar o arrepio que me percorre a espinha ao pensar no que vem por aí: a segunda fase de Metamorphoses.

                                                                                                                                                                          Depois de passar por diferentes autores – José Louzeiro, Yoya Würsh, Mário Prata e Marcílio Marques –, a trama agora é de Letícia Dornelles, ex-colaboradora dos globais Manoel Carlos e Euclydes Marinho. Somem quase todos os personagens e entram em cena mais 15. Entre estes, um estará na pele de Ricardo Macchi. É cedo para apreciar. Mas quem gosta da novela, que aproveite agora o que ainda acha interessante.

                                                                                                                                                                            Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                            Arquivo Geral

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                                                                                                                                                                            Se existe uma novela que faz jus ao nome, outra não é senão Metamorphoses, da TV Record. Original em seu formato – é toda digitalizada –, a trama parece estar pagando caro o preço de seu ineditismo na televisão brasileira. E parte dessa conta é debitada na paciência do telespectador.

                                                                                                                                                                            Metamorphoses é fiel ao título porque vive mudando. Começou bem, estreando num domingo – dia em que, tradicionalmente, a programação dos canais abertos, exceção às afiliadas da TV Educativa, se mostra fraca – e sem intervalos comerciais. Assim prosseguiu durante algum tempo, destacando-se, desde então, por essa raridade que é proporcionar ao telespectador a linearidade na exibição.

                                                                                                                                                                            Porém, como o que é bom demais costuma durar pouco, logo a trama se adequou aos padrões tradicionais – afinal, trata-se de uma produção cara que precisa ser bancada. Tudo bem, isso a gente entende.

                                                                                                                                                                            A bagunça maior ainda estava por vir, a partir da saída de Tizuka Yamasaki, que assinava a direção. Desse dia em diante, a novela é uma colcha de retalhos desencontrados. Talvez por falta de mais argumentos, as cenas que mostram cirurgias ficaram mais longas, e hoje praticamente tomam um bloco inteiro, a cada capítulo. Para estudantes de Medicina, deve ser legal – se é que eles têm tempo de assistir a novelas.

                                                                                                                                                                            Mas Metamorphoses não caiu de todo no desastre, até agora, por conta de alguns personagens interessantes – entre outros poucos, Bel (Lúcia Alves) e Aspásia (Myrian Muniz). Mas esses também parecem estar se desgarrando do que a história ainda tem de original.

                                                                                                                                                                            Se alguém me perguntar que história, exatamente, se conta ali, não saberei responder. Ao suposto argumento-alicerce, que é a complicada questão do transplante facial, misturam-se envolvimentos com a Yakusa (a máfia japonesa), uma deslocada Thallyta Cardoso fazendo papel de si mesma e puxando o cordão de personagens com aparição-relâmpago no mais puro tom de reality show – sem contar com a inexplicável participação de personagens do seriado Turma do Gueto!

                                                                                                                                                                            Para simpatizantes da teledramaturgia como eu e alguns milhares espalhados pelo País, está valendo ver até onde vai essa geléia-geral. Mas não resisto a revelar o arrepio que me percorre a espinha ao pensar no que vem por aí: a segunda fase de Metamorphoses.

                                                                                                                                                                            Depois de passar por diferentes autores – José Louzeiro, Yoya Würsh, Mário Prata e Marcílio Marques –, a trama agora é de Letícia Dornelles, ex-colaboradora dos globais Manoel Carlos e Euclydes Marinho. Somem quase todos os personagens e entram em cena mais 15. Entre estes, um estará na pele de Ricardo Macchi. É cedo para apreciar. Mas quem gosta da novela, que aproveite agora o que ainda acha interessante.

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                                                                                                                                                                              Alguém me empreste um escudo, pois acho que uns e outros terão ímpeto de desferir dardos raivosos rumo a quem ousa falar mal da deliciosa Darlene que Deborah Secco encarna em Celebridade.

                                                                                                                                                                              Mas é preciso separar as coisas: nem tudo que é belo ou gostoso – a conversa é sobre seres humanos – tem, ali na ponta do lápis, algum valor que justifique qualquer menção de endeusamento. Se isso tem a ver exatamente com Darlene ou com sua intérprete, avalie o telespectador.

                                                                                                                                                                              O que me chama atenção nessa história é a amplitude que uma personagem com as características de Darlene consegue abranger. O simples desejo de ter a fama, por si só, não tem cacife para compor efeito nocivo. Mas Darlene, em termos de ignorância uma pessoa completa, tem obtido conquistas que nem beleza extrema ou “serviços especiais” fazem alguém alcançar no mundo de hoje.

                                                                                                                                                                              Para ser assunto do dia em toda a mídia, a despojada ex-manicure é capaz de quase tudo – “quase” porque, até agora, ela não matou ou roubou diretamente ninguém. Não creio que mesmo o mais encantado dos namorados fosse capaz de lhe fazer companhia em tantos desatinos – caso do bobão Inácio (Bruno Gagliasso), que dá toda corda aos delírios de Darlene.

                                                                                                                                                                              Como muita gente entende que o que se passa na telinha pode ocorrer um dia na vida real – e tal ilusão tem lá o seu lado romântico –, fico pensando em quantas “darlenes” estão aí, certas de que a glória virá a galope a partir da simples disposição de se fazer tudo pela fama.

                                                                                                                                                                              Na carreira de Deborah Secco, Darlene não é a primeira personagem com tão “brilhantes” características. Quem se lembra da aborrecente Íris, de Laços de Família? Não era nenhuma aspirante à fama, porém vivia atazanando a vida de gente boa, como a família e os mais chegados de Helena (Vera Fischer).

                                                                                                                                                                              Íris era aquele tipo de adolescente que qualquer um de nós adoraria ver… de longe, de preferência sem qualquer vínculo. Não era essencialmente má, porém revelava-se ardilosa o suficiente para atrapalhar a vida de quem quer que julgasse estar atrapalhando seu caminho. No final da história, ficou com o “prêmio” que sempre quis: casou-se com o boa-pinta rústico Pedro, o personagem de José Mayer.

                                                                                                                                                                              Em comum com Íris, a contemporânea Darlene, a deslumbrada do Andaraí, tem o fato de se inserir no centro de uma história cuja moral é a de que vale a pena aprontar tudo quando se quer algo, pois a recompensa sempre vem.

                                                                                                                                                                              Não se pode nem dizer que esse tipo de gente faz parte da ficção: a espécie humana é vasta e comporta exemplares de tudo quanto é tipo de caráter. Mas Darlene, nesse ritmo, está fazendo escola. Nem mais nem menos, está vendendo um mau exemplo. Como não é “vilã” propriamente dita, consegue tudo e ainda sai aplaudida. Que medo!

                                                                                                                                                                                Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                03/06/2004 0h00

                                                                                                                                                                                Alguém me empreste um escudo, pois acho que uns e outros terão ímpeto de desferir dardos raivosos rumo a quem ousa falar mal da deliciosa Darlene que Deborah Secco encarna em Celebridade.

                                                                                                                                                                                Mas é preciso separar as coisas: nem tudo que é belo ou gostoso – a conversa é sobre seres humanos – tem, ali na ponta do lápis, algum valor que justifique qualquer menção de endeusamento. Se isso tem a ver exatamente com Darlene ou com sua intérprete, avalie o telespectador.

                                                                                                                                                                                O que me chama atenção nessa história é a amplitude que uma personagem com as características de Darlene consegue abranger. O simples desejo de ter a fama, por si só, não tem cacife para compor efeito nocivo. Mas Darlene, em termos de ignorância uma pessoa completa, tem obtido conquistas que nem beleza extrema ou “serviços especiais” fazem alguém alcançar no mundo de hoje.

                                                                                                                                                                                Para ser assunto do dia em toda a mídia, a despojada ex-manicure é capaz de quase tudo – “quase” porque, até agora, ela não matou ou roubou diretamente ninguém. Não creio que mesmo o mais encantado dos namorados fosse capaz de lhe fazer companhia em tantos desatinos – caso do bobão Inácio (Bruno Gagliasso), que dá toda corda aos delírios de Darlene.

                                                                                                                                                                                Como muita gente entende que o que se passa na telinha pode ocorrer um dia na vida real – e tal ilusão tem lá o seu lado romântico –, fico pensando em quantas “darlenes” estão aí, certas de que a glória virá a galope a partir da simples disposição de se fazer tudo pela fama.

                                                                                                                                                                                Na carreira de Deborah Secco, Darlene não é a primeira personagem com tão “brilhantes” características. Quem se lembra da aborrecente Íris, de Laços de Família? Não era nenhuma aspirante à fama, porém vivia atazanando a vida de gente boa, como a família e os mais chegados de Helena (Vera Fischer).

                                                                                                                                                                                Íris era aquele tipo de adolescente que qualquer um de nós adoraria ver… de longe, de preferência sem qualquer vínculo. Não era essencialmente má, porém revelava-se ardilosa o suficiente para atrapalhar a vida de quem quer que julgasse estar atrapalhando seu caminho. No final da história, ficou com o “prêmio” que sempre quis: casou-se com o boa-pinta rústico Pedro, o personagem de José Mayer.

                                                                                                                                                                                Em comum com Íris, a contemporânea Darlene, a deslumbrada do Andaraí, tem o fato de se inserir no centro de uma história cuja moral é a de que vale a pena aprontar tudo quando se quer algo, pois a recompensa sempre vem.

                                                                                                                                                                                Não se pode nem dizer que esse tipo de gente faz parte da ficção: a espécie humana é vasta e comporta exemplares de tudo quanto é tipo de caráter. Mas Darlene, nesse ritmo, está fazendo escola. Nem mais nem menos, está vendendo um mau exemplo. Como não é “vilã” propriamente dita, consegue tudo e ainda sai aplaudida. Que medo!

                                                                                                                                                                                  Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                  Diz a sabedoria holística que um bom caminho para ser feliz é desenvolver a capacidade para ver as coisas por mais de um ângulo. O holismo, vale lembrar, é a filosofia que sintetiza unidades em totalidades organizadas, ou seja, considera que nada nesta vida tem um lado só. E até na teledramaturgia corriqueira podemos encontrar bons exemplos desse ensinamento sadio.

                                                                                                                                                                                  Ficou vago? Então vamos lá em Celebridade, que tem sido um celeiro farto desses exemplos. A gente pode ver isso, especialmente, naqueles personagens cujo caráter, pelo menos à primeira vista, parece, digamos assim, duvidoso.

                                                                                                                                                                                  Que Laura (Claudia Abreu) é uma tralha, todo mundo sabe. Seu perfil tem muito a ver com o da protagonista de A Malvada, aquele filme em que a personagem de Bette Davis, uma estrela cheia de manias, se deixa tomar de afeição por uma aparentemente humilde secretária – e essa secretária, habilidosamente, vai aos poucos tecendo a teia em que a patroa vai se enforcar.

                                                                                                                                                                                  Pois é: nem Laura é maldade integral. Mesmo com intenções escusas, ela reergueu o astral de Corina (Nívea Maria), dando-lhe força para se reaproximar de Lineu (Hugo Carvana). Também movida pela cobiça, ajudou Beatriz (Deborah Evelyn) a abrir seu coraçãozinho fútil e ter esperança no amor. Se bem que todos saibamos que ela não vai ter de volta seu querido Fernando (Marcos Palmeira), tá valendo.

                                                                                                                                                                                  A coquete Darlene (Deborah Secco), porta-bandeira do oportunismo, quer aparecer e nem pensa se com isso alguém pode ser prejudicado. Nem assim escapa do caleidoscópio que compõe as características humanas: resgatou a vontade de viver do BBB (bom, bonito e bobo) Inácio (Bruno Gagliasso) e, com a estonteante e também deslumbrada Jaqueline (Juliana Paes), ajudou a re-humanizar a vida de Yolanda (Nathália Timberg), outra trambiqueira.

                                                                                                                                                                                  Jaqueline, aliás, mostrou seu lado bom – atenção, estamos falando de caráter, pois o resto é óbvio – em outras oportunidades: com jeitinho, compôs para ajudar Cristiano (Alexandre Borges) e Maria Clara (Malu Mader), emprestando seu charme para seduzir e desmascarar Marcos (Marcio Garcia), Ernesto (Roberto Pirillo) e o abjeto Joel (André Barros).

                                                                                                                                                                                  Também sobrou boa cota para gente que, se originalmente não é má, pecou por ingenuidade. É o caso da doméstica Iara (Sheron Menezes), que, seduzida por Marcos, foi indiretamente responsável pela devastadora entrada do vilão na vida de Maria Clara. Agora ela ajuda a patroa com informações sobre o predador em pele de gato.

                                                                                                                                                                                  E Marcos também teve lá seu lapso de bom caráter: dia desses, demonstrou espanto real ao saber que a empresa que indicou a Beatriz está falida. No mundo dos humanos, nada tem apenas um lado. Perfeitos, só os animais.

                                                                                                                                                                                    Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                    20/05/2004 0h00

                                                                                                                                                                                    Diz a sabedoria holística que um bom caminho para ser feliz é desenvolver a capacidade para ver as coisas por mais de um ângulo. O holismo, vale lembrar, é a filosofia que sintetiza unidades em totalidades organizadas, ou seja, considera que nada nesta vida tem um lado só. E até na teledramaturgia corriqueira podemos encontrar bons exemplos desse ensinamento sadio.

                                                                                                                                                                                    Ficou vago? Então vamos lá em Celebridade, que tem sido um celeiro farto desses exemplos. A gente pode ver isso, especialmente, naqueles personagens cujo caráter, pelo menos à primeira vista, parece, digamos assim, duvidoso.

                                                                                                                                                                                    Que Laura (Claudia Abreu) é uma tralha, todo mundo sabe. Seu perfil tem muito a ver com o da protagonista de A Malvada, aquele filme em que a personagem de Bette Davis, uma estrela cheia de manias, se deixa tomar de afeição por uma aparentemente humilde secretária – e essa secretária, habilidosamente, vai aos poucos tecendo a teia em que a patroa vai se enforcar.

                                                                                                                                                                                    Pois é: nem Laura é maldade integral. Mesmo com intenções escusas, ela reergueu o astral de Corina (Nívea Maria), dando-lhe força para se reaproximar de Lineu (Hugo Carvana). Também movida pela cobiça, ajudou Beatriz (Deborah Evelyn) a abrir seu coraçãozinho fútil e ter esperança no amor. Se bem que todos saibamos que ela não vai ter de volta seu querido Fernando (Marcos Palmeira), tá valendo.

                                                                                                                                                                                    A coquete Darlene (Deborah Secco), porta-bandeira do oportunismo, quer aparecer e nem pensa se com isso alguém pode ser prejudicado. Nem assim escapa do caleidoscópio que compõe as características humanas: resgatou a vontade de viver do BBB (bom, bonito e bobo) Inácio (Bruno Gagliasso) e, com a estonteante e também deslumbrada Jaqueline (Juliana Paes), ajudou a re-humanizar a vida de Yolanda (Nathália Timberg), outra trambiqueira.

                                                                                                                                                                                    Jaqueline, aliás, mostrou seu lado bom – atenção, estamos falando de caráter, pois o resto é óbvio – em outras oportunidades: com jeitinho, compôs para ajudar Cristiano (Alexandre Borges) e Maria Clara (Malu Mader), emprestando seu charme para seduzir e desmascarar Marcos (Marcio Garcia), Ernesto (Roberto Pirillo) e o abjeto Joel (André Barros).

                                                                                                                                                                                    Também sobrou boa cota para gente que, se originalmente não é má, pecou por ingenuidade. É o caso da doméstica Iara (Sheron Menezes), que, seduzida por Marcos, foi indiretamente responsável pela devastadora entrada do vilão na vida de Maria Clara. Agora ela ajuda a patroa com informações sobre o predador em pele de gato.

                                                                                                                                                                                    E Marcos também teve lá seu lapso de bom caráter: dia desses, demonstrou espanto real ao saber que a empresa que indicou a Beatriz está falida. No mundo dos humanos, nada tem apenas um lado. Perfeitos, só os animais.

                                                                                                                                                                                      Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                      13/05/2004 0h00

                                                                                                                                                                                      Tá legal: rir continua sendo, se não o melhor remédio, uma terapia das mais saudáveis e ao alcance de todos aqueles para quem há sempre um jeito de se divertir com as entrelinhas da vida. Sob essa ótica, o riso cabe em qualquer hora – mas confesso não reconhecer mérito em forçar a barra para tornar qualquer coisa engraçada na televisão.

                                                                                                                                                                                      Isso chama atenção especialmente em novelas como a global Da Cor do Pecado. No compasso em que anda, está cada vez mais parecida com o secular Chaves, aquele seriado mexicano de mais de 30 anos que bate ponto no SBT e que costuma vencer pelo cansaço, já que ali se pratica mais caricatura do que graça propriamente dita.

                                                                                                                                                                                      Da Cor do Pecado tem o selo da faixa das sete, que, desde a última década do século passado, assinala aquelas tramas aspirantes a comédias, mas que normalmente se perdem na elaboração de determinados tipos cômicos ou se convertem em membros honorários e indevidos do clube dos humorísticos infanto-juvenis.

                                                                                                                                                                                      Por essa lama já chafurdaram novelas como Um Anjo Caiu do Céu, Andando nas Nuvens, Agora é Que São Elas e até, avançando mais no túnel do tempo, Zazá – esta última ancorada pela diva Fernanda Montenegro, cujo talento se sobressaiu, mas destoou do tom excessivamente bufão que os capítulos foram adquirindo.

                                                                                                                                                                                      Em Da Cor do Pecado, pelo menos dois núcleos andam padecendo desse status de “bobo alegre”. O primeiro é o clã dos Sardinha, composto por Edilásia (Rosi Campos), Abelardo (Caio Blat), Dionísio (Pedro Neschling), Ulisses (Leonardo Brício), Thor (Cauã Raymond), Apolo (Reynaldo Gianecchini) e a agregada Tina (Karina Bacchi).

                                                                                                                                                                                      Eles protagonizam animadas aventuras que, se estivessem no Castelo Rá-Tim-bum, por certo caberiam melhor – mas também não têm nível para esse bem-bolado programa original da TV Cultura e ao qual, aliás, Rosi Campos já emprestou sua inegável competência.

