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Política & Poder

Entrevista Rollemberg: PSB fará oposição ao futuro governo

Arquivo Geral

21/12/2018 7h00

Atualizada 20/12/2018 23h31

Foto: Kléber Lima/Jornal de Brasilia

Francisco Dutra
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O PSB será uma oposição qualificada ao futuro governo do Distrito Federal. Preparando a despedida do Palácio do Buriti, o governador Rodrigo Rollemberg definiu a nova posição política do Diretório Regional do seu Partido Socialista Brasileiro. A legenda não caminhará ao lado do governador eleito Ibaneis Rocha (MDB). Mas não fará uma oposição raivosa. Segundo Rollemberg, o sucessor terá R$ 1,5 bilhão em investimentos engatilhados, além de R$ 600 milhões livres no caixa público. “Pretendo disputar outras eleições. Agora, para que cargo disputarei eleição só mais próximo para decidir”, avisa. O atual governador também é enfático na defesa da manutenção e ampliação do novo modelo do Instituto Hospital de Base. “Se acabar com o Instituto, Ibaneis estará cometendo o maior erro de sua gestão”, alerta.

Qual é o legado do governo Rollemberg?
É possível governar com honestidade e com eficiência. O DF está em paz, está arrumado. O próximo governo vai receber uma cidade infinitamente melhor do que a que eu recebi. Ele vai ter mais de R$ 600 milhões livres. Vamos deixar empenhadas e liquidadas as férias dos professores, um terço de férias para ser pago no dia 7 de janeiro. Nós vamos deixar R$ 1.5 bilhão de investimentos contratados, licenciados, prontos para serem executados. Estamos entregando uma cidade mais democrática com a abertura da Orla do Lago Paranoá. E mais digna com o encerramento das atividades do Lixão da Estrutural. Inovamos a gestão da Saúde, com um modelo que tenho certeza que será referência para o Brasil, que o Instituto Hospital de Base, 100% público, gratuito. Peguei uma cidade à beira do caos e estamos entregando uma cidade em paz.

E se Ibaneis extinguir o Instituto Hospital de Base?
Todo modelo pode e deve ser aperfeiçoado. Agora, se o governador eleito acabar com o Instituto Hospital de Base, estará cometendo o maior erro da sua gestão. Porque ele vai estar eliminando um instrumento moderno de gestão, que comprovadamente está permitindo a oferta de serviços de muito mais qualidade do que o modelo anterior. Se você for comparar o nível de absenteísmo de um servidor da rede pública tradicional e um servidor contratado no novo modelo do instituto, a diferença é abismal. Você tem 13% de absenteísmo no modelo tradicional e menos de 1% no novo. O instituto pactua metas. Se o profissional não cumprir, pode ser substituído, em benefício da população. O Base dobrou o número de cirurgias realizadas. O modelo tradicional gasta oito meses para comprar um medicamento, o novo compra em 40 dias e mais barato. Deve ser mantido e ampliado em benefício da saúde pública.

A partir de 2019 por onde caminhará Rollemberg?
A partir de 3 de janeiro, vai caminhar nas areias das praias do Nordeste, durante um tempo (Risos). Há pelo menos cinco anos, desde janeiro de 2014, eu não tiro férias. A partir do início de fevereiro estarei na liderança do PSB, trabalhando, ajudando a bancada do partido no Senado e na Câmara, procurando ajudar Brasília.

Foto: Kléber Lima/Jornal de Brasilia

Então, 2022 está muito longe?
Tudo é muito relativo. Pode estar muito longe ou muito perto, não é? Eu continuo na vida pública. Pretendo disputar outras eleições. Agora, a que eu vou disputar a eleição só mais próximo para decidir. Mas vou continuar atuando politicamente. Meu objetivo é ajudar o PSB nacionalmente, localmente e ajudar Brasília.

Como vai ser a posição nacional e local do PSB?
Em relação ao Bolsonaro, o PSB Nacional já tomou posição. O partido será um partido de oposição. Oposição qualificada. Será uma oposição que vai procurar ajudar o Brasil a superar os desafios que tem pela frente. Da mesma forma aqui em Brasília. A nossa posição é de oposição ao governo, mas de apoio a Brasília. Compreendendo que o governo precisará de apoio para tomar medidas que serão importantes para Brasília. Eu gosto de repetir: Eu, por muitas vezes, contei com o apoio da oposição. Nós temos uma cultura política muito ruim no Brasil. Muitas vezes os deputados da base aproveitam os momentos de dificuldade do governo para tentar tirar benefícios próprios ou políticos. E muitas vezes você precisa contar com a oposição. Muitas vezes contei com a bancada do PT, com o deputado Chico Vigilante, Ricardo Vale. E também com o deputado Rafael Prudente (MDB). E outros. Embora fossem deputados de oposição, ajudaram mais o governo do que alguns deputados da própria base.

