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Política & Poder

Servidores são indiciados pela Polícia Civil do DF por tentativa de extorsão

Arquivo Geral

20/09/2016 7h00

“Quando recebi a farta documentação, não tinha dúvida de que tinha indícios fortíssimos de vários crimes”, Caio Barbieri, ex-servidor da Casa Civil. Foto: Josemar Gonçalves

millena lopes
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Dois servidores concursados e um comissionado já exonerado são indiciados pela Polícia Civil por tentativa de lavagem de dinheiro e concussão. A denúncia de tentativa de extorsão partiu da presidente do SindSaúde-DF, Marli Rodrigues, que gravou – em áudios e vídeo – as investidas do ex-ouvidor da Vice-Governadoria, Valdecir Medeiros; do funcionário da Secretaria de Planejamento, Edvaldo Simplício da Silva; e do ex-gerente de Cessões, Requisições e Ressarcimentos da pasta, Christian Michael Popov.

Em novembro do ano passado, Popov enviou um e-mail ao sindicato, solicitando a apresentação de documentos, no prazo de 30 dias, como condição para ter o repasse de recursos ao sindicato mantido. Na tentativa de relaxar o prazo, a sindicalista procurou um antigo conhecido. Medeiros, o contato dela dentro do Palácio do Buriti, então sugeriu que ela conversasse com Simplício, que sugeriu o pagamento de R$ 214 mil, divididos em 12 parcelas (entrada de R$ 50 mil, 10 parcelas de R$ 15 mil e uma última de R$ 14 mil).

Com as provas reunidas, Marli enviou uma carta ao governador Rodrigo Rollemberg, relatando o ocorrido, em dezembro de 2015. Mas, só agora, a polícia indiciou os envolvidos, que não foram encontrados para comentar o assunto. “Embora a denúncia tenha sido feita no fim do ano passado, vou aguardar e espero que seja feita a justiça”, afirma Marli, ao concluir que todo o processo pelo qual vem passando tem sido “ doloroso e desgastante de enfrentar”.

Quando começou a produzir as provas para denunciar o esquema de extorsão, Marli acabou gravando o vice-governador Renato Santana, que é próximo de Medeiros. Nos áudios, ele critica atitudes do governador, expõe a relação mal resolvida dos dois e conta que ele mesmo denunciou um esquema de cobrança de propina no governo. Por causa dos áudios, Marli, o vice e outros gravados e citados nos áudios foram convocados para prestar depoimentos na CPI da Saúde, na Câmara Legislativa

Demitido após denúncia

Na época servidor da Casa Civil, o jornalista Caio Barbieri reuniu o dossiê produzido pelo sindicato e levou ao conhecimento do secretário Sergio Sampaio. Depois da denúncia, ele saiu da pasta e foi nomeado na Secretaria de Esporte, de onde foi exonerado quando os áudios foram divulgados. Na época, o governo publicou no Diário Oficial do DF que a saída foi “a pedido”, sem ele nem sequer ter apresentando qualquer papel.

“Quando recebi a farta documentação, não tinha dúvida de que o indiciamento acontecesse. Tinham indícios fortíssimos de vários crimes. Tanto que levei para a esfera judicial e administrativa. E cobrei insistentemente um posicionamento”, observa o jornalista.

Saiba mais

Em carta destinada ao governador Rodrigo Rollemberg, a sindicalista Marli Rodrigues detalha o esquema de que tem conhecimento.

Ela conta que aceitou a proposta dos servidores da Secretaria de Planejamento, mesmo não tendo interesse de pagar o valor exigido.

Ela conta, no ofício datado de 14 de dezembro de 2015, que foi instada a apresentar certidões negativas de débitos junto ao INSS, da Receita Federal e da Secretaria de Fazenda e certificado de regularidade do FGTS.

No documento enviado ao sindicato, havia a informação de que, se não cumprisse as exigências, seria iniciado processo de descredenciamento, sob pena de o SindSaúde ficar sem repasse dos recursos da mensalidade sindical retida na folha de pagamento de servidores da Saúde.

GDF diz que vai esperar decisão final

Dois dos três servidores indiciados são concursados e lotados na Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão. O Palácio do Buriti informou que “aguarda a decisão da Justiça para, então, tomar outras medidas cabíveis em relação aos servidores efetivos”.

Em nota, o Governo do DF explica que a denúncia da sindicalista Marli Rodrigues foi recebida em dezembro de 2015 pela Casa Civil, que imediatamente acionou a Polícia Civil. Em abril de 2016, a Secretaria de Planejamento recebeu denúncia sobre o caso, de forma anônima, e também informou, em 2 de maio, à Polícia Civil. “Em função dessas denúncias e dos primeiros trabalhos da Inteligência, a PCDF instaurou o inquérito em maio”, diz o texto enviado pelo Palácio do Buriti.

Conforme o Executivo, a Controladoria-Geral do Distrito Federal tem atuado de modo suplementar ao trabalho da Polícia Civil. Assim, diz a nota, “o governo de Brasília contribuiu de todas as formas para que as denúncias fossem apuradas e os envolvidos responsabilizados”.

Os servidores Edvaldo Simplício da Silva e Christian Michael Popov foram afastados das funções e hoje estão de licença médica, conforme o governo informou. Ainda segundo a nota, o ex-ouvidor da vice-governadoria, Valdecir Medeiros, foi exonerado em 25 de julho.

No MP

O inquérito deve ser enviado ao Ministério Público do DF, que inda pode oferecer denúncia contra os envolvidos à Justiça. Somadas, as penas dos dois crimes (lavagem de dinheiro e concussão) podem chegar a 22 anos de prisão e pagamento de multa.

No mês passado, a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão no Buriti, onde foram apreendidos documentos e computadores. Também foram alvos de busca e apreensão as casas dos três envolvidos.

Os servidores do Planejamento são suspeitos de oferecer um tipo de serviço de assessoria técnica para resolver a pendência do sindicato e aí recebiam a suposta propina. Marli Rodrigues chegou a assinar um contrato com uma corretora de seguros de nome Netsaron.

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