                                                                                                                                                                                      Na boa: as trapalhadas dessa turma cansam mais do que divertem. E nesse mesmo limbo do entretenimento encontra-se alojado o casal Verinha e Eduardo (Maitê Proença e Ney Latorraca). São caras e bocas em excesso, que só fazem dispersar a história.

                                                                                                                                                                                      Ney tem embutido o dom de transformar seus personagens em cômicos, mas exagera. Maitê, cujo perfil sugere papéis mais profundos que podem crescer explorando a sensualidade, também está queimando filme legal.

                                                                                                                                                                                      Sou daqueles que acham graça até no que por engraçado não se pretende passar – caso de alguns dramalhões latinos e de programas de entrevistas feitas por gente que pode ser talentosa na sua praia, jamais no jornalismo. Mas riso extraído a fórceps não dá. Vila Sésamo se encaixaria melhor nessa faixa de pseudoteledramaturgia.

                                                                                                                                                                                        Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                        13/05/2004 0h00

                                                                                                                                                                                        Tá legal: rir continua sendo, se não o melhor remédio, uma terapia das mais saudáveis e ao alcance de todos aqueles para quem há sempre um jeito de se divertir com as entrelinhas da vida. Sob essa ótica, o riso cabe em qualquer hora – mas confesso não reconhecer mérito em forçar a barra para tornar qualquer coisa engraçada na televisão.

                                                                                                                                                                                        Isso chama atenção especialmente em novelas como a global Da Cor do Pecado. No compasso em que anda, está cada vez mais parecida com o secular Chaves, aquele seriado mexicano de mais de 30 anos que bate ponto no SBT e que costuma vencer pelo cansaço, já que ali se pratica mais caricatura do que graça propriamente dita.

                                                                                                                                                                                        Da Cor do Pecado tem o selo da faixa das sete, que, desde a última década do século passado, assinala aquelas tramas aspirantes a comédias, mas que normalmente se perdem na elaboração de determinados tipos cômicos ou se convertem em membros honorários e indevidos do clube dos humorísticos infanto-juvenis.

                                                                                                                                                                                        Por essa lama já chafurdaram novelas como Um Anjo Caiu do Céu, Andando nas Nuvens, Agora é Que São Elas e até, avançando mais no túnel do tempo, Zazá – esta última ancorada pela diva Fernanda Montenegro, cujo talento se sobressaiu, mas destoou do tom excessivamente bufão que os capítulos foram adquirindo.

                                                                                                                                                                                        Em Da Cor do Pecado, pelo menos dois núcleos andam padecendo desse status de “bobo alegre”. O primeiro é o clã dos Sardinha, composto por Edilásia (Rosi Campos), Abelardo (Caio Blat), Dionísio (Pedro Neschling), Ulisses (Leonardo Brício), Thor (Cauã Raymond), Apolo (Reynaldo Gianecchini) e a agregada Tina (Karina Bacchi).

                                                                                                                                                                                        Eles protagonizam animadas aventuras que, se estivessem no Castelo Rá-Tim-bum, por certo caberiam melhor – mas também não têm nível para esse bem-bolado programa original da TV Cultura e ao qual, aliás, Rosi Campos já emprestou sua inegável competência.

                                                                                                                                                                                        Na boa: as trapalhadas dessa turma cansam mais do que divertem. E nesse mesmo limbo do entretenimento encontra-se alojado o casal Verinha e Eduardo (Maitê Proença e Ney Latorraca). São caras e bocas em excesso, que só fazem dispersar a história.

                                                                                                                                                                                        Ney tem embutido o dom de transformar seus personagens em cômicos, mas exagera. Maitê, cujo perfil sugere papéis mais profundos que podem crescer explorando a sensualidade, também está queimando filme legal.

                                                                                                                                                                                        Sou daqueles que acham graça até no que por engraçado não se pretende passar – caso de alguns dramalhões latinos e de programas de entrevistas feitas por gente que pode ser talentosa na sua praia, jamais no jornalismo. Mas riso extraído a fórceps não dá. Vila Sésamo se encaixaria melhor nessa faixa de pseudoteledramaturgia.

                                                                                                                                                                                          Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                          06/05/2004 0h00

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                                                                                                                                                                                          Na contramão de uma chuva de críticas à então única novela da Record (que parece não estar rendendo o que devia à emissora), sugiro que as peripécias de Dona Aspásia (Myrian Muniz) estão mais interessantes do que o deslumbramento de Darlene (Deborah Secco) e os clipes do Andaraí.

                                                                                                                                                                                          Como as duas novelas não se passam exatamente ao mesmo tempo, não preciso pensar duas vezes para “entrar atrasado” em Celebridade – fora o marketing abusivo, quase subliminar, a trama anda em fase boa – e me divertir com Metamorphoses.

                                                                                                                                                                                          Gozado é que Metamorphoses, até agora, tem ido ao ar com as honras de um roteiro esquizofrênico, onde cansativas tomadas de cirurgias plásticas realizadas na vida real – e se isso não é marketing, parece muito! – se misturam a enredos paralelos.

                                                                                                                                                                                          Na prática, a novela da Record está virando uma salada nipo-afro-brasileira de proporções desencontradas. Nipo porque envolve a comunidade japonesa e alguns representantes da Yakuza, a máfia do sol nascente (já estou começando a ficar com medo desses national kids do mal); afro porque a Turma do Gueto, da mesma emissora, tem cada vez mais representantes infiltrados nessa história; e brasileira porque tanta confusão combina com a colcha-de-retalhos que é o nosso País.

                                                                                                                                                                                          Como será feita a costura para dar continuidade a esse argumento (não me pergunte qual argumento, pois, se eu o soubesse, provavelmente teria me engajado a colaborar com uma história tão sem precedentes), nem imagino.

                                                                                                                                                                                          Mas, enquanto isso, saboreio alguns personagens muito densos de Metamorphoses. Minha eleita continua sendo a Dona Aspásia de Myrian Muniz, mas a Bel de Lúcia Alves é show, bem como são apetitosos os perfis de outros personagens que, aos poucos, vão se revelando intrigantes. Novela também precisa ter essa capacidade de implantar pontos de interrogação na cabeça do videota, digo, telespectador. E nisso a trama de Arlette Siaretta – ou Charlotte K, pseudônimo da desconhecida autora – é uma boa promessa.

                                                                                                                                                                                          De qualquer forma, o conflito está instalado: Metamorphoses, a primeira novela totalmente digital produzida no Brasil, flutua ao sabor das experimentações da Record. Estreou num domingo, em bloco único, anunciada como parte da grade desse único dia em que emissora nenhuma leva novela ao ar. Não comparece mais aos domingos e também perdeu essa invejável característica de ser exibida sem intervalos comerciais. Agora, mudou o horário. Deixe seu controle-remoto assegurar uma boa degustação diária da teledramaturgia.

                                                                                                                                                                                            Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                            Se bem entendi, a Record está ensaiando uma concorrência com a Globo logo na faixa nobre, ao encostar a novela Metamorphoses no horário em que a todo-poderosa leva ao ar Celebridade.

                                                                                                                                                                                            Na contramão de uma chuva de críticas à então única novela da Record (que parece não estar rendendo o que devia à emissora), sugiro que as peripécias de Dona Aspásia (Myrian Muniz) estão mais interessantes do que o deslumbramento de Darlene (Deborah Secco) e os clipes do Andaraí.

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                                                                                                                                                                                            Como será feita a costura para dar continuidade a esse argumento (não me pergunte qual argumento, pois, se eu o soubesse, provavelmente teria me engajado a colaborar com uma história tão sem precedentes), nem imagino.

                                                                                                                                                                                            Mas, enquanto isso, saboreio alguns personagens muito densos de Metamorphoses. Minha eleita continua sendo a Dona Aspásia de Myrian Muniz, mas a Bel de Lúcia Alves é show, bem como são apetitosos os perfis de outros personagens que, aos poucos, vão se revelando intrigantes. Novela também precisa ter essa capacidade de implantar pontos de interrogação na cabeça do videota, digo, telespectador. E nisso a trama de Arlette Siaretta – ou Charlotte K, pseudônimo da desconhecida autora – é uma boa promessa.

                                                                                                                                                                                            De qualquer forma, o conflito está instalado: Metamorphoses, a primeira novela totalmente digital produzida no Brasil, flutua ao sabor das experimentações da Record. Estreou num domingo, em bloco único, anunciada como parte da grade desse único dia em que emissora nenhuma leva novela ao ar. Não comparece mais aos domingos e também perdeu essa invejável característica de ser exibida sem intervalos comerciais. Agora, mudou o horário. Deixe seu controle-remoto assegurar uma boa degustação diária da teledramaturgia.

                                                                                                                                                                                              Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                              Arquivo Geral

                                                                                                                                                                                              29/04/2004 0h00

                                                                                                                                                                                              Spa para todos de Celebridade! Em meio ao turbilhão de malvadezas que vem tomando corpo na história desde o início da novela, alguns personagens aparentam os primeiros sinais de estresse. Natural, coitados. Viver em campo minado há de ser mesmo muito cansativo.

                                                                                                                                                                                              Mas, do lado de cá da telinha, essas pequenas “rateadas” soam mais para divertidas – embora sinalizem, claramente, cochilos da própria direção da trama. Dia desses, por exemplo, Renato (Fábio Assunção) se referiu a Marcos (Márcio Garcia) como Márcio – portanto, era uma fala do personagem para o colega de trabalho. E passou batida. Paulo César (Paulinho Vilhena) também escorregou num capítulo ao chamar Sandra (Juliana Knust) de Ju.

                                                                                                                                                                                              Faz parte. Em ritmo de overdose de cenas diárias gravadas, atores que vivem personagens de aparição mais freqüente correm esse risco – ainda mais que, em Celebridade, assíduas mesmo têm sido as participações-relâmpago dos famosos que fazem o papel de si próprios. Dá confusão.

                                                                                                                                                                                              Se deslizes desse tipo são facilmente perceptíveis no núcleo dos personagens de atuação constante, imagine no universo daqueles secundários… As figuras incidentais, pode reparar, andam perdidas como baratas que saboreiam os efeitos colaterais de inseticidas (bem Níquel Náusea, aqueles quadrinhos em que os insetos curtem com a cara dos humanos depois de descobrirem que alguns venenos “dão barato”).

                                                                                                                                                                                              A pelo menos um desses personagens incidentais, sugiro um prêmio de assiduidade no final da história: aquela criatura que dirige o Chevette Marajó verde-água pelas ruas do Andaraí. Essa figurante trabalha duro, pois aparece em toda e qualquer tomada externa que se faz naquele Andaraí que, até o final da novela, estará com status de Sítio do Picapau Amarelo, pois aparece como o melhor lugar do mundo.

                                                                                                                                                                                              Pode reparar, que você vai ver: falou em rua do Andaraí, a Marajó logo aparece fazendo uma curva. Quem sabe a produção está criando uma boa oportunidade para essa coadjuvante (é uma mulher) treinar bastante para o exame de motorista? Afinal, ali é tudo cenográfico mesmo!

                                                                                                                                                                                              Pelo lado divertido da história – pois a real é que isso reflete cochilo da direção de cena –, proponho um brinde aos incidentais. E essa Marajó merece até homenagem no Espaço Fama, aquele local que, assim como o onipresente Nick Bar de Mulheres Apaixonadas, parece ser o único point em que todos os bambambãs se encontram.

                                                                                                                                                                                              Mais curioso do que a Marajó-de-toda-hora é observar que também as locações públicas se repetem. Repare, por exemplo, que em novelas de época as pracinhas, igrejas e prédios de prefeitura são reaproveitáveis. A ralação é geral. Ruim é ver o mesmo recurso utilizado nas cada vez mais invasivas inserções comerciais.

                                                                                                                                                                                                Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                Arquivo Geral

                                                                                                                                                                                                29/04/2004 0h00

                                                                                                                                                                                                Spa para todos de Celebridade! Em meio ao turbilhão de malvadezas que vem tomando corpo na história desde o início da novela, alguns personagens aparentam os primeiros sinais de estresse. Natural, coitados. Viver em campo minado há de ser mesmo muito cansativo.

                                                                                                                                                                                                Mas, do lado de cá da telinha, essas pequenas “rateadas” soam mais para divertidas – embora sinalizem, claramente, cochilos da própria direção da trama. Dia desses, por exemplo, Renato (Fábio Assunção) se referiu a Marcos (Márcio Garcia) como Márcio – portanto, era uma fala do personagem para o colega de trabalho. E passou batida. Paulo César (Paulinho Vilhena) também escorregou num capítulo ao chamar Sandra (Juliana Knust) de Ju.

                                                                                                                                                                                                Faz parte. Em ritmo de overdose de cenas diárias gravadas, atores que vivem personagens de aparição mais freqüente correm esse risco – ainda mais que, em Celebridade, assíduas mesmo têm sido as participações-relâmpago dos famosos que fazem o papel de si próprios. Dá confusão.

                                                                                                                                                                                                Se deslizes desse tipo são facilmente perceptíveis no núcleo dos personagens de atuação constante, imagine no universo daqueles secundários… As figuras incidentais, pode reparar, andam perdidas como baratas que saboreiam os efeitos colaterais de inseticidas (bem Níquel Náusea, aqueles quadrinhos em que os insetos curtem com a cara dos humanos depois de descobrirem que alguns venenos “dão barato”).

                                                                                                                                                                                                A pelo menos um desses personagens incidentais, sugiro um prêmio de assiduidade no final da história: aquela criatura que dirige o Chevette Marajó verde-água pelas ruas do Andaraí. Essa figurante trabalha duro, pois aparece em toda e qualquer tomada externa que se faz naquele Andaraí que, até o final da novela, estará com status de Sítio do Picapau Amarelo, pois aparece como o melhor lugar do mundo.

                                                                                                                                                                                                Pode reparar, que você vai ver: falou em rua do Andaraí, a Marajó logo aparece fazendo uma curva. Quem sabe a produção está criando uma boa oportunidade para essa coadjuvante (é uma mulher) treinar bastante para o exame de motorista? Afinal, ali é tudo cenográfico mesmo!

                                                                                                                                                                                                Pelo lado divertido da história – pois a real é que isso reflete cochilo da direção de cena –, proponho um brinde aos incidentais. E essa Marajó merece até homenagem no Espaço Fama, aquele local que, assim como o onipresente Nick Bar de Mulheres Apaixonadas, parece ser o único point em que todos os bambambãs se encontram.

                                                                                                                                                                                                Mais curioso do que a Marajó-de-toda-hora é observar que também as locações públicas se repetem. Repare, por exemplo, que em novelas de época as pracinhas, igrejas e prédios de prefeitura são reaproveitáveis. A ralação é geral. Ruim é ver o mesmo recurso utilizado nas cada vez mais invasivas inserções comerciais.

                                                                                                                                                                                                  Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                  22/04/2004 0h00

                                                                                                                                                                                                  Honrosa exceção aos museus, ninguém vive do passado. Nem por isso o moderno significa evolução – basta observar a atualidade em que se encontram imersos os programas de auditório freqüentados por gente disposta a “lavar roupa suja” em público. Essa baixaria contemporânea é um genuíno aperitivo para saudades de tempos menos contaminados.

                                                                                                                                                                                                  E é a própria televisão quem nos acena, vez por outra, com o gostinho do passado sadio. Desenhos animados de Walt Disney e da dupla Hanna & Barbera, por exemplo, já ultrapassaram a casa dos 50 anos e resistem a muita novidade na área.

                                                                                                                                                                                                  O mesmo vale para seriados que remetem aos primeiros tempos da televisão no Brasil – caso de Jeannie é um Gênio e A Feiticeira. São velhos conhecidos de um público que, hoje já com idade para ter netos e às vezes até bisnetos, ainda pode dividir risada com as novas gerações assistindo às mesmas histórias.

                                                                                                                                                                                                  A Rede 21, em Brasília transmitida pela TV Brasília, aposta no “valor nutritivo” desses produtos. De sua grade fazem parte não só as aventuras da mulher que mora numa garrafa encantada e as da feiticeira híbrida (porque quebrou a regra e casou-se com um humano), como também coisas pitorescas do tipo Casal 20, de pé fincado firme nos anos 70.

                                                                                                                                                                                                  Aposto que, vez por outra, até a geração que nasceu muito depois disso se empolga com essas histórias. Arrisco-me a dizer que, comparadas a algumas outras contemporâneas, têm mais emoção. O fato é que não caíram do galho, destino ao qual estão fadados alguns modismos.

                                                                                                                                                                                                  De uma forma diferente da apresentada pela Rede 21, que aposta na enxutez de algumas reprises desses programas do século passado, o SBT também costuma dar sua contribuição na hora de lembrar ao distinto telespectador que tempo decorrido não é certificado de invalidez.

                                                                                                                                                                                                  E quem orquestra bem esse resgate é justamente Ratinho, aquele em cujo programa a baixaria não pode ser reprovada por infreqüência. Ratinho é uma grata prova de que nada na vida tem um lado só – e seu outro lado costuma bater ponto na valorização de gente que está esquecida.

                                                                                                                                                                                                  Pelo quadro Boteco do Ratinho passam sempre artistas que parecem ter sido varridos para debaixo do tapete da mídia. As cantoras Vanusa, Wanderléa, Cláudia Barroso compõem esse balaio e vivem por ali. A despeito do estilo, que evidentemente não é consenso universal, elas ainda não penduraram as chuteiras e também não encontraram similares à altura. Ratinho traz à tona todo esse pessoal – as passas que já foram uvas –, mostrando que estão na ativa.

                                                                                                                                                                                                  Nada contra a impermanência das coisas – o que é a vida se não uma passagem? Mas muito do que a mídia decreta como ultrapassado ainda tem vitaminas. Só não vende.

                                                                                                                                                                                                    Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                    22/04/2004 0h00

                                                                                                                                                                                                    Honrosa exceção aos museus, ninguém vive do passado. Nem por isso o moderno significa evolução – basta observar a atualidade em que se encontram imersos os programas de auditório freqüentados por gente disposta a “lavar roupa suja” em público. Essa baixaria contemporânea é um genuíno aperitivo para saudades de tempos menos contaminados.

                                                                                                                                                                                                    E é a própria televisão quem nos acena, vez por outra, com o gostinho do passado sadio. Desenhos animados de Walt Disney e da dupla Hanna & Barbera, por exemplo, já ultrapassaram a casa dos 50 anos e resistem a muita novidade na área.