Como deve ser a relação do Executivo com o Legislativo?
A relação do Executivo com o Legislativo será o grande desafio do presidente Bolsonaro e do governador eleito Ibaneis. Porque a Câmara tem muito poder. Você tem parlamentares, que pela cultura política, tentam tirar proveito político, pessoal, digo, politicamente. Para o governador eleito vai ser muito mais fácil do que para mim. Governei em um momento de muita crise, muitas vezes a agenda do Executivo não era popular. Não permitia a mobilização da população. Quando foi possível nós fizemos. A própria vitória do Instituto Hospital de Base foi porque a gente mobilizou a população. Quando você tem agendas positivas é muito mais fácil mobilizar a população. Essa é a sugestão que deixo para o governador eleito Ibaneis.

A população de rua não diminuiu no seu governo. Por que?
Aconteceu que o Brasil viveu a maior crise econômica da sua história. Apesar de toda dificuldade economica nós não cortamos nenhum programa social, nenhum benefício social. Muito pelo contrário, criamos outros. E assinei um convênio com 13 comunidades terapêuticas ampliando o número de vagas para o acolhimento de dependentes químicos, grande parte deles são moradores de rua.

Por que o senhor não foi reeleito?
Política é assim. É uma roda gigante. Uma hora vocês está em cima, outra não. Esse revezamento é bom para a democracia. E você tinha um sentimento muito grande renovação na política. E o candidato eleito sobre encarnar esse sentimento na campanha. Vamos ver se vai encarnar no governo. Ele se elegeu por ser desconhecido. Veja como a política é pitoresca.

O senhor faria algo diferente no seu governo?
A forma de administração e ocupação das administrações regionais eu faria diferente. Cedi muito aos deputados distritais. Fui o governo que menos cedeu, digamos assim, à classe política naqueles arranjos tradicionais da política. Você pode ver que no meu governo secretário de Saúde, Educação, Obras, Segurança não foram indicações políticas. Onde os arranjos aconteceram? Nas administrações. Eu teria sido mais criterioso na definição de critérios para a ocupação das administrações. Também cuidaria mais da política. Nós ficamos muito concentrados em uma governança econômica, que foi muito bem sucedida. É um legado. Serei conhecido como o governador que recuperou Brasília. Agora, esse núcleo econômico acabou ditando a política. Talvez, se a gente tivesse tido um cuidado maior na política, teríamos enfrentado menos problemas.

O que foram esses quatro anos em uma palavra?
Desafios.

Foto: Kléber Lima/Jornal de Brasilia

Os investimentos preparados para 2019 são para várias obras?

São para várias áreas. A continuidade das obras de Vicente Pires, Sol Nascente. Construção de centros de triagem para os catadores. Enfim, são obras diversas. Nós vamos deixar uma máquina moderna, nós implantamos o Sistema Eletrônico de Informações (SEI), em todos os 92 órgãos do GDF. Isso, além de economia de R$ 2 milhões de papel ao ano, dá rastreabilidade aos processos, dá transparência. Não existe mais processo em gaveta. Não existe mais página sumindo de processo. Nós lançamos um aplicativo que vai transformar a vida do cidadão brasiliense, aproximando o Estado, o governo, do cidadão. Ali, no celular, ele vai ver o boletim do filho, a frequência do filho, se o filho falta a aula ele pode receber o alerta. Ali ele acessa os benefícios da área social. Ali ele fotografa um buraco e manda para ouvidoria, que já aciona imediatamente a Novacap. Enfim, já são 1.2 mil serviços de ouvidoria funcionando. E que vai ser permanentemente aperfeiçoado, atualizado. Nós estamos entregando um cidade com a menor taxa de homicídios dos últimos 32 anos. É a maior redução de homicídios do Brasil. Olhando os dados de quinta-feira (20), nós estamos no acumulado do ano com 58 homicídios à menos do que no ano passado, que foi o menor dos últimos 30 anos. Também avançamos muito no processo de infraestrutura das cidades, Sol Nascente, Vicente Pires, Porto Rico, Buritizinho.

E na educação?

Criamos 16 mil novas vagas em creches e na educação infantil. Mais do que dobramos o número de Centros de Línguas. E estamos deixando engatilhadas as construções de várias escolas técnicas. Implantamos o Bilhete Único de Transporte Público. Vamos deixar três estações do Metrô para serem inauguradas nos primeiros 90 dias do próximo governo.

