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Política & Poder

‘Não se culpa países por importação ilegal de madeira’, diz embaixador da Dinamarca

Na terça-feira, 17, o presidente Jair Bolsonaro voltou a afirmar que revelará “nos próximos dias” a lista dos países que compram madeira ilegal da Amazônia

Redação Jornal de Brasília

19/11/2020 18h15

Toras de madeira Foto: Alberto Cesar Araujo / Greenpeace

O embaixador da Dinamarca no Brasil, Nicolai Prytz, disse que ficou surpreso com a afirmação do presidente Jair Bolsonaro, de que países – como a Dinamarca – têm atuado como “receptadores” de madeira extraída ilegalmente da Amazônia. Prytz, que não recebeu nenhum tipo de informação oficial do governo brasileiro sobre a acusação do presidente, afirmou, em entrevista ao Estadão, que não se pode culpar nações inteiras por crimes, que esse tipo de situação, se de fato existir, estaria restrita a empresas e que o governo de seu país seria o primeiro a colaborar em investigações, caso fosse acionado.

“Se esses casos existem, nós desconhecemos qualquer um deles que esteja em questão. Mas se ele existe, se tiver alguma alegação substancial sobre um crime supostamente cometido, seria a ocasião de as autoridades brasileiras, pelos canais já estabelecidos, contatarem as autoridades da Dinamarca para ver esse assunto. É assim que funciona, e isso vale para qualquer matéria, não só sobre um crime com madeira, mas qualquer outro assunto”, disse o embaixador.

Na terça-feira, 17, o presidente Jair Bolsonaro voltou a afirmar que revelará “nos próximos dias” a lista dos países que compram madeira ilegal da Amazônia. Em discurso na cúpula do Brics, Bolsonaro afirmou que o País sofre com “injustificáveis ataques” em relação à região amazônica e ressaltou que algumas nações que criticam o Brasil também importam madeira brasileira ilegalmente da Amazônia.

“Revelaremos nos próximos dias os nomes dos países que importam essa madeira ilegal nossa através da imensidão que é a região amazônica”, declarou, em sua participação no encontro do grupo de países que inclui Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. “Porque, daí, sim, estaremos mostrando que estes países, alguns deles que muitos nos criticam, em parte têm responsabilidade nessa questão”, disse.

Em imagens de pequenos discos de madeira feitos pela Polícia Federal e divulgadas por Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) como os “receptadores” de madeira ilegal, o nome da Dinamarca aparece entre outros, como Reino Unido, Holanda, Bélgica, França e Portugal. Bolsonaro também já mencionou a Dinamarca entre supostos compradores de material ilegal.

Nicolai Prytz, que representa o país de 5,8 milhões de habitantes, disse que a Dinamarca é a maior interessada em apurar supostas irregularidades. “Não se culpa países por importação ilegal de madeira. A importação de madeira ilegal é crime, não só na Dinamarca, mas em toda a Europa. Temos todo interesse em investigar qualquer coisa, à medida que houver algum fundamento nisso”, afirmou.

O embaixador afirmou que, apesar das menções diretas ao país que representa, ainda não tomou nenhuma medida a respeito, porque as citações, por enquanto, são vagas e feitas por “mídias sociais”, além de não haver nenhum comunicado oficial sobre irregularidades. “É lógico que chama a atenção quando o presidente de um país menciona a Dinamarca como um país que comete algum crime, mas a gente não reage a afirmações feitas por mídias sociais. Precisamos de um pouco mais de sustância para atuar. Por isso, falo que o caminho certo é a transparência para fundamentar as acusações e, assim, encaminhar às autoridades dinamarquesas. Tenho certeza de que nossas autoridades colaborariam para esclarecer se algo aconteceu ou não”, disse.

Prytz diz que desconhece relações ilegais com empresas brasileiras e defende os importadores estrangeiros. “Se existe uma falta de controle ou fraude no Brasil, isso não posso afirmar, não sei, mas eu acredito, e não tenho motivos para pensar de outra forma, que as empresas que importam do Brasil atuam de boa fé, fazem a diligência que podem fazer sobre a origem do que compram. É assim que funciona o negócio deles.”

A importação da madeira que sai das florestas do Brasil está concentrada em 20 países. Dados compilados pela área técnica do Ibama obtidos pelo Estadão mostram que, entre 2007 e 2019, os Estados Unidos lideram o consumo da madeira nacional, tendo adquirido 944 mil metros cúbicos (m³) de produtos do Brasil. O segundo maior comprador foi a França, com 384 mil m³, seguido por China (308 mil m³), Holanda (256 m³) e Bélgica (252 mil m³). No total, o mercado legal de madeira exportou cerca de R$ 3 bilhões nos últimos cinco anos. São aproximadamente R$ 600 milhões anuais.

A lista traz ainda, em destaque, o Reino Unido (163 mil m³), Portugal (155 mil m³), Suíça (115 mil m³), República Dominicana (105 mil m³), Dinamarca (102 mil³) e Alemanha (87 mil m³). Em volumes históricos menores aparecem, nesta ordem, Japão, Itália, Espanha, Argentina, Uruguai, Canadá, Panamá, Suécia e Antilhas Holandesas.

Esses dados do Ibama referem-se às exportações oficiais, ou seja, trata-se de madeiras que deixaram o Brasil de forma legalizada. Isso não significa, porém, que a origem de toda essa madeira é legal. Essa situação acontece por causa da forte informalidade e criminalidade que domina o mercado madeireiro no Brasil.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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