                                                                                                                                                                                                    O mesmo vale para seriados que remetem aos primeiros tempos da televisão no Brasil – caso de Jeannie é um Gênio e A Feiticeira. São velhos conhecidos de um público que, hoje já com idade para ter netos e às vezes até bisnetos, ainda pode dividir risada com as novas gerações assistindo às mesmas histórias.

                                                                                                                                                                                                    A Rede 21, em Brasília transmitida pela TV Brasília, aposta no “valor nutritivo” desses produtos. De sua grade fazem parte não só as aventuras da mulher que mora numa garrafa encantada e as da feiticeira híbrida (porque quebrou a regra e casou-se com um humano), como também coisas pitorescas do tipo Casal 20, de pé fincado firme nos anos 70.

                                                                                                                                                                                                    Aposto que, vez por outra, até a geração que nasceu muito depois disso se empolga com essas histórias. Arrisco-me a dizer que, comparadas a algumas outras contemporâneas, têm mais emoção. O fato é que não caíram do galho, destino ao qual estão fadados alguns modismos.

                                                                                                                                                                                                    De uma forma diferente da apresentada pela Rede 21, que aposta na enxutez de algumas reprises desses programas do século passado, o SBT também costuma dar sua contribuição na hora de lembrar ao distinto telespectador que tempo decorrido não é certificado de invalidez.

                                                                                                                                                                                                    E quem orquestra bem esse resgate é justamente Ratinho, aquele em cujo programa a baixaria não pode ser reprovada por infreqüência. Ratinho é uma grata prova de que nada na vida tem um lado só – e seu outro lado costuma bater ponto na valorização de gente que está esquecida.

                                                                                                                                                                                                    Pelo quadro Boteco do Ratinho passam sempre artistas que parecem ter sido varridos para debaixo do tapete da mídia. As cantoras Vanusa, Wanderléa, Cláudia Barroso compõem esse balaio e vivem por ali. A despeito do estilo, que evidentemente não é consenso universal, elas ainda não penduraram as chuteiras e também não encontraram similares à altura. Ratinho traz à tona todo esse pessoal – as passas que já foram uvas –, mostrando que estão na ativa.

                                                                                                                                                                                                    Nada contra a impermanência das coisas – o que é a vida se não uma passagem? Mas muito do que a mídia decreta como ultrapassado ainda tem vitaminas. Só não vende.

                                                                                                                                                                                                      Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                      15/04/2004 0h00

                                                                                                                                                                                                      Desce do coqueiro, baby: O que foi aquela última “lavagem de roupa suja”, de praxe dos ex-participantes do Big Brother Brasil? O buraco é bem mais embaixo. E cuidado, moçada, pois ele esteve posicionado bem à sua frente durante três meses, fantasiado de um divertido reality show.

                                                                                                                                                                                                      Além de ser, originalmente, “o olho que tudo vê”, o que é, afinal, o Big Brother? Uma mina de dinheiro. Mas não se iluda: os R$ 500 mil depositados na conta do vencedor, mais toda a grana que no final cada um dos participantes recebe e os carros estalando de novos, “doados” pela Fiat, são apenas parte pequena dessa torneirinha mágica. Além dos telefonemas devidamente tarifados por meio dos quais o público escolhe quem fica e quem sai, o programa é uma admirável fonte de recursos para a emissora.

                                                                                                                                                                                                      Até aí, normal: faturar não faz mal a ninguém. Só me pergunto o que é que, efetivamente, um programa nesses moldes traz de consistente para o telespectador. Instiga a perigosa tendência humana de julgar, projetar frustrações, criar preconceitos e… Emburrecer, que é o passo mais próximo destinado a quem embarca na roubada que é “estabelecer” valores.

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                                                                                                                                                                                                      Outro resultado não poderia ter dado a “lavagem de roupa suja” desta edição senão, além do desastre que foi para quem assistiu ao encontro, o visível constrangimento do próprio Pedro Bial, profissional da maior competência a quem a Glogo destinou justamente o mico de ser apresentador e mediador dessa comédia grotesca.

                                                                                                                                                                                                      Big Brother Brasil, cujo formato original é importado, infelizmente reflete a institucionalização do incentivo ao emburrecimento pela mídia. Arranjam-se 12 cobaias – vá lá, R$ 500 mil em jogo não é cifra desprezível –, colocam-nas em confinamento cercadas de câmeras indiscretas por todos os cantos, editam-se as imagens, vende-se o monitoramento 24 horas somente para canais pagos, devassam-se intimidades e exploram-se fraquezas.

                                                                                                                                                                                                      A destacar que, pela assim chamada seleção dos candidatos, só passam os mais enxutos – gente que pode render fotos no Paparazzo (site da Globo) ou em publicações especializadas como a Playboy e a G Magazine. Com um pouco mais de sorte, uns migram para pontas em novelas. Ao telespectador, cabe divertir-se (e negar que há momentos divertidos seria ranzinza) e, aí sim, ser laçado pelos disputados e caríssimos intervalos comerciais. Quem faturou mais?

                                                                                                                                                                                                        Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                        15/04/2004 0h00

                                                                                                                                                                                                        Desce do coqueiro, baby: O que foi aquela última “lavagem de roupa suja”, de praxe dos ex-participantes do Big Brother Brasil? O buraco é bem mais embaixo. E cuidado, moçada, pois ele esteve posicionado bem à sua frente durante três meses, fantasiado de um divertido reality show.

                                                                                                                                                                                                        Além de ser, originalmente, “o olho que tudo vê”, o que é, afinal, o Big Brother? Uma mina de dinheiro. Mas não se iluda: os R$ 500 mil depositados na conta do vencedor, mais toda a grana que no final cada um dos participantes recebe e os carros estalando de novos, “doados” pela Fiat, são apenas parte pequena dessa torneirinha mágica. Além dos telefonemas devidamente tarifados por meio dos quais o público escolhe quem fica e quem sai, o programa é uma admirável fonte de recursos para a emissora.

                                                                                                                                                                                                        Até aí, normal: faturar não faz mal a ninguém. Só me pergunto o que é que, efetivamente, um programa nesses moldes traz de consistente para o telespectador. Instiga a perigosa tendência humana de julgar, projetar frustrações, criar preconceitos e… Emburrecer, que é o passo mais próximo destinado a quem embarca na roubada que é “estabelecer” valores.

                                                                                                                                                                                                        Solange fala errado? Muito. Mas isso é mais trágico do que cômico, na medida em que reflete a realidade do acesso à educação oferecido por nosso país de tantos contrastes. Grotesco é expor a moça a tanto ridículo – como foi, em Zorra Total, a representação de sua figura por Tom Cavalcante contracenando logo com Marcela, a Mama, que com Solange protagonizou um dos barracos mais estúpidos da temporada BBB4.

                                                                                                                                                                                                        Outro resultado não poderia ter dado a “lavagem de roupa suja” desta edição senão, além do desastre que foi para quem assistiu ao encontro, o visível constrangimento do próprio Pedro Bial, profissional da maior competência a quem a Glogo destinou justamente o mico de ser apresentador e mediador dessa comédia grotesca.

                                                                                                                                                                                                        Big Brother Brasil, cujo formato original é importado, infelizmente reflete a institucionalização do incentivo ao emburrecimento pela mídia. Arranjam-se 12 cobaias – vá lá, R$ 500 mil em jogo não é cifra desprezível –, colocam-nas em confinamento cercadas de câmeras indiscretas por todos os cantos, editam-se as imagens, vende-se o monitoramento 24 horas somente para canais pagos, devassam-se intimidades e exploram-se fraquezas.

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                                                                                                                                                                                                          Nem Maria Clara nem Laura: celebridade mesmo é Yolanda, de Um Só Coração, minissérie que termina hoje na Globo e vai deixar saudades. Sem comparações, claro: tanto Claudia Abreu quanto Malu Mader batem bola legal na novela global das oito, vivendo, respectivamente, a vilã e a maravilhosa. Mas, novela sempre tem um ponto em que se torna repetitiva e minissérie é outro papo.

                                                                                                                                                                                                          Um Só Coração não fez diferente na história da teledramaturgia ocasional da Globo: onde a poderosa emissora emplaca uma minissérie, você pode apostar que o produto é nota dez. Como a história vai terminar, todo mundo já sabe mais ou menos: a bela Yolanda (Ana Paula Arósio) deve ficar com aquele que foi o grande amor de sua vida, Martim (Erik Marmo). Mas nem isso tira o encanto da atração.

                                                                                                                                                                                                          Minisséries dão de dez nas novelas, para começar, porque são produtos enxutos, quase objetivos – e uma minissérie só não é integralmente objetiva porque, se o fosse, faria parte da categoria dos documentários, não da ficção.

                                                                                                                                                                                                          Um Só Coração segue a cartilha das minisséries – a de se fundamentar em personagens da vida real, não necessariamente reproduzindo a história conforme ela se passou. Mas não escorrega em obviedades ou enganações – o que é outra característica louvável das minisséries –, diferenciando-se, com larga vantagem, do novelário.

                                                                                                                                                                                                          Ana Paula Arósio, mais uma vez, surge em um papel de época – e quem por acaso já a viu na televisão fora desse gênero? –, encorpando uma personagem de grande densidade, que é Yolanda Penteado. Ao redor dela é que se desenvolveram todas as tramas, situadas num contexto importante da história brasileira, em especial a de São Paulo, que foi a época da Segunda Guerra Mundial.

                                                                                                                                                                                                          Produção, roteiro, direção e elenco foram felizes em Um Só Coração. E isso tem um pouco a ver com o fato de se tratar de uma história que não comporta alongamentos desnecessários. Já pensou que coisa horrenda seria se roteiros de minisséries pudessem ser alterados de acordo com “a vontade do povo” detectada nessas pesquisas estranhas que, ao final, favorecem mesmo é ao anunciante dos intervalos? Já imaginou uma preciosidade como Um Só Coração sendo alvo do marketing invasivo que já faz parte do cotidiano das novelas?

                                                                                                                                                                                                          O sucesso da minissérie, não duvide, também se deve ao quilate de peças importantes desse elenco. Nesses últimos capítulos, além da grata surpresa que foi Camila Morgado entrar na história no papel de Cacilda Becker, até Tonia Carrero e Paulo Autran marcaram presença. Se seu sono não resistiu – a atração vai ao ar um pouco tarde – e você acabou não assistindo a quase nada de Um Só Coração, aproveite para fazê-lo hoje, no capítulo final. Não tão cedo virá algo tão substancioso.

                                                                                                                                                                                                            Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                            Nem Maria Clara nem Laura: celebridade mesmo é Yolanda, de Um Só Coração, minissérie que termina hoje na Globo e vai deixar saudades. Sem comparações, claro: tanto Claudia Abreu quanto Malu Mader batem bola legal na novela global das oito, vivendo, respectivamente, a vilã e a maravilhosa. Mas, novela sempre tem um ponto em que se torna repetitiva e minissérie é outro papo.

                                                                                                                                                                                                            Um Só Coração não fez diferente na história da teledramaturgia ocasional da Globo: onde a poderosa emissora emplaca uma minissérie, você pode apostar que o produto é nota dez. Como a história vai terminar, todo mundo já sabe mais ou menos: a bela Yolanda (Ana Paula Arósio) deve ficar com aquele que foi o grande amor de sua vida, Martim (Erik Marmo). Mas nem isso tira o encanto da atração.

                                                                                                                                                                                                            Minisséries dão de dez nas novelas, para começar, porque são produtos enxutos, quase objetivos – e uma minissérie só não é integralmente objetiva porque, se o fosse, faria parte da categoria dos documentários, não da ficção.

                                                                                                                                                                                                            Um Só Coração segue a cartilha das minisséries – a de se fundamentar em personagens da vida real, não necessariamente reproduzindo a história conforme ela se passou. Mas não escorrega em obviedades ou enganações – o que é outra característica louvável das minisséries –, diferenciando-se, com larga vantagem, do novelário.

                                                                                                                                                                                                            Ana Paula Arósio, mais uma vez, surge em um papel de época – e quem por acaso já a viu na televisão fora desse gênero? –, encorpando uma personagem de grande densidade, que é Yolanda Penteado. Ao redor dela é que se desenvolveram todas as tramas, situadas num contexto importante da história brasileira, em especial a de São Paulo, que foi a época da Segunda Guerra Mundial.

                                                                                                                                                                                                            Produção, roteiro, direção e elenco foram felizes em Um Só Coração. E isso tem um pouco a ver com o fato de se tratar de uma história que não comporta alongamentos desnecessários. Já pensou que coisa horrenda seria se roteiros de minisséries pudessem ser alterados de acordo com “a vontade do povo” detectada nessas pesquisas estranhas que, ao final, favorecem mesmo é ao anunciante dos intervalos? Já imaginou uma preciosidade como Um Só Coração sendo alvo do marketing invasivo que já faz parte do cotidiano das novelas?

                                                                                                                                                                                                            O sucesso da minissérie, não duvide, também se deve ao quilate de peças importantes desse elenco. Nesses últimos capítulos, além da grata surpresa que foi Camila Morgado entrar na história no papel de Cacilda Becker, até Tonia Carrero e Paulo Autran marcaram presença. Se seu sono não resistiu – a atração vai ao ar um pouco tarde – e você acabou não assistindo a quase nada de Um Só Coração, aproveite para fazê-lo hoje, no capítulo final. Não tão cedo virá algo tão substancioso.

                                                                                                                                                                                                              Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                              25/03/2004 0h00

                                                                                                                                                                                                              Em off, a voz grave e envolvente de Marília Gabriela mandou essa, na segunda-feira última, quando um especial transmitido diretamente da Estação da Luz, em São Paulo, comemorava os 18 anos de Hebe Camargo no SBT: “Vocês já repararam que nada do que ela faça, por mais absurdo, parece vulgar?”.

                                                                                                                                                                                                              Mais apropriado, impossível. Hebe Camargo, que Marília considera “maior que o tempo”, é muito mais do que uma apresentadora bem-sucedida. Do alto de seus 60 anos de carreira, festejados na mesma data – que também assinala a passagem de seus 75 anos de vida –, Hebe é elemento de vulto na história da televisão brasileira. Deixou de ser nome para virar marca. E marca de respeito.

                                                                                                                                                                                                              Sua platéia, naquela segunda-feira, nunca esteve tão eclética. Num mesmo auditório podiam ser vistas figuras como Gilberto Gil, Dercy Gonçalves, Beatriz Segall, Kelly Key, Moacyr Franco, Thereza Collor, Carlos Datena, Marta Suplicy e uma extensa constelação de celebridades que dificilmente seriam vistas numa mesma confraternização. Nem a mesa do Chapeleiro Louco, de Alice no País das Maravilhas, era tão diversificada.

                                                                                                                                                                                                              Hebe é um fenômeno porque, além de ter inaugurado a televisão no Brasil, tem atravessado o tempo firme no estilo que a consagrou. E que, bom lembrar, não tem como ser copiado, sequer servindo de fonte inspiradora – porque Hebe Camargo é imortalizada como personagem de si própria, sem precisar forçar a barra.

                                                                                                                                                                                                              “Eu só digo aquilo que penso”, assegurou a homenageada, reluzente num modelito para o qual pareciam ter convergido todas as estrelas do céu. Excessos que, no caso de Hebe, se tornam simpáticos e ajustados feito luvas. Ela se compõe da maneira que gosta de se ver, nem mais nem menos.

                                                                                                                                                                                                              Hebe transmite ao público essa exata sensação de ser feliz como é, com direito a se produzir como bem lhe convém, a não estar criteriosamente bem-informada sobre todo assunto que aborde e, mais importante, a ser a porta-voz de uma série de indignações. Sobretudo quando se trata de protestar contra desigualdades e maracutaias.

                                                                                                                                                                                                              Detalhes assim fazem de Hebe uma figura de boa amplitude na televisão, essa máquina de ilusões que comporta a um mesmo tempo a utilidade e a futilidade – em proporções desiguais cotidianamente identificáveis, na maioria dos canais abertos, pelo predomínio do alienante sobre o aproveitável.

                                                                                                                                                                                                              Mas nossa diva loiruda ainda desponta em sua singularidade até quando a desinformação ocasional que não raro se abate sobre ela em alguma entrevista vem à tona. Independentemente de suas simpatias pessoais ou políticas, ela é autêntica. Inclusive na abertura para o novo e no respeito que demonstra para com a diversidade dos tipos humanos.

                                                                                                                                                                                                                Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                25/03/2004 0h00

                                                                                                                                                                                                                Em off, a voz grave e envolvente de Marília Gabriela mandou essa, na segunda-feira última, quando um especial transmitido diretamente da Estação da Luz, em São Paulo, comemorava os 18 anos de Hebe Camargo no SBT: “Vocês já repararam que nada do que ela faça, por mais absurdo, parece vulgar?”.

                                                                                                                                                                                                                Mais apropriado, impossível. Hebe Camargo, que Marília considera “maior que o tempo”, é muito mais do que uma apresentadora bem-sucedida. Do alto de seus 60 anos de carreira, festejados na mesma data – que também assinala a passagem de seus 75 anos de vida –, Hebe é elemento de vulto na história da televisão brasileira. Deixou de ser nome para virar marca. E marca de respeito.

                                                                                                                                                                                                                Sua platéia, naquela segunda-feira, nunca esteve tão eclética. Num mesmo auditório podiam ser vistas figuras como Gilberto Gil, Dercy Gonçalves, Beatriz Segall, Kelly Key, Moacyr Franco, Thereza Collor, Carlos Datena, Marta Suplicy e uma extensa constelação de celebridades que dificilmente seriam vistas numa mesma confraternização. Nem a mesa do Chapeleiro Louco, de Alice no País das Maravilhas, era tão diversificada.

                                                                                                                                                                                                                Hebe é um fenômeno porque, além de ter inaugurado a televisão no Brasil, tem atravessado o tempo firme no estilo que a consagrou. E que, bom lembrar, não tem como ser copiado, sequer servindo de fonte inspiradora – porque Hebe Camargo é imortalizada como personagem de si própria, sem precisar forçar a barra.