Quais estações?

Cine Brasília, 110 Sul e Águas Claras. Deixamos prontos o edital de licitação da expansão do Metrô de Samambaia. Vamos deixar pronto para ser inaugurado nos primeiros quatro meses do ano o Trevo de Triagem Norte, que é a maior obra viária da história de Brasília. Recuperamos vários dos espaços culturais da cidade. Inauguramos outros, como Complexo Cultural de Samambaia a e Complexo Cultural de Planaltina. Então temos um legado. E fizemos tudo isso em um ambiente de muita dificuldade. Retiramos a cidade do caos. Basta olhar essa Praça do Buriti. O que era isso aqui em dezembro de 2014? E o que é em dezembro de 2018?

O desgaste do seu governo com os servidores é consequência apenas do fato de ser governo não ter concedido os reajustes prometidos por gestões anteriores?

Esse foi o mais grave. Eu diria que o reajuste não dado ao servidores públicos de uma forma geral fez com que os sindicatos empreendessem uma luta para desgaste da minha imagem muito grande. E o reajuste não dado à Polícia Civil. Os maiores problemas que enfrentei foi com os sindicatos da saúde e da Polícia Civil. No caso da Polícia Civil, o sindicato cometeu um erro grave. Porque nós fizemos três propostas de reajustes que não foram aceitas pelo sindicato, que poderiam ter reduzido muito a diferença entre os salários atuais e a paridade com a Polícia, o que eles reivindicam. Mas o radicalismo do sindicato dos agentes da Polícia Civil, o Sinpol, impediu que eles aceitassem a proposta. E eles acabaram trazendo um prejuízo enorme para a categoria.

Foto: Kléber Lima/Jornal de Brasilia

Como um governo, o Estado, deve dialogar com servidores para criar um ambiente harmônico e produtivo?

Acho que tem que dialogar. Nós dialogamos. O problema é o seguinte: Você tem uma cultura instalada no serviço público, nos sindicatos, em que muitas vezes o corporativismo fica cego em relação aos interesses da população. E defende muitas vezes privilégios e com o tempo acabam se voltando contra a própria categoria. Veja que nós chegamos ao cúmulo de ter um presidente de sindicato, um médico, dizendo abertamente, filmado publicamente, que iria boicotar o governo durante quatro anos, se não desse o reajuste. Ora, quando um médico boicota um governo, boicota a própria população. Na verdade, ele está cometendo um crime. Porque se um médico nega um atendimento, ele está cometendo o quê? Um crime. O que chama a atenção nesse caso é o Conselho Regional de Medicina não ter tomada providências contra isso. Isso demonstra falta de compromisso com profissão, com as pessoas, com o juramento que o médico faz no momento de sua formatura.

Ao longo do governo, quais foram os dias mais marcantes? Aqueles em que o senhor acha que o governo marcou um gol.

Nós tivemos momentos muito emocionantes em que você percebe que todo esforço valeu à pena. Eu citaria o dia que a gente iniciou a desobstrução da Orla do Lago e entregou ela completamente desobstruída. O dia da desativação do Lixão da Estrutural, mas sobretudo o dia em que a gente inaugurou o primeiro centro de triagem, vendo a mudança na vida dos catadores. É um salto civilizatório. É uma mudança de padrão civilizatório para essas pessoas. Elas corriam risco de vida, trabalhavam debaixo de Sol e de chuva, disputando comida com cachorro, urubu. E vimos elas trabalhando com o que há de mais moderno de tecnologia, recebendo pelo trabalho. O dia da inauguração do Hospital da Criança. Ver a Barragem do Descoberto, em pleno mês de dezembro com 100% da sua capacidade. Essas obras de captação de água são lindas. É uma emoção muito grande. O asfalto chegando no Sol Nascente. Teve o depoimento de uma senhora que marcou quando a gente passou. Ela estava chorando. E alguém perguntou e ela respondeu: que o marido morreu sem ver aquilo acontecendo. E ele sonhava com o dia em que o Sol Nascente recebesse o asfalto. Nós tivemos muitos momentos de muita emoção, satisfação e alegria ao perceber o governo, de fato, mudando a vida das pessoas.

A crise hídrica está realmente superada? Especialistas dizem que o GDF demorou para agir e suspendeu o racionamento antes da hora certa.

