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Política & Poder

Não vai ser feeling do prefeito nem pressão de sindicato que vai reabrir escolas em SP, diz Covas

Em entrevista, o tucano também comenta as eleições municipais, as denúncias envolvendo correligionários e as estratégias de combate à pandemia

Redação Jornal de Brasília

18/08/2020 17h42

Guilherme Seto
São Paulo, SP

Prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB) afirma que a reabertura das escolas na cidade será uma decisão que não passará por influência de sindicatos, grupos políticos ou mesmo do ‘feeling do prefeito’. Ele afirma que será uma decisão tomada exclusivamente pela área da saúde.

Pesquisa Datafolha publicada nesta terça-feira (18) mostra que para 79% dos brasileiros a reabertura das escolas no país vai agravar a pandemia do novo coronavírus e, por isso, as unidades deveriam continuar fechadas nos próximos dois meses

Sobre o motivo para ainda não ter descartado a volta as aulas em 2020, como já fizeram outras cidades do estado, Covas afirma que não tomará uma medida para depois ter que possivelmente mudá-la.

Em entrevista, o tucano também comenta as eleições municipais, as denúncias envolvendo correligionários e as estratégias de combate à pandemia.

PERGUNTA – A eleição em São Paulo está se desenhando bastante polarizada. Quais o senhor acha que serão seus principais adversários?

BRUNO COVAS – Sou pré-candidato, nossa convenção está marcada para o dia 12 de setembro, estamos conversando com vários partidos políticos, adversário não escolho, impossível prever quem pode se destacar, quem não pode. A preocupação não é com os adversários, a preocupação é mostrar o que eu fiz como prefeito de São Paulo. A gente vai mostrar como proposta para os próximos quatro anos, não é nem o foco da minha preocupação quem são e quem se viabiliza, quem deixa de se viabilizar.

Na semana passada, dois possíveis vices do senhor anunciaram mudança de planos. Celso Russomanno lançou uma chapa própria e José Luiz Datena decidiu adiar a candidatura. Como o senhor enxerga a decisão dos dois?

BC – Em nenhum momento a gente listou aqui nomes de vice, isso quem tem feito é a imprensa. A gente ainda está na fase de conversar com os partidos políticos. A expectativa é definir até o fim do mês com quais partidos nós vamos contar e aí nos dias que antecedem a convenção fechar o nome do vice, não tem nenhum impacto no nosso cronograma porque o nosso cronograma ainda está na fase de conversar com os partidos políticos.

Mas o senhor vinha conversando com eles, não? O grupo do senhor.
BC – Com MDB e com Republicanos.

No caso do Datena o motivo é claro. Mas, no caso do Russomanno, por que o senhor avalia que não deu certo ainda essa parceria?

BC – O Republicanos tem toda a legitimidade e resolveu lançar um candidato próprio, faz parte do jogo, não tem nenhum problema em relação a isso.

Quais as opções de vice o senhor tem hoje?

BC – Como eu disse, não tenho nenhuma lista de vice. Quem faz lista de vice é a imprensa, não é o pré-candidato. A gente está conversando ainda com os partidos políticos.

O senhor acha que pode ser prejudicado pelas denúncias envolvendo os tucanos José Serra e Geraldo Alckmin?

BC – Na eleição, nós vamos mostrar o que foi feito na Prefeitura de São Paulo, o que a gente pretende fazer nos próximos quatro anos. Outros temas acabam aparecendo em TV, mas a população está preocupada com remédio no posto de saúde, está preocupada com ampliação das linhas de ônibus na cidade, está preocupada com o número de creches, está preocupada com as casas construídas. Acho que os temas locais acabam prevalecendo na decisão do eleitor.

O senhor ameaçou deixar o PSDB caso Aécio Neves continuasse no partido. O senhor vê diferença do caso dele para o caso de José Serra e do Geraldo Alckmin?

BC – Sim, não há nenhum áudio envolvendo o José Serra ou do Geraldo Alckmin, nenhum áudio deles pedindo dinheiro para ninguém.

No caso deles, o senhor preferia que deixassem o partido também ou não?

BC – No caso deles, não há nenhum áudio em que eles aparecem solicitando recurso para ninguém, não há nenhum fato que tenha aparecido nos jornais, na mídia, que envolva diretamente eles. É questão que o Judiciário vai analisar.

Na semana retrasada, a Prefeitura foi alvo de uma ação da Polícia Federal. O mesmo aconteceu com o secretário do Estado, Alexandre Baldy, e essas ações da PF têm se repetido nos últimos meses durante a pandemia. Como o senhor enxerga essas ações e por qual motivo o senhor acha que elas estão se acumulando dessa forma?

BC – Acho que seria leviano da minha parte, que não tem nenhum tipo de provas, querer vincular essas ações da Polícia Federal ao calendário eleitoral ou a opositores do presidente da República.

Até onde sei, a Polícia Federal cumpre o seu papel, a prefeitura não tem nada a esconder, se colocou, não apenas à disposição, mas quer entender exatamente quais são as provas contra os dois funcionários da autarquia municipal, para se for o caso, afastá-los de suas atribuições. A prefeitura é a maior interessada que isso seja resolvido com a maior lisura, transparência e velocidade possível.