                                                                                                                                                                                                                “Eu só digo aquilo que penso”, assegurou a homenageada, reluzente num modelito para o qual pareciam ter convergido todas as estrelas do céu. Excessos que, no caso de Hebe, se tornam simpáticos e ajustados feito luvas. Ela se compõe da maneira que gosta de se ver, nem mais nem menos.

                                                                                                                                                                                                                Hebe transmite ao público essa exata sensação de ser feliz como é, com direito a se produzir como bem lhe convém, a não estar criteriosamente bem-informada sobre todo assunto que aborde e, mais importante, a ser a porta-voz de uma série de indignações. Sobretudo quando se trata de protestar contra desigualdades e maracutaias.

                                                                                                                                                                                                                Detalhes assim fazem de Hebe uma figura de boa amplitude na televisão, essa máquina de ilusões que comporta a um mesmo tempo a utilidade e a futilidade – em proporções desiguais cotidianamente identificáveis, na maioria dos canais abertos, pelo predomínio do alienante sobre o aproveitável.

                                                                                                                                                                                                                Mas nossa diva loiruda ainda desponta em sua singularidade até quando a desinformação ocasional que não raro se abate sobre ela em alguma entrevista vem à tona. Independentemente de suas simpatias pessoais ou políticas, ela é autêntica. Inclusive na abertura para o novo e no respeito que demonstra para com a diversidade dos tipos humanos.

                                                                                                                                                                                                                  Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                  Arquivo Geral

                                                                                                                                                                                                                  18/03/2004 0h00

                                                                                                                                                                                                                  Kon-bon-wa, galera do sofá: que tal um pulinho em Tóquio com direito a pular para São Paulo num piscar de olhos? Assistindo a Metamorphoses, a novela da Record, essa viagem fantástica, pelo menos em nível virtual, é possível.

                                                                                                                                                                                                                  As cenas se alternam entre a capital japonesa, sede do núcleo encrencado, e a metrópole dos bandeirantes, onde fica a luxuosa clínica de cirurgia plástica que dá nome à trama da Casablanca, produtora independente que se aliou à Record para veicular este folhetim de características inéditas.

                                                                                                                                                                                                                  A originalidade começa com o formato adotado: Metamorphoses é toda digitalizada, o que confere às imagens uma qualidade cinematográfica. E, indo direto ao que interessa – a história, claro –, tais recursos ajudam a compor um enredo que, pelo menos nesses primeiros capítulos, não remete a nada parecido com o que apresentam os outros canais noveleiros.

                                                                                                                                                                                                                  O argumento não poderia ser mais estranho: trocas de rosto. Com a devida licença para ficção, creio que isso rende no folhetim. Logo no segundo capítulo, a dra. Circe (Lígia Cortez), praticamente abduzida de sua festa de lua-de-mel para Tóquio, foi obrigada a operar o chefão da Yakuza, que lhe apresentou uma foto com a face idealizada.

                                                                                                                                                                                                                  “Impossível!”, exclamou a pobre coitada, escorada no fato de que ali havia linhas incompatíveis para que tal cirurgia fosse um sucesso. Apenas obedeça, Circe. Você está envolvida com a máfia japonesa, o que é muito mais grave do que bater num carro de fibra ou esquecer de declarar imposto de renda.

                                                                                                                                                                                                                  Essa adrenalina inicial já está lançando dardos. Ontem, por exemplo, o marido de Circe cometeu harakiri, o suicídio ritualizado à moda dos samurais. Acha muito? Pois hoje vai rolar um acidente terrível com Circe (já no Brasil) e sua meia-irmã Lia (Vanessa Lóes). A primeira já tem o pé na cova, pois a Yakuza anda em seu encalço; mas é Lia quem ficará em estado grave, e, num gesto fraterno – até porque vai morrer mesmo –, oferecerá seu rosto a Circe. A nova criatura será, então, Circe, mas com o rosto de Lia – não só rosto, como corpo e voz, o que não resiste a um átomo de lógica, mas novela também não é ciência…

                                                                                                                                                                                                                  Com tanta ação, quase não tem havido pausas para relaxar nesses capítulos – exibidos, oba, num único bloco, sem intervalo comercial. Mas elas existem, e o tempo se encarregará de mostrar. O elenco, afinal, é de respeito. Uma dessas brechas na tensão cotidiana de Metamorphoses há de ser a impagável Aspásia de Myrian Muniz, atriz doutorada em compor tipos inesquecíveis. Preste atenção em Aspásia, senhora aristocrática do clã da família médica e que, acometida por alguma disfunção ou talvez puramente pela idade avançada, é aquela que diz o que pensa na hora em que menos se espera, constrangendo e divertindo. Das minhas, essa.

                                                                                                                                                                                                                    Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                    18/03/2004 0h00

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                                                                                                                                                                                                                    As cenas se alternam entre a capital japonesa, sede do núcleo encrencado, e a metrópole dos bandeirantes, onde fica a luxuosa clínica de cirurgia plástica que dá nome à trama da Casablanca, produtora independente que se aliou à Record para veicular este folhetim de características inéditas.

                                                                                                                                                                                                                    A originalidade começa com o formato adotado: Metamorphoses é toda digitalizada, o que confere às imagens uma qualidade cinematográfica. E, indo direto ao que interessa – a história, claro –, tais recursos ajudam a compor um enredo que, pelo menos nesses primeiros capítulos, não remete a nada parecido com o que apresentam os outros canais noveleiros.

                                                                                                                                                                                                                    O argumento não poderia ser mais estranho: trocas de rosto. Com a devida licença para ficção, creio que isso rende no folhetim. Logo no segundo capítulo, a dra. Circe (Lígia Cortez), praticamente abduzida de sua festa de lua-de-mel para Tóquio, foi obrigada a operar o chefão da Yakuza, que lhe apresentou uma foto com a face idealizada.

                                                                                                                                                                                                                    “Impossível!”, exclamou a pobre coitada, escorada no fato de que ali havia linhas incompatíveis para que tal cirurgia fosse um sucesso. Apenas obedeça, Circe. Você está envolvida com a máfia japonesa, o que é muito mais grave do que bater num carro de fibra ou esquecer de declarar imposto de renda.

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                                                                                                                                                                                                                    Com tanta ação, quase não tem havido pausas para relaxar nesses capítulos – exibidos, oba, num único bloco, sem intervalo comercial. Mas elas existem, e o tempo se encarregará de mostrar. O elenco, afinal, é de respeito. Uma dessas brechas na tensão cotidiana de Metamorphoses há de ser a impagável Aspásia de Myrian Muniz, atriz doutorada em compor tipos inesquecíveis. Preste atenção em Aspásia, senhora aristocrática do clã da família médica e que, acometida por alguma disfunção ou talvez puramente pela idade avançada, é aquela que diz o que pensa na hora em que menos se espera, constrangendo e divertindo. Das minhas, essa.

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                                                                                                                                                                                                                      11/03/2004 0h00

                                                                                                                                                                                                                      Valei-nos, Santa Sarah Kalï, aquela que em Explode Coração jamais deixava o núcleo cigano desamparado! Está escancarada a estação da maldade em Da Cor do Pecado e Celebridade. Salve-se quem puder.

                                                                                                                                                                                                                      Na novela global das sete, o mundo da perfídia pode bater palmas para a malévola Bárbara de Giovanna Antonelli. Quem diria que a Jade ia virar essa naja! Coitadas das najas, não têm nada a ver com isso; nenhum animal supera o ser humano na maldade.

                                                                                                                                                                                                                      Pois é, a ex-Jade não dorme em serviço, e tudo fará para prejudicar a pobre Preta (Thaís Araújo), inclusive habilitando-se a falsificar o resultado de um exame de DNA. Tantas maldades desencadeiam, em torno dos personagens do bem, uma onda de sofrimento que todos sabemos ser de longo prazo, caso contrário a novela não rende. Objetividade em crime-e-castigo é só nos folhetins hechos en Mexico do SBT.

                                                                                                                                                                                                                      Veja aí Vanessa Gerbelli, que, depois de chorar feito carpideira como a Fernanda de Mulheres Apaixonadas, em Da Cor do Pecado ataca de Tancinha, novamente debulhando-se em lágrimas.

                                                                                                                                                                                                                      Tá bom pra você? Se não, migremos para Celebridade. Ali o reino do mal já espalhou seus minúsculos espinhos contagiosos e constituiu perigosos caldeirões, um orquestrado por Laura (Claudia Abreu), outro por Renato Mendes (Fábio Assunção). E agora tem os caldeirões paralelos, alimentados pela sede vingativa de Beatriz (Deborah Evelyn) e de Ubaldo (Paulo Gracindo Junior).

                                                                                                                                                                                                                      Mas em Celebridade a coisa parece mais pegajosa. Aí entra o diferencial da Globo em relação ao SBT – onde o mal e o bem não têm dissimulação propriamente dita: são caricatos de nascença. Na Globo, existe a doce indolência das dualidades – e a Darlene de Deborah Secco é uma dessas crias. É engraçada, cai na simpatia popular, mas cometeu grossa trapaça forjando gravidez. A sorridente Jaqueline Joy de Juliana Paes, que a gente sabe ser de boa índole, também queimou cartucho ao alavancar para a fama às custas de um deputado morto.

                                                                                                                                                                                                                      De uma coisa você pode ter certeza: até que tudo se esclareça, o que rola é pouca história e muito merchandising – o de Celebridade é, vamos dizer assim… de vulto. Mas, como as dualidades freqüentemente presenteiam com a lição de que na vida o legal é mesmo nada ter um lado só e a lembrança de que aprender a ver as coisas por mais de um lado ajuda a ser feliz, esse meio-tempo entre o triunfo do bem sobre o mal também tem intervalos divertidos. Vamos lá: já que aliena, o material de uma novela também deve honrar seu contrapeso e divertir a galera do sofá.

                                                                                                                                                                                                                      PS: Maldade cometeu esta coluna em sua edição passada, ao trocar o nome de Renato Mendes por Renato Matos. Este último é um músico brasiliense que por certo não deseja mal a Maria Clara. Perdão, meu.

                                                                                                                                                                                                                        Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                        Valei-nos, Santa Sarah Kalï, aquela que em Explode Coração jamais deixava o núcleo cigano desamparado! Está escancarada a estação da maldade em Da Cor do Pecado e Celebridade. Salve-se quem puder.

                                                                                                                                                                                                                        Na novela global das sete, o mundo da perfídia pode bater palmas para a malévola Bárbara de Giovanna Antonelli. Quem diria que a Jade ia virar essa naja! Coitadas das najas, não têm nada a ver com isso; nenhum animal supera o ser humano na maldade.

                                                                                                                                                                                                                        Pois é, a ex-Jade não dorme em serviço, e tudo fará para prejudicar a pobre Preta (Thaís Araújo), inclusive habilitando-se a falsificar o resultado de um exame de DNA. Tantas maldades desencadeiam, em torno dos personagens do bem, uma onda de sofrimento que todos sabemos ser de longo prazo, caso contrário a novela não rende. Objetividade em crime-e-castigo é só nos folhetins hechos en Mexico do SBT.

                                                                                                                                                                                                                        Veja aí Vanessa Gerbelli, que, depois de chorar feito carpideira como a Fernanda de Mulheres Apaixonadas, em Da Cor do Pecado ataca de Tancinha, novamente debulhando-se em lágrimas.

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                                                                                                                                                                                                                        Mas em Celebridade a coisa parece mais pegajosa. Aí entra o diferencial da Globo em relação ao SBT – onde o mal e o bem não têm dissimulação propriamente dita: são caricatos de nascença. Na Globo, existe a doce indolência das dualidades – e a Darlene de Deborah Secco é uma dessas crias. É engraçada, cai na simpatia popular, mas cometeu grossa trapaça forjando gravidez. A sorridente Jaqueline Joy de Juliana Paes, que a gente sabe ser de boa índole, também queimou cartucho ao alavancar para a fama às custas de um deputado morto.

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                                                                                                                                                                                                                        PS: Maldade cometeu esta coluna em sua edição passada, ao trocar o nome de Renato Mendes por Renato Matos. Este último é um músico brasiliense que por certo não deseja mal a Maria Clara. Perdão, meu.

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                                                                                                                                                                                                                          A ociosidade – nome que tem parecido mais adequado à novela – é quem bate ponto legal no mundo encantado de Celebridade. O que faz exatamente, por exemplo, Renato Matos (Fábio Assunção) na relevante função de vice-presidente de um poderoso grupo de comunicação? Nada, a não ser conspirar. E o repórter Joel (André Barros), caráter zero como Renato e sua turma, faz o quê?

                                                                                                                                                                                                                          Laura (Claudia Abreu), a neo-empresária de shows, também nunca foi vista na labuta propriamente dita. Incautos podem ter a ilusão de que vida de empresário e de jornalista é isso mesmo, grana fácil e nenhum trabalho – e o mercado registra a saturação desses profissionais na vida real.

                                                                                                                                                                                                                          Logo, creio que esse povo é bancado por Lineu, que Deus o tenha. Dá boa vida não só à sorridente Jaqueline Joy (Juliana Paes), mas, possivelmente, também à tresloucada Darlene (Deborah Secco). Esta é outra chegada a uma dinâmica meio Macunaíma, o herói que esbanjava preguiça. Se não for, então o Salão Dalila, do simpático seu Salvador (Roberto Bonfim), é um antiexemplo de empresa, pois ali é que a manicure menos passa seu tempo. O mesmo vale para as amigas da alpinista social do Andaraí – que, embora trabalhem como faxineiras de um luxuoso apart-hotel, parecem ter tempo de sobra para saracotear pelo bairro.

                                                                                                                                                                                                                          Quando alguém oficialmente trabalha direito por ali, logo vem um estrago. É o caso da estupenda “abdução” do sêmen congelado de Caio (Theo Becker, um sujeito completo em termos de canastronice) por um funcionário de confiança da clínica, Tadeu (Alexandre Moreno), tudo para realizar o sonho maior de Darlene: a fama. Ela quer engravidar de uma celebridade, afinal. Involuntariamente, nesse capítulo o nome da trama migrou para Insalubridade.

                                                                                                                                                                                                                          E aí, humildemente sugiro, o roteiro da novela pegou pesado. Primeiro, pela falta de originalidade: em O Clone, personagem de Juliana Paes também engravidou por meio de uma operação que não bate com a ciência. Segundo, pela escorregada na cidadania: aqui, sugere-se a falta de ética cometida por um funcionário – negro. Infeliz idéia. Isso não se cometia no tempo em que Dondon jogava no Andaraí.

                                                                                                                                                                                                                            Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                            04/03/2004 0h00

                                                                                                                                                                                                                            Hoje o exame de DNA de Celebridade vai revelar que Maria Clara (Malu Mader) não é filha de Lineu (Hugo Carvana). Não é exatamente uma novidade, certo? Essa situação, ao sinal de qualquer conveniência, também pode se reverter a qualquer momento – afinal, em novelas tudo pode acontecer, inclusive o que não resiste à lógica.

                                                                                                                                                                                                                            Proponho outra tese: Lineu deve ser pai de todo mundo em Celebridade, ou, pelo menos, da maior parte dos personagens. Por certo sustenta toda aquela legião (ou alcatéia, depende do ponto de vista). De outra forma, vamos convir, como é que viveria todo aquele povo que não trabalha?

                                                                                                                                                                                                                            A ociosidade – nome que tem parecido mais adequado à novela – é quem bate ponto legal no mundo encantado de Celebridade. O que faz exatamente, por exemplo, Renato Matos (Fábio Assunção) na relevante função de vice-presidente de um poderoso grupo de comunicação? Nada, a não ser conspirar. E o repórter Joel (André Barros), caráter zero como Renato e sua turma, faz o quê?

                                                                                                                                                                                                                            Laura (Claudia Abreu), a neo-empresária de shows, também nunca foi vista na labuta propriamente dita. Incautos podem ter a ilusão de que vida de empresário e de jornalista é isso mesmo, grana fácil e nenhum trabalho – e o mercado registra a saturação desses profissionais na vida real.

                                                                                                                                                                                                                            Logo, creio que esse povo é bancado por Lineu, que Deus o tenha. Dá boa vida não só à sorridente Jaqueline Joy (Juliana Paes), mas, possivelmente, também à tresloucada Darlene (Deborah Secco). Esta é outra chegada a uma dinâmica meio Macunaíma, o herói que esbanjava preguiça. Se não for, então o Salão Dalila, do simpático seu Salvador (Roberto Bonfim), é um antiexemplo de empresa, pois ali é que a manicure menos passa seu tempo. O mesmo vale para as amigas da alpinista social do Andaraí – que, embora trabalhem como faxineiras de um luxuoso apart-hotel, parecem ter tempo de sobra para saracotear pelo bairro.

                                                                                                                                                                                                                            Quando alguém oficialmente trabalha direito por ali, logo vem um estrago. É o caso da estupenda “abdução” do sêmen congelado de Caio (Theo Becker, um sujeito completo em termos de canastronice) por um funcionário de confiança da clínica, Tadeu (Alexandre Moreno), tudo para realizar o sonho maior de Darlene: a fama. Ela quer engravidar de uma celebridade, afinal. Involuntariamente, nesse capítulo o nome da trama migrou para Insalubridade.

                                                                                                                                                                                                                            E aí, humildemente sugiro, o roteiro da novela pegou pesado. Primeiro, pela falta de originalidade: em O Clone, personagem de Juliana Paes também engravidou por meio de uma operação que não bate com a ciência. Segundo, pela escorregada na cidadania: aqui, sugere-se a falta de ética cometida por um funcionário – negro. Infeliz idéia. Isso não se cometia no tempo em que Dondon jogava no Andaraí.

                                                                                                                                                                                                                              Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                              02/09/2003 0h00

                                                                                                                                                                                                                              Esta é a última semana de Agora é Que São Elas. E aposto que, logo nos primeiros capítulos de Chocolate Com Pimenta, a próxima trama das seis da Globo, muito pouca gente vai se lembrar do folhetim antecessor. Por que?

                                                                                                                                                                                                                              Simples: em termos de pouca criatividade, Agora é Que São Elas foi – ainda é, já que não acabou – o que se pode chamar de uma obra completa. Passou a impressão de que, para a emissora, o universo do telespectador é como o planeta Marte – que, pelo menos até o fechamento desta edição, ainda era visto pela ciência como um lugar onde não há prova de vida inteligente.

