Maia costura o centro como alternativa a Bolsonaro e Lula
Rudolfo Lago
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“O centro não é a ausência de posições. É a ausência de preconceitos”. Essa é uma das frases de um vídeo que começou a circular nas redes sociais no final da semana passada.
Ao longo das bem produzidas cenas, aparecem personagens que, na visão do autor do vídeo, ao longo da história buscaram negociação e consenso, como Nelson Mandela, Martin Luther King e John Kennedy, em contraste com nomes que, na concepção dos autores, optaram e optam pelo radicalismo, como Hugo Chávez e Donald Trump.
No vídeo, não aparecem políticos e autoridades brasileiras, embora fique claro que é do Brasil que o vídeo trata e é para o Brasil que ele se destina.
Exemplos históricos
No caso brasileiro, o vídeo se vale de momentos históricos, estampados em manchetes de jornal. A anistia dos presos políticos, a campanha pelas Diretas, a Constituinte e a recém-aprovada reforma da Previdência são apontados como exemplos do consenso e do equilíbrio que se alcançam quando se opta pelo caminho do centro.
O vídeo não é assinado por ninguém. Por nenhum político especificamente. Por nenhum partido.
Mas a inclusão da reforma da Previdência como exemplo no final trai a digital do seu idealizador. Seu nome é Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados.
Trata-se da primeira evidência pública mais concreta do ensaio que Maia faz para se descolar da figura do presidente Jair Bolsonaro e de seu governo conservador e de direita, marcas que passaram a ser mais reforçadas a partir da criação na semana passada de seu novo partido, o Aliança pelo Brasil. E para, ao se descolar, colocar-se como o construtor de uma alternativa.
Resposta à polarização
Diante dos sinais de que tanto Bolsonaro como seu principal adversário no momento, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu PT, optaram por manter acesa a radicalização que marcou as últimas eleições, Maia começa a costurar uma articulação de centro.
Quer vender a ideia de que é pelo centro que está o único caminho possível para tirar o país do quadro de crise e de convulsão social que hoje o atormenta.
Todas as imagens do vídeo convergem nesse sentido. O material foi dirigido pelo marqueteiro Chico Mendez, que foi o responsável, nas eleições passadas, pela campanha à Presidência de Henrique Meirelles, pelo MDB, e que fez outras campanhas importantes no Brasil e no mundo, como a de Henrique Capriles, na Venezuela, em 2012.
Rodrigo Maia costurou que a ideia seja encampada pelos partidos que compõem o que ele identifica como o centro democrático.
Além de seu partido, o DEM, estão envolvidos com a propagação do vídeo o MDB, o PP, o PL, o PRB, o PSD, o Avante e o Solidariedade.
O que ficou acertado é que os partidos e seus representantes, neste primeiro momento, devem compartilhar as imagens nas suas redes sociais como uma ideia inicial a ser lançada.
Ao final do vídeo, há um logotipo com a bandeira brasileira estilizada e a palavra “Centro”.
“Vantagens” como ponto de equilíbrio
Durante toda a sua exibição, o vídeo vai exibindo “vantagens” do centro. Desde o próprio vocábulo, lembrando que pontos de referência em diversas áreas são definidos como “centro”: “centro cirúrgico”, “centro financeiro”, etc.
Passa, então, para a concepção da física, que define o centro como o “ponto de equilíbrio” que mantém os corpos estáveis.
Até chegar à concepção de centro na política, definido no vídeo como um espaço de convergência. Enquanto os extremos se excluem e se afastam mais a mais, o centro é identificado no vídeo como o espaço no qual as ideias concebidas pelos extremos conversam e podem ser admitidas sem disputa. Onde se buscam as partes para “formar um todo”.
Ao citar a reforma da Previdência, Rodrigo Maia agrega no vídeo uma construção que tem a sua autoria. Para, assim, se credenciar como a referência para a mensagem que o vídeo quer passar. Ou seja: para voos eleitorais futuros.
É aí que a ideia pode esbarrar em problemas, caso não haja habilidade na sua construção.
O vídeo, porém, está lançado. Ou a sorte…