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Política & Poder

Planalto procura nomes para substituir Carlos Decotelli

Os militares que sugeriram o nome de Decotelli estão constrangidos porque foram surpreendido pelos problemas acadêmicos

Redação Jornal de Brasília

29/06/2020 18h27

Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor (CTFC) realiza terceira audiência pública destinada a “discutir acerca das obras não iniciadas, paralisadas e atrasadas de creches e pré-escolas no país, em ciclo de encontros denominado Diálogos de Transparência – Monitoramento de obras de creches e pré-escolas públicas”. Em pronunciamento, à mesa, presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Carlos Alberto Decotelli da Silva. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

O governo de Jair Bolsonaro passou a procurar nomes para substituir Carlos Alberto Decotelli, que foi nomeado ministro da Educação na semana passada e teve a posse adiada por causa de incoerências em seu currículo. Decotelli perdeu apoio do grupo militar que o havia indicado. A ala ideológica agora tenta emplacar substitutos.

Uma reunião foi marcada para a noite desta segunda-feira, 29, no Planalto para discutir alguns nomes. Bolsonaro deve reavaliar alguns dos indicados que ele já se encontrou na semana passada, como Marcus Vinícius Rodrigues, que foi presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC) na gestão de Ricardo Velez. Ele é engenheiro, especializado em gestão e ligado ao mesmo grupo militar de Decotelli. Rodrigues deixou o Inep depois de desentendimento com o grupo ligado a Olavo de Carvalho. Outro que esteve com Bolsonaro foi o ex-pró reitor da FGV Antonio Freitas, também indicado pelo mesmo grupo militar.

Os militares que sugeriram o nome de Decotelli estão constrangidos porque foram surpreendido pelos problemas acadêmicos. Ele também perdeu o apoio que tinha entre professores da Fundação Getúlio Vargas (FGV) A cerimônia de posse estava marcada para esta terça-feira, 30, às 16 horas.

Fontes ouvidas pelo Estadão, tanto do meio educacional quanto da política, acreditam que ele não vai permanecer como ministro. Deputados também adiaram eventos com o ministro na Câmara diante da indefinição. A preocupação dos militares e de educadores é que intregrantes ligados a Olavo de Carvalho agora tenham argumentos para indicar um nome que prevaleça. O deputado Eduardo Bolsonaro teria sugerido Sérgio Sant’ana, ex-assessor especial de Abraham Weintraub e ligado a olavistas do governo.

Desde o fim de semana, quando a formação acadêmica de Decotelli passou a ser alvo de contestação, auxiliares do presidente argumentam que os questionamentos inviabilizam totalmente o ex-professor no cargo, em um momento em que o governo tenta recuperar a confiança na pasta. Um outro grupo ponderou que mais uma mudança no MEC pode ser pior e alegam que outros ministros também já tiveram o currículo contestado, mas seguiram no cargo após a explicação.


Um auxiliar que acompanha de perto a discussão afirma que a decisão do presidente é política, uma vez que a Educação é alvo da cobiça de partidos políticos do Centrão e também da ala ideológica do governo

O nome de Decotelli foi publicado no Diário Oficial depois de anunciado por Bolsonaro. No sábado, ele divulgou nota mencionando que sua tese de doutorado não teve a defesa autorizada. “Seria necessário, então, alterar a tese e submetê-la novamente à banca. Contudo, fruto de compromissos no Brasil e, principalmente, do esgotamento dos recursos financeiros pessoais, o ministro viu-se compelido a tomar a difícil decisão de regressar ao país sem o título de Doutor em Administração”, diz o texto. Ele também afirmou que iria revisar o trabalho de mestrado na FGV.

Desde que foi anunciado como novo ministro da Educação, Decotelli passou a ter as informações de seu currículo questionadas. Ao anunciar o sucessor de Abraham Weintraub na pasta, o presidente Jair Bolsonaro mencionou a formação do professor: “Decotelli é bacharel em Ciências Econômicas pela Uerj, Mestre pela FGV, Doutor pela Universidade de Rosário, Argentina, e Pós-doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha”, escreveu nas redes sociais na quinta-feira, 25.

No dia seguinte, o título de doutor do novo ministro da Educação foi questionado por Franco Bartolacci, reitor da Universidade Nacional de Rosário, que disse que Decotelli não conclui o doutorado. “Cursou o doutorado, mas não o concluiu, pois lhe falta a aprovação da tese. Portanto, ele não é doutor pela Universidade Nacional de Rosário, como chegou a se afirmar”.

O ministro inicialmente negou a declaração de Bartolacci e chegou a mostrar certificado de conclusão de disciplinas à reportagem. “É verdade. Pergunte lá para o reitor”, disse Decotelli na sexta-feira ao Estadão. Questionado se havia defendido a tese, requisito para obter o título de doutor, o ministro não respondeu.

No fim do dia, o novo titular do MEC atualizou o seu currículo na plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ele passou a declarar que teve “créditos concluídos” no curso de doutorado, em 2009. No campo relacionado ao orientador, o ministro assinalou: “Sem defesa de tese”.

No sábado, 26, a dissertação de mestrado do ministro também foi colocada sob suspeita após o economista Thomas Conti apontar, no Twitter, possíveis indícios de cópia no trabalho, de 2008. Ele citou trechos na dissertação idênticos a um relatório do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A FGV informou que vai investigar a suspeita de plágio.

O pós-doutorado na Alemanha também passou a ser debatido após a universidade fornecer informações diferentes das que constam no currículo do ministro. A instituição informou que ele não obteve título de pós-doutorado e Decotelli mudou hoje o currículo. Após admitir que não concluiu doutorado na Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, Decotelli deixou de afirmar nesta segunda-feira, 29, em seu currículo, que realizou pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha.

Após a alteração, o ministro passou a afirmar que submeteu à universidade um “projeto de pesquisa” sobre sustentabilidade e produtividade na automação de máquinas agrícolas, com apoio da empresa Krone.

A medida ocorre após a instituição informar que Decotelli apenas participou de uma pesquisa de três meses. A afirmação de que era pós-doutor estava registrada em currículo na plataforma “Lattes”, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

“Tem um simbolismo muito grande ele ter sido desmentido por duas universidades estrangeiras e ainda tem problemas no mestrado”, diz deputado federal e secretário-geral da Frente Parlamentar Mista de Educação, Israel Batista (PV-DF).

Segundo ele, vários deputados da Frente consideraram esperar a situação do ministro para convidá-lo para uma conversa na Câmara. Já na comissão de Educação da Câmara, a participação do ministro continua marcada para quinta-feira, 2.

A reportagem questionou o motivo do cancelamento do evento e se a posse será remarcada. O Palácio do Planalto respondeu que “em nenhum momento a Secom confirmou o evento à imprensa e, até agora, não há previsão para essa cerimônia.” O Estadão conversou com autoridades que já tinham sido convidadas e receberam aviso sobre adiamento.

A disputa pelo comando do MEC mobilizou as alas ideológica, militar e civil do Planalto. Decotelli, que é oficial da reserva da Marinha, acabou sendo o escolhido por Bolsonaro como uma alternativa apaziguardora e técnica para a função. O objetivo era reparar o desgaste da imagem do ministério após a gestão de Abraham Weintraub.

Em entrevista ao Estadão horas após ser confirmado como ministro, Decotelli reforçou o seu perfil técnico e disse que sua missão era favorecer o dialogo. “O presidente solicitou a máxima dedicação para fortalecer a gestão e a comunicação do MEC para favorecer o diálogo.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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