                                                                                                                                                                                                                              A trama de Ricardo Linhares já começou trôpega com a escolha do casal Sai de Baixo, Marisa Orth e Miguel Falabella, para os papéis principais. Egressos de um programa que degringolou com o passar do tempo, os dois acabaram transferindo para seus respectivos personagens – Van Van e Juca Tigre – boa parte dos tiques de Magda e Caco Antibes. Originalidade zero, vamos combinar.

                                                                                                                                                                                                                              Outro flagrante de descaso com a inteligência média do telespectador é o fato de que não necessariamente a presença de atores consagrados salva uma trama do fracasso, se ela já nasceu raquítica e é malconduzida.

                                                                                                                                                                                                                              Isso já ocorreu em novelas como Zazá – onde nem Fernanda Montenegro no papel principal foi suficiente para escamotear a inconsistência em que a trama mergulhou – e Andando nas Nuvens – com os excelentes Marco Nanini, Deborah Bloch e Susana Vieira. Entre outras.

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                                                                                                                                                                                                                              Juca Tigre e Van Van – este nome possivelmente é “homenagem” a uma cunhada do ex-presidente Fernando Henrique – foram os mesmos Caco e Magda de Sai de Baixo. Vera Fischer, além da beleza, não teve nada que destacasse sua personagem, Antônia. Paulo Gorgulho, coitado, guindado ao papel de Joaquim, mereceu o mesmo destino de Nuno Leal Maia (Honório): ficou restrito a falas histéricas, repetindo tipos já construídos.

                                                                                                                                                                                                                              Pródigo em participações especiais – Joanna Fomm, Bete Coelho, Preta Gil, Marcos Winter e até a cantora Marina estavam entre a galera que desembarcou por lá –, o folhetim, nem assim, conseguiu dizer a que veio. Certamente houve momentos interessantes – afinal, de um time desse quilate há de sair algo que presta, mesmo como lapso. Mas o tom predominante foi o de barra forçada. Quem gosta de televisão merece algo mais.

                                                                                                                                                                                                                                Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                02/09/2003 0h00

                                                                                                                                                                                                                                Esta é a última semana de Agora é Que São Elas. E aposto que, logo nos primeiros capítulos de Chocolate Com Pimenta, a próxima trama das seis da Globo, muito pouca gente vai se lembrar do folhetim antecessor. Por que?

                                                                                                                                                                                                                                Simples: em termos de pouca criatividade, Agora é Que São Elas foi – ainda é, já que não acabou – o que se pode chamar de uma obra completa. Passou a impressão de que, para a emissora, o universo do telespectador é como o planeta Marte – que, pelo menos até o fechamento desta edição, ainda era visto pela ciência como um lugar onde não há prova de vida inteligente.

                                                                                                                                                                                                                                A trama de Ricardo Linhares já começou trôpega com a escolha do casal Sai de Baixo, Marisa Orth e Miguel Falabella, para os papéis principais. Egressos de um programa que degringolou com o passar do tempo, os dois acabaram transferindo para seus respectivos personagens – Van Van e Juca Tigre – boa parte dos tiques de Magda e Caco Antibes. Originalidade zero, vamos combinar.

                                                                                                                                                                                                                                Outro flagrante de descaso com a inteligência média do telespectador é o fato de que não necessariamente a presença de atores consagrados salva uma trama do fracasso, se ela já nasceu raquítica e é malconduzida.

                                                                                                                                                                                                                                Isso já ocorreu em novelas como Zazá – onde nem Fernanda Montenegro no papel principal foi suficiente para escamotear a inconsistência em que a trama mergulhou – e Andando nas Nuvens – com os excelentes Marco Nanini, Deborah Bloch e Susana Vieira. Entre outras.

                                                                                                                                                                                                                                Agora é Que São Elas andou pelo mesmo caminho errado. Marisa Orth tem indiscutível talento cômico, Miguel Falabella merece aplausos quando escreve e dirige, Vera Fischer é nossa deusa loira tombada pelo Patrimônio, Zezé Polessa realça os trabalhos onde se insere, Débora Falabella foi revelação como a Mel de O Clone… E daí? Faltou o essencial, a vitamina da história.

                                                                                                                                                                                                                                Juca Tigre e Van Van – este nome possivelmente é “homenagem” a uma cunhada do ex-presidente Fernando Henrique – foram os mesmos Caco e Magda de Sai de Baixo. Vera Fischer, além da beleza, não teve nada que destacasse sua personagem, Antônia. Paulo Gorgulho, coitado, guindado ao papel de Joaquim, mereceu o mesmo destino de Nuno Leal Maia (Honório): ficou restrito a falas histéricas, repetindo tipos já construídos.

                                                                                                                                                                                                                                Pródigo em participações especiais – Joanna Fomm, Bete Coelho, Preta Gil, Marcos Winter e até a cantora Marina estavam entre a galera que desembarcou por lá –, o folhetim, nem assim, conseguiu dizer a que veio. Certamente houve momentos interessantes – afinal, de um time desse quilate há de sair algo que presta, mesmo como lapso. Mas o tom predominante foi o de barra forçada. Quem gosta de televisão merece algo mais.

                                                                                                                                                                                                                                  Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                  Arquivo Geral

                                                                                                                                                                                                                                  26/08/2003 0h00

                                                                                                                                                                                                                                  “Oh! Não pode ser! O travesseiro tem cheiro de Ana Cristina!”. Lá estava eu, instalado no aconchego caseiro, quando a frase cometida – digo, proferida – quase me derruba da boca o cigarro que acabara de acender após o jantar.

                                                                                                                                                                                                                                  Era Otávio (César Evora), referindo-se à personagem vivida por Susana González na novela No Limite da Paixão – do SBT, claro. O ator, que em Privilégio de Amar fizera o papel de um padre que descobriu ser pai de uma filha rejeitada, é uma das figuras centrais dessa trama de Hilda Morales Allouis e adaptada para a televisão por Liliana Abud.

                                                                                                                                                                                                                                  É preciosa demais, contemplo, a linguagem das novelas latinas que a emissora daquele Silvio Santos todo leva ao ar. Começa que qualquer diálogo que se preza em folhetim latino já nasce merecendo ponto de exclamação.

                                                                                                                                                                                                                                  São sentenças curtas e de uma aparente ingenuidade, efeito obtido pela intenção de perpetrar algo objetivo por demais da conta. Tipo “Nicolas fez isso?! Aquele peludo!”, interjeição cometida pela personagem da mãe de Tamara (Cyntia Klitbo), em Privilégio de Amar. Ou algo como “Sua tarântula!”, exclamação dalgum capítulo perdido de personagem e protagonista que nem me vêm agora à memória – só me lembro que era de mulher para mulher -, mas que fazia parte de uma novela dos anos 80-90 chamada Topázio.

                                                                                                                                                                                                                                  Essa mesma novela tinha uma personagem que, cega de uma visão, usava um tapa-olho cuja cor variava de acordo com a roupa que estava trajando. Tente você agora imaginar a roupa que a criatura usava. Porque outra coisa exacerbada de kitsch, nesse universo de tramas latinas, é o figurino. Este, sim, um capítulo à parte.

                                                                                                                                                                                                                                  Quando digo figurino, não é somente com o setor das roupas que estou me regozijando – pode acreditar, se é que você nunca passou nem por perto de uma novela mexicana, que é um regozijo real presenciar a coisas pitorescas desse naipe.

                                                                                                                                                                                                                                  O que há de máximo, nessas composições, é justamente esse quadro onde se procura combinar corpo-traje-ambiente: o resultado é sempre de uma harmonia brutal. E não estou ferindo o idioma português, é apenas uma descrição de circunstância.

                                                                                                                                                                                                                                  Na pele de Tia Perucas (em Carinha de Anjo), a bela Nora Salinas, que em tramas anteriores comeu com manteiga rançosa o pão que o diabo amassou, cada dia aparecia com os “cabelos” de uma cor.

                                                                                                                                                                                                                                  São particularidades do SBT; situações honorariamente caricatas que têm o mérito de trazer à tona lampejos de um tempo em que se fazia tevê mais romântica, com enredos mais enxutos ou menos dispersos. Vale conferir. Até porque, enquanto isso o que rola em Mulheres Apaixonadas, na Globo, só faz enrolar o tempo de um telespectador bocejante.

                                                                                                                                                                                                                                    Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                    26/08/2003 0h00

                                                                                                                                                                                                                                    “Oh! Não pode ser! O travesseiro tem cheiro de Ana Cristina!”. Lá estava eu, instalado no aconchego caseiro, quando a frase cometida – digo, proferida – quase me derruba da boca o cigarro que acabara de acender após o jantar.

                                                                                                                                                                                                                                    Era Otávio (César Evora), referindo-se à personagem vivida por Susana González na novela No Limite da Paixão – do SBT, claro. O ator, que em Privilégio de Amar fizera o papel de um padre que descobriu ser pai de uma filha rejeitada, é uma das figuras centrais dessa trama de Hilda Morales Allouis e adaptada para a televisão por Liliana Abud.

                                                                                                                                                                                                                                    É preciosa demais, contemplo, a linguagem das novelas latinas que a emissora daquele Silvio Santos todo leva ao ar. Começa que qualquer diálogo que se preza em folhetim latino já nasce merecendo ponto de exclamação.

                                                                                                                                                                                                                                    São sentenças curtas e de uma aparente ingenuidade, efeito obtido pela intenção de perpetrar algo objetivo por demais da conta. Tipo “Nicolas fez isso?! Aquele peludo!”, interjeição cometida pela personagem da mãe de Tamara (Cyntia Klitbo), em Privilégio de Amar. Ou algo como “Sua tarântula!”, exclamação dalgum capítulo perdido de personagem e protagonista que nem me vêm agora à memória – só me lembro que era de mulher para mulher -, mas que fazia parte de uma novela dos anos 80-90 chamada Topázio.

                                                                                                                                                                                                                                    Essa mesma novela tinha uma personagem que, cega de uma visão, usava um tapa-olho cuja cor variava de acordo com a roupa que estava trajando. Tente você agora imaginar a roupa que a criatura usava. Porque outra coisa exacerbada de kitsch, nesse universo de tramas latinas, é o figurino. Este, sim, um capítulo à parte.

                                                                                                                                                                                                                                    Quando digo figurino, não é somente com o setor das roupas que estou me regozijando – pode acreditar, se é que você nunca passou nem por perto de uma novela mexicana, que é um regozijo real presenciar a coisas pitorescas desse naipe.

                                                                                                                                                                                                                                    O que há de máximo, nessas composições, é justamente esse quadro onde se procura combinar corpo-traje-ambiente: o resultado é sempre de uma harmonia brutal. E não estou ferindo o idioma português, é apenas uma descrição de circunstância.

                                                                                                                                                                                                                                    Na pele de Tia Perucas (em Carinha de Anjo), a bela Nora Salinas, que em tramas anteriores comeu com manteiga rançosa o pão que o diabo amassou, cada dia aparecia com os “cabelos” de uma cor.

                                                                                                                                                                                                                                    São particularidades do SBT; situações honorariamente caricatas que têm o mérito de trazer à tona lampejos de um tempo em que se fazia tevê mais romântica, com enredos mais enxutos ou menos dispersos. Vale conferir. Até porque, enquanto isso o que rola em Mulheres Apaixonadas, na Globo, só faz enrolar o tempo de um telespectador bocejante.

                                                                                                                                                                                                                                      Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                      Vai longe mesmo o tempo em que novelas iam ao ar com tramas já costuradas. Pelo menos no caso da Globo, a ordem parece ser uma só: a de engabelar o telespectador com capítulos encompridados enquanto os anunciantes, esses sim, deitam e rolam nos intervalos comerciais.

                                                                                                                                                                                                                                      A morte de Fernanda (Vanessa Gerbelli), em Mulheres Apaixonadas, é o mais recente exemplo dessa genuína operação de enrola-audiência. Efusivamente anunciada pelo marketing da emissora, a cena em que a ex-garota-de-programa deixa o mundo dos vivos mais está tomando proporções tão alongadas que merecia não o horário nobre, mas um espaço em uma aula de curso básico de informática onde alguém ilustraria o que significa dificuldade de download: demora a baixar na tela.

                                                                                                                                                                                                                                      Gente como Clarice Lispector e Virginia Woolf, escritoras respeitáveis que já não fazem mais parte desse mundo, podiam se dar ao luxo de descrever em dezenas de páginas um simples bater de prego na parede ou uma cena banal como os devaneios de uma galinha ciscando no quintal. Mas isso é na literatura – para poucos, aliás –, e não surte o mesmo efeito na mídia eletrônica.

                                                                                                                                                                                                                                      A cena do tiro foi ao ar no sábado retrasado, a morte é a próxima etapa confirmada e, até agora, estão cozinhando a audiência. O efeito é o da dispersão da trama, enquanto diálogos recorrentes e tomadas que mais servem para vender clipes tomam conta do cenário.

                                                                                                                                                                                                                                      Dá audiência? Sem dúvida – e, na ponta do lápis, isso é o que interessa. Ao autor, aos patrocinadores e à emissora, claro. O público já deve andar enjoado dessa agonia arrastada, enquanto a faixa infantil que assiste à novela só vê aumentar a paranóia incentivada pelo tal anjo que aparece nos sonhos de Salete (Bruna Marquezine), anunciando sempre o pior – que nunca chega. É tortura.

                                                                                                                                                                                                                                      Mas que ninguém me acuse de implicar com a moribunda, tampouco com sua sagaz filha e, de quebra, a mala-sem-alça que é Inês (Manoelita Oliveira), que vive a mãe de Fernanda. Basta olhar à volta para encontrar outras chatices – a nhenga entre Raquel-Marcos-Fred (Helena Ranaldi, Dan Stulbach e Pedro Furtado), por exemplo.

                                                                                                                                                                                                                                      Se vale como consolo, Manoel Carlos já anunciou que vai matar mais alguém antes do fim da novela – oficialmente, previsto para outubro deste ano. Preferiu não dizer de quem se trata, possivelmente porque nem ele mesmo sabe. Mas já se sabe que Fred será baleado – por Marcos, é claro, aquele doido cuja doença é amparada pela pasmaceira de sua bela ex-esposa. Quando isso acontecerá?

                                                                                                                                                                                                                                      Vamos por partes, moçada. Primeiro, a morte de Fernanda. Mas há ainda a parte em que Salete é oficialmente comunicada, depois o enterro… Isso gasta capítulo. Quer algo mais objetivo? Deixe seu controle remoto procurar.

                                                                                                                                                                                                                                        Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                        Arquivo Geral

                                                                                                                                                                                                                                        19/08/2003 0h00

                                                                                                                                                                                                                                        Vai longe mesmo o tempo em que novelas iam ao ar com tramas já costuradas. Pelo menos no caso da Globo, a ordem parece ser uma só: a de engabelar o telespectador com capítulos encompridados enquanto os anunciantes, esses sim, deitam e rolam nos intervalos comerciais.

                                                                                                                                                                                                                                        A morte de Fernanda (Vanessa Gerbelli), em Mulheres Apaixonadas, é o mais recente exemplo dessa genuína operação de enrola-audiência. Efusivamente anunciada pelo marketing da emissora, a cena em que a ex-garota-de-programa deixa o mundo dos vivos mais está tomando proporções tão alongadas que merecia não o horário nobre, mas um espaço em uma aula de curso básico de informática onde alguém ilustraria o que significa dificuldade de download: demora a baixar na tela.

                                                                                                                                                                                                                                        Gente como Clarice Lispector e Virginia Woolf, escritoras respeitáveis que já não fazem mais parte desse mundo, podiam se dar ao luxo de descrever em dezenas de páginas um simples bater de prego na parede ou uma cena banal como os devaneios de uma galinha ciscando no quintal. Mas isso é na literatura – para poucos, aliás –, e não surte o mesmo efeito na mídia eletrônica.

                                                                                                                                                                                                                                        A cena do tiro foi ao ar no sábado retrasado, a morte é a próxima etapa confirmada e, até agora, estão cozinhando a audiência. O efeito é o da dispersão da trama, enquanto diálogos recorrentes e tomadas que mais servem para vender clipes tomam conta do cenário.

                                                                                                                                                                                                                                        Dá audiência? Sem dúvida – e, na ponta do lápis, isso é o que interessa. Ao autor, aos patrocinadores e à emissora, claro. O público já deve andar enjoado dessa agonia arrastada, enquanto a faixa infantil que assiste à novela só vê aumentar a paranóia incentivada pelo tal anjo que aparece nos sonhos de Salete (Bruna Marquezine), anunciando sempre o pior – que nunca chega. É tortura.

                                                                                                                                                                                                                                        Mas que ninguém me acuse de implicar com a moribunda, tampouco com sua sagaz filha e, de quebra, a mala-sem-alça que é Inês (Manoelita Oliveira), que vive a mãe de Fernanda. Basta olhar à volta para encontrar outras chatices – a nhenga entre Raquel-Marcos-Fred (Helena Ranaldi, Dan Stulbach e Pedro Furtado), por exemplo.

                                                                                                                                                                                                                                        Se vale como consolo, Manoel Carlos já anunciou que vai matar mais alguém antes do fim da novela – oficialmente, previsto para outubro deste ano. Preferiu não dizer de quem se trata, possivelmente porque nem ele mesmo sabe. Mas já se sabe que Fred será baleado – por Marcos, é claro, aquele doido cuja doença é amparada pela pasmaceira de sua bela ex-esposa. Quando isso acontecerá?

                                                                                                                                                                                                                                        Vamos por partes, moçada. Primeiro, a morte de Fernanda. Mas há ainda a parte em que Salete é oficialmente comunicada, depois o enterro… Isso gasta capítulo. Quer algo mais objetivo? Deixe seu controle remoto procurar.

                                                                                                                                                                                                                                          Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                          09/07/2003 0h00

                                                                                                                                                                                                                                          Até o fechamento desta edição, as notícias davam conta de que Fernanda (Vanessa Gerbelli), de Mulheres Apaixonadas, vai mesmo morrer de bala perdida no capítulo do dia 26. Como nas últimas décadas tem crescido a interatividade do público com as novelas – leia-se abertura para descaracterização de roteiro original –, isso pode mudar. Movimento nesse sentido já foi deflagrado por um grupo carioca ligado ao turismo: protestaram contra a sinopse, alegando que tal cena pode manchar a imagem do Rio de Janeiro.

