Menu
Política & Poder

Projeto anticrime encaminhado por Moro pode ser retrocesso para proteção da mulher, afirmam especialistas

Aline Rocha

22/04/2019 15h22

Foto: Agência Brasil

Da Redação
[email protected]

O Grupo de Trabalho sobre Legislação Penal apontou, na primeira audiência pública, que um dos projetos encaminhados pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro, ao Congresso Nacional, pode ser um retrocesso na proteção da mulher contra agressões e contra o feminicídio

Especialistas acreditam que um desses projetos (PL 882/19) permite que se invoque a “violenta emoção” como legítima defesa. O projeto afirma que, em caso de excesso de ação por “medo, surpresa ou violenta emoção”, o juiz poderá considerar a hipótese como excludente de ilicitude e reduzir a pena pela metade ou deixar de aplicá-la.

A advogada Maria Cláudia Pinheiro ressalta que esse artigo não valerá apenas para policiais, mas para toda a população. “Esse dispositivo é geral e traz preocupações para mulheres sim, porque a gente sabe que nos crimes contra a mulher uma das alegações comuns dos homens é ‘eu estava rebatendo’”, disse. “Ele vai rebater a violência injusta de uma mulher e ele mata, a quebra inteira, a imobiliza, porque a superioridade física inevitavelmente existe”, completou.

“É um excesso e ele pode invocar – e é comum que assim invoque em casos de feminicídio e de violência contra a mulher –, a violenta emoção como excludente de ilicitude”, acrescentou.

A defensora pública do estado do Rio de Janeiro Lívia Cassseres salientou que, caso aprovado, o projeto terá efeitos retroativos. “Isso significa que qualquer pessoa condenada, inclusive presa, cumprindo pena hoje por feminicídio, vai poder propor uma revisão criminal para alegar violenta emoção em legítima defesa”, destacou. Para ela, o dispositivo poderia fazer com que aumentasse o número de pedidos de revisões criminais nos tribunais brasileiros.

Mudanças

O deputado Capitão Augusto, relator do grupo de trabalho sobre a legislação penal, assegurou que ele não têm a intenção de abrandar a pena para praticantes de feminicídio. O pacote deverá endurecer a legislação penal e não facilitar o crime. Em contrapartida, afirmou, também, que o texto não é final e pode haver falhas ou erros não intencionais.

“Essas audiências servem justamente para tirar as dúvidas que podem existir e apontar alguma falha em no texto, tendo em vista que a questão jurídica realmente admite algumas interpretações”, afirmou. “Então nós vamos analisar com cuidado essa questão”, completou. “Podemos suprimir ou alterar esta parte do texto para em hipótese alguma haver qualquer facilitação para marginais e corruptos”, acrescentou.

Após ser analisado pelo grupo de trabalho, o pacote de projetos anticrime será analisado por comissão especial ou poderá ser votado diretamente pelo Plenário da Câmara. O grupo é responsável pela análise da proposta do ministro Moro e de dois projetos (PLs 10372/18 e 10373/18) elaborados pela comissão de juristas coordenada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado