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Política & Poder

Moro entregou conversas com Bolsonaro à PF na íntegra

Ex-ministro permitiu que mensagens apagadas fossem recuperadas. Durante depoimento, que durou mais de 7 horas, celular de Moro foi espelhado em um HD da PF

Redação Jornal de Brasília

04/05/2020 9h00

Foto: Agência Brasil

O ex-ministro da Justiça Sergio Moro entregou à Polícia Federal um completo histórico de conversas recentes com Jair Bolsonaro pelo WhatsApp. Está incluso o diálogo em que o presidente pressiona pela saída de Maurício Valeixo da diretoria-geral da Polícia Federal.

No depoimento de sábado (2), que durou mais de sete horas, Moro repassou ainda o conteúdo das conversas com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), aliada do presidente. Numa das mensagens já reveladas pelo ex-ministro, a parlamentar tenta interceder para que ele fique no governo em troca de uma nomeação ao STF.

Após o depoimento, o ex-ministro teve que aguardar os peritos da Polícia Federal acessarem seu aparelho celular. O aparelho foi espelhado em um HD da PF, e Moro permitiu que os investigadores recuperassem mensagens antigas apagadas por ele, já que não teria arquivado todos os diálogos que teve com Bolsonaro desde o começo o governo.

No depoimento, o ex-ministro manteve as acusações contra o presidente a quem atribuiu uma tentativa de interferência em investigações conduzidas pela PF.

Sobre as conversas

Na troca de mensagens, o presidente cobra do ministro a mudança do comando da PF devido ao inquérito das fake news que corre no STF e que teria como alvo deputados bolsonaristas.Todo o histórico de conversa entre ele e Bolsonaro foi copiado pelos investigadores que anexaram à investigação aberta pela PGR (Procuradoria Geral de República) para investigar se o presidente tentou ou não interferir em investigações da PF.

Na troca de mensagens, que a Folha também teve acesso, Bolsonaro lhe envia uma matéria do site O Antagonista intitulada “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas”. Em seguida, o mandatário escreve: “Mais um motivo para a troca”, se referindo à sua intenção de tirar Valeixo do comando da corporação.

Depoimento

Moro ficou por mais de oito horas na sede da Polícia Federal em Curitiba prestando depoimento e compartilhando o conteúdo do seu aparelho celular aos investigadores.

O ex-ministro estava acompanhado de um advogado e, segundo presentes, ficou calmo durante toda a oitiva, que foi interrompida por apenas uma vez para que eles pudessem ir ao banheiro.

As mensagens, segundo o ex-ministro, provam que ele não condicionou aceitar a troca na PF a uma futura indicação. De acordo com assessores próximos,  Moro se disse aliviado com o depoimento. Ele afirmou ainda a aliados que não havia motivo para se preocupar porque todas as acusações feitas por ele foram precedidas de material probatório.

O depoimento é considerado um dos principais elementos do inquérito que pode levar à apresentação de denúncia contra ele mesmo ou contra o Bolsonaro.

A oitiva, que durou mais de sete horas, foi o primeiro passo da apuração iniciada após Moro pedir demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, no último dia 24, com graves acusações ao chefe do Executivo.

A investigação foi aberta a pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, e autorizada pelo ministro Celso de Mello, do STF, relator do caso. O objetivo é descobrir se as acusações são verdadeiras ou, então, se o ex-juiz da Lava Jato cometeu crimes ao mentir sobre Bolsonaro.

Depois de ouvir Moro, a PF deve realizar outras diligências para buscar mais provas e informações sobre o caso.

Depois deste sábado, os delegados que apuram os fatos podem entender, por exemplo, que é necessário colher o depoimento de Maurício Valeixo, diretor-geral da PF enquanto Moro era ministro e pivô da crise com Bolsonaro.

Isso porque, segundo o ex-juiz da Lava Jato, o chefe do Executivo queria retirá-lo do comando da corporação para colocar alguém da sua relação pessoal no cargo. A intenção seria dar acesso ao presidente a relatórios de inteligência e informações sobre investigações em curso, o que não é permitido pela legislação.

A investigação não tem uma data definida para acabar. O Código de Processo Penal até estabelece que os inquéritos têm de ser concluídos em 30 dias ou em 10 dias se envolver réu preso.

Esse prazo, no entanto, nunca é respeitado, inclusive nas investigações que correm perante o STF. O despacho do ministro Celso de Mello obrigando a PF a ouvir Moro em até 5 dias, e não em 60 dias, como havia determinado inicialmente, é um indicativo de que o magistrado quer acelerar as apurações. Não dá para afirmar, porém, até quando elas se estenderão.

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