                                                                                                                                                                                                                                          A preocupação tem lá seu sentido, tanto mais quando vemos que o Rio pretende sediar as Olimpíadas de 2012. Particularmente, sugiro que até lá o secretário de Segurança do Rio já tenha contribuído para combater a violência gritante que, esta sim, na vida real, inclui o nome da Cidade Maravilhosa no rol das mais perigosas metrópoles do planeta.

                                                                                                                                                                                                                                          Mas voltando ao universo das novelas, outra morte, também trágica, está programada para a estação: a de Nanda (Jerusa Franco), em Agora É Que São Elas. O autor da novela, Ricardo Linhares, vai matar a personagem em acidente provocado por “pega” de carro: a idéia é denunciar o perigo dessas corridas. Será que vão protestar também?

                                                                                                                                                                                                                                          O fato é que, se por um lado a participação do público na condução de uma trama é simpática por revelar abertura a temas que interessam à sociedade, por outro falta uma linha básica de distinção entre interatividade e festival de palpites. Na medida em que crescem exemplos de novelas tornadas sem rumo em função dessas interferências, ouso dizer que a autonomia de autores e diretores vai mal no País.

                                                                                                                                                                                                                                          Houve um tempo em que nem havia resumos dos capítulos de novelas, muito menos divulgação antecipada de cenas. Não intento brigar com a máquina – é nítido que por trás desse esquema existe algo mais amarrado ao aspecto comercial do que a intenção de aproximar o telespectador –, mas lembro que, nessa época, havia algo no ar que já desapareceu: a emoção da expectativa.

                                                                                                                                                                                                                                          Tramas previsíveis não têm esse gostinho. Nem por isso deixam de ser atrativas – novela é uma espécie de ópio inofensivo à saúde –, mas perdem qualidade. E despencam sem pára-quedas na frustração do telespectador, que, no final das contas, está sendo malservido de um produto adulterado. E esta é uma tendência forte na teledramaturgia brasileira da Globo.

                                                                                                                                                                                                                                          Duvido que aqueles folhetins latinos caricatos com que o SBT faz a festa tenham esse tratamento. Os resumos de capítulos existem – é uma exigência da atualidade –, mas, salvo casos extremos como a morte de um artista antes de terminarem as gravações, dificilmente uma história original se degenera. Não é à toa que essas tramas esquisitas têm uma audiência nada desprezível.

                                                                                                                                                                                                                                            Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                            09/07/2003 0h00

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                                                                                                                                                                                                                                            A preocupação tem lá seu sentido, tanto mais quando vemos que o Rio pretende sediar as Olimpíadas de 2012. Particularmente, sugiro que até lá o secretário de Segurança do Rio já tenha contribuído para combater a violência gritante que, esta sim, na vida real, inclui o nome da Cidade Maravilhosa no rol das mais perigosas metrópoles do planeta.

                                                                                                                                                                                                                                            Mas voltando ao universo das novelas, outra morte, também trágica, está programada para a estação: a de Nanda (Jerusa Franco), em Agora É Que São Elas. O autor da novela, Ricardo Linhares, vai matar a personagem em acidente provocado por “pega” de carro: a idéia é denunciar o perigo dessas corridas. Será que vão protestar também?

                                                                                                                                                                                                                                            O fato é que, se por um lado a participação do público na condução de uma trama é simpática por revelar abertura a temas que interessam à sociedade, por outro falta uma linha básica de distinção entre interatividade e festival de palpites. Na medida em que crescem exemplos de novelas tornadas sem rumo em função dessas interferências, ouso dizer que a autonomia de autores e diretores vai mal no País.

                                                                                                                                                                                                                                            Houve um tempo em que nem havia resumos dos capítulos de novelas, muito menos divulgação antecipada de cenas. Não intento brigar com a máquina – é nítido que por trás desse esquema existe algo mais amarrado ao aspecto comercial do que a intenção de aproximar o telespectador –, mas lembro que, nessa época, havia algo no ar que já desapareceu: a emoção da expectativa.

                                                                                                                                                                                                                                            Tramas previsíveis não têm esse gostinho. Nem por isso deixam de ser atrativas – novela é uma espécie de ópio inofensivo à saúde –, mas perdem qualidade. E despencam sem pára-quedas na frustração do telespectador, que, no final das contas, está sendo malservido de um produto adulterado. E esta é uma tendência forte na teledramaturgia brasileira da Globo.

                                                                                                                                                                                                                                            Duvido que aqueles folhetins latinos caricatos com que o SBT faz a festa tenham esse tratamento. Os resumos de capítulos existem – é uma exigência da atualidade –, mas, salvo casos extremos como a morte de um artista antes de terminarem as gravações, dificilmente uma história original se degenera. Não é à toa que essas tramas esquisitas têm uma audiência nada desprezível.

                                                                                                                                                                                                                                              Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                              O passado às vezes assedia nossa lembrança como o gosto distante de um doce que não pode mais ser encontrado porque não existe mais, no momento atual, algum ingrediente fundamental para compô-lo tal e qual ele era. Eis aí meu pé atrás com essa história de remakes de sucessos.

                                                                                                                                                                                                                                              O Fantástico do último domingo trouxe Chico Anysio revivendo um de seus melhores produtos na televisão: Pantaleão, velho cheio de histórias que contracenava com uma submissa esposa, Terta, e um parvo agregado da família, Pedro Bó. Mas a remontagem desse momento do humorismo televisivo brasileiro não foi lá muito feliz, mesmo tendo ingredientes à altura da receita.

                                                                                                                                                                                                                                              Para o papel de Pedro Bó, foi escalado André Mattos, ator de boa veia cômica revelado ao grande público no papel do impagável Dom João VI da minissérie O Quinto dos Infernos. Deu conta de envergar o perfil daquele que só existe para dar foras, mas o quadro passou a impressão de algum desfalque; saiu arrastado, talvez pela ausência do timing original.

                                                                                                                                                                                                                                              Daniela Escobar, que desde O Clone desfruta de um marketing dos mais eficientes na Globo, apareceu de repente na história para uma participação especial, no papel de uma jovem amiga da família. E soou muito forçado.

                                                                                                                                                                                                                                              Ou porque foi escalada de última hora ou por não ter mesmo esse perfil – o que é natural, pois querer que um artista viva com maestria todos os tipos é absurdo –, ela deu o tom da dissonância que ajudou a descaracterizar a intenção de revitalizar a memória.

                                                                                                                                                                                                                                              Melhor teria sido utilizar o recurso tradicional que é a base de programas do tipo Vídeo Show: uma apresentação ou comentário de Chico Anysio antecedendo a reprodução de arquivo. Sairia mais autêntica a intenção de revival.

                                                                                                                                                                                                                                              Há situações que não se repetem; um homem não atravessa a mesma água que passou naquele rio. Retomar o glamour do passado, seja ele distante ou próximo, é tarefa para arquivo. Recriações correm sempre o risco de soar falsas.

                                                                                                                                                                                                                                              E Chico Anysio não é o X dessa questão. Refilmagens de clássicos do cinema não raramente incorrem nesse erro crasso, o mesmo acontecendo com algumas novelas que, tendo marcado época na televisão, de uma hora para outra emergem como remakes.

                                                                                                                                                                                                                                              Se o presente não acena com muita criatividade, muito pior costuma ser tirar do baú algo que deu certo e tentar adaptar aos novos tempos. Mesmo que a intenção seja fortalecer a memória cultural brasileira, o efeito pode soar a arremedo barato. Nesse caso, melhor apostar no acervo de material gravado.

                                                                                                                                                                                                                                              A propósito, em Vale a Pena Ver de Novo, também da Globo, o cartaz é Anjo Mau. A despeito da qualidade, isso é redundância: o que vai ao ar não é o Anjo Mau dos anos 70, mas o remake deste. Que, aliás, já esteve em cartaz na tevê.

                                                                                                                                                                                                                                                Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                                Arquivo Geral

                                                                                                                                                                                                                                                02/07/2003 0h00

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                                                                                                                                                                                                                                                O Fantástico do último domingo trouxe Chico Anysio revivendo um de seus melhores produtos na televisão: Pantaleão, velho cheio de histórias que contracenava com uma submissa esposa, Terta, e um parvo agregado da família, Pedro Bó. Mas a remontagem desse momento do humorismo televisivo brasileiro não foi lá muito feliz, mesmo tendo ingredientes à altura da receita.

                                                                                                                                                                                                                                                Para o papel de Pedro Bó, foi escalado André Mattos, ator de boa veia cômica revelado ao grande público no papel do impagável Dom João VI da minissérie O Quinto dos Infernos. Deu conta de envergar o perfil daquele que só existe para dar foras, mas o quadro passou a impressão de algum desfalque; saiu arrastado, talvez pela ausência do timing original.

                                                                                                                                                                                                                                                Daniela Escobar, que desde O Clone desfruta de um marketing dos mais eficientes na Globo, apareceu de repente na história para uma participação especial, no papel de uma jovem amiga da família. E soou muito forçado.

                                                                                                                                                                                                                                                Ou porque foi escalada de última hora ou por não ter mesmo esse perfil – o que é natural, pois querer que um artista viva com maestria todos os tipos é absurdo –, ela deu o tom da dissonância que ajudou a descaracterizar a intenção de revitalizar a memória.

                                                                                                                                                                                                                                                Melhor teria sido utilizar o recurso tradicional que é a base de programas do tipo Vídeo Show: uma apresentação ou comentário de Chico Anysio antecedendo a reprodução de arquivo. Sairia mais autêntica a intenção de revival.

                                                                                                                                                                                                                                                Há situações que não se repetem; um homem não atravessa a mesma água que passou naquele rio. Retomar o glamour do passado, seja ele distante ou próximo, é tarefa para arquivo. Recriações correm sempre o risco de soar falsas.

                                                                                                                                                                                                                                                E Chico Anysio não é o X dessa questão. Refilmagens de clássicos do cinema não raramente incorrem nesse erro crasso, o mesmo acontecendo com algumas novelas que, tendo marcado época na televisão, de uma hora para outra emergem como remakes.

                                                                                                                                                                                                                                                Se o presente não acena com muita criatividade, muito pior costuma ser tirar do baú algo que deu certo e tentar adaptar aos novos tempos. Mesmo que a intenção seja fortalecer a memória cultural brasileira, o efeito pode soar a arremedo barato. Nesse caso, melhor apostar no acervo de material gravado.

                                                                                                                                                                                                                                                A propósito, em Vale a Pena Ver de Novo, também da Globo, o cartaz é Anjo Mau. A despeito da qualidade, isso é redundância: o que vai ao ar não é o Anjo Mau dos anos 70, mas o remake deste. Que, aliás, já esteve em cartaz na tevê.

                                                                                                                                                                                                                                                  Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                                  25/06/2003 0h00

                                                                                                                                                                                                                                                  Tudo tem seu tempo, conforme apregoam, com toda propriedade, as pessoas que conhecem da vida um tanto mais do que nós. E tempo bom é aquele que não abre alas para qualquer forma de preconceito. Que o diga a popularidade atingida, nos últimos tempos, pelas personagens de Paula Picarelli (Rafaela) e Aline Moraes (Clara), o casal de namoradas de Mulheres Apaixonadas.

                                                                                                                                                                                                                                                  Não é a primeira e provavelmente tampouco a última vez que a televisão aborda a delicada porém tão humana e simples questão da sexualidade alternativa. A diferença é que, em tentativas anteriores, volta e meia um casal de pessoas do mesmo sexo esbarrava em pressões sociais e de audiência – tenha aí embutido o conceito de anunciantes, efetivamente representante da parte que fala mais alto –, e lá ia para o ralo um roteiro original que até então situava uma relação aparentemente tão saudável.

                                                                                                                                                                                                                                                  A tolerância do público com a abordagem da homossexualidade era em grande parte limitada aos aspectos de estereótipo que se podiam apresentar na televisão: a bicha louca, no caso do homossexual masculino, e a popular “caminhoneira”, quando se tratava de delinear o perfil da mulher que gosta de mulher. Mas isso já está ficando para trás, e muito.

                                                                                                                                                                                                                                                  Clara e Rafaela não têm nada a ver com esse quadro caricaturado do homossexual. No caso delas, até a expressão “lésbicas” pode soar pesado, e não por significar o que significa, mas pela carga mesmo de uma palavra que, durante tanto tempo, trazia embutida em sua pronúncia o ato – legitimado – de ridicularizar uma opção sexual.

                                                                                                                                                                                                                                                  Clara e Rafaela representam, com a maior dignidade, um caso de amor entre duas adolescentes. São bonitas, femininas e queridas pelos colegas da escola, nem por isso deixando de enfrentar o preconceito de alguns – como ocorre na vida real, que não livra a cara de ninguém do encontro com as adversidades.

                                                                                                                                                                                                                                                  Contra o amor de Clara e Rafaela pesam, por exemplo, a apelativa pressão da mãe de uma das duas e o escárnio de uma colega de classe. A mãe representa o compreensível lado conservador da história; a coleguinha, a ala carente e invejosa da questão.

                                                                                                                                                                                                                                                  A direção da novela tem sido feliz em tal abordagem por situar nesse contexto pessoas resolvidas e cuja forma de amar não demonstra qualquer rasgo de nocividade. Importante notar: além de bonitas e femininas, Clara e Rafaela, vamos lá, são classe média alta. À mídia, não cabe discriminar determinado perfil que, como bem o demonstram pesquisas, detém alto poder aquisitivo. Daí a “hospitalidade” com que a questão gays-lésbicas-simpatizantes tem sido tratada nos últimos tempos. Mas isso é outro papo. O importante é que esse caso mostrar, como já dizia a música, que “qualquer maneira de amor vale a pena.”

                                                                                                                                                                                                                                                    Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                                    25/06/2003 0h00

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                                                                                                                                                                                                                                                    Não é a primeira e provavelmente tampouco a última vez que a televisão aborda a delicada porém tão humana e simples questão da sexualidade alternativa. A diferença é que, em tentativas anteriores, volta e meia um casal de pessoas do mesmo sexo esbarrava em pressões sociais e de audiência – tenha aí embutido o conceito de anunciantes, efetivamente representante da parte que fala mais alto –, e lá ia para o ralo um roteiro original que até então situava uma relação aparentemente tão saudável.

                                                                                                                                                                                                                                                    A tolerância do público com a abordagem da homossexualidade era em grande parte limitada aos aspectos de estereótipo que se podiam apresentar na televisão: a bicha louca, no caso do homossexual masculino, e a popular “caminhoneira”, quando se tratava de delinear o perfil da mulher que gosta de mulher. Mas isso já está ficando para trás, e muito.

                                                                                                                                                                                                                                                    Clara e Rafaela não têm nada a ver com esse quadro caricaturado do homossexual. No caso delas, até a expressão “lésbicas” pode soar pesado, e não por significar o que significa, mas pela carga mesmo de uma palavra que, durante tanto tempo, trazia embutida em sua pronúncia o ato – legitimado – de ridicularizar uma opção sexual.

                                                                                                                                                                                                                                                    Clara e Rafaela representam, com a maior dignidade, um caso de amor entre duas adolescentes. São bonitas, femininas e queridas pelos colegas da escola, nem por isso deixando de enfrentar o preconceito de alguns – como ocorre na vida real, que não livra a cara de ninguém do encontro com as adversidades.

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                                                                                                                                                                                                                                                    A direção da novela tem sido feliz em tal abordagem por situar nesse contexto pessoas resolvidas e cuja forma de amar não demonstra qualquer rasgo de nocividade. Importante notar: além de bonitas e femininas, Clara e Rafaela, vamos lá, são classe média alta. À mídia, não cabe discriminar determinado perfil que, como bem o demonstram pesquisas, detém alto poder aquisitivo. Daí a “hospitalidade” com que a questão gays-lésbicas-simpatizantes tem sido tratada nos últimos tempos. Mas isso é outro papo. O importante é que esse caso mostrar, como já dizia a música, que “qualquer maneira de amor vale a pena.”

                                                                                                                                                                                                                                                      Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                                      Pelo menos enquanto vigorar o sistema de produção da TV Educativa e da Cultura com suas respectivas repetidoras espalhadas por todo o País, nem tudo está perdido no mundo cada vez mais mesmificado da televisão brasileira. E eventuais mergulhos no passado podem ajudar a resgatar a autenticidade de nossa programação. Quem levantou essa lebre, dia desses, foi o ator Francisco Cuoco. Era uma noite de fim de semana como outra qualquer, em que a maioria dos canais abertos estimulava mais uma ida à locadora, quando o ator apareceu como convidado de um dos programas comemorativos aos 50 anos de TV Record. Perguntado por Adriane Galisteu sobre o que ainda é possível trazer de bom dos anos dourados da televisão brasileira, Cuoco, que passou pela Record assim como muitos outros artistas que hoje fazem parte do quadro de outras emissoras, foi lacônico: “O aspecto artesanal de se fazer tevê”. Egresso dos tempos em que muitas novelas eram mostradas ao vivo – quase no esquema das incríveis radionovelas da época em que Hebe Camargo cantava e não era loira –, Cuoco sabe muito bem do que está falando. Refere-se ao aspecto mais laborioso da produção, aquele que privilegia a originalidade das criações em detrimento do industrializado. Com certeza isso pode soar romântico e/ou utópico aos ouvidos de muitos antenados contemporâneos, mas não é impossível resgatar da televisão elementos que outrora a tornavam tão mais envolvente – e bem mais criativa do que o que existe hoje.

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                                                                                                                                                                                                                                                      Quando Francisco Cuoco se refere a “produção artesanal”, quer dizer pura e simplesmente que falta esmero no que se produz para ir ao ar. Isso vale para programas de entretenimento, de auditório, telejornais e até novelas. Já reparou como tudo é previsível na teledramaturgia nacional, que repete com assiduidade tipos e argumentos empurrando goela abaixo de um entorpecido telespectador histórias que rapidamente se dispersam? Pois é. A Record, cuja história se confunde com a própria história da televisão no Brasil, aproveita o primeiro cinqüentenário para esse mergulho nutritivo. De trunfo, mantém um respeitável telejornal com Boris Casoy. De resto, pode pegar carona e reciclar boa parte do que oferece ao telespectador brasileiro.

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                                                                                                                                                                                                                                                          11/06/2003 0h00

                                                                                                                                                                                                                                                          Julho está na porta, lembra férias e me faz bater novamente naquela tecla: viver em clima de férias é algo tão bom que só costuma ser possível no mundo mágico das novelas. Especialmente em Mulheres Apaixonadas. Eis porque, mais uma vez neste espaço, divido com o leitor o desejo de transferir minha vida para esta trama, bem à moda de A Rosa Púrpura do Cairo, filme de Woody Allen em que uma garçonete (Mia Farrow) vê o herói de seu filme favorito sair da tela e lhe oferecer uma vida muito mais interessante. Em Mulheres Apaixonadas, desminta-me se for capaz, a impressão que a gente tem é de que todo dia é sábado. Melhor ainda: sábado daqueles sem plantão nem estudo. Com tempo bom, trânsito civilizado e praias, pasme, não-abarrotadas de gente – com a água em excelentes condições para banho. Em pleno Rio de Janeiro!

                                                                                                                                                                                                                                                          Penso assim porque somente num sábado com todos esses atributos é que pessoas oficialmente trabalhadoras – como os maridos e ex-maridos das mulheres da Santíssima Trindade, Heloísa-Helena- Hilda (Giulia Gam, Christiane Torloni e Maria Padilha) – teriam tanto tempo livre. Você pode achar feio o que digo, mas tenho inveja.

                                                                                                                                                                                                                                                          Se eu soubesse que a vida de médico é tão viável do ponto de vista do lazer como a que leva Luciana (Camila Pitanga, que continua maravilhosa, mas no papel de médica demora a convencer), teria pensado cinco vezes e cursado Medicina, mesmo tendo horror a sangue e injeção. Quanto aos plantões, pelo que entendi os de Luciana são moleza, pois a gente nunca vê a bela cansada. Juro que não teria desistido da carreira artística se soubesse que é possível viver bem tocando música, por exemplo, como o Téo de Tony Ramos. O cara toca sax com tamanha fluidez que se permite, inclusive, largar o instrumento na hora em que bem quer – sem prejudicar o grupo que toca no Nick Bar, o que é esplêndido. O show continua, como se nada estivesse acontecendo, e Téo fica saracoteando com os amigos. Aliás, o Nick Bar também faz parte de minha utopia de consumo: é o lugar onde todo mundo interessante da novela se encontra, quase por acaso. O mesmo acontece com aquele restaurante de paredes estampadas, onde personagens de diferentes orientações filosóficas estão sempre coincidindo a freqüência. Melhor ainda, fazer parte de Mulheres Apaixonadas é bom porque o mundo se resume ao elegante bairro do Leblon. Também pensaria em seguir o magistério se alguém tivesse me contado que é possível uma diretora de escola como Helena proceder como se todo dia fosse sábado – sábado de folga, insisto. Mas quem sabe se não é por discordar dessa vida mansa e querer trabalhar de verdade que a pobre Santana-a-álcool (Vera Holtz) toma todas?

                                                                                                                                                                                                                                                            Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                                            11/06/2003 0h00

                                                                                                                                                                                                                                                            Julho está na porta, lembra férias e me faz bater novamente naquela tecla: viver em clima de férias é algo tão bom que só costuma ser possível no mundo mágico das novelas. Especialmente em Mulheres Apaixonadas. Eis porque, mais uma vez neste espaço, divido com o leitor o desejo de transferir minha vida para esta trama, bem à moda de A Rosa Púrpura do Cairo, filme de Woody Allen em que uma garçonete (Mia Farrow) vê o herói de seu filme favorito sair da tela e lhe oferecer uma vida muito mais interessante. Em Mulheres Apaixonadas, desminta-me se for capaz, a impressão que a gente tem é de que todo dia é sábado. Melhor ainda: sábado daqueles sem plantão nem estudo. Com tempo bom, trânsito civilizado e praias, pasme, não-abarrotadas de gente – com a água em excelentes condições para banho. Em pleno Rio de Janeiro!

                                                                                                                                                                                                                                                            Penso assim porque somente num sábado com todos esses atributos é que pessoas oficialmente trabalhadoras – como os maridos e ex-maridos das mulheres da Santíssima Trindade, Heloísa-Helena- Hilda (Giulia Gam, Christiane Torloni e Maria Padilha) – teriam tanto tempo livre. Você pode achar feio o que digo, mas tenho inveja.

                                                                                                                                                                                                                                                            Se eu soubesse que a vida de médico é tão viável do ponto de vista do lazer como a que leva Luciana (Camila Pitanga, que continua maravilhosa, mas no papel de médica demora a convencer), teria pensado cinco vezes e cursado Medicina, mesmo tendo horror a sangue e injeção. Quanto aos plantões, pelo que entendi os de Luciana são moleza, pois a gente nunca vê a bela cansada. Juro que não teria desistido da carreira artística se soubesse que é possível viver bem tocando música, por exemplo, como o Téo de Tony Ramos. O cara toca sax com tamanha fluidez que se permite, inclusive, largar o instrumento na hora em que bem quer – sem prejudicar o grupo que toca no Nick Bar, o que é esplêndido. O show continua, como se nada estivesse acontecendo, e Téo fica saracoteando com os amigos. Aliás, o Nick Bar também faz parte de minha utopia de consumo: é o lugar onde todo mundo interessante da novela se encontra, quase por acaso. O mesmo acontece com aquele restaurante de paredes estampadas, onde personagens de diferentes orientações filosóficas estão sempre coincidindo a freqüência. Melhor ainda, fazer parte de Mulheres Apaixonadas é bom porque o mundo se resume ao elegante bairro do Leblon. Também pensaria em seguir o magistério se alguém tivesse me contado que é possível uma diretora de escola como Helena proceder como se todo dia fosse sábado – sábado de folga, insisto. Mas quem sabe se não é por discordar dessa vida mansa e querer trabalhar de verdade que a pobre Santana-a-álcool (Vera Holtz) toma todas?

                                                                                                                                                                                                                                                              Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                                              Então tá, moçada, a onda agora é brincar de adivinha-quem-matou na televisão. Olhando pelo lado bom, o novo jogo da Rede Globo não parece fundamentado nos parâmetros da linha Big Brother Brasil: em O Jogo, o que vai ao ar mostra ação, ou pelo menos tentativas de aproveitar o tempo útil – aquele que urge. Fora isso, O Jogo é uma jogada de marketing como os demais reality shows, com regras e metas pré-fixadas. Bem à maneira de O Caso dos Dez Negrinhos, de Agatha Christie, um a um vão sendo eliminados. A pouca diferença é que são 12 (agora 11), tanto do lado dos suspeitos quanto dos concorrentes ao prêmio. Sobre as personagens do programa, aí já se trata de outro capítulo. Seguindo uma linha de novidade zero no esquema global, a turma selecionada para participar dessa maratona, mesmo apresentada como relativamente eclética, vamos combinar, é homogênea no quesito recheio. Calma: aqui refiro-me à plástica, pois o que vai por dentro da cabeça de cada um também faz parte de outra história. Mas repare: meio à la Carlos Lombardi (o diretor de Kubanacan), a boa forma conta valiosos pontos para quem pretende fazer parte desses programinhas que simulam espontaneidade de vida em grupo.

                                                                                                                                                                                                                                                              Isso é bom para a emissora – a audiência aumenta e os intervalos comerciais levam anunciantes ao delírio – e para os participantes, já que, quando pouco, quem for eliminado pode ter os seus minutos de glória posando para o site da Globo, o Paparazzo.

                                                                                                                                                                                                                                                              Fora isso, o cenário do Jogo está mais para um arremedo amador de trama de suspense do que para a reconstituição de peças fundamentais que levarão ao esclarecimento de um crime. O ponto de partida: o assassino de Jacques Klein é um psicopata. A idéia é boa, e prende o telespectador ao mesmo tempo em que arrebata a atenção de um leitor de romance policial: a cada dia, novas pistas vão surgindo até chegar ao culpado, que pode ser qualquer um dos lotados na galeria dos suspeitos. Em casa, quem gosta do gênero de programa quebra a cabeça tecendo palpites. Será Ritinha, filha de um pai extremamente autoritário? Lúcio, que se tornou arredio e de poucos amigos por ter sofrido preconceito na infância? O andarilho Pepê, aquele que mais parece figura de cordel futurista? A dúvida alimenta a audiência. Mas a canastronice predominante dos atores ocasionais que vivem a história dá um tom circense-rústico ao programa. Para adicionar elementos mais convincentes, a Globo tratou de contratar o detetive carioca Jamil Warwar, especialista em desvendar casos complicados. O resto é com os participantes. Que, como previsto, já dão sinais de estresse pela convivência um com o outro. E aí o Jogo cai na mesmice.

                                                                                                                                                                                                                                                                Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                                                04/06/2003 0h00

                                                                                                                                                                                                                                                                Então tá, moçada, a onda agora é brincar de adivinha-quem-matou na televisão. Olhando pelo lado bom, o novo jogo da Rede Globo não parece fundamentado nos parâmetros da linha Big Brother Brasil: em O Jogo, o que vai ao ar mostra ação, ou pelo menos tentativas de aproveitar o tempo útil – aquele que urge. Fora isso, O Jogo é uma jogada de marketing como os demais reality shows, com regras e metas pré-fixadas. Bem à maneira de O Caso dos Dez Negrinhos, de Agatha Christie, um a um vão sendo eliminados. A pouca diferença é que são 12 (agora 11), tanto do lado dos suspeitos quanto dos concorrentes ao prêmio. Sobre as personagens do programa, aí já se trata de outro capítulo. Seguindo uma linha de novidade zero no esquema global, a turma selecionada para participar dessa maratona, mesmo apresentada como relativamente eclética, vamos combinar, é homogênea no quesito recheio. Calma: aqui refiro-me à plástica, pois o que vai por dentro da cabeça de cada um também faz parte de outra história. Mas repare: meio à la Carlos Lombardi (o diretor de Kubanacan), a boa forma conta valiosos pontos para quem pretende fazer parte desses programinhas que simulam espontaneidade de vida em grupo.

                                                                                                                                                                                                                                                                Isso é bom para a emissora – a audiência aumenta e os intervalos comerciais levam anunciantes ao delírio – e para os participantes, já que, quando pouco, quem for eliminado pode ter os seus minutos de glória posando para o site da Globo, o Paparazzo.

                                                                                                                                                                                                                                                                Fora isso, o cenário do Jogo está mais para um arremedo amador de trama de suspense do que para a reconstituição de peças fundamentais que levarão ao esclarecimento de um crime. O ponto de partida: o assassino de Jacques Klein é um psicopata. A idéia é boa, e prende o telespectador ao mesmo tempo em que arrebata a atenção de um leitor de romance policial: a cada dia, novas pistas vão surgindo até chegar ao culpado, que pode ser qualquer um dos lotados na galeria dos suspeitos. Em casa, quem gosta do gênero de programa quebra a cabeça tecendo palpites. Será Ritinha, filha de um pai extremamente autoritário? Lúcio, que se tornou arredio e de poucos amigos por ter sofrido preconceito na infância? O andarilho Pepê, aquele que mais parece figura de cordel futurista? A dúvida alimenta a audiência. Mas a canastronice predominante dos atores ocasionais que vivem a história dá um tom circense-rústico ao programa. Para adicionar elementos mais convincentes, a Globo tratou de contratar o detetive carioca Jamil Warwar, especialista em desvendar casos complicados. O resto é com os participantes. Que, como previsto, já dão sinais de estresse pela convivência um com o outro. E aí o Jogo cai na mesmice.

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                                                                                                                                                                                                                                                                  Elas são jovens, bonitas, femininas e se amam. Até quando poderá ser mantido no ar o romance entre Clara e Rafaela (Aline Moraes e Paula Picarelli), não interessa: o fato é que que as duas são, ao pé da letra, mulheres apaixonadas. No caso, uma pela outra.

                                                                                                                                                                                                                                                                  Dignidade tem sido a palavra-chave com que o assunto, tão delicado como presente na atualidade, é tratado em Mulheres Apaixonadas. Não se trata da primeira vez que a televisão mostra a possibilidade harmoniosa do amor entre pessoas do mesmo sexo – mas a maioria das inserções na teledramaturgia não conseguia evoluir muito, pois esbarrava no conservadorismo da audiência. É, isso também faz parte.

                                                                                                                                                                                                                                                                  Manoel Carlos, aqui, retoma a importante função que um produto televisivo tem embutida, malgrado viver jogada às traças: a de promover a discussão de temas contemporâneos. A questão não se resume a assumir bandeiras, mas a lembrar que antes de tudo é preciso aceitar aquilo que, num primeiro momento, você pense que não dá para entender. A ótica sob a qual se descortina o relacionamento de Clara e Rafaela é a mais isenta possível, no sentido de não se apoiar em criar caricaturas. Isso já pode ser considerado uma evolução em termos de abordagem e linguagem de mídia eletrônica. Mulheres Apaixonadas, aliás, questiona em cima de diversas outras abordagens – todas, felizmente, situadas fora daquele contexto de “normalidade” que tantas vezes encerra uma sociedade preconceituosa e invejosa daqueles que ousam dar um passo à frente. A ética dos relacionamentos humanos em suas imensas possibilidades fora do estabelecido como “normal” recebe trato respeitoso da direção. E assim tem sido com Clara e Rafaela. Exceção à regra geral, o autor parece ter optado por não vender antecipadamente essa imagem – recurso cada vez mais freqüente na divulgação de novos produtos da teledramaturgia e que, muitas vezes contribui para a precoce descaracterização do roteiro original. Deixou rolar – e aqui estão as duas, lindas e até agora livres de crucificação.

                                                                                                                                                                                                                                                                  Pesquisas recentes apontaram que o público aprova, “com reservas”, o namoro de Clara e Rafaela. Nada de beijo de língua nem sexo explícito. Mas está de bom tamanho, na medida em que existe uma abertura para o assunto. Tomara que elas não tenham o mesmo destino de Laís e Cecília (Cristina Prochaska e Lala Dehleinzein), de Vale Tudo, ou de Leila e Rafaela (Sílvia Pfeiffer e Christiane Torloni), de Torre de Babel: foi preciso separar os casais com uma cirurgia de emergência no roteiro, que em ambos os casos ficou muito malcosturado. Mas tudo tem seu tempo. O principal é que o tema está sendo abordado com o respeito que merecem as orientações sexuais de cada um.

                                                                                                                                                                                                                                                                    Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                                                    Elas são jovens, bonitas, femininas e se amam. Até quando poderá ser mantido no ar o romance entre Clara e Rafaela (Aline Moraes e Paula Picarelli), não interessa: o fato é que que as duas são, ao pé da letra, mulheres apaixonadas. No caso, uma pela outra.

                                                                                                                                                                                                                                                                    Dignidade tem sido a palavra-chave com que o assunto, tão delicado como presente na atualidade, é tratado em Mulheres Apaixonadas. Não se trata da primeira vez que a televisão mostra a possibilidade harmoniosa do amor entre pessoas do mesmo sexo – mas a maioria das inserções na teledramaturgia não conseguia evoluir muito, pois esbarrava no conservadorismo da audiência. É, isso também faz parte.

                                                                                                                                                                                                                                                                    Manoel Carlos, aqui, retoma a importante função que um produto televisivo tem embutida, malgrado viver jogada às traças: a de promover a discussão de temas contemporâneos. A questão não se resume a assumir bandeiras, mas a lembrar que antes de tudo é preciso aceitar aquilo que, num primeiro momento, você pense que não dá para entender. A ótica sob a qual se descortina o relacionamento de Clara e Rafaela é a mais isenta possível, no sentido de não se apoiar em criar caricaturas. Isso já pode ser considerado uma evolução em termos de abordagem e linguagem de mídia eletrônica. Mulheres Apaixonadas, aliás, questiona em cima de diversas outras abordagens – todas, felizmente, situadas fora daquele contexto de “normalidade” que tantas vezes encerra uma sociedade preconceituosa e invejosa daqueles que ousam dar um passo à frente. A ética dos relacionamentos humanos em suas imensas possibilidades fora do estabelecido como “normal” recebe trato respeitoso da direção. E assim tem sido com Clara e Rafaela. Exceção à regra geral, o autor parece ter optado por não vender antecipadamente essa imagem – recurso cada vez mais freqüente na divulgação de novos produtos da teledramaturgia e que, muitas vezes contribui para a precoce descaracterização do roteiro original. Deixou rolar – e aqui estão as duas, lindas e até agora livres de crucificação.

                                                                                                                                                                                                                                                                    Pesquisas recentes apontaram que o público aprova, “com reservas”, o namoro de Clara e Rafaela. Nada de beijo de língua nem sexo explícito. Mas está de bom tamanho, na medida em que existe uma abertura para o assunto. Tomara que elas não tenham o mesmo destino de Laís e Cecília (Cristina Prochaska e Lala Dehleinzein), de Vale Tudo, ou de Leila e Rafaela (Sílvia Pfeiffer e Christiane Torloni), de Torre de Babel: foi preciso separar os casais com uma cirurgia de emergência no roteiro, que em ambos os casos ficou muito malcosturado. Mas tudo tem seu tempo. O principal é que o tema está sendo abordado com o respeito que merecem as orientações sexuais de cada um.