O que o senhor tem a dizer dessa marca de 100 mil mortos que a gente superou? Como a gente chegou nesse ponto no Brasil e de quem é a culpa de o Brasil ser um dos piores países do mundo no controle da pandemia?

BC – Não é hora de apontar culpados, devemos lembrar que a pandemia ainda não acabou, o esforço precisa continuar a ser feito, vamos deixar a fase de apontar os dedos para o momento seguinte.
Ainda é o momento para a gente lembrar as pessoas que, apesar de toda a flexibilização que a gente está vivendo, as pessoas precisam continuar respeitando os protocolos sanitários, evitar sair de casa ao máximo, usar máscara, evitar aglomeração.

Ainda é o momento de enfrentamento da pandemia, a gente segue aqui administrando e verificando a ocupação de leitos por UTI, continuamos com o programa São Paulo Cidade Solidária para poder distribuir alimentação à população mais carente, a gente segue preocupado com a evolução dos números embora a gente já tenha uma redução do número de óbitos na cidade de São Paulo em relação ao que foi o pico no final de maio, começo de junho.

A preocupação de apontar culpados, acho que não é o momento, ainda mais como prefeito da cidade, a preocupação é com a saúde dos 12 milhões de paulistanos.

Qual o balanço que o senhor faz da reabertura da cidade?

BC – Até agora tem sido positiva, até agora conseguimos reabrir evitando segundo pico da doença, conseguimos retomar grande parte da atividade econômica sem ter de retroceder nas semanas subsequentes, a gente tem visto grande parte dos estabelecimentos respeitando, embora a fiscalização continue a interditar alguns estabelecimentos que têm deixado de cumprir uns protocolos sanitários, a população em sua grande parte tem entendido o recado que, apesar da flexibilização, a pandemia ainda não acabou. Então, a gente tem conseguido colher bons resultados dessa iniciativa, a gente espera ir evoluindo cada vez mais no Plano São Paulo porque isso significa contenção da pandemia e redução do número de mortos.

O senhor vê mais algum evento que São Paulo tenha de cancelar por conta da pandemia em um futuro próximo?

BC – No curto prazo, estão praticamente todos resolvidos, único grande evento que ainda não definiu o que vai fazer com antecedência devida é a São Silvestre, um evento privado. Com as regras atuais, ele não poderia ocorrer.

A organização privada ainda não decidiu se vai correr o risco de manter o evento para esperar em que fase nós estaremos no dia 31 de dezembro ou se já vai cancelar desde já.

No médio prazo, que já exigiria algum tipo de dedicação e recurso da Prefeitura, como é o caso da organização do Carnaval, do Réveillon, e outros privados como a marcha e a parada, a gente já tomou a decisão em relação à postergação ou o cancelamento. Outros eventos ainda estão muito no médio para longo prazo, ainda podem esperar um pouco mais a evolução da doença para tomar qualquer tipo de decisão.

O senhor acha que é viável fazer a São Silvestre esse ano ou dá para contar que vai ser adiada também?

BC – Não há como prever como estaremos no dia 31 de dezembro. O que dá para estabelecer é que, se ela fosse hoje, não poderia ocorrer, não poderia autorizar um evento como esse.

Fica ao empreendedor, ao organizador privado, o risco de esperar o dia 31 de dezembro para verificar se, no dia 31 de dezembro, nós estaremos em uma fase em que é possível ou se ele vai desde já querer postergar ou transformar isso em um evento online.

Enfim, é uma decisão do empreendedor, já deixamos bem claro que a situação precisa mudar para que a prefeitura possa autorizar um evento como esse. Nas regras atuais, ele estaria proibido.

Para o senhor, qual foi seu grande acerto no controle da pandemia em São Paulo?

BC – O grande acerto foi ter apostado na ciência, apostado na saúde, ter colocado em primeiro lugar a vigilância sanitária, ter, de alguma forma, aguentado as críticas daqueles outros setores que, às vezes, se sentiram prejudicados, mas que num momento como esse acabaram sendo preteridos porque o que orientou as ações da prefeitura foram as orientações da área da saúde

Acho que o grande acerto aqui na cidade foi ter sempre seguido a área da saúde.

O senhor acha que falhou em algum ponto, prefeito? Poderia ter feito melhor, poderia ter tomado alguma medida com impacto diferente?

BC – Ser engenheiro de obra pronta é fácil, passar por uma pandemia sem ter um manual de como passar por uma pandemia é que é difícil.

A gente pode ter acertado, pode ter errado, mas o que não pode chamar é de omisso. Em nenhum momento nos omitimos sobre a nossa responsabilidade da saúde de 12 milhões de pessoas, em nenhum momento deixamos de tomar as decisões, por mais duras e difíceis que elas fossem, a gente não deixou de tomar a decisão necessária, essa é uma avaliação que, com mais tempo e com mais prazo, a gente vai poder retomar.

