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Política & Poder

Planalto vê candidatura Russomanno desorganizada e suspeita de boicote interno

O Republicanos tem R$ 101 milhões no Fundo Partidário, mas destinou apenas R$ 4 milhões aos candidatos a vereador em São Paulo. Bolsonaristas veem uma sabotagem intencional

Redação Jornal de Brasília

15/10/2020 18h16

Igor Gielow
São Paulo, SP

Sacada da manga de Jair Bolsonaro na última hora, a candidatura de Celso Russomanno à Prefeitura de São Paulo começa a causar preocupação no Palácio do Planalto.

Há reclamações entre auxiliares de Bolsonaro acerca do que consideram desorganização na estrutura da campanha e suspeitas acerca da boa vontade do comando nacional do Republicanos, partido do deputado federal que tenta pela terceira vez ser prefeito.

Segundo um desses auxiliares do presidente, não foi bem digerido o fato de que o partido manteve seus cargos no governo estadual de João Doria (PSDB) quando Russomanno se lançou candidato, ao contrário do que ocorreu na prefeitura comandada pelo postulante à reeleição Bruno Covas (PSDB).

Doria é um dos principais adversários de Bolsonaro e virtual presidenciável em 2022.

A questão financeira está em todas as conversas. O Republicanos tem R$ 101 milhões no Fundo Partidário, mas destinou apenas R$ 4 milhões aos candidatos a vereador em São Paulo. Bolsonaristas veem uma sabotagem intencional.

O presidente do partido, Marcos Pereira, responsabiliza Russomanno pela situação. “Não tem nada a ver com o partido estar no governo do estado. O que ocorreu foi que o Celso disse que a única condição para ele ser candidato era não usar o fundo”, afirmou.

“O partido se programou e assumiu outros compromissos. Agora ele está tendo de dividir os R$ 4 milhões entre a candidatura dele e a dos vereadores, já que aceitou receber o fundo. Eu mesmo disse a ele que não era uma boa ideia fazer campanha sem o fundo, mas ele insistiu e quando reconsiderou, já era tarde.”

Pereira esteve com Doria na semana em que a candidatura de Russomanno foi organizada pelo Planalto, após meses de negativa do presidente em participar do primeiro turno das eleições.

Aliados do tucano negam que ele tenha feito alguma combinação contra a candidatura e dizem que, se assim fosse, Russomanno nem sequer teria a legenda para concorrer.

Em São Paulo, o partido apoia o governo estadual na Assembleia Legislativa. Quando o Planalto instruiu os deputados bolsonaristas a buscar obstruir a votação do projeto de ajuste fiscal de Doria, nesta semana, um dos principais operadores em favor do plano foi Wellington Moura, vice-líder do governo e membro da sigla.

O Republicanos deu 5 dos seus 6 votos na Casa em favor do texto, que foi aprovado na madrugada de quarta (14). Só ficou de fora, em obstrução, Edna Macedo, irmã do bispo Edir Macedo, chefe da Igreja Universal do Reino de Deus, da qual o Republicanos é o braço político. A igreja, que controla a TV Record, é defensora figadal de Bolsonaro.

O perigo de danos para Bolsonaro é óbvio. A associação ao presidente virou a pedra de toque da campanha do deputado, em oposição à dupla Doria e Covas -que foi eleita à prefeitura em 2016, quando o atual prefeito virou vice do hoje governador.

Há queixas internas sobre a própria articulação política do Planalto no caso. Bolsonaro e seu entorno viram em Russomanno uma chance de espezinhar Doria em seu quintal, mas foram poucos efetivos em tudo que não fosse gestos públicos do presidente.

Um exemplo: tentativa de angariar apoio do PSL, dono de grande tempo de TV, fracassou no berço, a partir de um tuíte do filho presidencial Eduardo que abriu uma crise no antigo partido do presidente.

Hoje as costuras políticas estão dispersas, sendo concentradas em temas legislativos com o ministro Fábio Faria (Comunicações), que é deputado do PSD-RN.

Ele associou-se no Planalto a Jorge Oliveira, que passou a levar para jantares e encontros –isso não deu ao secretário-geral da Presidência, contudo, sua sonhada vaga no Supremo Tribunal Federal.

A nacionalização tem efeitos limitados em São Paulo, segundo pesquisas qualitativas de partidos. Os padrinhos também não são muito eficazes: segundo o Datafolha aferiu na semana passada, nem Bolsonaro, nem Doria inspiram muito eleitores a votar nos seus indicados.

Com efeito, Covas não tem calcado sua campanha na dobradinha com Doria, concentrando-se em temas locais. Ele está em segundo lugar na mais recente pesquisa do Datafolha, com 21%, ante 27% de Russomanno.

Naturalmente, se o tucano for derrotado, a fatura cairá na conta do governador. Ele ajudou a montar a grande coalizão de dez partidos em torno do prefeito, com PSDB, DEM e MDB insinuando um embrião de aliança para 2022 –presumivelmente, no cálculo de Doria, com ele à frente na disputa à Presidência.

Isso não é uma condição dada, mas está sendo trabalhada, e a vitória de Covas é vista como essencial para a manutenção dos planos.

Já Russomanno até copiou a ideia de um auxílio emergencial como o dado pelo governo federal durante a pandemia, embora a ideia tenha partido do único marqueteiro que está colaborando até aqui em sua campanha, Elsinho Mouco.

Braço-direito do ex-presidente Michel Temer (MDB), Mouco só entrou no time de Russomanno depois que ele aceitou usar o Fundo Eleitoral –antes, fazia da resistência ao instrumento em bases éticas uma bandeira.

As informações são da FolhaPress

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