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                                                                                                                                                                                                                                                                      As Bodas de Ouro da Record são a novidade legal para esta temporada de outono. Não por acaso a programação começa no outono, estação em que as árvores costumam se desfolhar, deitando fora o que já deu sua cota e se preparando para o tempo de desabrochar mais uma vez. No caso da Record, um brinde aos 50 anos significa a história viva da televisão brasileira desde seus primórdios. É intensa essa programação do jubileu de ouro da emissora. Está sendo lançado no ar material cuja vasta idade exposta traz de cara uma sensação forte no telespectador: a de que já houve tempo em que a televisão tinha conteúdo nutritivo. O que nunca foi novidade, por exemplo, na rede de TV Educativa, naquele tempo era cardápio de toda emissora que começava carreira. Bons tempos. Antes de me saber saudosista diante disso, sinto-me privilegiado por ter vivido boa parte desse tempo, em que a televisão era um fascínio por sua originalidade. Além da novidade que representava um aparelho de tevê levando imagens vivas para a casa da gente, tratava-se de um tempo em que tudo que passava na telinha era interessante. A Record retoma esses tempos ricos. Para tanto tem convidado estrelas que fizeram parte da história da emissora que, ela sim, é alicerce da história da televisão no Brasil. Chico Anysio e Hebe Camargo estão entre essa constelação. Passaram pela Record no momento em que a emissora mais se destacava no cenário nacional. Ambos têm vasta quilometragem na estrada televisiva brasileira. Cada um a seu modo, participaram de momentos gloriosos da tevê. Mas Hebe ainda marcou presença, nesses tempos dourados da Record, como cantora. Ao lado de Ivon Cury, cantor contemporâneo da Atlântida – era a época de ouro dessa turma – a loira, que na época tinha cabelos negros, fez muito sucesso cantando na televisão. Hebe hoje é do SBT, e Chico, da Globo. Faz parte da história das televisões a alta rotatividade de seus profissionais. Pelo menos dos que marcam época. E a Record, nesse meio século que se comemora em 2003 e cuja retrospectiva já começou, vai retomar ao longo deste ano muitas atrações, várias do tempo do preto-e-branco, que são ricas em informação para quem hoje se acostumou à baixaria e à mesmificação do que rola na tevê. Com honrosas exceções, reina o que podemos chamar de padrão pocotó de qualidade. Sem maiúscula. A Record cinqüentona é hoje democrática. Tem programa da Eliana, volta e meia filmes curiosos, o populismo de Netinho, o popularesco de Raul Gil, amplo espaço para a mídia evangélica e, no jornalismo, um dos referenciais de maior credibilidade. Porque Boris Casoy, em seu estilo elegante e incisivo, é uma vitaminada aula de civilização contemporânea.

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                                                                                                                                                                                                                                                                        20/05/2003 0h00

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                                                                                                                                                                                                                                                                          Veículos de comunicação têm poder suficiente para mobilizar gigantescas disputas de domínio. Se aquilo que você lê num jornal pode repercutir de maneira incisiva em sua vida – e com qualquer pessoa pode acontecer uma revolução interior a partir de uma leitura –, na televisão, mídia eletrônica, as mensagens atuam como sanguessugas. Impregnam. Daí que muito do que se diz, e não se diz pouca bobagem, tem uma influência avassaladora na massa. Quer ver logo onde pretendo chegar? Pois bem, dia desses o goleiro do Palmeiras, Marcos, emplacou a perda de uma preciosa oportunidade de ficar calado. Enfurecido com os rumores no time (e na mídia, claro) de que seu recente afastamento por problemas de saúde é devido à quantidade de cigarros que fuma – perfil conflitante com suas atribuições no campo –, ele inventou de atacar seus companheiros com fofoca baixa. Andou espalhando que alguns dos jogadores do Palmeiras saíam com travestis. E a coisa repercutiu, evidentemente, na televisão. Lá estava ele, entrevistado por um desses programas de fim de noite que não posso afirmar pois não tenho certeza – mas, se não era da Rede TV!, parecia muito. Perguntaram-lhe sobre esse fuxico. Da resposta cometida, só me lembro de uma frase pela metade, em que o goleiro afirma ter dito o que disse por entender que todo mundo deve saber de tudinho em determinadas situações. Exemplificou em quais: “Quando a gente faz um mal para a sociedade, como eu, no caso (referindo-se a ser um atleta fumante)”. Isso tudo se passou em um programa, o Superpop, que utilizou a entrevista como um enxerto da “reportagem” onde travestis apareciam contando que já haviam saído com jogadores. E dando dicas: um tem um carro vermelho, aquele é casado, esse é um baixinho muito conhecido… Vá lá, gente boa. Defendo com barbas e dentes a liberdade de expressão de qualquer vivente. Eu é que não vou discutir que esse conceito de “fazer um mal para a sociedade” é um perigo se impregnado no subconsciente popular, já chegado a uma abertura para o supra-sumo do desmiolado? Ou argüir o porquê de um ser humano ir à televisão dizer que transou com alguém, famoso ou não, expondo uma intimidade que pode ter sido legal para ambos à devastação e ao preconceito. Nananina! Mas topa uma sugestão? Filtre o que lhe oferecem na telinha diante da qual o ser urbano passa tantas horas hipnotizado. Não se trata de “dar murro em ponta de faca”: a televisão é condicionadora e nem Merlin, o mago, pode mudar esta realidade. Nem tudo que oferece é bestial, mas boa parte, convenhamos, o é. E gostar de televisão não necessariamente nos condena a engatar uma violenta marcha-à-ré no aprendizado da vida.

                                                                                                                                                                                                                                                                            Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                                                            Veículos de comunicação têm poder suficiente para mobilizar gigantescas disputas de domínio. Se aquilo que você lê num jornal pode repercutir de maneira incisiva em sua vida – e com qualquer pessoa pode acontecer uma revolução interior a partir de uma leitura –, na televisão, mídia eletrônica, as mensagens atuam como sanguessugas. Impregnam. Daí que muito do que se diz, e não se diz pouca bobagem, tem uma influência avassaladora na massa. Quer ver logo onde pretendo chegar? Pois bem, dia desses o goleiro do Palmeiras, Marcos, emplacou a perda de uma preciosa oportunidade de ficar calado. Enfurecido com os rumores no time (e na mídia, claro) de que seu recente afastamento por problemas de saúde é devido à quantidade de cigarros que fuma – perfil conflitante com suas atribuições no campo –, ele inventou de atacar seus companheiros com fofoca baixa. Andou espalhando que alguns dos jogadores do Palmeiras saíam com travestis. E a coisa repercutiu, evidentemente, na televisão. Lá estava ele, entrevistado por um desses programas de fim de noite que não posso afirmar pois não tenho certeza – mas, se não era da Rede TV!, parecia muito. Perguntaram-lhe sobre esse fuxico. Da resposta cometida, só me lembro de uma frase pela metade, em que o goleiro afirma ter dito o que disse por entender que todo mundo deve saber de tudinho em determinadas situações. Exemplificou em quais: “Quando a gente faz um mal para a sociedade, como eu, no caso (referindo-se a ser um atleta fumante)”. Isso tudo se passou em um programa, o Superpop, que utilizou a entrevista como um enxerto da “reportagem” onde travestis apareciam contando que já haviam saído com jogadores. E dando dicas: um tem um carro vermelho, aquele é casado, esse é um baixinho muito conhecido… Vá lá, gente boa. Defendo com barbas e dentes a liberdade de expressão de qualquer vivente. Eu é que não vou discutir que esse conceito de “fazer um mal para a sociedade” é um perigo se impregnado no subconsciente popular, já chegado a uma abertura para o supra-sumo do desmiolado? Ou argüir o porquê de um ser humano ir à televisão dizer que transou com alguém, famoso ou não, expondo uma intimidade que pode ter sido legal para ambos à devastação e ao preconceito. Nananina! Mas topa uma sugestão? Filtre o que lhe oferecem na telinha diante da qual o ser urbano passa tantas horas hipnotizado. Não se trata de “dar murro em ponta de faca”: a televisão é condicionadora e nem Merlin, o mago, pode mudar esta realidade. Nem tudo que oferece é bestial, mas boa parte, convenhamos, o é. E gostar de televisão não necessariamente nos condena a engatar uma violenta marcha-à-ré no aprendizado da vida.

                                                                                                                                                                                                                                                                              Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                                                              29/04/2003 0h00

                                                                                                                                                                                                                                                                              Quando a Globo estreou O Beijo do Vampiro, o marketing da emissora fez tamanho alarde que a novela acabou ficando parecida com um produto aquém do esperado.

                                                                                                                                                                                                                                                                              Além do lançamento de um site sobre vampiromania, até matéria dizendo que aumentara a procura por máscaras e ícones de terror nas lojas de fantasia foi publicada – já nas primeiras semanas da novela. Convenhamos: foi barra forçada.

                                                                                                                                                                                                                                                                              Mas isso já passou e, a propósito, O Beijo do Vampiro está pendurado por apenas quatro capítulos. O que se puder aproveitar da trama está em contagem regressiva; portanto, vale para quem se diverte com a historinha de Antonio Calmon.

                                                                                                                                                                                                                                                                              Acompanhar O Beijo do Vampiro, aliás, só faz sentido quando o telespectador prepara os sentidos para assistir a uma espécie de filme de sessão da tarde: entretenimento infantil devidamente polvilhado com efeitos especiais dando vida a elementos de histórias fantásticas.

                                                                                                                                                                                                                                                                              O que segura a onda desse folhetim é seu claro apego ao formato fantasia-total. A tendência vem rondando na Globo as novelas das sete há tempos, e parece ter firmado escola. Tem um lado legal, que ajuda a encobrir falhas no tecido original da trama e deixa menos evidente, por exemplo, a performance canastrona de uma personagem nem tão secundária, como a Lívia de Flávia Alessandra.

                                                                                                                                                                                                                                                                              O efeito-fantasia também mostra vistosa contribuição ao desenvolvimento de outros papéis – razão pela qual a população de vampiros só fez crescer por ali. Alguém duvida que a Lara de Deborah Secco, por exemplo, cresceu quando passou a integrar o clube dos mortos-vivos? Talvez isso fizesse bem também a Lívia – no sentido de dar mais expressividade a um papel que, de resto, há várias tramas mostra a mesma Flávia Alessandra inalterada.

                                                                                                                                                                                                                                                                              O recurso vira ouro na mão de artistas mais talentosos, como as irmãs Betty e Rosane Gofman (Amélie e Van Preta, respectivamente) e Tato Gabus Mendes, que esculpiu um Bartô ímpar. Veteranos como Ney Latorraca e Tarcísio Meira, esses nadam de braçada no filão da comédia. E o mesmo acontece nas mãos de gente como Julia Lemmertz e Alexandre Borges, depois que tiveram seus respectivos Rodrigo e Marta guindados ao mundo das trevas.

                                                                                                                                                                                                                                                                              Assista, pois, e divirta-se. Ser e estar comédia tem sido a saída de outros produtos não necessariamente interessantes do universo da teledramaturgia. Inclusive da novela que vem antes, Agora é Que São Elas, uma mistura de Sai de Baixo com Vila Sésamo. No futuro, quem sabe, uma olimpíada em busca da originalidade perdida pode ser a chave.

                                                                                                                                                                                                                                                                                Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                                                                Além do lançamento de um site sobre vampiromania, até matéria dizendo que aumentara a procura por máscaras e ícones de terror nas lojas de fantasia foi publicada – já nas primeiras semanas da novela. Convenhamos: foi barra forçada.

                                                                                                                                                                                                                                                                                Mas isso já passou e, a propósito, O Beijo do Vampiro está pendurado por apenas quatro capítulos. O que se puder aproveitar da trama está em contagem regressiva; portanto, vale para quem se diverte com a historinha de Antonio Calmon.

                                                                                                                                                                                                                                                                                Acompanhar O Beijo do Vampiro, aliás, só faz sentido quando o telespectador prepara os sentidos para assistir a uma espécie de filme de sessão da tarde: entretenimento infantil devidamente polvilhado com efeitos especiais dando vida a elementos de histórias fantásticas.

                                                                                                                                                                                                                                                                                O que segura a onda desse folhetim é seu claro apego ao formato fantasia-total. A tendência vem rondando na Globo as novelas das sete há tempos, e parece ter firmado escola. Tem um lado legal, que ajuda a encobrir falhas no tecido original da trama e deixa menos evidente, por exemplo, a performance canastrona de uma personagem nem tão secundária, como a Lívia de Flávia Alessandra.

                                                                                                                                                                                                                                                                                O efeito-fantasia também mostra vistosa contribuição ao desenvolvimento de outros papéis – razão pela qual a população de vampiros só fez crescer por ali. Alguém duvida que a Lara de Deborah Secco, por exemplo, cresceu quando passou a integrar o clube dos mortos-vivos? Talvez isso fizesse bem também a Lívia – no sentido de dar mais expressividade a um papel que, de resto, há várias tramas mostra a mesma Flávia Alessandra inalterada.

                                                                                                                                                                                                                                                                                O recurso vira ouro na mão de artistas mais talentosos, como as irmãs Betty e Rosane Gofman (Amélie e Van Preta, respectivamente) e Tato Gabus Mendes, que esculpiu um Bartô ímpar. Veteranos como Ney Latorraca e Tarcísio Meira, esses nadam de braçada no filão da comédia. E o mesmo acontece nas mãos de gente como Julia Lemmertz e Alexandre Borges, depois que tiveram seus respectivos Rodrigo e Marta guindados ao mundo das trevas.

                                                                                                                                                                                                                                                                                Assista, pois, e divirta-se. Ser e estar comédia tem sido a saída de outros produtos não necessariamente interessantes do universo da teledramaturgia. Inclusive da novela que vem antes, Agora é Que São Elas, uma mistura de Sai de Baixo com Vila Sésamo. No futuro, quem sabe, uma olimpíada em busca da originalidade perdida pode ser a chave.

                                                                                                                                                                                                                                                                                  Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                                                                  15/04/2003 0h00

                                                                                                                                                                                                                                                                                  Em termos de maus exemplos, quem assiste a Mulheres Apaixonadas estará cometendo injustiça se reclamar de atendimento precário. Se não, vejamos.

                                                                                                                                                                                                                                                                                  Começa que ali pouco se trabalha, mas se ganha o suficiente para morar bem. OK, isso não é exatamente um mau exemplo – mas propaganda enganosa, lá isso é. E depois Brasília é que ganha a fama de “ilha da fantasia.” Seguindo pela mesma trilha – a que vende imagem de um tempo que há muito já se foi –, repare que dirigir falando ao celular é comum entre vários personagens, bem como andar de moto sem capacete. Normalmente quem anda de moto ali na trama de Manoel Carlos também gosta de brincar de abrir os braços e as pernas, para melhor sentir o gosto da liberdade ao vento. Não pense que tenho qualquer tese contra a liberdade. Muito pelo contrário. Mas conheço o trânsito do Rio de Janeiro, tumultuado o suficiente para desaconselhar essas acrobacias sobre duas rodas.

                                                                                                                                                                                                                                                                                  Ainda no capítulo da indústria das ilusões, fico chapado de ver como pode uma professora de educação física ganhar bem o suficiente para morar em um bairro de classe média-alta e manter, luxo supremo, uma empregada doméstica. Pois é assim que vive a bela Raquel, interpretada por Helena Ranaldi. Também não acho que professoras de educação física mereçam salários pequenos, mas juro que, até o fechamento desta edição, não havia sido informado que o mercado de trabalho anda tão bom no Rio. E a Vidinha (Júlia Almeida), conte pra mim, gente boa, por que não estuda? OK que a moça trabalha no hotel do paizão, é bem-nascida e tem grana – mas corre o risco de muita gente desavisada ver e achar que assim caminha a humanidade.

                                                                                                                                                                                                                                                                                  Assumir a diretoria de um colégio com o tempo vago que a sempre bela Helena (Christiane Torloni) tem é algo também que só pode acontecer no país de Alice, a das Maravilhas. E poder viajar para Paris de repente, como a artista plástica Heloísa (Giulia Gam), também é muito bom… Se pudesse ser verdade. Aliás, alguém já viu Heloísa trabalhando?

                                                                                                                                                                                                                                                                                  Sei não, acho que no fundo eu é que estou me manifestando ranzinza como essa Heloísa, quando sei que ali tudo não passa de ficção… Mas defendo que novelas devem ter sua margem mínima de verossimilhança.

                                                                                                                                                                                                                                                                                  A propósito, mau exemplo mesmo é o tratamento que Dóris (Regiane Alves) dá a seus avós. Mas isso, a gente já sabe, faz parte de uma situação que será revertida para criar uma campanha de respeito à terceira idade. Porque Manoel Carlos, embora repita as Helenas e insista em que a vida só é boa no Leblon e na Barra da Tijuca, tem o mérito de se engajar em campanhas positivas. Mostra, pois, saber que tevê não é só para vender.

                                                                                                                                                                                                                                                                                    Você também pode gostar

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                                                                                                                                                                                                                                                                                    15/04/2003 0h00

                                                                                                                                                                                                                                                                                    Em termos de maus exemplos, quem assiste a Mulheres Apaixonadas estará cometendo injustiça se reclamar de atendimento precário. Se não, vejamos.

                                                                                                                                                                                                                                                                                    Começa que ali pouco se trabalha, mas se ganha o suficiente para morar bem. OK, isso não é exatamente um mau exemplo – mas propaganda enganosa, lá isso é. E depois Brasília é que ganha a fama de “ilha da fantasia.” Seguindo pela mesma trilha – a que vende imagem de um tempo que há muito já se foi –, repare que dirigir falando ao celular é comum entre vários personagens, bem como andar de moto sem capacete. Normalmente quem anda de moto ali na trama de Manoel Carlos também gosta de brincar de abrir os braços e as pernas, para melhor sentir o gosto da liberdade ao vento. Não pense que tenho qualquer tese contra a liberdade. Muito pelo contrário. Mas conheço o trânsito do Rio de Janeiro, tumultuado o suficiente para desaconselhar essas acrobacias sobre duas rodas.

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                                                                                                                                                                                                                                                                                    Assumir a diretoria de um colégio com o tempo vago que a sempre bela Helena (Christiane Torloni) tem é algo também que só pode acontecer no país de Alice, a das Maravilhas. E poder viajar para Paris de repente, como a artista plástica Heloísa (Giulia Gam), também é muito bom… Se pudesse ser verdade. Aliás, alguém já viu Heloísa trabalhando?

                                                                                                                                                                                                                                                                                    Sei não, acho que no fundo eu é que estou me manifestando ranzinza como essa Heloísa, quando sei que ali tudo não passa de ficção… Mas defendo que novelas devem ter sua margem mínima de verossimilhança.

                                                                                                                                                                                                                                                                                    A propósito, mau exemplo mesmo é o tratamento que Dóris (Regiane Alves) dá a seus avós. Mas isso, a gente já sabe, faz parte de uma situação que será revertida para criar uma campanha de respeito à terceira idade. Porque Manoel Carlos, embora repita as Helenas e insista em que a vida só é boa no Leblon e na Barra da Tijuca, tem o mérito de se engajar em campanhas positivas. Mostra, pois, saber que tevê não é só para vender.

                                                                                                                                                                                                                                                                                      Você também pode gostar

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