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Política & Poder

Maioria de tuítes de ato pró-governo veio de robôs

A pesquisa, coordenada pelas professoras Isabela Kalil (FespSP) e Marie Santini (UFRJ), aponta que os robôs que usaram a hashtag #BolsonaroDay publicaram, em média, 700 tuítes no dia 15 de março

Redação Jornal de Brasília

04/04/2020 10h47

Brazilian President Jair Bolsonaro takes a selfie with supporters in front of the Planalto Palace, after a protest against the National Congress and the Supreme Court, in Brasilia, on March 15, 2020. (Photo by Sergio LIMA / AFP)

Pelo menos 55% dos tuítes com a hashtag #BolsonaroDay publicados no dia das manifestações pró-governo de 15 de março saíram de perfis automatizados ou robôs, de acordo com levantamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FespSP). O estudo identificou 66 mil contas que, sozinhas, foram responsáveis por cerca de 1,2 milhão de postagens.

A pesquisa, coordenada pelas professoras Isabela Kalil (FespSP) e Marie Santini (UFRJ), aponta que os robôs que usaram a hashtag #BolsonaroDay publicaram, em média, 700 tuítes no dia 15 de março. As contas automatizadas mais ativas chegaram a postar mais de 1,2 mil tuítes nessa data.

A grande quantidade de tuítes por conta em apenas um dia é indício de automação, segundo as pesquisadoras. De acordo com o estudo, usuários comuns publicam de três a dez vezes no Twitter por dia; perfis mais ativos chegam a 50 tuítes diários.

O estudo mostra a formação de uma “tropa cibernética” com uso expressivo dos chamados robôs e ciborgues. Os primeiros são contas que publicam, de forma automática, mensagens escritas com uso de inteligência artificial; os segundos, perfis que postam tuítes elaborados por humanos, mas também de maneira automatizada.

“As chamadas ‘tropas cibernéticas’ ou exércitos virtuais são comumente utilizados nas redes sociais para ativar a militância online a favor do governo e falsificar a opinião pública”, afirma a pesquisa.

Para identificar as publicações de perfis inautênticos, as pesquisadoras utilizaram o software Gotcha, desenvolvido pelo Laboratório de Microssociologia e Estudo de Redes (NetLab) da UFRJ, em parceria com a Twist System, uma startup de ciência de dados. O índice de acerto é 80%.

O estudo também analisou tuítes com as 30 principais hashtags de apoio ao presidente Jair Bolsonaro entre 1.º de janeiro e 15 de março. A pesquisa identificou alguns padrões de comportamento nas postagens. Um deles é o de “campanha permanente”: isso significa adotar métodos de campanha mesmo fora do período eleitoral, com uso da militância virtual para atacar adversários “O objetivo é provocar o ‘contágio’ emocional e respostas viscerais do público, como raiva, medo, desorientação, negacionismo e indignação”, afirmaram as pesquisadoras.

Em nota, o Twitter afirma que “inferências como essa não levam em consideração as medidas defensivas” da plataforma para “garantir que o conteúdo automatizado não influencie as conversas” na rede social. A empresa diz ainda que não encontrou manipulação coordenada generalizada nos tweets com a hashtag citada, mas que “seguirá acompanhando de perto as conversas sobre o tema na plataforma.”

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