Você pegava a entrevista de alguns epidemiologistas, eles diziam em janeiro desse ano, quando a gente já discutia coronavírus e já estava capacitando os servidores para enfrentar isso, mas alguns diziam que esse era um vírus de inverno e que nem chegaria no Brasil.

A gente teve de ir aprendendo como o vírus evoluía e se comportava ao longo da pandemia.

Logo no início, a questão mais importante e que inclusive gerou uma correria às farmácias era a cotização de álcool em gel. Claro que álcool em gel continua sendo importante, mas se verificou que o uso da máscara é ainda mais importante. A gente foi aprendendo ao longo do tempo a evolução da doença e, com as informações que a gente tinha em cada momento, a gente sempre foi tomando a decisão orientada pela área da saúde.

O senhor acha que é possível que as escolas públicas voltem a funcionar em 2020? O senhor mesmo disse que elas não conseguem nem controlar piolho direito. Por que não anunciar desde já, como algumas outras cidades do estado, que as aulas só vão voltar em 2021, por exemplo?

BC – Primeiro que as falas do que eu disse não são só para escola pública, elas são para escola como um todo, seja ela pública ou privada. Não há nenhum tipo de tratamento diferenciado aqui pela prefeitura em relação à pública e privada, os prazos serão os momentos.

O que eu posso dizer é que o preparo da escola pública já está sendo tomado, inclusive com a aprovação de uma lei municipal que autoriza tomar as medidas necessárias para se for o caso retomar.

Mas vamos tomar a medida assim que tivermos tranquilidade da decisão a ser tomada, não vai ser pressão de grupo político A, de sindicato B, do político C que vai definir a volta às aulas aqui.

Assim que a gente tiver tranquilidade da decisão, inclusive a partir de um inquérito sorológico que estamos fazendo com 6 mil crianças na cidade de São Paulo, vamos tomar a decisão e dar a maior previsibilidade possível aos pais.

Agora também não adianta só para dar a maior previsibilidade possível tomar uma decisão muito precipitada e ter que mudar lá na frente.

O senhor acha que tem chance de que volte esse ano?

BC – Essa é uma questão da área da saúde, eles que vão dizer, não vai ser feeling do prefeito, não vai ser sentimento ‘acho que tem de voltar, acho que não tem de voltar’, vai ser a área da saúde que vai definir.

O governo de São Paulo anunciou a possibilidade de reabrir as escolas para atividade de reforço, acolhimento a partir de 8 de setembro. A prefeitura vai aderir?

BC – Ainda estamos avaliando, a gente espera em breve inclusive com resultado desse inquérito sorológico poder tomar uma decisão se isso vai valer dentro da cidade de São Paulo.

A reforma do Anhangabaú foi motivo de polêmica no último mês nas redes sociais, as pessoas compartilharam fotos do estado atual da reforma e criticar pela suposta falta de verde do projeto. Como o senhor recebe essas críticas?

BC – Com naturalidade, até porque está muito próximo de uma eleição e é natural que alguns aproveitem da desinformação para criticar o governo.

Primeiro, dizer que é muito injusto comparar foto de uma obra pela metade com a situação anterior, a comparação já é errada. Aliás, fomos verificar os números e vimos que o Anhangabaú tinha 440 árvores e terá ao final da reforma 480, sendo todas nativas. Estamos ampliando em quantidade e em qualidade, prestigiando a Mata Atlântica nativa da cidade de São Paulo.

A reforma só com a concessão que nós teremos ali naquele espaço, que será a primeira concessão de espaço público, a gente prevê ganhar para a Prefeitura de São Paulo R$ 55 milhões com a concessão e a expectativa de ganho para a cidade a partir de um espaço que tenha reforçado o seu papel como o local para eventos e atrações é uma melhoria, um ganho econômico para a região de R$ 250 milhões por ano. Estou falando, portanto, de R$ 1 bilhão ao final de quatro anos por conta dessa reforma.

Esse é o papel do poder público, de fazer os investimentos necessários para induzir, orientar o investimento privado para gerar emprego e renda. Vejo com naturalidade, mas fico muito tranquilo na defesa da obra e da intervenção que estamos fazendo naquele espaço.

O senhor está fazendo tratamento contra o câncer, e agora está na fase da imunoterapia. Como o senhor está se sentindo?

BC – Descobri o câncer em outubro do ano passado, passei por oito sessões de quimioterapia, que atuaram e fizeram reduzir ao máximo dois dos três tumores que eu tinha, o da cárdia, que era o principal, e o do fígado.

Persistiu o tumor nos linfonodos, razão pela qual eu iniciei um outro tratamento, um tratamento da imunoterapia. Já passei por oito sessões de imunoterapia, nessa última sexta-feira (7), passei de novo por uma bateria de exames para avaliar o tratamento.

A bateria de exames mostra que a imunoterapia está surtindo efeito sobre o tumor nos linfonodos, ele está regredindo com esse tipo de tratamento.

Agora na quarta-feira (19) vou passar pela nona sessão de imunoterapia de um total de 13 que estão previstas.

As informações são da FolhaPress

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