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Política & Poder

Moro teria feito pressão para frear delações

Ministro da Justiça do governo Bolsonaro teria feito pressão para Eduardo Cunha fechar acordo de delação

Willian Matos

05/07/2019 9h30

Deltan Dallagnol e Sérgio Moro

Willian Matos
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Em novo ‘episódio’ das conversas vazadas do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, informações obtidas pelo site The Intercept e publicadas pela revista Veja mostram que o ex-juiz teria feito pressão para o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, fechar um acordo de delação.

No dia 5 de julho de 2017, Moro questionou o coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, sobre a possibilidade de Cunha fechar um acordo de delação. “Espero que não procedam”, disse o ministro. Dallagnol respondeu, tranquilizando. Então, Moro afirmou: “Agradeço se me manter [sic] informado. Sou contra, como sabe”.

O trecho de conversas divulgado pela Veja também contém mensagens supostamente enviadas na noite do dia 12 de junho de 2017, nas quais o procurador Ronaldo Queiroz cria um grupo no aplicativo de mensagens para avisar que foi procurado pelo advogado de Cunha para iniciar uma negociação de delação premiada. 

Queiroz afirma que as revelações poderiam ser de interesse dos procuradores de Curitiba, Rio de Janeiro e Natal, onde corriam ações relacionadas ao político. Queiroz afirma esperar que Cunha entregue no Rio de Janeiro, pelo menos, um terço do Ministério Público estadual, 95% dos juízes do Tribunal da Justiça, 99% do Tribunal de Contas e 100% da Assembleia Legislativa.

Pouco menos de um mês depois, Moro teria enviado uma mensagem a Dallagnol questionando a possível delação. “Rumores de delação do Cunha… Espero que não procedam”, teria dito o agora ministro. Dallagnol responde que são “só rumores que não procedem”, e ainda reforça a Moro que “sempre que quiser, vou te colocando a par”. O ex-juiz responde que é contra a delação de Cunha e que agradece se o procurador o mantiver informado. 

Falta de documento

Em outra parte da conversa, Dallagnol alerta a procuradora Laura Tessler sobre a falta de um dado na denúncia sobre o representante de estaleiro que pagou propinas a funcionários da Petrobras, Zwi Skornicki.

“Laura, no caso do Zwi, Moro disse que tem um depósito em favor do [Eduardo] Musa e se for por lapso que não foi incluído, ele disse que vai receber amanhã e dá tempo. Só é bom avisar”, pontuou Dallagnol, se referindo a um depósito bancário feito para Eduardo Musa, ex-gerente da área internacional da estatal.

‘Fachin é nosso’

A reportagem da revista também revela um trecho no qual Dallagnol, em 13 de julho de 2015, comenta com os colegas do MPF que se encontrou com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin. “Caros, conversei 45 minutos com o Fachin. Aha, uhu, o Fachin é nosso”, teria celebrado o procurador. 

Faustão

Em outro trecho das supostas conversas, em 7 de maio de 2016, Moro comenta com Dallagnol que havia sido procurado pelo apresentador de televisão Fausto Silva. De acordo com o então juiz, o apresentador teria cumprimentado Moro pelo trabalho na Lava Jato, mas deu um conselho: “ele disse que vocês nas entrevistas precisam usar uma linguagem mais simples. Para todo mundo entender. Para o povão. Conselho de quem está há 28 anos na TV”.

Procurado pela reportagem de Veja, Fausto Silva confirmou o encontro com Moro e o teor da conversa.

Conversas vazadas

No início de junho, Moro foi explanado pelo site The Intercept após o veículo publicar conversas que evidenciaram suposta troca de colaborações entre o ministro e procuradores da Lava Jato, sendo Dallagnol o principal deles.

Os arquivos chegaram ao site de forma anônima e somam 1 milhão de mensagens em mais de 30 mil páginas. Glenn Greewald, responsável pelo The Intercept, promete divulgar muito mais conversas nas próximas semanas. O jornalista, inclusive, dividiu o conteúdo para que mais veículos tenham acesso às informações caso algo aconteça com o Intercept.

Moro já foi ao Congresso Nacional duas vezes explicar as conversas aos parlamentares. O ministro sempre nega as acusações e afirma que os áudios não são capazes de provar ilegalidades. Com agências

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