Hoje é o Dia do Servidor Público. Mas talvez o único motivo para comemorar no Distrito Federal seja mesmo o feriado. Depois de sacramentar o calote das 32 categorias que esperavam, um ano depois, o pagamento dos reajustes salariais, o governador Rodrigo Rollemberg mandou que o chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio, reunisse a imprensa para dizer que o salário de outubro pode atrasar. Para os servidores, o governo erra na estratégia do terrorismo e do combate às categorias. O recado do Palácio do Buriti reforçou que os pontos de quem fizer greve também serão cortados.
Ponto de vista
Marli Rodrigues, presidente do SindSaúde-DF, diz estranhar o discurso do governo. “Em uma semana, diz que não vai conceder as incorporações e a isonomia dos servidores da Saúde, bem como o reajuste de algumas categorias, porque a ‘prioridade era pagar o salário em dia’. Na semana seguinte, dizem que ‘não sabem se conseguirão pagar os salários’”, expôs. Para ela, o governo faz ataques “com requintes de crueldade” contra os servidores e a sociedade. “São ataques típicos de regimes fascistas e totalitários”, completa.
O governo não faz o mínimo esforço para dialogar com as categorias, embora pregue isso, já que até o risco dos salários não serem pagos no quinto dia útil de novembro foi levantado em entrevista coletiva, e não em reunião com as categorias. Conforme Ibrahim Yusef – presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Civis da Administração Direta, Autarquias, Fundações e Tribunal de Contas do DF (Sindireta) -, o presente do governo é deixar a situação do serviço público com o pior cenário possível.
“A equipe econômica já tinha nos passado que aguardam o pagamento do ICMS e outros da área federal. Não tem saldo agora, mas é preciso aguardar a receita do imposto. Acho que o governador está indo totalmente na contramão. Ele deveria gerar tranquilidade até para garantir a boa prestação de serviços. Mas prefere fazer terrorismo”, desabafa.
A estratégia de colocar em risco o pagamento do salário de outubro é só para, mais uma vez, tentar justificar o não pagamento da terceira parcela dos reajustes, insistindo no discurso de que não tem dinheiro em caixa. E, com o discurso de que não pagará pelos dias paradas, tem a intenção de desmobilizar o e acuar os servidores. “Esse prenúncio do governo com uma mensagem completamente pessimista, ainda mais às vésperas do Dia do Servidor, é ruim para o Estado, para o comércio e, claro, para o servidor”, observou o sindicalista.
Passou no STF:
Corte de
ponto é legalOntem, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu o julgamento de um recurso que libera o corte de ponto por greve de servidores, exceto se houver acordo de compensação.
Também foi decidido que o desconto não poderá ser feito caso o movimento grevista seja motivado por conduta ilícita do poder público.
A tendência é de que os sindicatos lancem mão de alternativas para continuar a mobilizar as categorias. “Vamos encontrar uma outra maneira de fazer os movimentos paredistas”, disse Yusef, adiantando que, na terça-feira, o movimento sindical se reúne para definir os próximos passos.
Simpatia, bondade e ironia
“Esse governador é de uma simpatia e bondade incomparáveis”, ironiza Rosilene Corrêa, diretora do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF). Para ela, a estratégia do terrorismo é completamente “equivocada” e mostra apenas a incompetência de Rollemberg. “Ele admite incompetência na gestão. Com dois anos de governo e não consegue reverter o quadro (de crise)”, citou.
Ela disse que os servidores entendem que o governo apresente as dificuldades, mas tem obrigação de passar segurança para a população “e a ideia de que está empenhado em resolver os problemas”.
A tentativa de acuar os movimentos que já estão em andamento, nas palavras dela, é “lamentável”. Principalmente na semana em que é comemorado o Dia do Servidor Público.
Ela lembrou que o anúncio do calote foi feito um dia depois do Dia do Professor. “Isso é muito grave, causa mal estar e tem consequência na prestação de serviços”, citou.