Se eu fosse ouvir os conselhos de políticos dessa cidade, políticos de respeito, eu teria terminado esse racionamento muito antes, se eu tivesse pensado eleitoralmente. Em nenhum momento do meu governo, eu pensei na próxima eleição. Eu sempre pensei em fazer o que era correto e justo. Nós só terminamos o racionamento quando tivemos segurança absoluta que jamais precisaríamos voltar à ele. A prova está aí: nunca nossa represa verteu em dezembro. E tem uma chance muito grande verter até o final do ano. Faltam 17 centímetros para ela verter. Nós chegamos ao final da seca com mais de 50% da capacidade do reservatório. E nós temos agora uma versatilidade. Porque hoje Gama pode ser abastecido pelo Descoberto, pela nova estação que inauguramos. Poderá ser abastecido também pelo Corumbá. Essas obras me dão muito orgulho. Agora, você tem duas áreas isoladas do DF que não são abastecidas pelas Barragens. Uma região de Planaltina e Sobradinho, abastecida pelo Pipiripau. Nessas nós compramos tubos para soprar água do Santos Dumont. Mas o próximo governo precisa concluir isso. E a Caesb está aumentando de 40 litros por segundo para 100 litros por segundo a água que vai do Lago Paranoá para abastecer Sobradinho. Então estamos próximos de resolver definitivamente. E você tem algumas áreas isoladas da região mais rural de Brazlândia que precisa de um cuidado, de um investimento. Então, 95% da população do DF, posso assegurar que não vai ter nenhum problema de abastecimento de água nos próximos 30 anos.

O Tribunal de Contas do DF publicou um relatório alertando para o péssimo estado de conservação das escolas públicas. Como estão as escolas que serão entregues para o próximo governo?

Infinitamente melhor do que as que recebemos. E esse depoimento você colhe dos diretores, dos coordenadores das regionais de educação. E eu vou lhe dar a prova cabal disso. Primeiro é o seguinte, a imprensa, me perdoe a crítica, é muito superficial. E muitas vezes ela pega um relatório feito por uma auditoria do TCDF, feita com a maior superficialidade neste caso. Ele pega 10, 15 escolas quando se tem um universo de 600 escolas e vai lá: Tem um torneira quebrada, uma lâmpada quebrada. Isso é do dia a dia da escola. Um escola que tem mil alunos, você sempre tem uma torneira, uma lâmpada quebrada. E você tem que arrumar. E aí vai lá o auditor e diz: todas as escolas precisam de reparo. A escola precisa de reparo permanentemente. E o nosso governo fez os reparos permanentemente e fez investimentos. Por exemplo, hoje nós temos mais do que o triplo de quadras esportivas cobertas nas escolas. Você vê a melhoria dos banheiros, das cantinas, dos pátios. E eu vou lhe dar um dado fechado. Em 2014, foram diretamente para escolas R$ 43 milhões Programa de Descentralização Administrativa e Financeira (PDAF) e em 2017 foram R$ 118 milhões. E este ano vai ser maior. Agora quer a prova? O secretário de educação resolveu fazer uma eleição, consultando os diretores, para escolher os coordenadores regionais de ensino para 2019. Todos os meus coordenadores ganharam. Todos. Só não ganharam os que não concorreram.

O PSB cresceu em Brasília durante o seu governo?

Cresceu. Elegeu uma senadora e dois deputados distritais. O partido nunca elegeu dois distritais de uma vez. E nós vamos o partido que teve a maior votação para a Câmara Legislativa e para o Senado. Então certamente o PSB é um partido consolidado e é uma força política no DF.

Foto: Kléber Lima/Jornal de Brasilia

 

Qual sua avaliação sobre Ibaneis Rocha?

Como advogado é competente. É uma pessoa preparada. E que se mostrou muito habilidoso na campanha. Soube encarnar o sentimento de mudança da população. Desejo sucesso para o governo dele.

Ele vai entregar tudo o que prometeu na campanha?

Acho que não. Torço para entregar e cumprir todos os compromissos. Mas não acredito que ele vai cumprir todos os compromissos. Porque entendo que a realidade econômica do DF não comporta. Acho que ele vai viver um dilema. Ele começa com o compromisso que assumiu com a Polícia Civil que é o reajuste de 37%. Que é impacto grande na economia do DF. Mas ele não vai poder dar um aumento para a Polícia Civil e não dar o mesmo aumento para a Polícia Militar. Se não vai criar uma crise com a Polícia Militar. E é claro que, se ele der aumento de 37% para as forças de segurança, os professores, os médicos, os demais servidores da administração pública em ter um aumento muito menor do que esses índices. Você começa a sair de em um circulo virtuoso para entrar em um círculo vicioso, que pode levar novamente o DF a ter dificuldades econômicas graves.

 

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