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Política & Poder

Para evitar isolamento político, Renan reaparece para fortalecer Guedes

Em uma semana, o ex-presidente do Senado organizou um jantar que selou as pazes -ou pelo menos cristalizou uma trégua- entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia (Paulo Guedes)

Redação Jornal de Brasília

09/10/2020 15h42

Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

JULIA CHAIB, GUSTAVO URIBE E DANIELLE BRANT
BRASÍLIA, DF, E SÃO PAULO, SP

Após se isolar por cerca de seis meses em Murici, no interior de Alagoas, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) retornou a Brasília no fim de setembro e agiu para reassumir protagonismo político no cenário atual.

Em uma semana, o ex-presidente do Senado organizou um jantar que selou as pazes -ou pelo menos cristalizou uma trégua- entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia (Paulo Guedes), que havia meses travavam uma disputa pública.

Além de apoiar a atual agenda de reformas e a manutenção do teto de gastos, Renan buscou fortalecer a figura do ministro em um movimento com outro propósito: evitar ficar alijado em um momento no qual o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) alavanca sua popularidade no Nordeste.

O cálculo do dirigente político leva em conta as eleições municipais deste ano e a possibilidade de o governo viabilizar o Renda Cidadã, que reformulará o Bolsa Família. Renan foi o relator no Senado do programa criado na gestão petista.

Para seu futuro político, avaliam aliados do emedebista, é essencial construir a narrativa de que Renan ajudou a encontrar uma saída para pavimentar o novo projeto.

O encontro com Maia na segunda-feira (5) teve como objetivo tentar dar sobrevida a Guedes no cargo, evitando que Bolsonaro ceda à pressão de um núcleo do governo que critica o ministro e que é capitaneado por Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional).

Em 2017, Marinho teve atritos com Renan durante a tramitação da reforma trabalhista. A iniciativa, que tinha o hoje ministro como relator, foi criticada por Renan. Em resposta, Marinho disse, na época, que o senador era um problema.

Renan e a senadora Kátia Abreu (PP-TO), que também ajudou a articular o jantar, defendem uma saída não traumática para o rombo nas contas públicas.

O receio é que, caso tire Guedes, Bolsonaro o substitua por alguém que defenda o rompimento do teto de gastos e abandone as reformas administrativa e tributária.

A estratégia defendida por senadores, tanto governistas como oposicionistas, é que é preciso fortalecer Guedes para que ele possa “tourear” Bolsonaro, que vez ou outra flerta com a ruptura do teto de gastos para aumentar a capacidade de investimentos, em tentativa de se fortalecer para 2022.

À reportagem Renan defendeu que é preciso ter vontade política para aprovar um novo programa social durante o pleito municipal. “Eu acho que é preciso fazer o necessário simultaneamente com as eleições”, afirmou.

O senador propôs repassar R$ 5 bilhões dos R$ 17 bilhões a que o Congresso tem direito de emendas parlamentares ao novo programa e disse que, se necessário for, que se discuta a criação de um imposto nos moldes da CPMF. “O caminho é pela política”, disse.

Até então, o senador se colocava como um ferrenho opositor de Bolsonaro. Hoje, ele relativiza a própria posição.
“Eu tenho diferenças com ele, não sou da base. Mas acho que a circunstância tem comprovado que ele tem feito um desmonte policialesco. Ele não deve nada a mim e nem eu a ele”, disse à reportagem.

Renan afirmou ainda que Guedes já o havia chamado para conversar antes e disse que o único motivo de promover o encontro com Maia foi selar as pazes para fazer a agenda econômica, importante para o país, avançar.
A iniciativa de Renan de tentar reaproximar Guedes e Maia foi elogiada por colegas, como o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB).

“Ele soube ter a visão de papéis que desempenhou no passado e usou a experiência anterior para resolver uma situação situação delicada. É um político de reconhecida habilidade”, disse.

É uma avaliação parecida com a de um colega de Renan no Senado, que afirma que o ex-presidente da Casa “faz o que sempre faz, busca consensos políticos”.

No entanto, há senadores que interpretam a movimentação de Renan como uma forma de angariar apoio para uma eventual candidatura à Presidência do Senado ou para lançar um aliado, em um contexto em que Davi Alcolumbre ainda não tem aval legal para buscar a reeleição.

Há ainda dirigentes partidários que vejam no movimento de Renan uma forma de ganhar protagonismo no momento em que o deputado Arthur Lira (AL), líder do PP na Câmara, desponta como interlocutor do governo.

Os dois eram adversários políticos em Alagoas. Nos últimos meses, porém, têm se reaproximado. Hoje, por exemplo, o MDB apoia a candidatura de Benedito Lira, pai do deputado, para a prefeitura da Barra de São Miguel. Lira também está mais próximo de Renan Filho, governador de Alagoas, e pode ensaiar uma chapa com ele em 2022, na qual o primeiro se candidataria ao Senado e o segundo, ao governo.

Ainda assim, se consolidada a aproximação, a avaliação de dirigentes de partidos de centro é que Renan não quer deixar Lira ser o representante de Bolsonaro em Alagoas ou quer pelo menos dividir esse espaço com ele em 2022, caso a popularidade de Bolsonaro siga em viés de alta.

Nessa articulação, Renan decidiu fazer um gesto ao deputado considerado hoje o principal adversário de Lira: Maia.

A ideia de promover um jantar de reconciliação entre Guedes e Maia foi sugerida na quinta-feira da semana passada, durante audiência de Guedes com Renan e Kátia. O encontro tinha como objetivo tratar de crédito para micro e pequenas empresas.

Segundo relatos feitos à reportagem, foi Guedes quem mencionou Maia na conversa, ressaltando que não tinha cabimento o embate recente protagonizado por ambos.

Como solução, Renan e Kátia questionaram Guedes se ele aceitaria participar de um encontro com Maia. O ministro deu sinal positivo.

No sábado (3), Renan teve um encontro com Maia, já curado da Covid-19 e o convenceu da ideia. Em caráter reservado, Maia também já vinha dizendo a pessoas próximas que o embate com Guedes tinha de ser superado.

Desgastado com congressistas e dentro do próprio governo, Guedes também tinha consciência de que precisava refazer pontes com a cúpula do Legislativo sob a pena de continuar acumulando derrotas.

O jantar foi marcado na casa do ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Bruno Dantas, amigo em comum de Guedes e Maia.

Integrantes do centrão tentaram dissuadir o ministro da Economia de ir ao encontro. O argumento usado foi que, caso fosse, o encontro de Guedes e Maia poderia ser lido como uma chancela do ministro ao nome de Elmar Nascimento (DEM-BA) para a presidência da CMO (Comissão Mista de Orçamento), contra o qual Arthur Lira (AL), líder do PP e do bloco na Câmara, trabalha. Lira trabalha por Flávia Arruda (PL-DF).

As informações são da FolhaPress

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